Capitulo 23

— E-e-eu... — começou. Ela não conhecia a criatura e não fazia ideia do que ela era capaz, mas, mesmo assim, tremia.

— Será bem mais fácil e menos dolorido se você se render de uma vez, minha querida — ele disse. Sua calma era inquietante. Ele usava o mesmo tom que uma mãe quando está contando sobre o dia que ela teve para o filho pequeno.

— Por quê? O que você quer?

O monstro deu de ombros.

— Seus poderes. De qualquer forma, vocês estão cercados — ele fez una pausa e então olhou para Halt. — Quer do jeito fácil ou difícil? Não posso matar a garota, mas não tenho nenhuma restrição contra você.

Halt virou a cabeça, tentando parecer que se divertia com a situação.

Sua perna tremia.

— Difícil, mas primeiro, deixe-me lhe mostrar uma coisa... — Então ele ergueu a mão que segurava a arma, apontando para a cabeça careca do monstro chamado Klonthus e atirou sem nem pensar duas vezes.

Um kallckara rugiu quando se jogou na frente do líder, a tempo de receber o tiro por ele.

Klonthus apenas observou conforme a criatura caiu aos seus pés; nenhum traço de sentimento percorrendo seu rosto despido.

Ele estalou a língua quando voltou a olhar para Halt.

— Então que seja da forma difícil... 

Com um movimento de mão, todos os kallckaras levantaram as armas na direção de Halt. Ele andou alguns passos para trás, mas sabia que não havia para onde correr. 

— Vocês conhecem as regras — disse Klonthus para os lacaios. — Matem-no.

— NÃO! — uma parede de fogo se ergueu na frente de Halt, protegendo-o da saraiva de tiros.

Suas paredes nunca foram muito grossas e, somado com seu cansaço, ela não passava de um dedo de espessura. 

Porém os tiros não eram com balas de verdade e eles logo se desintegraram.

— Vou distraí-los — disse Halt. — Corra para a sua casa e se esconda. Eles não vão conseguir entrar no meio de todo aquele fogo. Fuja com os bombeiros.

Callie olhou de Halt para os pais caídos. Ela não poderia deixá-los ali.

— Não. Vou lutar — disse decidida. Ou ela sairia de lá com os pais e com Halt, ou não iria sair. — Chega de fugir.

— Callie... — começou, mas um kallckara pulou na direção de Callie. — CUIDADO! 

A garota rolou para o lado, desviando-se do ataque, e sacou o arco do corpo e uma flecha da aljava.

Carregou-a com a energia quente e puxou a corda. Ela estava desidratada e usar qualquer elemento com água a mataria, pois ela usava a humidade do próprio corpo para os outros. Logo, ela teria que lutar com fogo.

Sorriu de canto quando lançou a seta na direção dos kallckaras que atiravam em Halt. Eles lhe atacaram com fogo e ela iria retribuir.

O tiro não foi muito preciso por causa da falta de penas, mas atingiu um dos kallckaras no braço e o pelo espesso fez o resto, espalhando o fogo pelo corpo do monstro até ele cair.

O grito de terror do kallckara fez seus ouvidos doerem, mas isso não a impediu de sacar outra flecha e atirar na direção de outro.

Ela perdeu a concentração na parede, que sumiu, mas Halt aproveitou a distração que ela estava fazendo para recuar e atirar em alguns kallckaras por trás.

Klonthus observava a luta com um olhar desgostoso e, quando o quinto kallckara caiu no chão, ele grunhiu ruidosamente.

Desembaiou a própria espada, quase o dobro do tamanho das espadas dos kallckaras e foi na direção de Callie, que já estava ocupada em se desviar dos ataques de outros dois kallckaras. Suas flechas estavam acabando e ela estava tendo que usar o pouco de energia que lhe sobrara para esquentar os punhos o bastante para que eles pegassem fogo.

Halt, do outro lado da rua, soltou um grito de aviso para a protegida e rolou para o lado. Ele também estava cercado e não conseguiria chegar nela a tempo para distrair Klonthus.

Ela olhou para o monstro que avançava em sua direção. Um dos kallckaras pulou em sua direção e lhe aplicou um mata-leão; mas Callie, em um movimento rude, conseguiu usar sua força contra ele, jogando-o de
costas no chão, apesar dele ter o dobro de seu tamanho.

E então ele sacou a arma do coldre. Humilhado, o soldado esqueceu as ordens para não feri-la e atirou no estômago da adolescente.

Quando Callie caiu, Klonthus gritou. A rua inteira vibrou como se fosse um terremoto. Ele pegou o kallckara pelo colarinho e o jogou para longe. O outro recuou e deixou o mestre sozinho com a garota.

Uma nuvem se formou no céu. Tarde demais.

Klonthus pegou a garota e a colocou sobre seus ombros. Com um gesto, mandou os outros largarem o que estavam fazendo e o seguirem.

Foi um erro. Halt, aproveitando a deixa, correu até onde a garota estava e pegou o arco no chão.

Em um movimento único, armou o a flecha e puxou a corda, atingindo em cheio a parte de trás do joelho do monstro.

Klonthus não gritou, mas caiu no chão, largando Callie. O céu estava nublado e um trovão ressoou sobre eles.

Antes que os kallckaras pudessem levantar as armas, Halt já estava com outra flecha armada, mirando já cabeça de Callie.

— Se vocês se aproximarem, eu atiro na garota! — gritou Halt. Seu braço tremia, e não era por causa da tensão do arco.

— Afastem-se! — esbravejou Klonthus e os kallckaras obedeceram prontamente.

Callie tentou se sentar, mas isso fez com que mais sangue escorresse de seu abdômen.

Halt correu até ela e se abaixou, mas não parou de mirar na direção da garota, que se segurou no braço dele para se levantar.

Ele abaixou o arco e rapidamente apontou a pistola nela.

Ele iria a ajudar a atravessar a rua. De lá, ela poderia para dentro da casa. O barbado não daria muitos minutos para os bombeiros chegarem.

— VOU ATIRAR! AFASTEM-SE! — os kallckaras recuaram alguns passos conforme Halt andava com Callie. — Não é tarde demais para você.

— Meus... pais... — ela cuspiu sangue.

Halt olhou na direção das duas figuras imóveis na calçada. Eles precisavam de ajuda imediata.

Não sobreviveram ao tempo da batalha.

Eles continuaram andando. Na verdade, Halt continuava andando. Callie estava sendo praticamente arrastada.

Callie começou a chorar. Ela se sentia responsável; ela se sentia impotente. As nuvens estavam carregadas, mas ela não conseguia formar um raio.

— Eu decepcionei você — Callie soluçou.

— Ainda não — Halt respondeu. Eles já estavam em frente a casa em chamas. Halt empurrou ela na direção da construção. — Vá. Agora.

Callie hesitou brevemente diante da ordem de Halt, e então, sabendo que era sua única escolha, ela se lançou por entre as chamas no exato momento em que Klonthus, notando o plano, esbravejou ordens para o ataque.

Halt se virou e começou a atirar nos kallckaras que via pela frente.

Eles revidaram.

Halt gritou quando foi atingido, mas não parou de atirar até suas balas acabarem.

Os kallckaras os cercaram, espadas em punho. Os olhos vermelhos raivosos. Eles esbravejavam palavras de vitória.

— A GAROTA, SEUS IDIOTAS! ESQUEÇAM ELE E ME TRAGAM A GAROTA! — se a voz Klonthus já se parecia com um trovão normalmente, agora parecia uma tempestade de fúria.

Os kallckaras pareceram um pouco hesitantes, sem saber se matavam seu prêmio antes de ir até a garota.

Olharam para ele. Estava branco como o mestre deles. Em breve, iria morrer.

Então correram até a casa em chamas, temerosos.

Sem conseguir fazer nada para impedir, Halt olhou em volta, se perguntando quando os bombeiros chegariam.

E então percebeu: não haveria bombeiro algum.

Mesmo com todo o barulho da luta, nenhuma pessoa sequer saiu para ver o que estava acontecendo. Ninguém se reuniu em volta da casa de Callie quando explodiu.

Os kallckaras evacuaram o bairro inteiro para que ninguém os atrapalhasse.

Como eles sabiam que estariam ali justo naquele dia?

Será que...

Seus pensamentos foram interrompidos por uma segunda explosão vinda da casa. Os kallckaras, já na varanda, foram jogados para longe, pegando fogo. Halt, que também estava perto da casa, fora jogado longe. Ele escutou um grito de ódio vindo de Klonthus, mas sua cabeça bateu no asfalto e ele desmaiou.

🔥⚡🔥

Halt despertou com o som da ambulância e com os toques dos paramédicos.

Eles lhe gritavam algumas palavras que ele não conseguia entender.

Onde está Callie? — perguntou, a garganta seca.

— Só encontramos você e aquele casal aqui. E muito sangue — respondeu um. — O que diabos aconteceu aqui?

Halt olhou para o lado. Os corpos dos kallckaras haviam sido recolhidos. Eles provavelmente achavam que Halt estava morto e, por isso, não se deram ao trabalho de recolhê-lo também.

Callie — grunhiu novamente. Se ele sobrevivera, ela também podia estar viva.

Apesar da explosão e do ferimento fatal.

Ele tentou se levantar, mas os médicos o impediram.

— Uou, cuidado aí. Estamos costurando esse ferimento.

Ele olhou para baixo, onde seu abdômen estava inchado e com vários pontos onde recebera os tiros.

Ele não tinha tempo para isso.

— Já entraram na casa? — perguntou.

O médico negou com a cabeça.

— Só em uma parte. Os bombeiros ainda estão apagando o fogo.

— Preciso procurar Callie — disse decidido, colocando os pés para fora. Seu coração doía e sua cabeça girava. Devia ser o efeito das drogas em seu organismo. Ele não estava pensando com clareza. Mas tinha que obedecer ao seu instinto.

— Senhor...

— Venham comigo. Se me impedirem de entrar naquela casa, vou reabrir meus pontos.

— Nem pensar! — gritou o paramédico, levantando-se. — Segurem-no!

O primeiro instinto de Halt foi se abaixar para desviar do médico que se aproximava dele para o segurar, mas ele estava tão entorpecido pelas drogas que, quando seu corpo respondeu, já era tarde.

Quando foi perceber, ele já estava com uma agulha enfiada em seu braço e com mais drogas em seu organismo.

A última coisa que ele viu foi o reflexo das chamas no asfalto molhado.

🔥⚡🔥

Ai, gente... Que dó do Halt. Agora entendemos o porquê de tanto super protetorismo com a Alyss.

O que acharam desse trágico capítulo? Bem longuinho, né?

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