Téo
Alegre. Era como Téo ficava cada vez que se lembrava de o quão próximo ele encarou aquelas esferas verde-escuras do olhos de Rafael. Estava muito perto, muito mesmo. E então, raiva. Com raiva de si próprio por pensar isso com tanta frequência desde o dia anterior. E na sequência medo. Medo de não conseguir evitar que aquele incômodo e diferente sentimento que surgiu lá no primeiro ano crescesse. Além do receio de que alguém tivesse visto o que aconteceu, espalhado pelos seus grupos de amigos e que Rafael visse tirar satisfações ou coisa do tipo alegando ser ele o culpado de tudo. Sim, em parte Téo estava paranoico.
Ele evitou olhar de lado durante as aulas para checar se Rafael o encarava como na noite anterior. Ele evitou lanchar de fora para que não o encontrasse e assim não tivessem que conversar porque ele sabia que se existisse a possibilidade, por menor que seja, de Rafael demonstrar na sua presença qualquer coisa que não fosse incômodo pela noite anterior, isso abriria a possibilidade de ele interpretar de forma errada a situação. E com isso, por meio dessas dúvidas, acabar alimentando aquele incômodo o deixando maior do que ele queria admitir que fosse.
Mesmo correndo o risco, ele ainda desceu para comprar uma caixa de suco se abacaxi, seu favorito. Ele acabou não bebendo pois estava muito ocupado fingindo desenhar qualquer rabisco no caderno, apenas para não levantar os olhos enquanto os outros alunos entravam na sala.
Ao final da aula, ao perceber que só faltava ele e mais umas dez pessoas dentro da sala, ele respirou mais aliviado e saiu finalmente aproveitando o suco que tinha comprado. Já que essa também era noite de futebol a maioria dos alunos se encaminhava o mais rápido possível para os barzinhos para ver o jogo, então quase todos já tinham saído.
Aproveitando a oportunidade ele desceu as rampas para o andar de baixo o mais rápido que pôde, mas assim que virou em uma esquina, seu corpo ficou leve derrepente, sua visão balançou muito rápido para ele conseguir focar em alguma coisa e então a inércia empurrou seus pés pelo piso molhado o levando contra a senhora da limpeza que tentou, de certa forma, segurá-lo e evitar uma queda. Funcionou, mas em contrapartida, seu suco acabou derramando e enxarcarndo toda sua camisa o deixando completamnete grudento e molhado.
Não havia o que fazer, ele voltou para o banheiro e lavou sua camisa. Era melhor do que passar o caminho todo até em casa nessa situação. Enquanto torcia o tecido o mais forte que conseguia, escutou o som da porta se abrindo devagar, e ao se virar encontrou Rafael parado ao lado dela imóvel. De início ele não olhava em seu rosto, mas então ele finalmente subiu os olhos e o encarou. Ele pigarreou antes de começar a falar.
- Que desperdício... parece que derramou tudo, e não tem mais pra vender hoje porque a barraca já fechou - ele entrou fechando a porta e cruzou os braços na altura do peito.
Téo percebeu que os olhos dele não focavam inteiramente em seu rosto, então o mais rápido e atrapalhado que pôde ele se vestiu.
- É... não tem problema - ele disse.
- Se meu suco favorito fosse derramado e não tivesse mais como comprar eu provavelmente estaria de mau humor - ele disse e Téo paralisou por um momento.
- Como você sabe que é meu suco favorito?
- Sabendo. Eu sei de várias coisas sobre várias pessoas.
- Ah, sim - Téo disse colocando sua mochila nas costas. Será se essas informações são tão precisas assim sobre todo mundo?
O silêncio dominou o cômodo de cerâmicas brancas espalhadas pela parede e pelo piso. E estava ficando pior a cada segundo pois Rafael não desviava o olhar um segundo sequer.
- É... - Téo começou meio indeciso sobre o que dizer. - Seu time joga hoje não é mesmo!? Não está preocupado em perder o jogo?
- Como sabe que é o time pelo qual eu torço? - ele perguntou.
- Todo... mundo sabe, não?!
- Não tenho certeza disso.
- Tudo bem - Téo disse e caminhou em direção à porta, mas antes de tocá-lá um braço entrou em sua frente impedindo sua passagem.
- Espera - Rafael pediu, então tirou o braço deixando a passagem livre para que Téo saísse se quisesse. Vou embora daqui agora! Mas ele não foi. Pelo contrário, ainda deu um passo para trás para ficar de frente para ele. Sendo assim, Rafael voltou o braço para o lugar e se escorou na parede novamente.
- O que foi?
- É sobre... ontem. Você... Hã... Eu... quando nós... enfim, tenho uma coisa pra te perguntar.
- Diga.
- Sabe, para uma boa relação de trabalho, é preciso conhecer os seus colegas. Então, eu soube que você teve uma namorada no ensino médio...
- Sim, é verdade.
O quão fundo ele vai pra descobrir as coisas sobre as pessoas? Será se ele sabe coisas assim de todos da turma?
- ...porém, há um tempo atrás o Sérgio disse que viu você com um carinha em um cinema e estranhou aquilo. Também não entendi, então você na verdade é...
- Bi - Téo disse antes de ele continuar, Rafael o encarou por alguns segundos.
- E como você... sabe? - questionou.
- Você sabe. Mas se quiser pesquisar pra esclarecer mais as coisas eu acho bom.
Rafael estava de cabeça baixa, parecia pensar em algo quando Téo teve uma ideia ao mesmo tempo assustadora e interessante. Poderia dar certo, poderia dar parcialmente certo e poderia dar muito, mais muito errado mesmo. É uma faca de dois gumes. Ele já havia notado Rafael estranho ultimamente. Primeiro o apelido, ele nunca o havia chamado assim. De início pensou ser algum tipo de zombação, mas acabou percebendo que não era. Depois veio a pergunta sobre o que o incomodava, seguida pela cena das cadeiras, dos olhos fixos e do jeito todo atrapalhado em se desculpar. E agora essa pergunta. De um jeito ou de outro Téo sabia que Rafael o conhecia, bem demais por sinal, o suficiente para saber que ele jamais faria algo para difamar alguém. Téo tinha consciência de que Rafael não era nenhum maluco, que ele tinha muito bom senso inclusive para situações muito complicadas. Se Téo tivesse a menor dúvida sobre essa última parte ele teria atravessado a porta o mais rápido possível, mas esse não era o caso. E ele seguiu em frente com a ideia.
- Se lembra de quando você caçoou de mim durante nosso primeiro trabalho em grupo por causa de umas teorias que você viu anotadas no meu celular? - Téo disse, Rafael ainda continuava de cabeça abaixada. Parecia não dar a menor atenção ao que o outro estava dizendo.
- O maluco das teorias - ele então disse, meio que sorrindo.
- Não sou maluco.
- Não cara, você é estranho sim. Tinham umas dez teorias naquele rascunho do notas, e pelo que eu entendi era tudo baseado em um diálogo de apenas cinco minuto. Você é sim um maluco das teorias.
- Eu gosto de teorias - Rafael ainda continuava com a cabeça abaixada. - Vamos testar uma delas agora - Téo disse se aproximando rápido demais.
Rafael levantou a cabeça para ver o que estava acontecendo mas só conseguiu perceber o rosto de Téo entrando por cima de seu ombro esquerdo, enquanto uma mão passou por debaixo do braço esticado e agarrou levemente os cabelos de sua nuca o puxando um pouco para trás. Com o outro braço ele passou pela cintura dele mas apenas de leve, sem que ele sentisse muito, Téo estava esperando. Rafael soltou seu braço da parede e deu passo para trás, quando menos percebeu sua mão direita estava sobre o ombro direto dele e curvando por trás do seu pescoço.
Téo então começou a apertar o braço na cintura dele o trazendo para mais perto mas ele não conseguiu terminar pois Rafael mais rápido o puxou primeiro o apertando conte ele o máximo que podia. Téo continuava mexendo os dedos na nuca dele até sentir os dele na sua e então ele mordeu a ponta de sua orelha de leve e sussurrou lentamente em seguida:
- Isso meio que responde minha teoria.
Eles se afastaram um tanto rápidos demais. Rafael ficou o encarando sem dizer nada, respirando pesado e numa posição de defesa.
- Do quê está falando? - ele perguntou recompondo a velocidade da respiração. - Isso pode ser uma relação involuntária.
Do que essa criatura está falando? Essa dúvida circulou na mente de Téo até que uma teoria o veio à cabeça, e com ela um misto de triunfo e pavor ao mesmo tempo, os dois porém eram tão forte sair ele preferiu não pensar naquilo dentro daquele banheiro. Ele precisava ir embora e pensar com calma quando estivesse em casa.
- Não é disso que eu estou falando - ele disse, abrindo a porta. Rafael havia liberado a passagem assim que o viu se aproximando.
- Não importa - ele anunciou. - Sua teoria falhou. Isso é só um... estímulo. Não é pelo que você está pensando.
Téo parou de caminhar no meio do corredor e se virou o observando.
- Já avisei que não é disso que eu estou falando.
- E de onde você tirou que isso significa algo? - Rafael disse e Téo começou a caminhar na direção da rua. Essa conversa tem que acabar aqui. - Pode ir tirando da sua cabeça que isso que aconteceu tem algum significado. E não espalhe isso, ou teremos um problema.
- Não existe o porque de espalhar nada - Téo se virou para encará-lo. Suas mãos estão apoiadas na cintura e sua postura parece a de alguém desesperado para convencer outra pessoa a aceitar uma desculpa ou coisa do tipo. - Mas é o seguinte: o que houve pode completamente não significar nada, quanto pode significar alguma coisa. Qual delas é a certa? Isso é com você.
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