16. Nada está tão ruim, que não pode piorar


19.
05.
2019

O corredor do hospital era longo. Tão longo que Rules podia sentir as juntas de seus pés doloridas. E frio. Talvez não estivesse frio de verdade, e o cheiro do hospital a incomodava. Não o suficiente para querer reclamar. Mas o suficiente para deixá-la com o nariz irritado. A viagem de avião tinha sido antecipada e Rules entrará no primeiro avião para Dortmund, assim que soube a notícia.

Nolan estava com ela quando pousaram no aeroporto, mas James o levou direto para casa, com a desculpa de que era melhor deixá-lo no escuro. Pelo menos por enquanto, até ter certeza da situação.

Iana tinha sofrido um acidente na noite anterior. E quando entrou naquele avião destinada a vê-la, passou aquelas 2 horas seguidas chorando ao ver seu telefone cheio de ligações da irmã. Iana tentou ligar diversas vezes para Rules aquela noite, mas ela havia se mantido longe do celular. Por causa de Thomas, para evitar ver mais notícias do alemão. E agora Iana estava no hospital, e não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.

Além de estar lá.

E foi quando virou o corredor na ala emergencial que viu Marco Reus sentado num dos bancos, do lado de fora da sala, que logo concluiu Iana estar dentro, ao ver também seu pai Mark e Scarlett. Seu sangue ferveu. Não só o sangue, todo seu corpo. Até sua pele parecia em chamas conforme se aproximava do trio.

Marco levantou a cabeça e a viu, Rules notou os olhos vermelhos, a trilha de lágrimas secas, o desespero, o medo. Marco transmitindo tudo isso, ao chegar perto, ela só conseguiu encarar ele. Seus lábios tremendo, ele se colocou de pé e travou o maxilar. Ela não pensou, ela só fez. Num segundo Marco tinha todos os cinco dedos da mão de Rules estampando seu rostinho vermelho.

Mark entrou em alerta, Thomas segurou a mulher.

— Você não devia estar aqui. — Marco sequer virou o rosto para encarar ela de volta. — Eu te pedi, Reus. Eu te implorei. Era pra cuidar dela, não pra transar com ela.

— Eu não tive a intenção.

— E que se foda a sua intenção. — Thomas manteve seus braços firmes ao redor dela. — Ela só tem 18 anos. Não acredito que fez isso.

— Rules, para, tá legal? — A voz de Scarlett carregada de temor. Rules encarou a amiga sentindo raiva até mesmo dela. — Você não sabe a história toda. Deixa ele te contar.

— Meu Deus, Scarlett. A que ponto você chegou? — Scarlett olhou para Thomas, pedindo um socorro da raiva se Rules. Mas ele ignorou, e Rules voltou a falar:  — Ele traiu você. Eles traíram.

— Você não sabe disso.

— Eu trai. — Marco suspirou, e deixou seu corpo cair de volta na cadeira. Rules queria esfregar cada unha na cara dele. — Mas sabe de uma coisa, eu não esperava que as coisas fossem ser assim, Rules.

Assim.
Assim.

Nem assim, nem de jeito algum.

Queria rir de desgosto em sua cara, queria sim. Mas não podia porque no momento sua maior preocupação estava em Iana, naquela sala, carregando uma dor de não saber se acordaria ou não. Então Rules não conseguiu estender a briga, nem a raiva, nem a mágoa.

Marco sabia além de todos como Rules zelava pelo coração da irmã. Ele sabia porque ele a viu criar Iana, viu ela crescer. E não tinha nenhum motivo para sequer olhar para ela como mulher, não deveria. Estava no erro e sabia disso. Mas seu relacionamento estava um caos, ele já tinha pedido o divórcio. Rules estava vivendo sua vida ocupada demais em Munich para sequer notar o distanciamento dele e Scarlett. E Scarlett também não queria preocupá-la. E acabaram assim. Mas nunca quis fazer isso. Nunca quis trair Scarlett, Iana foi só...

Iana. Ôh good... Ele não deveria. Sentiu seus olhos piscarem novamente. Quando foi que ele se apaixonou pela garota? Ele tentou não sentir nada. O nascimento da Marcinha tinha mudado tudo em seu relacionamento. Ele queria dar uma chance para ele e Scarlett novamente, pela filha. Pelo futuro dela. Mas não pôde. Dia após dia sentiu falta da garota. Sentiu falta de ficar com ela, falta de vê-la tentando ser a mulher que queria alcançar, sem sequer notar como já havia se tornado uma mulher incrível. Uma por quem ele se apaixonou. E não devia. Saber disso só piorava as coisas.

Rules sabia que estava de olhos fechados para os segredos de Iana, mas não imaginava o quanto. Não acreditava que a irmã caçula estivesse com Marco, traindo Scarlett. E não sabia que as coisas estavam tão claras, que quase todos sabiam. Mas só ela estava feliz demais para notar. Estar com Thomas cegava todo o resto ao redor.

— Você devia ir embora, Marco. — Mark tomou a iniciativa, ao ver o clima desgastante do grupo. — Eu mantenho você informado caso ocorra mudanças.

Rules riu, o riso mais sofrido de sua vida.

— Não mesmo. Thomas, por favor... — Pediu encarecidamente para Müller a soltar, e a contragosto ele tirou suas mãos dela. — Não tem notícias pro Marco, não tem nada.

— Rules...

— Olha, Scarlett, eu não quero te expulsar daqui, então cala a boca! — Pediu pra amiga que se encolheu. — Eu sei que essa culpa não é só sua, Marco, então não me entenda mal. Mas Iana não está em condições de me ouvir dizer isso em voz alta. Você é o pior tipo de homem que tem no mundo. Que pega as dificuldades do casamento, que você sempre sabja desde o início que não seriam fáceis e transforma em oportunidade para trair sua esposa. Eu não sei como isso começou, mas sei como termina. Sai agora desse hospital e finge, por favor, que isso nunca aconteceu.

Esse era o momento dele brigar, bater o pé. Ela não podia chegar aqui e ditar regras. Ela sequer conhece os sentimentos de Iana em relação a ele, e com certeza não conhece os dele. Era erro? Poderia ser. Mas estava acontecendo bem agora, enquanto ele sentia seu corpo pesado de culpa e tristeza porque ele não tinha muitas certezas na vida. Mas sabia que não deixaria Iana ali, sem ele. Não importa quem Rules achava que era. A irmã, a amiga. Ele era Marco Reus e Marco Reus já traiu a mulher que amava uma vez, não trairia novamente abandonando ela, logo agora que precisa dele.

— Não vou.

— Sinceramente, Marco. — Thomas veio dizer algo pela primeira vez desde que pisara ali. — Eu não acho que seja o momento de você ficar agora.

— E você tem direito de achar alguma coisa, Müller? Eu sei que ficou esperando o momento certo pra abrir essa sua boca e contar para Rules sobre mim e Iana!

Contar? Rules que agora estava próxima ao pai, encarou Thomas confusa. Ele sabia? Thomas evitou olhar para ela.

— Não esperei. Eu teria contado se fosse um pouco mais traidor como você, mas essa raça é só sua mesmo.

Scarlett tapou a boca surpresa ao ver Marco acertar o queixo de Thomas, fazendo o amigo cambalear para trás de surpresa. Rules não acreditou no que viu, menos ainda quando Thomas se voltou contra Reus e revidou seu gesto. Os dois se embolaram na parede, até caírem no chão. Mark foi o único que não se chocou, indo amparar os garotos no chão.

— O que vocês estão fazendo? — A fileira de médicos que se reuniu para repreendê-los supriria um plantão inteiro de Greys Anatomy.

Os seguranças tiveram que ajudar Mark a tirar um de cima do outro, e ninguém acreditava que estavam vendo Marco Reus e Thomas Müller trocando socos naquele corredor.

Marco tinha um nariz sangrando,  Thomas um corte no supercílio. Rules balançou a cabeça: crianças.

— Marco, vai embora.

— Vocês vão. — O doutor surgiu, logo dizendo: — Cada um de vocês. — Rules ia responder, mas o doutor interrompeu: — Quero que saiam daqui. Quero vocês fora do meu hospital. Iana precisa de apoio não de um grupo de babacas gritando e trocando socos na porta do quarto dela.

— Doutor...

— Eu lamento, Sr. Mark, mas não posso permitir que fiquem aqui depois dessa situação constrangedora.

— Iana não pode ficar sozinha. — Marco respondeu, sendo segurado pelo segurança.

— Saiam do meu hospital. Cada um de vocês.

Ah que ótimo!

Rules tinha uma coisa a mais na lista de preocupação, e deixou suas lágrimas partirem livres conforme caminhava para longe, para fora.

וווו

— QUAL É A DROGA DO PROBLEMA DE VOCÊS?

O silêncio era mais amigo do que tentar explicar o motivo pelo qual todos foram expulsos do hospital, quando Iana estava lá precisando de cada um deles. Thomas olhou para Marco e o amigo, ex-amigo, não sabia dizer, cortou contato visual com ele e encarou o carro no estacionamento, onde Rules havia se enfiado desde que saíram do prédio.

— Será que você pode manter a gente informados, James? — Mark questiono, curioso e preocupado.

— Claro, não se preocupe. — Ele confortou Mark com a mão em seu ombro. — Eu ligo qualquer coisa.

Reus encarou o garoto e James fez o mesmo, nada contente com a situação. Toda admiração que Marco tinha por James no esporte, acabava quando ele saia do campo. Ele sabia que James e Iana tiveram um relacionamento que não fluiu, levando em consideração a época conturbada em que eles já estavam se envolvendo e que Iana insistia em tentar esquecer Reus com James. Mas nada funcionou. Nem para ela, nem para ele. No final da noite, Iana queria Marco Reus. E James era um amigo que amava ela, como alguém que só queria seu bem. Mesmo que esse bem fosse Marco Reus.

Thomas abriu a porta do carro, Rules não moveu um músculo. Estava sentada com as pernas cruzadas, no banco do passageiro da frente. Thomas ocupou o lugar vago no banco do motorista, encarou a mulher e rezou para que ela não estivesse odiando ele agora. Após fechar a porta, ela virou e olhou para ele. Thomas sentiu todo seu mundo desabar com aqueles olhos triste, caminhos de lágrimas e vontade de chorar que ela tinha, implorando um socorro.

Mas não era o estilo de Rules. Por isso ele amava ela. Forte e determinada como só ela conseguia ser. Respirando fundo, Rules engoliu a mágoa e a decepção de descobrir que ele tinha escondido isso dela e pegou os objetos da mão dele.

— Por favor, com cuidado. — Thomas pediu, imaginando que se vingaria. Rules apenas negou, molhando o algodão no soro para limpar o corte. Müller resmungou ao contato do líquido gelado. — Cuidado.

— Cala a boca.

— Você entende que eu não podia contar pra você, não é? — Ela negou, mas entendia. Só que agora sabia que definitivamente foi a última pessoa a ficar sabendo. — Eu não tinha como te contar isso sem te magoar.

— Não seria culpa sua.

— Eu sei, vida, eu sei. Marco vacilou, eu sei e jamais vou defender ele. Nunca faria isso. Mas você não pode só apontar o dedo para ele.

— E o que você quer que eu faça? Minha irmã está em uma cama de hospital!

— Só que Marco não estava pilotando o caminhão que bateu no carro dela, Rules.

— Não, mas ela estava indo atrás dele. Ela ia lá ficar com ele. — Mais um muxixo de dor ao fixar o curativo. Rules exitou. — Desculpe. Eu amo Marco, Thomas. Você sabe disso, não é?

— Eu sei. Ele é seu melhor amigo.

— Marco é como um irmão para mim. Ele é da família. Ele viu Iana crescer, se tornar mulher. Eu não posso perdoá-lo por fazer isso com ela, comigo, com Scarlett.

— Ela não é tão vítima assim, Rules. Nem Scarlett. Você não sabe realmente da história, então vamos deixar para depois.

— Iana precisa que eu fique com ela. Marco Reus não é meu maior problema.

— Sim, eu sei.  — Rules enfiou os objetos na sacola de volta, se certificando de guardar os curativos sujos num lugar separado. — Mas isso não significa que você não vai pensar nele.

— Eu não consigo. Eu tenho que pensar nele. Porque eu não quero perder nenhum dos dois.

Thomas não podia pensar em nada melhor para fazer, a não ser abraçar ela e passar e noite junto com ela, mostrando que não importasse o quanto ela tentasse afastar ele: Thomas estava ali. Estava para ficar. No bom e no mal. E não pretendia dar um passo sequer para trás.

As horas se arrastavam por ali. Scarlett já tinha partido, não podia deixar a filha sozinha por muito tempo, se sentia mal longe da pequena. E sinceramente, não havia nada que pudesse fazer. Marco e Mark se mantinham firmes. As 2 horas da manhã já estava frio o suficiente para os dedos reclamarem de dor, mas eles continuavam lá. Thomas não tinha pregado os olhos, vigiando Rules que dormia em suas pernas, já fazia meia hora. Ela mal havia deitado e sua consciência automaticamente apagou de tão cansada que estava. Haviam chegado em Dortmund na madrugada anterior, e agora já estavam virando praticamente outra madrugada. Iana fez exames durante todo o dia e James os manteve informados sobre tudo, mas ela ainda não havia acordado e os médicos não tinham informações suficientes para concluir o quadro.

"Esperem". Era a única coisa que eles pediam para a família. No caso, para James que repassava tudo. Nolan tinha ligado durante o dia para avisar que ficaria com Scarlett, já que a mãe tinha dado chá de sumiço. Rules não conseguiu falar com ele. Não queria dar notícias, até porque não as tinha.

Já eram quatro da manhã do dia 20 de Maio quando Thomas viu James caminhando pelo estacionamento. Ele parou em Mark e Marco primeiro, disse alguma coisa que Thomas não ouviu pela distância e não entendeu pela confusão. James mal tinha acabado de falar quando Marco desabou em lágrimas. Mark ficou atônito no lugar, e Reus teve que se amparado pelo mais velho, enquanto ambos choravam.

James então respirou fundo e começou a caminhar até o carro. Thomas já imaginou o pior. Fez carinho em Rules para confortá-la mesmo que não soubesse de quê. James bateu no vidro. O barulho acordou Rules, que levantou a cabeça vendo o Rodríguez ali.

Thomas baixou o vidro preocupado.

— James, o que houve?

— Ela estava grávida.

Rules não conseguiu. Fechou os olhos e implorou que não doesse.

— Estava?

— Ela perdeu o bebê. Ela... era o filho de Marco, Rules. Ela perdeu o bebê dele.

Só nesse momento ela olhou pela janela e viu Marco Reus aos prantos. Mark chorava, Marco chorava. Rules não conseguiu, deitou a cabeça no ombro de Thomas e se permitiu chorar também. Porque doía. Porque ela sentia que tinha falhado de todas as formas com Iana. Que tinha permitido que sua irmã sofresse de todas as dores possíveis.

Vai ter capítulo as 5:40 da madruga sim porque eu acho injusto eu sofrer sozinha.

Beijos. Amo vocês.

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