Téo
- Mãe. A senhora viu minha blusa de frio preta? - Téo perguntou chegando na cozinha no dia seguinte.
- Mas nem está fazendo frio - ela disse. Realmente, o sol já estava alto e o calor estava começando a incomodar.
- Sim, mas hoje é véspera de Natal, se lembra!? Tem aquele projeto social que eu participo todo o ano. E talvez faça frio durante a noite, quero prevenir qualquer coisa.
- Esta certo. Acho que ela pode estar debaixo de todas as suas roupas no seu quarto, bem lá no fundo do guarda-roupa. Dá uma olhada.
- Certo.
*
Distribuir comida entre os necessitados era reconfortante para Téo. Desde a primeira vez em que foi apresentado ao projeto ele passou a ajudar com a distribuição. Alguns anos seus pais também participavam, mas em sua casa, apenas ele era frequente ao ponto de participar todos os anos sem faltar nenhum deles.
Ele fez bem em procurar pela sua blusa porque durante a noite começou a serenar deixando o ar mais úmido, juntando isso com o vento ficava ainda mais incômodo.
Téo conhecia a todos os outros voluntários, alguns realmente eram novos no grupo mas pareciam muito entusiasmados. Os outros eram como a base, aqueles que tiveram a ideia inicial.
- Como vai a faculdade Tales? - perguntou Fagner, o senhor que o convidou para o projeto da primeira vez. Ele se aproximou pelo seu lado, e estava sorrindo. Como sempre fazia.
- Bem. Tirei boas notas. Teve uma matéria em que tive um pouco mais de dificuldade mas mesmo assim fui aprovado em tudo.
- Então continue assim - ele falou dando tapinhas no ombro de Téo.
- Pode deixar.
- E sua mãe? Sua irmã? Seu pai? Eles não quiseram vir esse ano né.
- Não...
- Mas não se preocupe, o que importa é que os que estão aqui se esforcem e acreditem no que estão fazendo.
- Então pode ficar tranquilo - Teo olhou em volta um momento. - Todos estão se esforçando.
- Eu sei disso. Bom, vou deixar você continuar seu trabalho. Até.
- Até.
Os moradores de rua vinham se aproximando e oferecendo suas pequenas vasilhas que foram distribuídas anteriormente por outro voluntário.
Minutos depois Fagner se aproximou novamente, dessa vez junto com outro voluntário.
- Tales. Preciso de um favor seu - ele disse.
- Ah, sim. É claro.
- Preciso que você acompanhe o Pedro aqui até o nosso outro ponto de ação. Não há mais pessoas por lá, enquanto que aqui ainda temos alguns que apareceram de última hora. Vá com ele, meu filho, e traga o que eles tiverem de comida e água pra nós.
- Ah, claro. Eu vou sim.
Téo cedeu seu espaço para que outra pessoa continuasse sua tarefa, e então acompanhou Pedro até a van do projeto. O outro ponto de ação ficava distante mas não demoraram muito pra chegar.
Assim que estacionaram, Téo percebeu que todos já estavam alimentados naquele lugar. Algumas pessoas continuavam conversando, mas não trabalhavam mais.
Téo se sentia aliviado por saber que ajudou a melhorar, mesmo que um pouco, a noites deles e assim de trazer um pouco mais de alegria para a véspera de Natal. O que também o deixava triste ao constatar a realidade de que no resto do ano eles provavelmente não teriam a mesma possibilidade.
- Tales vá até o galpão pegar uma caixa de água mineral enquanto eu tomo conta da comida aqui - Pedro disse.
Tales se encaminhou para o cômodo. Era um lugar largo com algumas mesas espalhadas com algumas caixas colocadas por cima. Assim como ele, às outras pessoas também usavam um chapéu de Natal, o típico cone vermelho e a barra de um material fofo e branco. Uma caixa estava posta em cima de uma mesa e um rapaz já separava a água que seria levada. Onde essas pessoas conseguem a água no resto do ano? Era o que ele se perguntava. Se elas moravam na rua, então provavelmente quando sentiam sede eles buscavam a água nos estabelecimentos comercias.
Téo sabia que não eram todos que ajudavam, isso quando paravam pelo menos para ouvi-los. Aquela garrafinha poderia ser pequena mas significavam muita coisa para quem as recebia. Téo se aproximou olhando a arrumação e a última garrafa foi posta dentro da caixa, mas ele ficou uns segundos parado antes de pegar a caixa.
- Surpreso? - Rafael perguntou sorrindo.
- O... O quê você está fazendo aqui? - Téo perguntou boquiaberto.
- Uma boa ação - o outro disse, e então saiu carregando a caixa deixando Téo parado em frente a mesa vazia, cheio de perguntas, dúvidas e sem saber se o que tinha visto era de fato real.
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