Epílogo

Fechei a última pasta, deixando o som seco do papel ecoar pela sala. O café,que eu nem havia notado esfriar, estava agora completamente gelado.

Olhei para ele, como se pudesse encontrar alguma resposta ali, mas não havia. Nada poderia aliviar o peso que se acumulava sobre meus ombros a cada confissão.

O que me consumia não era o cansaço físico, esse eu já conhecia bem, mas a forma como essas histórias se colavam à minha mente parecia me consumir. Eu tentava ser imparcial, lidar com os fatos, com as evidências. Mas como ignorar o sofrimento humano, as razões que levavam cada um deles a cometer o que fizeram?

Cada um estava ali por um motivo, uma história que, embora cruel, não podia ser ignorada.Snow, Cinderela, Rapunzel... Eu os havia ouvido, cada um deles revelando seus pecados, seus arrependimentos, suas justificativas. Mas não consigo mais apenas vê-los como criminosos. Eles eram mais que isso. Eram vítimas também, de suas próprias circunstâncias, da dor que carregavam dentro de si.

Tentei, o máximo que pude, manter o profissionalismo, afastar qualquer tipo de empatia, mas como não sentir por pessoas que, no fundo, estavam apenas tentando sobreviver em um mundo que as destruiu?

A sala estava silenciosa agora, mas minha mente não parava de girar. Eu anotava, tomava notas, seguia o procedimento. Mas as perguntas que ficaram não eram sobre o caso. Eram perguntas sobre mim, sobre minha profissão, sobre o que realmente significava justiça. Seria suficiente punir esses corpos ,sabendo que, em algum lugar, suas almas permanecem vagando, em busca deredenção? Ou seria isso o que eu buscava em mim mesmo? Algo que não conseguia encontrar?

Respirei fundo, tentando espantar o vazio. Olhei para a janela, onde minha própria imagem se refletia. Estava exausto, mas havia algo mais que me consumia. Algo que eu ainda não conseguia compreender. A dor, o arrependimento, a perda. Eu sabia que essas histórias não acabavam aqui. Elas se arrastariam comigo, um fardo invisível que eu teria que carregar para sempre.

Levantei-me da cadeira, a pasta fechada em minhas mãos. Não havia mais nada a fazer por hoje. O tribunal decidiria os destinos deles. Mas, de alguma forma, sabia que isso não era suficiente. As perguntas continuavam a me assombrar. A justiça era uma linha tênue. Eu já não tinha certeza de qual lado dela eu estava. E com essa dúvida pairando sobre mim, deixei a sala, o eco das palavras dos detentos ainda reverberando na minha mente.

Em algum momento, quando apoeira abaixar e eu finalmente puder descansar, terei que enfrentar a verdade mais difícil de todas: talvez o maior mistério seja o que se passa no coração decada um deles... e no meu também.

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