Rafael

Merda! Ele me bloqueou achando que era uma piada. Um leve pânico surgiu quando Rafael se deu conta de que não conseguiria mais nem ligar nem mandar mensagem para Téo. Ele ainda acahava que talvez se tivesse sido mais direto Téo teria acreditado nele. Ou não né... Se mesmo sendo claro e indo devagar ele imaginou isso, se Rafael chegasse falando de cara que gostava dele e o convidado para sair, aí é que ele teria o bloqueado ainda mais rápido. Ele esperou alguns minutos na esperança de ser desbloqueado, achando que Téo reconsideraria a decisão mas isso não aconteceu. Ele ficou com receio de ter estragado tudo, de que Téo passasse a se afastar mais ainda e começasse a odiá-lo por pensar que estava zombando dele e... Calma. Também não é assim. Amanhã ele já vai ter mudado de ideia.

A porta do seu quarto abriu de súbito e seu irmão entrou esfregando os olhos.

- Rafa...

- Ben? Com pesadelo de novo?

- Sim.

- Vem, deita aqui - ele abriu as cobertas e colocou o irmão no canto encostado na parede, depois se deitou na beirada e colocou seu braço por cima da cabeça do irmão.

Esses pesadelos já estavam deixando de ser tão frequentes. Eles começaram depois de Rafael levar o irmão em uma daquelas atrações de circo que servem para assustar as pessoas. Ele julgou, errado por sinal e só depois ele percebeu isso, que o irmão não tinha idade para frequentar um lugar como aquele. Na mesma noite Ben teve que dormir com os pais. Depois disso sua mão obrigou Rafael a deixá-lo dormir com ele pois, como ela disse, "você deveria saber que ele não podia entrar naquele lugar, agora quando ele acordar com pesadelo é para seu quarto que ele vai. É sua responsabilidade. E não adianta discutir". E desde então, quando ele acorda com pesadelos ele se levanta e vai para o quarto de Rafael e se joga no canto da cama. Algumas vezes Rafael acorda e o coloca direitinho, tampado e tudo mais. Porém, quando isso acontece durante a madrugada ele chega e se joga no canto, e é assim que acorda no outro dia.

De manhã ele se levantou e o irmão não estava mais lá, imaginou que sua mãe tinha vindo buscá-lo. Após escovar os dentes ele desceu para o andar de baixo e encontrou sua mãe tomando seu café no balcão da cozinha. Seu irmão provavelmente já tinha ido para a escola.

Só preciso mostrar pra ele que estou falando sério. Ele se agarrou nessa ideia, era sua melhor estratégia no momento.

Rafael foi até a geladeira e a abriu procurando pelo suco de manga, era seu favorito e sua empregada Fátima sempre fazia, mas não todos os dias já que ele era o único a beber, no máximo Ben tomava um copo ou outro, mas não muito, sendo assim uma jarra durava uns dois ou até três dias. Mas dessa vez não tinha nada.

- O suco acabou - ele comentou com a mãe. - Onde estão as mangas?

- Não tem mais aí? Olha na dispensa - ela respondeu.

Rafael foi até lá e olhou nas prateleiras mas não encontrou nada. Então voltou para a cozinha e anunciou que não tinha mais.

- Já deve ter uns dois dias que acabaram - sua mãe disse. - Tem uns dois dias que ela fez o suco pela última vez então deve ter acabado e ela se esqueceu.

- Fátima saiu?

- Acabou de sair, ela foi ao supermercado. Liga pra e pede pra ela trazer.

- Não, aquelas do mercado são cheias de agrotóxico. Eu queria as da feira que são orgânicas.

A questão das mangas era a única coisa com a qual ele se incomodava, sempre gostou de suco de manga e quando mais velho passou a comprar só as orgânicas. De resto, tomava cuidado com a alimentação até por causa de seu perfil nas redes sociais, porém preferências mesmo só com as mangas.

- Onde fica a feira onde ela compra as frutas? Eu vou lá buscar. Até Fátima ir até lá e voltar aqui vai demorar e ela precisa fazer o almoço.

Sua mãe o explicou o endereço da rua e logo que Rafael ficou pronto ele saiu. Não demorou muito para chegar, o lugar estava lotado de pessoas carregando sacolas, avaliando preços e conversando entre si. Claramente também era um lugar de ponto de encontro. Rafael nunca tinha visitado uma feira e ficou meio perdido no começo, mas então começou a procurar pela barraca da dona Rosângela. Era o nome que sua mãe o havia dado, era o lugar onde Fátima sempre comprava as frutas.

Depois de algumas perguntas feitas, logo ele conseguiu uma direção. Pelo visto a barraca da dona Rosângela era conhecida no local.

Apenas alguns passos depois Rafael encontrou a resposta para uma dúvida que teve ao encontrar Téo pela primeira vez, e que aumentou ao vê-lo sem camisa no banheiro. Se ele já havia declarado que não gostava de academias então como que tinha braços e torço bem definidos daquele jeito? Então ele o viu carregando algumas caixas para dentro de um caminhão, uma por vez, mas ainda assim elas estavam cheias.

Rafael pensou em ir falar com ele, mas escutou o nome de Rosângela e olhou na direção para qual o grito foi direcionado. Ele encontrou uma mulher e uma garota uns anos mais novas do que ele mexendo nas frutas e verduras, então percebeu que as mangas estavam acabando e teve que deixar de lado a ideia de ir conversar com Téo. Faria aquilo depois.

Frutas orgânicas possuem mais facilidade em apodrecerem mais rápido, dessa forma, Rafael já esperava que as frutas estariam com manchas marrons por toda a casca.

Ele se aproximou da barraca mas não foi a ótima qualidade das frutas que deixou Rafael surpreso, mas sim, a palavra "Mãe" saindo da boca de Téo e indo em direção à mulher que o atendia.

Quando Rafael o encarou, ele estava paralisado com um pedaço de maçã preso entre os dedos sem reação. Mais rápido que pôde, Rafael se recompôs e voltou sua atenção para a mulher e a garota que não repararam na sua surpresa ao ver Téo ali.

- O que o senhor vai querer? - a mulher pergunta.

- "Você", por favor. É... mangas.

- Quantas?

- Uma dúzia.

Mais rápido do que a mulher, a garota pegou uma sacola e começou a colocar as mangas dentro dela. Ela lançava olhares sugestivos na direção de Rafael, e por achar aquilo engraçado, para implicar com Téo, ele resolveu discretamente retribuir o gesto, mas sem deixar muito na cara.

- Suas frutas são de ótima qualidade, parabéns - ele disse.

- Ah, muito obrigada - a mulher respondeu.

- Aqui - a garota o entregou a encomenda e em seguida recebeu o pagamento passando levemente seus dedos nos da mão dele. Talvez não fosse seu objetivo, talvez sim, mas ele sabia que tanto Téo quanto a mãe dele haviam percebido o gesto.

-  Então o senhor compra com frequência? - Rosângela perguntou.

- Sim, tem muito tempo.

- Não diga. Mas eu nunca o vi por aqui?

- Ah sim, é minha empregada quem compra e ela sempre fala muito bem da mercadoria da senhora. Só que hoje ela saiu sem saber que as mangas tinha acabado, resolvi eu mesmo vir comprar.

- Ah, então obrigada pela preferência.

- Que nada.

- Apareça mais vezes - ela disse.

- Eu vou.

- A propósito - ela disse estendendo a mão -, meu nome é Fátima.

- E eu sou Rafael - ele falou a olhando e sorrindo -, seu futuro genro.

Ele saiu sem dizer mais nada, mas escutou a mulher e a garota tentando acudir Téo que estava se engasgando com o pedaço de maçã.

*

Já de noite, quando Rafael estava deitando na cama jogando um jogo para passar o tempo, seu celular vibrou e a aba de ligação tomou conta do topo da tela, o nome de quem ligava deixou Rafael tão eufórico que antes que percebesse já estava sentado atendendo a ligação.

- Oi - ele disse.

- Aqui, tenho uma coisa séria pra falar.

- Nossa, já começa assim. O que eu fiz agora? É a urgência em confirmar que você decidiu aceitar meu convite pra sair?

- Não é nada disso. Olha Rafa eu...

- Espera! - Rafael o interrompeu. - Você disse "Rafa"?

- Rafael - Téo corrigiu.

- Nada disso. Agora eu quero "Rafa" e se você voltar a me chamar de Rafael eu vou desligar essa ligação.

- Pode parar de mentir, você é o maior interessado nessa conversa. Mas eu posso sim te chamar só de Rafa. Não vai ser nenhum sacrifício.

- Ata.

- Para. Olha aqui, não quero saber de você dando em cima da minha irmã - Téo disse deixando-o surpreso.

- Por quê?

- Eu percebi os olhares na feira está bem. Estou avisando.

- Não se preocupa. Aquilo era só brincadeira.

- Ata. E o que você disse antes de sair foi um delírio meu, é?

- Fica tranquilo, você não está delirando, porque eu falei mesmo aquilo. Mas quando eu disse pra sua mãe que seria o futuro genro dela, não era da sua irmã que eu estava falando

A linha ficou muda por um instante, Rafael pensou se ele teria desligado.

- Téo? Ainda está aí?

- Estou. É... até outro dia Rafa.

- Até.

Rafael foi deitar com o "Rafa" ecoando em sua cabeça, e pensando na reação dele de ficar mudou após o que ouviu,  Rafael acabou dormindo sem perceber.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top