Capítulo 2 - Perdida


Oieee!!!

Como estão? 

Estou numa correria que vocês não imaginam rs Mas vim pagar meu compromisso ;)

Hoje lancei um livro na Amazon, pela editora 3DEA, chamado Em Você Me Encontrei e o link está no meu mural. É um dos melhores livros que já escrevi. Lindo, dramático, inspirador. O físico está em pré-venda no site da editora ;)

Quanto a Inevitável Dilema, será lançado nesta sexta-feira na Amazon (02.10), então fiquem atentas :)

Beijo grande e amo tus! (Ah, o próximo capítulo será de um tal Gentleman ;))

Há algo em mim que me puxa para baixo da superfície

Consumindo, confundindo

Esta falta de autocontrole eu temo que nunca acabe

Controlando

Parece que não consigo

Me achar novamente

Minhas paredes estão se fechando.

Crawling, Linkin Park.

Dias atuais...

Quando penso que estou evoluindo, vem a noite e me faz retroceder.

Enquanto eu tinha minhas amigas por perto, tendo a certeza de que poderia contar com elas a qualquer hora e momento, eu achava que estava bem. Elas me impulsionavam de uma maneira que fazia com que me sentisse realmente curada.

A confiança que depositavam em mim, as palavras de ânimo e motivação, o escudo que mantinham à minha volta, eram o que me fazia acreditar que eu estava seguindo em frente, mas agora, sem tê-las por perto, cada uma seguindo seu rumo, é como se toda aquela confiança e coragem tivessem se esvaído e o que restou foram os pesadelos, o medo e a insegurança, mostrando-me que estou longe de estar em paz.

Acordei de madrugada, suando, com falta de ar. A voz maligna continuou sussurrando ao meu ouvido mesmo quando abri os olhos:

― Todos os homens são como eu, Beatrice. Queremos apenas uma coisa de você: sua boceta. Você se acha mais esperta que eu (risadas). Você nunca será suficiente, sua putinha!

Estremeço só de recordar suas palavras acusadoras e é como se uma a uma tivesse o poder de me dar um soco no estômago.

Contra as forças que queriam que eu ficasse em casa, triste e em comiseração, visto um terno branco, aplico uma maquiagem leve e sigo para o trabalho. Tenho uma reunião muito importante.

No caminho, penso em ligar para Liv, mas não quero preocupá-la com meus problemas. Minhas amigas não estão disponíveis como antes e está na hora de me acostumar com isso. Elas têm suas vidas, seus afazeres, seus maridos. E, pela primeira vez, sinto-me só. Um calafrio perpassa meu corpo e estremeço no banco do carro. Não vou deixar que o medo volte a me assombrar. Eu não vou deixar. Eu não posso deixar!

Chegou a hora da reunião.

Em alguns minutos, estarei frente a frente com James.

Desde cedo venho pensando neste momento e minhas mãos não param de suar em expectativa, enquanto respondo aos e-mails pendentes.

Não nos falamos desde o mesversário do nosso afilhado, baby Bill, nos Hamptons, há duas semanas. Após aquele dia, minha cabeça ficou dando giros e mais giros para tentar compreender o que a nossa conversa significou. O que eu não quis entender.

O diálogo se repete em minha mente como um loop, mesmo tentando afastá-lo a todo custo.

— O que você quer comigo, James? — perguntei.

— Não acho que você esteja preparada para saber, querida.

Sua resposta não para de ecoar dentro de mim. Circula pela minha mente, reverbera em meu corpo...

"Não acho que você esteja preparada para saber, querida."

"Não acho que você esteja preparada para saber, querida."

Uma parte minha gostaria, e muito, de perguntar o que quis dizer com aquela frase, mas a outra, a que venceu, preferiu ficar na "ignorância". Como ele disse, não estou preparada, e não poderia estar mais certo.

Desde que se tornou meu cliente, nossa ligação se traduz no profissional, sem muita intimidade ou brincadeiras. As coisas mudaram. E por mais que eu sinta falta da nossa amizade, lá no fundo eu sei que é melhor continuarmos distanciados.

Ainda na festinha do meu afilhado, da mureta da mansão de Daniel e Scarlett, eu divagava, encarando um canto específico na praia, sem me preocupar com o barulho das ondas quebrando com tudo, perdida em lembranças que eu não deveria revolver... até ouvir a voz de James.

— Você lembra, não lembra?

— De quê? — perguntei, fazendo-me de desentendida.

Ele sorriu, passando uma mão pelos cabelos loiros.

— Você sabe, querida. O seu olhar não sai daquele lugar.

Como ele conseguiu ler a minha expressão? Do que eu estava lembrando...

Eu o subestimei por achar que ele não lembraria.

O exato lugar em que nos beijamos durante a festa de casamento da Scarlett, que aconteceu justamente nos Hamptons.

Foi naquela noite que eu percebi o perigo que James representava para mim.

Com apenas um beijo, ele me desarmou, deixando-me desejosa por mais. Mais do que paixão carnal, mais do que eu poderia oferecer... Então o afastei. Nós nos afastamos. Como se nada tivesse acontecido.

Após aquele dia, uma irritação anormal surgia sempre que o via. O que ele me fez sentir, a faísca que teimava em aparecer toda vez que o encontrava, as lembranças do beijo que dominavam meus sonhos involuntariamente, tudo isso me deixava em pânico e, ao mesmo tempo, com raiva, pois não queria sentir nada daquilo.

Por outro lado, James parecia se divertir, brincava, mexia comigo hoje vejo que era o jeito dele, o mesmo jeito de quando o conheci, mas eu estava tão à flor da pele e irritada, que só conseguia pensar que estava fazendo de propósito.

Faz tanto tempo... Como isso pode vir à tona ainda hoje?

A única razão que me vem à cabeça é que James é intenso demais. Sua presença me desconcerta de maneiras que não consigo explicar. Seu olhar faz com que eu me sinta exposta, sem qualquer máscara ou proteção. Como se me enxergasse de verdade, na minha alma, e isso... me incomoda. E muito.

Ao mesmo tempo, ele consegue ser o homem que toda mulher gostaria de ter ao lado. Bem-humorado, educado, inteligentíssimo, com uma beleza máscula e imponente, e, mesmo exalando poder, mantém a humildade, o que, na minha opinião, o torna mais encantador.

Não sou cega. É claro que eu o acho lindo, senão o homem mais bonito que conheço, porém não conseguiria lidar com a sua intensidade. Meu histórico ainda não me permite ousar. Ir além do que me sinto segura.

Estou na fase da leveza, da liberdade de poder fazer o que bem entendo, da facilidade descomplicada, de caminhar no raso, sem mergulhar, sem me aprofundar, e com ele não vejo esta possibilidade, por mais que muitas mulheres façam fila para ter sua atenção.

Quando as outras advogadas e estagiárias sabem que ele virá ao escritório, chega a ser cômico. Elas ficam eriçadas, agitadas e esperançosas de que um dos solteirões mais cobiçados da atualidade vá notá-las. Já dá para imaginar como estão hoje.

O cúmulo aconteceu esses dias, quando duas colegas souberam que vou ao Brasil com James. Elas vieram à minha sala e disseram que se eu não quisesse ir, ou se acontecesse algum imprevisto, estariam disponíveis para a viagem.

Veja se pode? Como se o meu trabalho já não fosse estressante, ainda tenho que lidar com a força do pensamento de pessoas que gostariam de estar em meu lugar.

O telefone toca e volto à realidade. Atendo e a recepcionista diz que meu cliente chegou.

— Obrigada, você pode pedir para ele entrar em cinco minutos? É só o tempo de finalizar uma pesquisa.

— Claro, Dra. Parker.

Respiro fundo e me levanto da poltrona. Sigo para o toalete e, de frente para o espelho, alinho o conjunto branco que estou usando, tirando uma linha invisível da minha calça.

Olhando para o meu reflexo, forço-me a visualizar se há algum resquício de que tive uma noite ruim, contudo a maquiagem cumpre o seu papel com êxito e não deixa transparecer as olheiras que vêm sendo minhas companheiras diárias. Menos mal. Do jeito que o homem é detalhista, todo cuidado é pouco.

Retorno para a sala e, antes que eu alcance minha cadeira, a porta se abre.

― Bom dia, Beatrice ― a voz grave e sexy acompanha a elegância do homem de 1,90m de altura que está à minha frente.

Como sempre, James está impecável em um conjunto de blazer e calça social na cor preta e camisa branca em contraste. Os olhos azul-piscina, os cabelos loiríssimos propositalmente bagunçados e a barba por fazer... Foco!

― Bom dia!

― Preparada para a nossa viagem?

Ele ergue as sobrancelhas, uma característica própria, e abre um sorriso de lado. Acho que James patenteou esta expressão. Fica perfeita nele!

― Confesso que estava começando a pensar que não haveria mais viagem.

Ele para ao meu lado, e nos cumprimentamos com um beijo no rosto, em seguida, senta-se na minha frente, e eu me acomodo em meu lugar.

— Por quê? — pergunta de maneira genuína.

— Apenas imaginei. Você demorou a retornar, não comentou sobre datas...

— Imaginou errado, Dra. Parker — responde, cruzando uma perna em cima do joelho, parecendo à vontade. — Eu estava correndo atrás do máximo de informações para te auxiliar, tanto com o antigo escritório quanto com os funcionários do hotel no Brasil.

— Ah sim, ótimo! E o que está acontecendo?

― Me desculpe não ter avisado sobre a viagem antes, mas foi tudo muito rápido. Temos sofrido alguns processos trabalhistas no Magnific do Rio de Janeiro, e não preciso dizer que eu e Daniel não estamos acostumados com este tipo de situação. Nos outros países há demandas, mas não na quantidade que está acontecendo lá. É como se estivessem trabalhando apenas para ingressar com ações, e isso causa preocupação.

― Entendo. É realmente preocupante, entretanto temos que tomar cuidado com palpites e suposições. Precisamos saber o que, de fato, está acontecendo. Podemos reavaliar as estratégias que o hotel está usando ao contratar mão de obra e se está acontecendo algum episódio que ainda não sabemos, ou que a assessoria brasileira está deixando passar. Isso demandará pesquisa de campo, trabalho em equipe com o corpo jurídico brasileiro, convivência e disciplina. Quando pretende ir?

― Daqui a dez dias.

Meu Deus! Tenho apenas dez dias para me organizar, me atualizar sobre as leis trabalhistas brasileiras, preparar estratégias... Ele deve ter percebido minha expressão chocada e logo emenda:

― Eu sei, eu sei, está em cima, mas teremos uma audiência importante sobre assédio moral e gostaria de acompanhar.

― Você sabe que não precisa acompanhar nada, não é? Para isto que servem os prepostos. E pode ser ruim para sua imagem...

― Eu e Daniel vemos com outros olhos. Entendemos que pode significar que temos boa intenção, que não estamos alheios, apesar de sermos gringos, como eles se referem a nós.

― E do que vai adiantar se você não entende nada em português? Acho que...

― Quem disse que não entendo nada em português? ― ele me interrompe, elevando as sobrancelhas mais uma vez. ― Eu pesquisei aquela área toda antes de virar o hotel de luxo que é hoje. Para isto, passei alguns meses na Cidade Maravilhosa e acabei aprendendo algumas palavras, frases. Devo admitir, porém, que entendo muito mais do que falo.

Não sei como ainda me surpreendo com James. O cara é um ícone no mundo dos negócios. É claro que é poliglota. E eu, idiota, por pensar que ele era um cara como os outros.

― Impressionante! ― murmuro. ― Tudo bem! Se este é o seu desejo e o de Daniel, vamos à audiência, e depois começamos o nosso trabalho por lá!

― Ótimo! Vou reservar o jatinho para a próxima segunda-feira, às 8h da manhã, e pedirei para te buscarem em casa às 7h30. Tudo bem para você?

― Sim! Ficarei no aguardo.

― Ok! Nos vemos em breve, Beatrice.

James se levanta e eu o acompanho até a porta. Ele para de repente e se vira, quase chocando o corpo grande no meu. Suas íris encontram as minhas, e um canto dos lábios rosados se curva para cima, em um sorriso malandro, daquele tipo que derreteria qualquer pessoa.

Será que ele vai comentar sobre o nosso último encontro? Prendo o ar, as mãos voltam a suar...

A voz rouca e grave me traz de volta à realidade, e o fôlego retorna aos meus pulmões. O modo profissional se impõe em uma fração de segundos, e só posso agradecer internamente por isso.

― Antes que eu esqueça, no máximo até amanhã você receberá um e-mail com todos os detalhes do que está acontecendo. Testemunhos, estudos do escritório brasileiro, o que está sendo requerido nas ações, e ficará por dentro do que é praticado no hotel atualmente.

― Perfeito ― respondo, recompondo-me da estranheza de instantes atrás.

Com um aceno, ele vai embora e, assim que a porta se fecha, volto para o meu lugar, afundando na cadeira acolchoada.

Assumindo a postura de sócia de um escritório renomado, uma das poucas coisas de que me orgulho, endireito-me, ligo meu computador, pego o caderno de anotações e começo a focar na "missão Brasil", jogando para longe tudo o que não tem a ver com o longo trabalho que tenho pela frente.

Cada minuto é precioso e eu preciso dar o melhor de mim. As leis trabalhistas dos Estados Unidos e as do Brasil são muito diferentes. Aqui, há uma Lei Federal principal e serve de base para o sistema de trabalho americano, a Fair Labor Standards Act - FLSA (Lei de Padrões Justos de Trabalho), cada estado tem autonomia sobre o próprio Poder Judiciário e leis próprias, já no Brasil as regras são mais uniformes e rígidas, regidas por uma Lei Federal, a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).

Meus planos para o final de semana acabaram de mudar. Contudo uma questão importante martela em minha cabeça: não sei quantos dias ficaremos lá. Droga! Mais tarde eu pergunto para James, porque agora preciso mergulhar no sistema jurídico brasileiro de cabeça.

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