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"Está ficando difícil não cometer nenhum erro amanhã
A sorte ainda não é sortuda, tem de fazer suas próprias regras"

It's My Life, Bon Jovi

- Não acredito que realmente fez isso, pai. — reclamei, andando de um lado para o outro na sala.

- Filha, nós já tínhamos conversado sobre isso. — ele falou com o olhar mais despreocupado do mundo, o que me deixou mais puta ainda.

- Tá legal, mas eu nunca concordei, né? — argumentei, arqueando as sobrancelhas. — Eu não acredito nessa merda!

- Olha a boca. — ele reclamou.

- Até parece, pai. — bufei, tentando me acalmar. — Que droga, eu tenho uma vida aqui. Minha faculdade, meus amigos... — olhei diretamente para ele. — Minha família.

- Sua mãe também é sua família, Katerina. Eu sei que você queria ficar, mas é só um tempo... — Nikolai disse, se aproximando um pouco de mim. — Veja isso como umas férias.

- Não posso tirar férias no meio do segundo ano de faculdade, pai.

- Filha, é só por um tempo. Sua mãe precisa de você nesse momento.

- E quando eu precisei dela?! Ela estava aqui? — voltei a me exaltar com aquelas palavras. —  Aquela megera não sabe nem a minha idade.

- Veja lá como fala da sua mãe. — ele voltou a brigar.

- Porra! — gritei, indo até meu quarto, o deixando para trás.

- Olha a boca, Katerina! — meu pai veio gritando atrás de mim. Eu já não estava com paciência.

- Eu vou arrumar minhas malas. Não tenho escolha de ir mesmo. — debochei pegando duas malas que ficavam guardadas em cima do armário, uma grande e outra de tamanho médio.

- Parece até que estou te mandando para uma prisão. — ele suspirou.

- É como se fosse! — gritei, largando as malas em cima da cama. — Pai, eu não quero ir ver aquela mulher que nos abandonou, não quero cuidar dela, não quero nada com ela. Mas você resolveu que eu ia sem mesmo me consultar, eu fico puta com isso.

- Eu sei que não foi uma atitude boa. Me perdoa. — Nikolai falou, me fazendo suspirar. Eu não conseguia ficar com raiva do meu pai, mesmo com meu temperamento, e ele sabia disso. — Sua mãe está doente e não tem ninguém com ela nesse momento, e mesmo com tudo o que ela fez com nós dois, eu ainda não consigo virar as costas pra ela.

- É, eu sei. — concordei contragosto. Eu sabia que mesmo depois de tudo, ele ainda amava aquela megera, só que ele era bom demais para perceber o quão idiota aquilo era.

- Se não quiser fazer isso por ela... — ele colocou as duas mãos nos meus ombros. — Faça por mim.

- Isso é golpe baixo, velhote. — abri um sorriso pequeno, o fazendo gargalhar.

- Você é muito malcriada. — ele bagunçou meus cabelos ruivos, como se estivesse tirando sarro de um garoto de 7 anos. — Eu te amo, querida.

- Eu também te amo, pai. — falei sinceramente, e logo o empurrei para arrumar as malas apesar de ainda estar com muita raiva. — Mas eu não vou ficar na casa dela.

- Katerina, pare de complicar as coisas! — ele gritou, voltando a ficar tão nervoso quanto eu.

- Olha só, pelo menos quanto a isso eu tenho direito de escolha, tá legal?! — comecei a jogar as roupas dentro da mala de qualquer jeito enquanto falava. — Eu posso ir lá, ajudar no que for, mas ficar debaixo do mesmo teto que aquela megera, eu não fico!

- E como pretende pagar um lugar pra morar em um país estrangeiro? — Nikolai perguntou, cruzou os braços.

- Trabalhando. Não vou poder estudar, ao menos trabalhar pra comer naquele lugar eu tenho. — falei o óbvio. Seria muito difícil para o meu pai mandar dinheiro para lá e eu não queria depender da megera se ela quem dependia de mim, então pelo menos algo eu tinha que fazer.

- Tudo bem. — meu pai suspirou, derrotado, desistindo de brigar comigo. — Pra sua sorte, eu ainda tenho amigos lá, provavelmente o Griffin está precisando de uma funcionária no bar.

- Bar, é? — sorri com a possibilidade de chegar perto da segunda coisa que eu mais amo depois do meu pai. Álcool.

- Você vai pra trabalhar, não ficar bêbada e agradeça por eu ainda estar de bom humor e te ajudar. — ele reclamou, discando alguns números no celular. — Oi, Griffin, como vai? Desculpa estar ligando agora, está muito ocupado? — ele fez uma pausa. —Também estamos bem. — sorriu. — Bom, eu estou ligando pra pedir um favor. É sobre minha filha Katerina. — Nikolai disse, saindo do meu quarto e indo conversar com o tal Griffin na sala.

Eu não estava nem um pouco satisfeita com aquela situação. Se meu pai não tivesse o coração tão mole, eu sabia que não precisaria sair do meu país para ir até Nova York.

Qual é?! Aqui tem tudo o que eu quero: muita neve, milhões de quilômetros longe da megera, meu pai, minha faculdade e claro, vodka russa.

Nikolai Serebryakov é o ser humano mais incrível desse mundo, meu pai é a pessoa que eu mais admiro e respeito. Ele me criou sozinho desde os meus 5 anos, quando a Martha nos abandonou.

Eu nem ouso chamar aquela megera de mãe, porque ela não foi; na primeira oportunidade, a vaca foi para os Estados Unidos, se casou com um americano burguês e mudou de nome, quando meu pai foi procurá-la ele descobriu tudo isso, foi uma merda pelo que eu me lembro, mas por sorte, ele fez alguns amigos lá como o tal de Griffin e me deixou sob os cuidados da vovó quando ela ainda era viva para que ele pudesse voltar e ficar comigo.

A megera nos abandonou para viver no luxo e hoje está vivendo na pior podridão do Brooklyn, doente e ainda sendo uma meretriz.

Meu pai apesar de ser um homem um tanto áspero, com a família ele não era deste modo, e posso dizer que puxei isso dele.

Porém, a única coisa do meu pai que eu tenho certeza que nunca quero ter, é esse amor que ele ainda sente pela megera.

Não fico muito atrás do quesito "grosseria", a única pessoa na qual eu sou tecnicamente carinhosa é meu pai, mas quanto aquela mulher, eu jamais iria ter compaixão por ela, não depois de tudo o que ela fez.

Mas não o culpo, ele sempre foi apaixonado por ela, e mesmo que eu saiba que o amor estraga as pessoas, eu realmente não entendo como ele ainda consegue amá-la.

Simplesmente estou indo para aquele lugar porque meu pai me pediu. Ela ligou para ele implorando ajuda, como sempre fez quando esteve na merda. Claro, ele sempre a ajudava, mesmo que o problema fosse dinheiro, eu nunca questionei, afinal, a vida do meu pai não é da minha conta, apesar de que isso me irrita demais, mas dessa vez resolveram me colocar no meio, e eu estou extremamente puta com isso.

Largar tudo para ir até um país desconhecido e ficar com uma meretriz que se diz doente precisando de cuidados. Onde já se viu?

O pior de tudo é ter sobrado para mim.

Ela se faz de coitadinha para o meu pai toda vez que pinta alguma merda e agora eu tenho que ir até lá para resolver? Por mim, internava em um hospital qualquer e continuava vivendo a vida normalmente, assim como ela fez quando nos abandonou sem um grão de arroz em casa.

Mas não, né?

Meu pai tem que ser o bom samaritano, o apaixonado que ainda não entende o pé na bunda que levou e ainda me coloca nessas furadas, eu sou obrigada a ir e cuidar de uma mulher na qual eu não dou a mínima.

O que eu não faço por você, Nikolai Serebryakov?

Só o farei, porque meu pai fez tudo o que podia por mim, eu jamais recuso um pedido dele.

Mas ainda assim, eu estava com raiva.

Fechei uma das malas com uma força desnecessária e abri a outra em cima da cama.

Fui até a cozinha e peguei quatro garrafas de vodka do meu pai e voltei para o quarto colocando-as na outra mala, a menor.

Eu não ia precisar de muitas roupas, até porque assim que a megera melhorasse eu volto para cá correndo, se eu soubesse, faria até mandinga para que ela melhorasse mais rápido, então, uma mala só bastava.

Fora que, as vodkas americanas não são nada comparadas as russas, e eu iria precisar beber e muito.


                                        


- Vai direto pro apartamento que tá no endereço e depois vai pra casa da sua mãe, fica na mesma rua, então você não vai se perder, o Griffin vai te encontrar na rua que eu escrevi pra você. — Nikolai falava tudo aquilo pela milésima vez no dia.

- Já sei, pai. — revirei os olhos.

Eram quase 09:00 da manhã, meu vôo ia sair daqui alguns minutos e meu pai não parava de falar a mesma coisa que tinha dito tanto no dia anterior, quanto naquela manhã quando estávamos nos arrumando para que ele me trouxesse ao aeroporto.

No caminho para cá ele veio falando e falando, até chorou. Minha cabeça já estava doendo com tudo aquilo e meu humor já não era dos melhores, eu só queria ir logo para voltar o mais rápido possível.

- Depois que pousar me liga. Não esquece de tomar seus remédios caso tenha um ataque asmático e não ande sozinha naquele lugar, é perigoso, ainda mais pra você que é tão bonita e não conhece nada de lá. — ele falava, meio embolado. — Se precisar de dinheiro, não hesite em ligar pra mim e...

- Pai! — eu o interrompi. — Tá tudo bem.

Realmente, não estava tudo bem.

Eu queria ficar, não queria ir para outro país e ver uma mulher que não tinha notícias há 16 anos.

Mas eu iria, pelo meu pai.

- Ok. — ele suspirou, e a última chamada do meu vôo foi ouvida no aeroporto todo. Meu pai me abraçou fortemente. — Eu te amo.

Suspirei.

Eu não era muito de abraços, porém, retribui e dei um leve sorriso.

- Também te amo. — murmurei.

Acenamos uma última vez um para o outro antes de eu me virar e ir para a área de embarque. E depois de fazer o check-in e finalmente entrar no avião após algum tempo, sentei-me na minha cadeira indicada pela aeromoça e pude perceber que aquilo realmente estava acontecendo.

Uma coisa que eu de fato não queria, só que infelizmente, era mais um capítulo na minha vida.





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Oi! Espero que tenham gostado, estou com muitas expectativas para esta história, por favor, me contem o que
acharam!!!
Nos vemos na quarta!
<3


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