Capítulo 3 - Offline


Cheguei!!!! Como estão?

Para quem lê pela Amazon, informo, com muita felicidade e alegria, que o livro já está disponível por lá! Muito obrigada desde já!

Beijo grande e vamos para mais um capítulo! E hoje será narrado por nosso amado James ;)

Amo tus!!!


Toda a estrada é uma ladeira escorregadia

Há sempre uma mão que você pode segurar

Olhando bem fundo pelo telescópio

Você pode ver que o seu lar está dentro de você.

93 Million Miles, Jason Mraz.


Logo que saio do escritório de Beatrice, sou cercado por uma advogada de cabelos castanhos e olhos amendoados, expressivos, que faz questão de falar comigo toda vez que venho ao Mars & Pierce, porém não me recordo do seu nome, então, apenas sorrio e a cumprimento.

― Olá, tudo bem?

― Tudo bem, Sr. Foster. Como estão as coisas?

― Agitadas, mas tudo ótimo.

― Espero que esteja gostando do tratamento da nossa firma. Não é à toa que estamos entre as melhores do ramo há três anos.

― Com certeza estou gostando. A Dra. Parker tem sido fundamental!

A mulher se empertiga, e noto que fica sem jeito após eu mencionar Beatrice. O que posso fazer? Ela é quem cuida das minhas empresas!

Observo ao redor e percebo que outras funcionárias me olham disfarçadamente. Passo uma mão na nuca e abro um sorriso ao ver a atenção dispensada em minha direção.

Enquanto tantas mulheres me encaram, outras preferem ignorar minha presença, ou melhor, uma em especial... Rio comigo mesmo e volto meus olhos para a morena.

― Bem, agora preciso ir. Nos vemos em breve ― digo e dou uma piscadela, mania que sei que devo evitar, porém não consigo. Mais de uma vez interpretaram de maneira equivocada.

― Até, Sr. Foster. E caso queira uma companhia extra para a viagem ao Brasil, estou à disposição.

Ergo as sobrancelhas com a ousadia da mulher e não consigo fazer outra coisa senão rir. Não sou de me surpreender facilmente, mas a atitude da morena me deixou sem palavras. Direta e focada em seu objetivo, que acredito que seja me conquistar.

― Obrigado pela preocupação com meu trabalho. Terei isso em mente ― respondo, sem demonstrar que tenho ciência de sua verdadeira intenção.

Sou um apreciador de mulheres bem-resolvidas, que sabem o que querem e não querem, que exercem o poder da sedução inerente a elas, mas quando há ausência de ética, perco o interesse imediatamente.

A advogada sabe que sou cliente de Beatrice, consequentemente, é com ela que irei viajar, como deve ser de conhecimento de todos os advogados e estagiários. Não há necessidade de uma pessoa querer passar por cima de outra, mesmo que envolva um flerte ou um interesse qualquer. Eu poderia muito bem comunicar sua postura ao Larry, o cara que manda em tudo por aqui, contudo tenho mais a fazer.

Despeço-me com um aceno e sigo em direção ao elevador. Não vejo a hora de finalmente poder relaxar depois de semanas sem colocar os pés em casa.

*

De banho tomado e vestido com um conjunto de moletom, a roupa mais confortável que encontrei, acendo a lareira, sirvo-me de uma dose de uísque e me sento em frente ao piano de cauda, meu companheiro, que tem estado um pouco abandonado, eu diria.

Nunca trabalhei tanto como nos últimos meses. Negligenciei meu descanso, meus prazeres, tudo em prol dos negócios. Sei que Daniel, meu amigo e sócio, faria o mesmo por mim caso eu tivesse constituído uma família e precisasse ficar perto dela por alguns meses. É por isto que nossa amizade se fortalece ano após ano. Não jogamos nada na cara um do outro, o que um fez ou deixou de fazer, e, se há alguma diferença ou estranhamento, conversamos e logo tudo se esclarece.

Não bastassem as empresas em que somos parceiros, as minhas também têm requerido atenção e disposição. O que resulta em uma viagem atrás da outra.

É muito bom ter dinheiro, poder, influência, mas são poucos os que veem, de fato, os sacrifícios que são feitos. Acham que o sucesso vem sem esforço. Sorte, não é o que dizem?

Aos 36 anos de idade já vivi muitas experiências. Me formei em Administração, fiz mais de seis especializações, tanto nos EUA quanto na Europa, administrei minha primeira empresa aos 22 anos e, a partir daquele momento, descobri minha vocação: comprar companhias "quebradas" e erguê-las pouco a pouco. E foi assim que construí meu império.

Para mim, são mais do que instituições falidas, há a beleza do levantar, da administração adequada e perfeitamente executada, de mostrar que, com um trabalho bem feito e perseverança, é possível ter sucesso.

Solto um longo suspiro e bebo um gole de outro companheiro fiel, meu Macallan. Apoio o copo em um protetor sobre o piano e dedilho algumas notas, aquecendo e alongando meus dedos.

Enfim estou em casa, porém não ficarei por muito tempo. Dentro de alguns dias retorno ao Brasil para enfrentar um problema dos grandes.

Gradativamente, entro no modo offline, desligando-me do meu lado profissional, e começo a tocar uma música que costuma destravar minhas articulações, entregando-me à melodia. Fecho os olhos e encontro o ritmo perfeito. E, como se eu nunca tivesse parado de tocar, meu corpo reconhece o som e balança junto ao ritmo de The Well-Tempered Clavier, de J. S. Bach, uma das primeiras músicas que aprendi, ainda criança.

O toque fica mais intenso, crescendo e crescendo, meu corpo vai junto, sentindo, encontrando seu propósito, até diminuir novamente, ficando mais fraco a cada nota, crescendo uma vez mais para retornar à suavidade, até finalizar a apresentação.

Respiro fundo e sorvo mais um gole da bebida. O relaxamento que buscava.

Desde que me entendo por gente toco piano. Minha mãe investiu pesado, fazendo com que eu frequentasse conservatórios, aulas particulares... Por sorte acabei gostando. Por volta dos 23 anos, descobri a paixão pelo Jazz e, alguns anos depois, pela Bossa Nova.

Este é um dos motivos do Brasil ser um dos lugares que mais visito e pelo qual tenho enorme apreço. A riqueza cultural do país é incrível, e toda vez que estou lá, sinto minhas energias serem renovadas. É um lugar inspirador. Espero que Beatrice sinta o mesmo!

A ruiva invade minha mente por alguns instantes, mas a afasto delicadamente. O momento é de relaxar, e não de tentar decifrar um enigma. Foco no piano e decido tocar uma música de Steve Wonder, Isn't She Lovely, com uma batida de Jazz.

Alguns minutos depois, a campainha me interrompe.

Olho para o relógio e, já sabendo do que se trata, caminho pela ampla sala, que, se não fosse pelo sistema de aquecimento, a lareira e os diversos tapetes espalhados, estaria um gelo, e abro a porta.

Sorrio para minha convidada e sou agraciado com um abraço muito bem-vindo.

― Hey, Bri!

― Hey, Jamie! ― exclama, chamando-me pelo apelido que adotou desde que nos conhecemos há mais ou menos sete anos. Sem saber que era assim que minha mãe me chamava quando eu era pequeno.

A loira se desvencilha dos meus braços e entra no apartamento, os saltos tilintando na parte do porcelanato que os tapetes não cobrem, e vai direto para o balcão de bebidas, servindo-se de uma dose de uísque.

Brianna se formou comigo em um dos cursos de MBA que fiz na Europa, e, desde então, nos tornamos amigos. Ela é irlandesa, mas se mudou para Nova York recentemente. Na ausência de Daniel, tem sido uma ótima companhia.

― Estava tocando? ― pergunta, acomodando-se no lugar que eu ocupava instantes atrás.

― Era mais um aquecimento.

Sento-me ao seu lado, dedilhando algumas notas distraidamente.

― Como vão as coisas? Aposto que estava louco de saudade do seu apartamento elegante e másculo...

Ela ri, divertindo-se, pois sabe como amo meu apartamento e os bens que conquistei. Não é um apego material, mas uma prova concreta de que consegui. De que venci e estou vencendo dia após dia.

― Está tudo bem, mesmo com a correria diária, você sabe... E, sim, estava com saudade do meu canto. Posso ter apartamentos pelo mundo todo, porém nunca vai se comparar ao que sinto quando chego aqui. Aqui é o meu verdadeiro lar.

― Eu entendo. E... como foi a reunião? ― pergunta, hesitante.

― Como qualquer outra reunião de trabalho. Séria e tediosa.

Continuo tocando notas aleatórias, quando a mão de Brianna segura a minha, impedindo-me de continuar. Viro o pescoço em sua direção, e ela está com a cabeça inclinada, os cabelos ondulados moldando seu rosto delicado, as sobrancelhas erguidas como se aguardasse algo mais.

― Foi apenas isso ― respondo sem querer prolongar o assunto. ― Se toda vez que eu for encontrá-la você me lembrar do que conversamos quando estava bêbado, não vai dar certo.

― Eu só quero te ver feliz, Jamie.

Girando meu corpo, fico de frente para ela, com uma perna de cada lado do banco, e sustento seu olhar.

― Estou feliz, Brianna. De verdade. Minha vida não vai parar por que não posso ter tudo o que quero. O que tenho já me basta.

Sua mão afaga minha bochecha, os dedos fazendo uma carícia preguiçosa em minha têmpora, e diz, num sussurro:

― Você é bom demais, James. Merece toda a felicidade.

― Obrigado, Bri, mas apenas vivo a vida como ela merece ser vivida. Sem arrependimentos, sem expectativas. Quando aprendemos que não temos poder sobre nada, fica muito mais fácil ser feliz. E você também merece toda a felicidade.

Depois de alguns segundos, de olhares e palavras não trocadas, pergunto:

― Agora, vamos aproveitar a noite?

― Com certeza!


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