Capítulo 22
Tum, tum, tum.
- Callie - chamou, batendo na porta do quarto dela. - Callie, acorde. Você já está vinte minutos atrasada!
Nenhuma resposta.
- Callie, está aí?
Nenhuma resposta.
- Eu vou entrar...
Ele abriu a porta com cautela e colocou a cabeça para dentro do quarto.
A cama de solteiro estava arrumada e vazia. Idem para o banheiro.
Seus olhos recairam na pequena cômoda ao lado da cama, onde havia um pedaço de papel branco com algumas palavras escritas.
Lamento, mas eu preciso ver meus pais. Volto antes das três. Juro.
- Callie.
Ele respirou fundo. Não estava nem um pouco surpreso e foi isso que o irritou.
Ele devia ter imaginado que algo assim aconteceria e isso o fez se sentir péssimo.
Aquilo não acabaria bem.
Callie não sabia dirigir, logo, não deve ter usado o carro - o que ele logo confirmou ao ir até a garagem - então a única opção plausível seria ela ter pego algum transporte público.
...ou ter ido correndo.
Ele torceu para que não tenha sido a segunda opção. Callie não seria tão imprudente... ou seria?
Agora Halt não duvidava mais de nada.
Ele andou de um lado para o outro, nervoso. Algo dentro de si dizia que ele deveria ir atrás dela, mas sabia que, se o fizesse, seria ainda mais difícil a treinar.
Ela era teimosa e, apesar de sempre fazer o que ele mandava, às vezes fazia corpo mole e era bem difícil convencê-la a fazer direito.
Antes de Callie, Halt nunca ficara mais do que duas horas com um adolescente e não sabia quase nada sobre eles.
E isso o estava deixando muito confuso sobre como agir.
Halt socou a parede com força, mas sua mão não doeu, apesar de ter ficado vermelha.
Não ajudou no nervosismo.
- Dane-se - resmungou. Pegou a chave do carro e se dirigiu até a garagem.
Não a tiraria da casa a força, mas ficaria vigiando de fora. Invasão de privacidade? Ele não podia fazer nada quanto àquilo, afinal, assinara um contrato.
Um contrato da qual ele era responsável pela morte de uma adolescente irresponsável com poderes.
Sem pressão, claro.
Ele pisou fundo e a viagem, normalmente feita em uma hora, levou trinta minutos.
Estacionou o carro em frente a casa amarela e empunhou a arma do banco do passageiro. Pelo menos Callie não tomara imprudência líquida e levou o arco com ela.
Halt franziu o cenho. Ele não via muitos movimentos atrás da janela principal. A casa parecia vazia...
Será que...
Ele sentiu o calor se chocando contra sua pele antes dos seus ouvidos processarem o som ensurdecedor da explosão. Seus cabelos foram erguidos pelo calor do fogo que veio dentro da casa, lançando estilhaços de vidro e madeira da porta por toda rua.
Ele saiu do carro em um sobressalto e foi na direção da casa.
Ela parecia vazia, mas isso não significava que Callie ou sua família não estavam lá em algum cômodo escondido. O carro dos pais dela estava na garagem.
Levou a gola da camisa sobre o nariz e se embrenhou nas chamas.
O treinamento com Callie até que foi útil para ele. Não era raro ela queimá-lo sem querer e, por isso, se acostumou com a dor do fogo. Sentiu seus cabelos queimando, mas não se inportou com aquilo.
- CALLIE! - gritou em meio as chamas.
- HALT? HALT, NOS FUNDOS! ME AJUDA!
O homem seguiu na direção do som e em poucos passos conseguiu chegar no jardim dos fundos. As árvores pegavam fogo, mas a grama ainda estava verde.
Ele localizou a cinética agachada atrás de uma árvore ao lado dos pais desmaiados. Seus cabelos, antes loiros indo até a cintura, estavam chamuscados. Mais da metade dele queimara e sua pele estava vermelha. Eles nunca testaram o fogo no cabelo, mas para a pele dela estar naquele tom de pimenta, ela devia ter entrado muito em contato com as chamas.
Logo, não era de se surpreender que o estado dos pais dela chegavam perto ao da desfiguração.
- Eu me joguei na frente deles, mas não consegui fazer muita coisa no transporte. Estávamos no andar de cima e...
- Meu carro está na frente - interrompeu Halt. Os olhos da menina estavam vermelhos tanto pelas lágrimas que não conseguiam sair por causa da desidratação da menina quanto pelo fogo. - Pegue sua mãe e eu levarei seu pai. Vamos pelo vizinho.
Ela assentiu e pegou a mãe desacordada. Ela devia ser loira como Callie, mas não havia como ter certeza com o cabelo naquele estado.
Eles pularam a cerca do vizinho e atravessaram o quintal até chegarem na rua.
- AH! - Callie gritou de terror ao notar a rua infestada de kallckaras.
Halt xingou alto. Ele contou dez kallckaras com espadas. Deviam haver mais escondidos.
Os peludos sorriram, sádicos, mas não atacaram.
- Coloque sua mãe no chão e levante as mãos - ordenou Halt. Callie fez um gesto interrogativo, mas fez o que ele mandou.
Halt fez o mesmo e deixou nitidamente o dedo fora do gatilho.
Ele tinha um plano. As chances eram pequenas, mas, bem, que opções eles tinham, afinal?
Havia essa chance. Pequena, mas poderia dar certo. Porém, quando a voz alta falou de trás dos dez kallckaras, o plano sumira completamente de sua mente mais rápido do que um estalar de dedos.
- Finalmente nos encontramos... Estava ansioso por esse encontro... - ela era fria e cortante, como os raios que Callie lançava nos treinamentos. As palavras eram bem articuladas, o que causou estranhamento em Halt.
Os kallckaras não falavam direito.
E então o protetor percebeu. Não era um kallckara qualquer. Elijah comentara sobre ele nas últimas semanas.
Ele se virou para Callie com uma expressão de urgência.
- Callie, corra - disse, baixo o bastante para nenhum kallckara ouvir, mas alto o suficiente para passar sua urgência.
Ela se virou para ele, confusa.
- O quê? Não! Meus pais vão morrer se não lutarmos agora. Por que não estamos atacando?!
- Callie... - repetiu, entredentes. - Corra agora.
Se ela tivesse obedecido, Halt conseguiria segurá-los por alguns segundos. Talvez por um minuto inteiro e, com a velocidade sobre-humana de Callie, talvez ela conseguisse chegar em um lugar seguro.
Talvez.
Mas quando os dez kallckaras que o cercavam subitamente viraram de costas para eles e fizeram uma reverência para a figura que se aproximava, ele sabia que o tempo para a fuga já tinha acabado.
- Hora perfeita para atacar. Halt, agora! - ela esticou as mãos, pronta, mas Halt a impediu. Ele sabia que atacar era a pior coisa que poderiam fazer naquele momento.
Cinco segundos depois, quando bateu os olhos na criatura alta como um jogador de basquete e completamente sem pelos, até mesmo Callie perdeu as esperanças.
- É um prazer finalmente lhe conhecer.... Calliope - o sorriso sádico afiado como dentes de tubarão lhe causaria pesadelos por dias. Mas pior do que isso era o rosto daquele... daquele o quê? Kallckara?
Mais pálido do que um fantasma, Callie conseguia ver todas suas veias por cima da pele fina. O nariz era reto e fino que Callie duvidava que passava ar por ali. Sua boca super fina dava um ar mais assustador ao monstro e os olhos... Os olhos pareciam dois buracos negros, sugando toda a coragem e sentimentos bons dentro de Callie e Halt, apenas deixando medo dentro deles.
- Permita-me apresentar... - ele parou de andar, ficando a dez metros da cinética. - Meu nome é Klonthus e, infelizmente, preciso de você viva.
🔥⚡🔥
Obrigada por lerem!!
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