Téo

- Não, eu não posso Cris - Téo disse. Ela queria que ele faltasse na faculdade pra acompanhá-la em um evento que aconteceria no shopping, algo sobre maquiagem.

- Vamos, não vai ser chato - ela argumentou, mas Teo sabia que era mentira, ele conhecia muito bem esses eventos.

- Hoje tenho prova na faculdade, de jeito nenhum eu posso faltar. Chame a Olga pra ir com você.

Ela pensou por um momento, parecia que iria xingá-lo ou coisa assim mas acabou saindo sem dizer nada. Ela não gostava de ir sozinha, esse evento gratuito e ocorria uma vez por mês, e por ser durante a noite ela preferia estar acompanhada.

Téo terminou de se arrumar e saiu para pegar o ônibus, ele não demorou muito e em minutos Téo já estava a caminho da faculdade. Há quatro anos que ele cursava engenharia e o próximo ano seria seu último, felizmente a faculdade não ficava muito longe de onde morava.

O que ele não gostava era de a aula ser durante a noite, pois ele chegava tarde em casa e já no dia seguinte precisaria acordar cedo para ajudar na feira. Seus pais tinham uma loja de frutas no seu bairro, e aliado a isso, possuíam também uma barraca na feira. Dessa forma, com a feira eles alcançavam o pessoal dos bairros próximos à ela que frequentam o lugar durante a manhã, e então, durante o resto do dia, sua loja de frutas alcançava as pessoas que moravam no seu bairro e até os dos bairros vizinhos.

Téo e sua família viviam bem sim, mas com certeza nessa realidade seria complicado pagar o curso de engenharia, no entanto, ele conseguiu um bolsa de estudos gerando uma grande economia nas contas.

Assim que ele chegou já percebeu as pessoas entrando e quase não sobrava ninguém do lado de fora. Téo se deu conta de que pelo visto o ônibus atrasou um pouco, o que ele não percebeu já que estava ocupado lendo.

- Preparado pra prova Téo - uma voz disse e ele virou para olhar.

Téo? Só meus amigos me chamam de Téo.

Téo é apenas um apelido, seu nome de verdade é Tales, mas o apelido pegou tanto que ele poderia chutar que apenas sua família sabia seu nome de verdade.

Quem chamou sua atenção foi Rafael, aluno da sua turma. Um tanto conhecido por ali já que tinha um perfil com um bom alcance nas redes sociais, sua página falava bastante sobre academia e coisas do tipo. O mais curiosos é que ele não era musculoso demais como se espera de alguém que frequentava tanto uma academia. No momento ele estava comendo um salgadinho, o que Téo achou estranho já que vendo a página dele, não se imagina que ele comesse esse tipo de coisa. Sim, é claro que vi a página dele. Téo resolveu ignorar o fato de ter sido chamado de "Téo" e decidiu não prolongar a conversa, apenas saiu andando mas o outro o alcançou antes de ele chegar na sala e o acompanhou em silêncio pelo resto do caminho.

A prova não foi fácil, mas as questões estavam de acordo com o que Téo estudou, portanto conseguiu resolver todas e supôs ter acertado mais da maioria. Antes de sair da sala, ele escutou novamente seu apelido sendo dito.

- Consegui pelo menos a metade Téo? Ou estava muito difícil pra você? - Rafael perguntou. Ele também era um dos que possuíam as melhores notas da turma.

Téo se virou para onde ele estava e encontrou duas garotas ao lado dele também o encarando. Ele as olhou por um momento e depois viu Rafael esperando pela resposta.

- Tales - ele disse corrigindo. - Só meus amigos me chamam de Téo.

- Nossa mas ele se ofende por qualquer coisa - disse uma garota.

- É mesmo - a outra concordou.

- Claro que somos amigos - Rafael falou.

- Não, não somos - respondeu. - E você sabe disso.

- Claro que somos. Somos colegas - ele se soltou das amigas e se aproximou colocando a mão em seu ombro -, o que nos torna... amigos... Você não concorda?

Téo percebeu que qualquer coisa diretamente negativa que ele falasse faria com que aquela conversa se estendesse, e não é isso que ele queria. Sendo assim, ele resolveu dizer:

- Se é assim que você vê, então já está decidido. Sempre esteve. Não havia a menor necessidade de me confrontar a respeito disso. Agora, eu já vou.

Téo tirou a mão dele do ombro e saiu da sala o deixando parado de pé encarando suas costas. Ele sabia que pode ter sido um pouco rude demais, mas ele não podia arriscar. Ele gostou de Rafael já no primeiro ano de estudo, mas percebeu que seria melhor acabar com aquilo o mais rápido possível. Sendo assim ele nunca o desenvolveu, porém ainda assim estava lá. Como um pequeno incômodo. Não o suficiente para ocupar muito seus pensamentos pois ele o ignorava, mas o bastante para aparecer em certos momentos e o deixar completamente confuso. Ser parte do mesmo grupo de trabalho que o dele já no primeiro semestre do curso obviamente não ajudou em nada. Téo então decidiu ignorar aquilo fazendo com que aquela sensação morresse.

Ou ele pensava ter morrido, até escutar seu apelido sendo dito por quem ele menos esperava.

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