Rafael

Estranho. Era a palavra que mais girava na mente de Rafael quando chegou em casa. Ele chegou e seus pais estavam se arrumando para sair, seu irmão menor iria para a casa de uma amiga de sua mãe porque, segundo ela, não dava para confiar completamente nele pois ele poderia se esquecer do irmão dormindo no quarto ao lado, ou simplismente pensar que não tinha problema, e acabar saindo para suas baladas. Rafael achava injusto quando ela dizia esse tipo de coisa, mas agora ele reconhecia que era só o receio de mãe. Ele felizmente nunca fez nada dessa natureza. Mas eu também não sou doido de fazer um negócio desse. Ele sabia que era porque suas "noitadas", como seu pai chamava, eram frequentes e por causa delas ele acabou não ficando com o irmão por várias vezes.

- Rafael! - sua mãe gritou do andar de baixo. Ele chegou na escada, estava descalço e bebendo um copo de suco.

- Sim?

- Seu telefone está chamando - ela levantou o aparelho e ele o pegou.

Ele voltou para seu quarto e fechou a porta.

- Alô?

- Ei Rafa! - uma voz feminina disse. - Vamos sair? Já chamei a galera toda.

- Sair?... - ele pensou por um momento. - Ah, acho que hoje não.

- Vamos, vai ser legal. Aproveita que a aula acabou cedo hoje e vai ter mais tempo de sobra.

- Ah, hoje não. Podem ir vocês mesmo.

- Vai perder? - ela perguntou aparentemente estranhando a conversa.

Ele deu uma risada descontraída e respondeu:

- É... acho que vou sim.

O silêncio tomou conta da linha e então quando ele menos esperava ela falou:

- Você está gostando de alguém?

Rafael quase engasgou com a pergunta, ele afastou o telefone do ouvido até conseguir parar de tossir e voltar a respirar normalmente.

- De onde você tirou isso? - ele perguntou, limpando as gotas do suco que se espalham pelo seu queixo.

- É a única explicação que vejo para você não vir porque se você estivesse passando mal teria mandado uma mensagem avisando. Sem falar que você só faltava nas festas assim quando namorava a Olívia.

- Não! Não! Esquece isso! Eu vou... ficar em casa para cuidar do meu irmão hoje.

- Então você definitivamente está gostando de alguém.

- O quê?! Não inventa!

- Você é quem está inventando desculpas, você jamais faltou a uma festa para cuidar do seu irmão. Eu te conheço bem.

- Não estou gostando de ninguém, caramba! - ele afirmou. - Para tudo tem uma primeira vez. E hoje eu vou ficar em casa para cuidar do meu irmão.

- Sei. E eu sou a rainha da Inglaterra. Te vejo por aí. Até.

- Até - ele desligou e jogou o telefone na cama.

Seu quarto começou a se molhar por causa do suco, sua camisa está do mesmo jeito. Ele desceu para a cozinha para entregar o copo de suco. Sua mãe estava terminando de calçar os sapatos e seu pai estava parado ao lado dela a esperando.

- Eu... posso ficar com Arthur hoje se vocês quiserem - ele disse. Seus pais o olharan com um olhar que ele não soube identificar. - Não vou sair hoje.

Seu pai o perguntou se ele estava passando mal mas antes que ele conseguisse responder, sua mãe acrescentou:

- Acho que tem alguém novo na área.

"Na área"? Ela disse "Na área"?

- Por que todos acham que tem alguém novo na área - ele repetiu fazendo uma voz teatral. - Não precisa ter alguém na área pra eu querer ficar em casa.

- Quem é a pessoa? - sua mãe perguntou.

A "pessoa"?

- O que a senhora quer dizer com a "pessoa"? - ele disse fazendo aspas com os dedos.

- Não sei... - ela respondeu, e então lança um olhar desconcertante para ele. Um olhar que ele se lembra de já ter visto uma vez, e que o faz se sentir uma criança de cinco anos que está tentando esconder algo que tinha feito.

Ele conversava de vez em quando com seus pais sobre seus namoros e coisas do tipo. Não que ele começasse a conversa, porém quando era perguntado sobre alguma coisa ele logo respondia sem muita cerimônia. Pelo menos era assim com a maioria delas.

- Falando nisso - ela continuou. - Tales não veio mais nos visitar.

- É - Rafael concordou meio divagando por um instante. - Ele tem que ajudar os pais na feir... ESPERA AÍ! O que o Téo tem a ver com isso? - então a mãe dele o olhou daquele jeito de novo e enfim ele se lembrou de quando esse olhar intimidador o atingiu pela primeira vez. Foi logo depois que Téo foi embora no dia em que veio fazer o trabalho na casa dele. Uns segundos depois dele sair ele percebeu esse mesmo olhar o encarando com uma expressão que na época, apesar de não aparecer, ele julgou ser um leve sorriso.

Ela não disse nada no dia, mas então ele acabou entendo o que eles insinuavam.

- Ele mudou de nome? - sua mãe perguntou. - Eu gostava de "Tales".

E antes que Rafael percebesse o deslize ele acabou dizendo:

- Não, o nome dele ainda é Tales. Téo é só um apelido.

E então aquele olhar estranho o atingiu novamente, só que dessa vez demorou mais.

- Ah - foi tudo que sua mãe disse. E então se levantou indo em direção à porta junto do marido.

- "Ah" nada! Nossa conversa ainda não acabou - Rafael insistiu.

- Não deixa seu irmão dormir muito tarde.

- Calma aí! Espera! QUE TIPO DE CONVERSA É ESSA?!

Ele tentou argumentar, mas ela já tinha saído e fechado a porta atrás de si.

Durante o resto da noite ele ficou um pouco com seu irmão vendo TV na sala, depois o levou para o quarto antes que ficasse muito tarde. Estava tudo certo, ele tinha parado de pensar no acontecimento da faculdade, porém antes que saísse do quarto, seu irmão bagunçou todos seus pensamentos e certezas que tinha criado depois da ligação recebida e da conversa com sua mãe, apenas fazendo uma pergunta:

- Mamãe disse que você tá namorando? Quem é dessa vez? Eu conheço?

Rafael não respondeu, ele desligou a luz e deixou o ambiente já confuso. Sua mente vagava, suas certezas iam e vinham e entre isso tudo a imagem de Téo sobre ele, o encarando nos olhos a centímetros de distância de uma forma tão simples e decidida que ele quase não o soltou quando ouviu o pedido dele. Ele queria mais, queria que tivesse durado mais. Não! Que isso, não queria! Queria sim, mesmo que não quisesse admitir. Foi então que ele tomou uma decisão, precisa tirar essa história a limpo, resolver essa situação logo.

O quanto antes, melhor.

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