Ela era uma bela ave,
Vivia nos jardins,
Cheirando as flores,
À espera de alguém
Que a amasse e a protegesse.
Um dia esse alguém apareceu.

Pegou – a em pleno voo
E a levou para casa.
Ele cuidava dela,
Deixava – a solta,
Ela saia de casa
E sempre voltava,
Pois amava ele
E não queria mais viver só.

Ele era gentil,
Carinhoso e protetor,
Passava horas conversando com ela
E ela cantava para ele lindamente.
Ele até lhe dera um nome:
Mulher.

Mas o tempo passou
E, como tudo na vida,
Ele mudou,
Mas não foi uma boa mudança.
Estava sempre zangado,
Não cuidava mais dela
E um dia,
Deu – lhe um tapa.

Ela se assustou,
Ele se arrependeu,
Pediu desculpa
Disse que nunca mais faria aquilo,
Ela acreditou.
Dias mais tarde
Aconteceu de novo,
De novo ele se desculpou,
De novo ela acreditou.

Ele nunca parou,
Era cada vez mais agressivo,
Mas sempre se arrependia
E ela sempre perdoava,
Não acreditava mais nele,
Mas o amava
E achava
Que não poderia viver sem ele.

Vivia presa,
Sempre encolhida num canto,
Toda machucada e triste,
A tempos não cantava mais.
Passava horas olhando a janela
E sonhando com o mundo
Do outro lado daquele vidro.

Um dia acordou bem cedo,
Na verdade quase não dormia,
Olhou para a janela e viu:
O sol brilhando
Mais forte do que nunca
Num lindo céu azul,
Nunca vira um amanhecer tão belo.

Logo começou a esquentar,
Sem aguentar o calor
Ele abriu a janela,
Mulher viu tudo isso como um sinal,
Tomou coragem,
Juntou todas as suas forças
E voou para fora,
Para longe dele
E para a liberdade.

Levou um tempo,
Mas com alguma ajuda
Mulher se recuperou,
Voltou a cheirar
As flores dos jardins
E a esperar alguém
Que a amasse e a protegesse,
Mas não se importava mais
Em ficar só,
Às vezes até gostava
E aprendera a ser feliz assim.

Mulher prometera a si mesmo
Que ninguém a machucaria,
Nunca mais.