4 - Let It Go

          "Rá-tim-bum! Pedro! Pedro! Pedro!", os convidados batiam palmas animados. Diego e Nicole sorriam para as fotos. Ela segurava o menino nos braços, que já estava cansado de passar de colo em colo, queria apenas dormir. Diego o ajudou a assoprar a velinha de número dois sobre o bolo de chantilly.

          A festa aconteceu no quintal da casa de Diego. Não era muito grande, mas também não haviam muitos convidados, apenas os familiares mais próximos. Felipe estava lá, sozinho. Diego ainda não se sentia muito à vontade com a presença do pai, mas não achava justo afastar um avô de seu neto por conta de suas mágoas. Mônica ainda não falava com o ex-marido, mas concordava com Diego que Pedro não deveria pagar pelo o que o avô fez no passado.

          Jonathan e Daniela também se faziam presentes na pequena festa. O rapaz às vezes se sentia culpado por frequentar a casa de Diego e Nicole e por sair com os dois frequentemente. Mas o que poderia fazer? Sua irmã já não tinha mais nada com Diego há mais de dois anos – e inclusive quando questionada, afirmou não sentir mais nada pelo rapaz –, ele não tinha muitos amigos naquela cidade e Daniela era muito amiga dele, nada mais natural do que se verem com frequência.

          Apesar de todos os encontros que os anos proporcionaram aos dois casais, Jonathan nunca tocou no nome de Duda na frente de Nicole. Acreditava que ela não sabia do passado dos dois, mas não via motivos para tocar no nome que poderia trazer problemas e lembranças ao primo.

          No início, Diego se pegava pensando nela o tempo todo. Qualquer discussão com Nicole já era motivo para o nome de Duda surgir em sua mente e continuar ali por alguns dias, mesmo depois de fazerem as pazes. Era capaz de se lembrar de seu cheiro, ouvir sua voz. No dia em que Daniela contou a ele que Jonathan seria tio, ele sentiu como se tudo o que viveram tivesse morrido. Ele desejou acompanhar sua gestação através das redes sociais, mas eles já não se tinham mais. O tempo passou e as memórias diminuíram pouco a pouco, mas jamais se perderam. Às vezes ele pegava o celular e quando menos esperava, já estava no perfil dela. Nunca tinha nada de novo, tudo era restrito apenas para os amigos. Nem mesmo a foto de perfil ela costumava atualizar, desde que foi embora, trocou apenas uma vez para uma foto com um suéter natalino e uma tiara com chifres de rena. Nunca viu nada sobre o bebê dela, sabia apenas que era um menino, que seu nome era Arthur e que nascera no dia do casamento de Jonathan e Daniela.

          Nicole não sabia da relação que Diego e Duda um dia tiveram. Quer dizer, ela sabia que seu marido nutria algum sentimento pela moça que não era apenas amizade – sentimento este que ele jamais sentira por ela, e ela tinha plena consciência disso –, mas não fazia nem ideia de tudo que eles já viveram. No início se sentia incomodada com a presença de Jonathan, achava que isso apenas colaboraria para que Diego se lembrasse dela, mas com o tempo percebeu que o rapaz nada tinha a ver com isso. Ela também não sabia que não precisava de Jonathan para que ela fosse presente nas lembranças dele.

          Já Gabriela continuava a mesma. Mais madura, sim, mas a mesma. Ainda adorava uma festa e conhecer gente nova, mas já não bebia como antes. Decidiu dar um tempo para seu fígado quando acordou em um apartamento estranho sem se lembrar de como foi parar lá. Por sorte, era a casa da irmã de uma amiga. Mas e se fosse a de um desconhecido? Infelizmente não se pode confiar em ninguém. Decidiu ocupar seu tempo com a faculdade de Turismo, que decidiu fazer após começar a trabalhar em uma agência de viagens. O curso despertou em si a vontade de rodar o mundo e conhecer diversas culturas. Ah, ela também estava com um namorado novo. Não que seja uma informação muito relevante, pois esse era o quarto namorado em dois anos.

          A pequena festa havia chegado ao fim e os convidados iam embora pouco a pouco, ficando apenas Jonathan e Daniela, que ajudariam com a limpeza do local. Pedro dormiu antes mesmo que seus avós pudessem se despedir.

          Diego tirava os descartáveis sujos das mesas de plástico quando viu um celular se acender. "Jonathan, eu acho que...", parou de falar quando pegou o aparelho na mão e viu a foto que surgiu na tela. Era a mesma do Facebook, provando que ela continuava sem se importar muito em atualizar suas fotos. Ele gostaria de atender, mas não o fez. Não só pelo fato de não ser seu celular, mas se ela o excluiu de sua vida era porque não queria nenhum tipo de contato. Além de não ser justo com ele e com Nicole. Eles até que estavam felizes desde a chegada de Pedro, e ele finalmente conseguia passar semanas sem sequer pensar dela. Ele continuou encarando a foto até que parou de tocar.


– Você me chamou? Estava pegando uma cerveja pra ajudar a gente a terminar isso aqui – Jonathan perguntou, estendendo uma garrafa ao primo.

– Seu celular... seu celular estava tocando – Diego respondeu ao pegar a bebida da mão do rapaz e levar à boca.


          Jonathan pegou o celular e fez uma careta ao ver o nome de Duda na tela. Havia entendido a mudança repentina na feição de Diego, que se sentou no chão e entornou a garrafa. Ele se sentou ao lado do rapaz e guardou o celular no bolso. Dessa vez, no silencioso.


– Me desculpa, cara. Não sabia que ela ia me ligar hoje.

– Não tem que se desculpar, ela é sua irmã.


          Diego continuou encarando o chão, mais precisamente uma poça de refrigerante que alguém derrubou ao lado da mesa do bolo.


– Você ainda sente falta dela? – Jonathan perguntou mesmo sabendo da resposta. Evitava falar dela, mas dessa vez estava claro que Diego queria desabafar.

– Às vezes. Pra ser sincero eu evito pensar nela porque eu sempre fico pensando no "e se" e isso dói.

– Como assim, "e se"?

E se a gente tivesse ficado junto desde o primeiro beijo; e se o nosso bebê não tivesse morrido; e se eu não tivesse me casado com a Nicole... o que seria de nós dois hoje? Será que estaríamos juntos ainda? Que nosso filho teria alguma semelhança com o Pedro? Será que a Nicole não ia tentar tirar meu moleque de mim?

– Cara, se você ficar pensando tanto nos rumos que a vida poderia ter tomado, você vai acabar enlouquecendo. Aconteceu o que tinha que acontecer, você ficar pensando no "e se" não vai mudar o passado.

– Eu sei... É que... eu só... não é sempre que eu penso nela, sabe? Mas às vezes a gente pede pizza aqui em casa e eu acabo me lembrando das nossas conversas sem sentido quando a Nicole pega o ketchup. Ou então quando eu estou ouvindo rádio e toca alguma música que ouvimos juntos. Ou, sei lá, quando eu uso minha camiseta do Metallica que ela já usou. São coisas bobas, mas que nos marcaram de alguma forma, aí quando eu lembro, me afundo no "e se".

– Mano, vou te dizer o que meu pai me dizia. O que não tem remédio, remediado está. Não tem o que fazer.

– É, ela já me disse que seu pai dizia essa frase – sorriu.

– Ai, Deus... – revirou os olhos – Então vou te dizer uma frase que com certeza ela não te disse. Segue o conselho da mina do Frozen e "let it go".


          "Eu não acredito que nós estamos nos matando aqui dentro e os bonitos estão sentados tomando cerveja!", Daniela sorriu e encostou no batente da porta que separava a cozinha do quintal, com um saco de lixo em uma mão e uma vassoura na outra. Jonathan se levantou e saiu cantando o refrão de Let It Go até sua esposa, dando um beijo estralado em sua boca e voltando a varrer o quintal. Diego se levantou em seguida e voltou a recolher o lixo espalhado. Jonathan tinha razão, pensar no que sua vida poderia ter sido não mudaria o passado.

***

          Daniela se jogou na cama, exausta. Todas as comidas servidas no aniversário de Pedro foram feitas por ela. Diego quis pagar pelo serviço, mas Dani não quis cobrar, por mais que precisassem do dinheiro. Sabia que a situação deles também não era fácil. Jonathan se sentou na beirada da cama e pegou os pés da esposa para uma massagem, que soltou um alto suspiro.


– O que foi? – ele perguntou enquanto apertava seus pés.

– Estou preocupada... Já estou há mais de um ano desempregada, sequer pude dar um presente decente pro Pedrinho... Fora que não aguento mais mandar currículos e não receber nem mesmo um telefonema.

– Você deu a comida, a parte mais importante da festa! E todos saíram elogiando tudo. Aqueles mini-hambúrgueres estavam maravilhosos, pra variar.


          Daniela suspirou e se espreguiçou na cama, não queria mais falar da festa. Jonathan subiu a massagem para as pernas, mas parou de repente e correu até a sala. "Onde você vai?", Dani gritou, mas ele respondeu algo que ela não entendeu. Logo voltou com uma caneta e um bloco de anotações nas mãos. Seus olhos brilhavam e um sorriso surgiu em seu rosto cansado. Ele teve uma ideia que julgava ser maravilhosa, só faltava contar àquela que a colocaria em prática.


– Quanto você gastou pra fazer os mini-hambúrgueres?

– Não sei, o Diego que comprou os ingredientes, eu só dei a mão de obra...

– Tá, que seja, a gente compra aquele hambúrguer congelado, acho que sai até mais barato. Quanto custa uma caixa? – escrevia algo na folha em branco.

– Meu bem, o que você tá fazendo?!

– Te dando um trabalho – sorriu.

– Uai, como assim?!

– Você é uma cozinheira incrível, você sabe disso. Todo mundo ama tudo o que você faz, mas... e se ao invés de fazer comida você fizesse lanches?

– Lanches para quem?

– Eu saio do trabalho às seis da tarde, você pode começar a trabalhar assim que eu chegar em casa. A gente faz uns panfletos e espalha pelo bairro. Enquanto você faz os lanches, eu saio com Fusca para entregar. Lá em São Paulo a gente pedia muito delivery e a variedade era enorme, mas aqui a gente fica sempre preso na pizza porque não temos opções, então você seria o diferencial.

– Mas meu bem, isso vai demandar um dinheiro que a gente não tem...

– Amor, calma, deixa eu te explicar...


          Jonathan explicou tudo o que havia pensado e sua animação contagiou Daniela, que agora estava ansiosa e entusiasmada com a ideia. Passaram a madrugada em claro, fazendo cálculos, anotações e receitas. Uma pontinha de esperança surgiu na moça que andava tão desanimada com o futuro.

***

          Três semanas se passaram e os planos saíram do papel. Dentro de cada caixa do correio da vizinhança, um panfleto do "Bobiça's Delivery". Dentro de Daniela, a ansiedade pelo primeiro pedido. Ela encarava o celular incansavelmente, nem percebeu quando Jonathan saiu do banho e abraçou sua cintura.

          "Nada ainda?", ele perguntou, dando um cheiro em seu pescoço. "Nada", murmurou, deixando o celular longe e abraçando o marido. Os dois se dirigiram até o sofá e passaram a uma hora e meia seguinte assistindo série na Netflix. Foram interrompidos pelo toque do celular de Daniela.


– Alô?

– Alô? É do Bobiça's Delivery?

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Olá meus amores!
Olha eu mais uma vez dizendo que não vou postar e aparecendo de repente. Alguém precisa cortar a minha internet!

O que acharam do capítulo?
Estavam com saudades do Diego? E da Dani e do Jonathan? Será que essa ideia de delivery vai dar certo?

Deixem a estrelinha e muitos comentários!

Vejo vocês... não sei quando, mas provavelmente quando eu não conseguir me segurar mais uma vez! Beijinhos ♥

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