23. Sobre aceitação e perdão

ato ou efeito de concordar, de anuir; aquiescência, anuência.


09.
06.
2019.

Argh!

Rules leu a mesma página do livro pela oitava vez, correndo os dedos pelas beiradas, tentando em vão se concentrar nas palavras destacadas, com seu marcador. Do quarto, podia ouvir Nolan em uma conversa agitada e num volume explosivo.

Ouviu as risadas de Iana.

Respirou fundo, apertou os olhos e massageou as têmporas. Estava tão cansada, sua exaustão gritava socorro. Ela queria ouvir, deitar e dormir por um dia inteiro. Seu corpo merecia essa compreensão. Mas Rules não costumava concordar com tudo que lhe era pedido a um tempão, então...

Ela tirou os óculos e o pousou na cabeceira ao lado da cama, marcando a página do livro em que estava e o deixando lá também. Jogou as pernas para fora da cama e calçou os chinelos. 08:30 da manhã, de um sábado que mal tinha começado, e já estava sendo cansativo.

Precisou entrar no banheiro para espantar o máximo que conseguisse o olhar de desespero momentâneo, e a vontade de voltar para a cama era gritante. Só escovou os dentes e lavou o rosto, logo saindo do quarto. Quase tropeçou naquelas caixas do lado de fora.

Rules destacadas em umas, Nolan na outra. Por um momento tinha se esquecido dessa parte importante da sua vida. Já tinha se passado quase duas semanas que Thomas tinha os convidado para viver com ele, ocasionando no pedido de casamento mais sem graça dessa geração. Mas Rules não podia reclamar, já que amava o jeito que Thomas tinha de expressar as coisas.

A primeira semana só serviu para ela organizar o que podia com a sua própria vida. Tinha coisas importantes que tinham que ser empacotadas a pronta mudança, Rules tinha se doado a isso durante a semana. A Luminositá era fácil, já que Rita tinha feito toda a parte burocrática para ela. De acordo com a amiga e colega de trabalho: Todos já sabiam que Rules ia se plantar como um caule em Munich o quanto antes pudesse. Rules só pôde rir naquela hora, mas agradeceu de imediato.

Thomas já estava impaciente quando a semana chegou e nada de Rules voltar para junto dele, mas ela tinha feito a promessa de que iria, e para ela: sua palavra valia.

Ao entrar na cozinha, viu Iana e Marco sentados a mesa, com um Nolan tagalerando aos montes. Mark usava um avental enquanto recheava a mesa do café da manhã.

— Toma café com a gente? — Mark abriu um sorriso vendo a filha acordada. Na noite anterior, ele nem a viu pegar no sono enquanto trocava mensagens com Thomas.

— Claro.

Iana ofereceu a cadeira ao seu lado, Rules optou sentar lá mesmo. E Mark entregou a ela uma caneca de chá forte para aguentar todo o dia que estava por vir.

— O Thomas ligou. — Nolan disse. — Ele queria saber sobre a parede do meu quarto. Eu disse que vamos pintar de azul.

— Em homenagem a capa do Superman? — Iana questionou.

— Em homenagem ao Schalke 04, sua bobona. E a capa do Superman é vermelha.

— Então deveria pintar de amarelo, se quer um time de verdade. — Marco sugeriu, enfiando uma torrada inteira na boca.

— Meu time de mentira deu uma surra no seu time de verdade no nosso último encontro. — Nolan o provocou. — Pode até não ser de verdade, mas para vocês é uma lenda urbana.

Até mesmo Rules teve que cobrir o sorriso com a caneca para não ser flagrada rindo da situação. Mark trocou o prato vazio na mesa por um cheio de torradas. Por debaixo da mesa, Rules chutou levemente seu filho, e quando ele olhou para ela, fez sinal de negação. Marco flagrou a ação.

— Não acredito que está rindo disso. — Ele a acusou.

— Eu? Jamais. Filho, não abra feridas do passado. Seu tio sofre tanto. — O deboche pingava no canto da boca.

— Devia vê-lo relembrando o jogo contra o Bayern, que deixou os bávaros permanentemente na liderança. — Iana o entregou. — Sofre até hoje.

Mark fritava alguns bolinhos, enquanto Iana deixava Rules a parte do seu jantar de aniversário, que seria dali duas semanas. Até então, o que tinha ficado decidido era que fariam um jantar íntimo, só para a família. Era como gostavam de comemorar as datas importantes: juntos e sem alarde.

Mas devido aos últimos acontecimentos, uma festa maior seria o recomendado. Marco Reus era família e Scarlett também. E em uma festa grande, seria mais difícil estar na mesma roda de amigos que eles. Menos constrangimento, mais acessibilidade.

Rules mal se importava. Já tinha conversado com Iana, Scarlett, Reus. Tinha falado sobre seus pensamentos e sobre suas inquietações com eles, então não tinha mais o que ser dito. A partir de agora, era tudo com eles. Ela só teria que lidar com a escolha dos envolvidos.

— Eu sei que sua mudança é repentina, mas você e Thomas virão, não é? — Iana a questionou.

— Faremos o possível. — O celular de Nolan vibrou e o menino enfiou a cara no telefone. Rules o repreendeu.

— É o Thomas, mamãe. Ele disse que você não atende seu celular.

— Deixei no quarto. — Ela acabou sua segunda caneca de chá e se levantou. — Vou almoçar com Scarlett hoje, Nolan, então eu sugiro que cole no seu avô.

— Ninguém cozinha melhor que meu avô.

— Meu bolso coça toda vez que esse menino me faz um elogio. — Mark lamentou, fazendo a turma rir.

— O que vocês vão comer? — Marco perguntou, do nada, fazendo Rules o encarar desgostosa. Ele tá brincando, não é?

— E isso é da sua conta aonde mesmo, Reus? — Questionou em negação.

Ah, pronto! Valeu, Marco Reus.

— É que a Scarlett é alérgica a nozes. Eu ia só...dizer isso.

— E eu seria uma péssima amiga se não obtivesse essa informação. — Ela empurrou a cadeira, deixando alinhada com a mesa. — Bom dia, gente.

Bom dia.

E então saiu caminhando para longe deles. Nolan não entendeu um terço, mas também nem teve tempo de questionar. Seus sentidos apuraram logo quando Mark colocou um pote de sorvete na frente dele. Já nem lembrava mais o assunto anterior.

Iana por outro lado, estava com a mão na perna de Marco, como que o passando confiança. Rules podia estar respeitando aquilo que estavam construindo, mas Marco não deveria se aproveitar dessa situação toda. Deixava ela em transe, sem saber para onde correr. Marco não podia esquecer Scarlett, era inevitável a preocupação. Mesmo que ele tivesse feito ela passar mals bocados, ainda eram amigos. E isso, era uma escolha de Scarlett. Rules não tinha que opinar.

— Você tem que aprender a se controlar.

Foi tudo o que Scarlett disse ao ouvir os relatos da amiga sobre o café da manhã. Rules encheu seu copo de suco de laranja, enquanto balançava o carrinho da neném com o pé.

— Me desculpa, Scar. Mas é que toda vez parece que ele está se aproveitam da situação, como fez desde o início.

— Ele não está se aproveitando, está tentando viver com isso. Ele errou, eu empurrei o erro para debaixo do tapete e por isso vivi naquele pesadelo. Ele é o babaca que errou, eu sou a babaca que aceitou o erro. Tá entendendo? Não dá para voltar. Só seguir. Então, por favor, só para frente. Esquece o que aconteceu lá atrás.

Eles estão juntos. Sei lá, me dá náuseas. Mas eu juro que vou me esforçar mais. — Rules mal conseguia olhar para os dois.

— É, eu sei. Marco me disse. Ele não quer piorar o que já está drasticamente ruim. Então, eu não estou com ele, ele está com a Iana. Você não tem nada haver com isso e tem coisas melhores e mais importantes para de ocupar. Tô certa? Então vamos falar de coisa boa. — Rules assentiu. Não adiantava bater na tecla ou ela acabaria deixando Scarlett mais magoada. — Está animada para a sua mudança?

— Não tenho certeza, eu acho que sim. Thomas está louco lá em Munich.

— Ele me ligou essa manhã. — Rules franziu a testa. — Me chamou para ser madrinha do casamento de vocês.

— O quê?! — Rules engasgou com o espaguete descendo pela garganta. Scarlett riu, lhe entregando o guardanapo quando cessou a sessão de tosses. — Obrigada. — Ela limpou a boca. — Não acredito que ele roubou minha madrinha. Golpe baixo.

— Acho que ele só está te dando a chance de convidar Iana para ser sua madrinha.

— Você é minha melhor amiga e deveria ser assim com nós duas. Eu fui madrinha do seu casamento, você prometeu ser do meu.

— Você e eu sabemos que é diferente agora, Rules. Thomas não é Evan e eu estarei lá de qualquer jeito. — Ok. Tinha aberto uma cratera na imensa ferida. — Vocês já tem datas?

— Não temos nem alianças. — Estendeu a mão no ar, mostrando o dedo vazio. — Vamos ir devagar. Com cuidado e no nosso tempo.

— Acho que Thomas vai resolver isso em breve. — Scarlett a observou assentir.

— Claro que vai. — Thomas era esperto.

Quando entrou em casa aquele dia, já passava das onze da noite. Estava cansada, ouviu o silêncio da casa e soube ali que o resto dos habitantes já estavam apagados em suas camas. Rules pendurou a chave do carro no chaveiro atrás da porta, e tirou os sapatos, deixando-os ali no armário da entrada. Viu que a luz da cozinha estava acesa e foi em direção a ela. Estava vazia, como o resto do andar superior. Mas em cima da mesa, ela viu uma garrafa térmica, uma caneca e um envelope.

Certamente seu pai sabia que ela chegaria tarde e cansada, e deixou o chá pronto para ela. E foi com esse pensamento que puxou uma cadeira e  se sentou. Encheu a caneca e bebeu seu chá, deixando toda a exaustão do lado de fora daquela caneca decorativa com tema de Game of trhones. E foi então que pegou a carta e para sua surpresa, o enviador era ninguém menos que Thomas Müller.

Curiosa, abandonou o chá e abriu o envelope. Tinha apenas um cartão pequeno e uma curta frase.

"Se vamos fazer isso, então vamos fazer direito"
T.M, seu amor

Ela sorriu sem notar as bochechas coradas, e virou o envelope de ponta cabeça. Um anel caiu em cima da mesa. Luzes se acenderam em seus olhos ao ver a jóia brilhante e todas aquelas pedras finas rodeando o círculo de metal e ouro. Ela o pegou com delicadeza e soube, que ali naquele momento, ele oficializou o que já era certo para os dois.

Seu celular apitou, como que sabendo que ela estava ali, já vivendo aquele momento lindo. Thomas era especial.

O celular continuou vibrando e então, ela o pegou. Era Thomas sim, com um convite tentador demais para se recusar. Rules olhou mais uma vez para o anel, e abriu um sorriso misturando felicidade e surpresa, e tão breve enfiou o círculo no dedo, respondendo o convite de Thomas.

ווו×

21.
06.
2019.

Rules apoiou o celular na orelha e no ombro, ouvindo com atenção enquanto Rita ditava com muitos detalhes a situação da empresa nos últimos 7 dias. Luminositá estaria sentindo a sua falta, tanto quanto Rules sentia a dela? A anfitriã se perguntava, enquanto passava protetor solar no corpo.

O sol da Grécia era tão forte que ela cogitava a idéia de dormir e acordar dentro de uma banheira de água gelada. Ou então, sequer deixar o quarto e viver a base do ar condicionado. Mas não era o que Nolan e Thomas tinham em mente. E lá estava ela, sentada naquela cadeira, a beira da piscina, vendo Nolan e Thomas jogarem algum joguinho bobo com a bola na piscina.

— Você saiu por 1 semana. — Rita explicou a ela: — Eu estou dando conta de tudo. E nem estamos sentindo sua falta.

— Falando assim você até me magoa.

— Temos reposição amanhã da coleção Buenos Aires Air Princess, e eu vou viajar para Munich no fim de semana. Fora isso nenhuma novidade.

— Rita, eu...

— Curta as suas férias, Rules. Você mais do que todo mundo merece. Seu filho e o melhor noivo do mundo estão com você, então esquece o Luminositá só por mais uma semaninha, por favor. Será que é pedir demais?

— Eu só estou preocupada se... — Antes que chegasse ao fim com sua preocupação, Thomas sentou na vaga ao seu lado na cadeira e arrancou o celular dela. — Ou.

— Como vai, Rita? — Ele atendeu o telefone. — Também estou bem. Podia estar melhor se a Rules soltasse esse telefone. Será que você acha possível esquecer que ela é sua chefe e ignorar qualquer ligação dela nos próximos 7 dias? Obrigada, Rita. Você é incrível.

E então desligou. Rules ficou ali, parada e olhando para a cara dele sem acreditar que tinha feito aquilo. Thomas abriu um sorriso e devolveu o celular para ela.

— Eu estava em uma ligação importante.

— Parece que não está mais. — Ele confirmou o óbvio. — Agora vamos para a piscina?

— Por que não, ao que parece meus funcionários vão me ignorar pelo resto do dia.

— Se eles forem espertos, vão sim.


Nem tudo é como queremos. Menos ainda, saem como deveriam. Mas sabemos de algo, e essa é nossa única certeza: se não é sua vida, você não tem que permitir nada.

É só aceitar.

Por que?
Senso, anuência.

A questão abordada não é se você pode lidar com isso, e sim se você tem a necessidade de lidar com.

Você precisa disso? Se pergunte verdadeiramente. Se não for algo que interfere DIRETAMENTE na sua vida, então meu bem, senta lá e respeita a escolha dos verdadeiros protagonistas.

Se quer algo de recordação pra esse momento, eu digo apenas: Pare. Tem vezes que é melhor parar do que magoar ou se magoar por menos que o necessário.

@tessascopelli
@rulesmaniza
@ianamaniza
@storeluminosita
✈️

Nos vemos em breve.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top