5. Um flerte sem fim

intrusão: ato ou efeito de introduzir-se, sem direito ou sem título, em local, sociedade, cargo, dignidade, benefício etc.

March, 2019

Thomas era um intrusão, Rules logo concluiu. Já faziam meia hora e ela não conseguiu tirar aquele olhar do rosto, nem disfarçar a insatisfação por tê-lo ali. Ele chegou, se apresentou, sorriu como só Thomas Müller consegue: prepotentemente e abusado. Conquistou Nolan e lá estava ele, trocando informações no sofá da sala com um garoto muito curioso.

— E é assim que você troca uma bateria. — Thomas demonstrou para Nolan, fechando a lateral da lanterna logo em seguida. — Viu, garoto? Não é tão difícil.

— No escuro complica, mas com você segurando a lanterna pra mim, é até fácil.

— Então somos o que muitos chamam de boa dupla. — Nolan bateu na mão do mais velho. Rules observava tudo com suspeitas e nenhum disfarce.

Thomas por outro lado, estava animado. Por algum motivo ele estava atraído pela mulher. Atraído de verdade pela rispidez que ela emanava desde o momento em que ele pôs os pés na porta dela, com um sorriso, um deboche e uma insaciável vontade de contrariá-la. E mesmo que não caísse diante dos ataques visuais de Rules, ele podia sentir o olhar dela sobre ele e o filho. Podia confirmar claramente sem sequer olhar para ela, que Rules não estava contente com sua presença.

Mas ele aguentava ser a presença indesejável, desde que pudesse vê-la corroendo de raiva por um tempo.

— Vou beber água, você quer alguma coisa, Nolan? — A mãe perguntou, se afastando da parede e seguindo rumo ao outro cômodo.

— Não.

— Eu aceito um suco. — Thomas disse. Rules direcionou a luz para o alemão, que sorriu mediante o gesto. — Ou pode ser uma água.

— Desça um andar e beba da sua própria água.

Quando virou de costas, Nolan não prendeu o riso e Thomas encarou o garoto, o acompanhando na reação. Nolan podia notar como a mãe estava incomodada com a presença de um homem em casa, mas ela não havia dito não para ele, pois o próprio Nolan o convidou para entrar, ao reconhecer sua voz. E Rules não barrou o pedido do filho. E cá estava Thomas, alvo da insatisfação momentânea de Rules Maniza.

Insatisfeita, Rules escorou-se na bancada da pia, levando o copo com água aos lábios e bebeu sua água, suspirando enquanto passava a língua na borda de vidro ouviu os passos, e logo a janela aberta clareou a presença de Thomas.

— Vá embora.

— Não posso deixar uma dama e seu filho sozinhos durante um completo breu. — Explicou, brincando com a luz da lanterna. — Além do quê, é divertido imaginar o que está pensando.

— Acho que foge a questão, mas eu tenho que te perguntar. — Rules iniciou.

— Não se preocupe. Eu não estou te seguindo. A resposta é não. Satisfeita?

— Qual é a probabilidade de você morar no mesmo prédio que eu? — Ele deu de ombros, não guardando o sorriso. — 99, 9% dos homens que eu rejeito nunca mais batem de frente comigo.

— Então, Maniza, parece que encontrou o seu 1% em questão. — Pousando a lanterna na pia, Thomas estendeu a mão para Rules.

A mulher encarou a luminosidade sobre sua pia, e a mão do alemão no ar. Thomas estava a sua frente, e seu meio sorriso era um pecado carnal. Tinha que tirar os olhos dele e foi por isso que recusou o aperto de mão, se afastando e cortando o contato visual, levando junto sua lanterna.

— Gentileza gera gentileza, Srta. Maniza.

— Olha, você está na minha casa, cara. Sinceramente, está invadindo meu espaço. Obrigado pelas lanternas, por ser gentil com o meu filho e por vir flertar comigo na cozinha, mas acho que é realmente hora de você ir embora.

— Ainda estamos flertando? — Nada sútil, a acompanhou colar o corpo no armário que alcançava sua cintura em pé de altura. Rules apoiou a mão que não segurava a lanterna a beirada, a firmando ali. — Você não quer que eu vá embora.

— Eu quero que pare de flertar comigo. — Ele negou. — E saia da minha casa.

— A falta de luz te deixa desconfortável?

— Homens caminhando pelo meu território durante um apagão é que me deixam desconfortáveis.

— Homens ou eu?

— Dá no mesmo, Thomas, já que ninguém entra aqui. — Ele assentiu. Realmente podia vê-la suar e o clima não era o culpado.

O primeiro pensamento foi de que causava aquele efeito nela e internamente, gostou. Mas a forma como ela batia as unhas ritimadamente na borda do armário, clareou sua mente para algo além: Ele era um homem parado na sua cozinha, no primeiro dia de mudança, após o retorno para casa. E ela não estava assustada, estava lidando com a situação.

Reus não lhe contou muito, mas foi bem ácido em relação a não pressionar Rules em sua casa. Era difícil voltar. E ele fez exatamente isso.

— Tenho treinamento amanhã de manhã. — Soprou essa desculpa, e a viu respirar aliviada. — Posso fazer algo para ser um vizinho legal?

— Fechar a porta quando sair, obrigada.

Ele assentiu, recolhendo sua lanterna do balcão da pia e acenando uma última vez antes de partir. Rules se odiou por ter fraquejado, mas se sentiu tranquila ao ouvir o som da porta se fechando. Sabia que além de Nolan, não havia mais ninguém. Em breve a luz retornaria e eles tinham caixas para desempacotar.

Muitas delas.

❇❇❇

O ateliê estava cheio de tecidos e manequins com peças incompletas. Dannah havia enviado alguns modelos e as costureiras da gestão atual já começaram a costurar seguindo cada linha que a Srta. Díaz havia escrito para elas.

— Se vocês querem as bolinhas, tem que ornar o tecido com a estampa. Não dá para escolher só um. — Rules pontuou, passando os dedos pelo modelo exposto. — Náilon não é a melhor opção para essa estampa.

— Você quer mudar o tecido em plena composição?

— Ou muda o tecido ou desiste da peça, fofa. Tá horrível. — A garota, provavelmente 18 ou 19 anos bufou e se retirou da sala. Sarah riu, vendo Rules voltar a ocupar seu lugar na mesa.

— É por isso que ninguém gosta de trabalhar com você, Rules. Você é muito exigente.

— Eu sou exigente e faço dar certo. — Sem dar atenção, Rules folheou o portifólio com os modelos em designer gráfico. — Tirar tudo isso do computador vai ser interessante. Mas gosto dos pensamentos de Dannah.

— Da certinho com o seu. Vocês são loucas.

— Me trouxe aqui para Munique para me insultar, Sarah? — Rules encarou a mulher, que sustentou fixamente o sorriso costumeiro e cruzou as pernas. — Porque se foi, podia ter me enviado um e-mail.

— Um e-mail não é tão impactante quanto olhar nos seus olhos e dizer que vamos fechar uma grande parceria, Rules.

— Eu não fecho parcerias sem os meus acessores, contadores e toda a minha equipe. Se eu não os vejo aqui nessa sala, então não tem parceria.

— Seus acessores não precisam estar aqui. Você vai fazer história sozinha, sem nenhum deles, Maniza. E quando você ver, será a maior marca da Europa e terá conquistado tudo isso sozinha.

— Você pode me assegurar isso?

— É claro que posso. A margem de fracasso é medíocre e baixa. A Store Luminositá em parceria com a minha Sarah Fox vai ser a maior coleção do ano e vai conquistar o título de maior marca européia.

— Você é boa com as palavras, Sarah. Gosto de saber que estudou bastante pra me conquistar. — Sarah sorriu, sabia que tinha ganho a garota. — Mas você me perdeu no fracasso e medíocre.

— A porcentagem de erros é menos de 10%, Rules. Isso não devia assustar você.

— Não me assusta. O que me assusta é o fracasso e o Medíocre. — Fechando o portifólio, Rules se levantou. — É por isso que eu trabalho sozinha. Sem acessores, sem contadores, sem minha equipe. Eu não estou aqui porque acreditei em margens de erros. aqui porque acreditei neles e no meu potencial.

— Vamos trabalhar com duas das maiores marcas da Europa, Rules. É essencial. E seu potencial está em você.

— Claro que sim. Meu potencial está em mim, mas sem a minha equipe eu não vou trabalhar.

— Está cometendo um erro ao me rejeitar.

— Olha, Sarah, eu aceitei a proposta da empresa. Eu só não vou trabalhar com você. Não trabalho com pessoas que desmerecem os outros e fazem tudo sozinhas.

— Vai perder a Sarah Fox Designer se não trabalhar comigo.

— Estou contando com isso.

❇❇❇

Nolan recebeu a bola bem na cara do gol, chutando a bola em direção a rede, mas o garoto, Trevor agarrou. As poucas pessoas ao redor do campo gritaram, enquanto Rules apenas torceu os lábios, conforme Nolan não marcou para os Bávaros.

O filho olhou para o gramado, em direção a mãe e Rules mandou um joinha. Ele assentiu e continuou correndo acompanhando os novos amigos.

Reus falou sério quando disse que o colocaria para treinar com uma equipe, enquanto estivessem em Munique. O menino não podia parar os treinos diários, era uma das maiores diversões do garoto. Rules não podia priva-lo, também não queria. Embora ainda tentasse descobrir como faria isso, o levaria para a escola, para o treino e ainda trabalharia no ateliê junto com sua equipe, que estava a prontos minutos: de uma mudança para a cidade vermelha.

— Você foi bem. — Ela bagunçou o cabelo do filho, entregando a garrafa de água. Nolan agitou as madeixas clareadas e molhadas de suor. — É sempre assim?

A pergunta saiu sem intenção de parecer uma megera que não tinha o costume de visitar os treinos do filho, mas Nolan percebeu.

— A tia Iana costuma gritar comigo quando eu perco chances na cara do gol. — Confidenciou, lembrando de como a tia era muito viciada em futebol. E quando se tratava do Schalke ou do Borussia, ela retornava 10 vezes pior.

— Se eu gritar com você, isso ajuda no seu desempenho?

— Eu tento não errar mais gols.

— Tem que tentar não errar os gols antes que eu grite com você. Porque quando eu gritar, foi um péssimo desempenho. — A tentativa de soar mandona saiu pela culatra, fazendo o menino sorrir da reação da mãe. — Falo sério. E não ria. Onde já se viu perder gol feito?

— Foi mal, mãe.

— Foi péssimo. Da próxima vez que perder um gol assim, eu vou te jogar da janela do prédio.

— Mamãe!

— Tá pegando pesado não acha, não? — Ah mereço, pensou.

Rules colou a língua na bochecha, se virando e encarando o par de olhos lindos —  acrescimo; impactantes e de derrubar as estribeiras —, encarando ela. Thomas Müller trajava o atual uniforme de treinamento do Bayern de Munique. A calça cinza e camiseta vermelha com o brasão dos bávaros, realmente caiam bem naquele homem.

— E aí, Thomas. — Nolan fez um toque com o mais velho.

— E aí, moleque.

— Viu o gol que eu perdi? — Questionou envergonhado.

— Não vi não, mas pelo jeito que sua mãe estava falando, deve ter sido péssimo. — Thomas trocou a bolsa que estava em um ombro, para o outro e enfiou as mãos no bolso, olhando para Rules. — Não deixa ela pega pesado com você. Fazer gol nem sempre é tudo.

— É, mãe. — Nolan repreendeu Rules, enquanto negava se divertindo com o olhar acusativo dela. — Não pegue tão pesado comigo.

— Ah seu pestinha...

— O professor está chamando. — Ele disse logo, querendo fugir. — Já volto, mãe.

Ele entregou a garrafa de água e correu para o campo, onde os dois times já tinham se reunido em um círculo, com o treinador no meio. Rules riu, sabia que o filho estava debochando dela. E gostou de saber que estavam fazendo esse tipo de coisas juntos.

— Se continuar pegando pesado com ele assim, vai transformar o garoto em uma daquelas pessoas que não sabem perder.

— Quando você tiver um filho a gente conversa sobre como você vai educar ele, enquanto isso, eu rejeito sua intromissão. — Ela cruzou os braços, olhando a agitação dos meninos correndo.

— Só tô dizendo.

— Não diz.

— Quer sair comigo?

Sim, ele apenas disse. Rules riu e virou para encontrar o olhar sério do homem ao seu lado. Algumas vezes exalam certeza ou deboche, outras consciência e consistência. Dos homens de sua vida, a maioria exalava incerteza de absolutamente quase tudo. Mas não ali. Ali não. Thomas apenas encarava Rules com a certeza de que ela fosse dizer "Não", e ela realmente teria dito.

Mas não foi a tempo suficiente. Ele não lhe deu os segundos necessários para processar a informação. Ele riu de sua própria pergunta, confirmando para Rules o quão debochado ele conseguia e se esforçava para ser.

— Não me responda. Eu vou dar um jeito de você não ter escolha.

— Boa sorte no seu processo.

— Você não quer me desafiar, Rules. Eu não jogo para perder. — O sorriso de escárnio que ela lançou para ele, o desarmou. — Não adianta sorrir com esse sorriso lindo pra cima de mim. Você vai sair comigo.

— Tá bom, Thomas Müller. Se você diz. Não posso te impedir de sonhar comigo.

— Vai ser aqui, mulher, nesse mundo. E para de me chamar de Thomas Müller. Você consegue um jeito mais carinhoso de se dirigir a mim.

— Tipo qual?

— Só Thomas tá bom. Mas para você, pode ser amor da minha vida. Eu também acho agradável.

— Então, amor da minha vida, será que você pode sair dela, por favor?

— Esse é um comando que você só pode desbloquear no nível 10.

— Estamos em qual nível?

— Eu diria que 5.

— Sério? E como você montou essa escala?

— Se sair comigo, eu conto.

— Lembrei aqui agora que não curto muito vídeo game. — Mesmo que não admitisse, Thomas tinha o senso de humor que arrancava sorrisos dela.

E Rules nem percebia que estava sorrindo demais. Nem percebia que ele a fazia amolecer e trocar as farpas por sorrisos soltos. Ele era intrusão, correto. Mas tinha aquele calor que a deixava confortável. E Rules não gostava disso. Não gostava nenhum pouco.

— O que veio fazer aqui? — Ela coçou a garganta, tirando o assunto da cabeça.

— Kövac nos liberou mais cedo para o treino dos meninos. A gente vem de vez em quando.

— Por quê?

— A equipe principal gosta de ficar perto dos meninos da base. Mostrar para eles que são tão importantes quanto nós.

— E onde estão os outros?

— A gente reveza. Não vem todo mundo.

— E você veio sozinho?

— Por que? Esta interessada em me levar a algum lugar depois daqui? — Ela negou. — disponível.

— Não, seu idiota. Tenho a impressão que seu cérebro e sua língua não andam juntos. Ou será que você não recebe os comandos de que está sento um idiota?

— Acho que você tem razão. Eles não andam juntos. Quer me examinar, doutora?

Perda de tempo. Mesmo a contragosto, Rules riu da careta do alemão. E estava disposta a dar a ele uma resposta tão prepotente quanto, mas o celular tocou, a alarmando sobre o nome no visor.

— Da licença. — Disse a Thomas, se afastando. — Alô.

Pretendia me contar que está de volta?

— Não estou. O que você quer?

Ver o Nolan. Quero ver o meu neto. Será possível que eu tenha esse direito, ou vou precisar bater de frente contigo na justiça, Rules?

Ava Laurent era uma pessoa muito persuasiva. Ela driblava o filho, driblava o marido. Driblava tudo que podia, todos que podiam. Rules não. Rules nunca. Por isso Evan quis se mudar e casar, sair de casa, construir sua vida com Rules. Para sair de perto de Ava.

— Bata de frente comigo na justiça, Ava. Pode tentar.

Nunca gostei de você. — Rules riu.

— Reciprocidade é tudo.

E desligou o telefone. Que raiva, que ódio, que vontade de não ter essa pessoa. Respirou fundo, enfiou o telefone na bolsa e voltou para o seu lugar a beira do campo.

— Tudo bem? — Thomas questionou. — Tá devendo pra alguém, né? Certeza. Esse olhar é a máfia te cobrando.

Ele podia tirar esse peso das costas dela, fazê-la rir. Era errado querer usar esse dom de Thomas para tirar o incômodo que pairava no ar? Rules não ligava.

— Você quer tomar um sorvete depois do treino?

— Tá me chamando pra sair?

— Não vou perguntar de novo, Thomas.

EITA, PLEURA!

Valeu, produção, chegamos ao quinto capítulo que pra quem não recorda, são nossos capítulos avulsos. A partir daqui vocês saber exatamente onde estamos.

Vou por as datas certinhas, para ninguém se perder saber qual a situação do Thomas, do Bayern.

O Instagram da Rules também vai ajudar. Então sigam ela.
@rulesmaniza

E sigam a Tia Iana 🌹
@ianamaniza

E sigam a marca:
@storeluminositá

Beijos e fiquem ansiosos junto comigo para essa próxima etapa.
🌹
Até o próximo.

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