38 - Seguindo em frente
Já havia se passado um mês desde que Duda se mudou para Minas Gerais. Nos primeiros dias ela precisou colocar sua vida no lugar. Sua mudança chegou no primeiro domingo, sendo entulhada no quintal de seu irmão. Jonathan e Daniela estavam muito tranquilos em relação a isso. Na verdade, eles sempre estavam de bem com a vida em relação a tudo – exceto na ansiedade pelos filhos.
Na semana seguinte, iniciou-se a procura por um apartamento. Só havia três prédios residenciais naquela cidade, sendo um deles o que Diego morava – mas que não havia nada à venda. O segundo era numa área nobre da cidade, muito mais caro do que ela poderia pagar. O terceiro era próximo da casa de Jonathan, o valor do condomínio não era exorbitante e ela conseguiria pagar o imóvel com a parte que herdou dos bens de Laura. Não era muito grande, apenas dois quartos medianos, uma sala pequena com uma cozinha americana integrada e um espaço para uma mesa de jantar. Mas era perfeito para ela, que pela primeira vez morava apenas com seu filho.
A terceira e a quarta semana foram em busca de um emprego. Por mais que gostasse de fotografar, sabia não poderia se dar ao luxo de viver de eventos esporádicos. Além de um filho para criar, logo teria também um apartamento para pagar. Diego e Gabriela a ajudavam como podia na busca por uma vaga. Sua cunhada a indicou na agência de viagens que trabalhava, já seu namorado procurava outra alternativa sem que ela soubesse.
Foi naquela noite do dia dezesseis de março que Diego marcou de jantar em uma pizzaria com Duda e Arthur. Queria levar Pedro também, mas este era o final de semana de Nicole. Duda já estava o esperando no sofá enquanto conversava por vídeo com Steve, que segurava Christmas Eve no colo como se fosse um bebê, mostrando o cão para Arthur, que sequer se lembrava do animal.
"O Diego chegou, depois a gente se fala. Te amo, saudades", ela se despediu ao ouvir a buzina do carro. "Não façam outro filho", o rapaz respondeu, recebendo um dedo do meio na tela antes que a chamada fosse desligada. Duda entrou no carro e Diego parecia mais ansioso do que nunca, falando o tempo todo sobre como estava feliz. Arthur não parava de chamá-lo, e ele não se cansava de ouvir todos os "papais" que saiam da boca da criança.
Chegaram na pizzaria e Duda se lembrou do local, foi ali que comemorou sua alta do hospital após o acidente há mais de três anos. Mas isso não era mais importante agora que tudo estava bem. Os três se sentaram em uma mesa próxima à janela e fizeram o pedido. Enquanto aguardavam, Diego não parava de sorrir.
– Posso saber o motivo dessa felicidade toda? – Duda perguntou com um sorriso.
– Eu ia esperar pelo menos a bebida chegar pra gente brindar, mas eu sou ansioso e não consigo – Diego sorriu – E eu também não sei se você vai querer... Ah, antes que você se assuste, eu não vou te pedir em casamento! Não ainda...
– Não vou mentir que por um segundo eu pensei que fosse isso – riu – Mas e então?
– Bom, você sabe que eu sou coordenador agora né? – Duda assentiu e ele continuou – Então, eu andei conversando com o João esse mês, mostrei os dados, a procura crescente por cursos de idiomas e o convenci a abrir mais três turmas de inglês, mas precisaria contratar um professor... – sorriu – Eu falei de você e...
– Amor, não vai me dizer...
– Se você quiser, a vaga é sua – abriu um sorriso largo – Se você não quiser, eu entendo.
– Mas e se eu não der conta? Não sei, eu não tenho faculdade...
– Amor, o professor que a gente tem lá também não tem faculdade, mas é fluente. Já teve uma que tinha curso superior e sabia só o inglês intermediário. Você é fluente, morou fora, tem toda uma vivência...
– Você acha que eu tenho capacidade pra isso? – perguntou já roendo as unhas.
– Du, você é a pessoa mais capaz que eu conheço.
– Então... eu acho que eu aceito.
Diego sorriu e a beijou. Duda não estava tão certa se conseguiria dar conta, mas não estava podendo escolher emprego no momento. Ele explicou que ela teria o material necessário para se basear e que não começaria imediatamente, mas sim quando as matrículas dos novos alunos fossem efetuadas – e a lista de espera era grande. "Mas chega de falar disso, não estou jantando com uma funcionária, mas sim com a minha namorada e o meu filho. A minha família", ele sorriu e a beijou mais uma vez.
***
Mais duas semanas se passaram e o aniversário de Pedro chegou. Na semana anterior, quando Diego chegou com o convite da festa que ele e Nicole fariam, Duda ficou insegura de comparecer, mas conforme os dias passavam ele a deixava mais tranquila. Na verdade, ela estava mais confortável em estar na presença de Nicole do que na presença de Mônica, que a evitava desde o Carnaval. Ela e Arthur foram os primeiros convidados a chegar na festa, já que foram com Diego.
"Calma, tá tudo bem", Diego falou ao segurar a mão de Duda, que exibia um sorriso nervoso enquanto aguardavam Nicole abrir o portão. Respirou um pouco aliviada quando a moça finalmente destrancou o cadeado e a recebeu com um beijo simpático no rosto, mas a tensão não desapareceu por completo.
– Vem, Arthur, seu irmão está brincando lá dentro – Nicole abriu um sorriso e estendeu a mão para o menino, que não hesitou em segurá-la.
"A Nicole disse seu irmão?", Duda sussurrou para Diego, que assentiu com um sorriso. Ela sorriu e os dois seguiram para o quintal para ajudar na organização. Aos poucos os convidados foram chegando e assim que Mônica chegou com seus pais e Gabriela, Duda sentiu vontade de se esconder.
Felipe, o pai de Diego, chegou já na metade da festa. Mais uma vez ele foi sozinho, mas não se importou. Nicole sempre o tratou bem e seu filho até se esforçava, apesar de dificilmente ficar à vontade na presença dele. Cumprimentou a ex-nora – que ele ficou sabendo que era ex apenas pelas redes sociais dela, já que Diego não o tinha adicionado – e sentou-se afastado de todos. Estava mexendo no celular quando ouviu um pigarreado.
– Pai... – a voz de Diego saiu mais grave que o normal – Você se lembra da Maria Eduarda?
– Maria Eduarda... – franziu o cenho e estalou os dedos – Filha do Roberto e da Laura?!
– Eu mesma – Duda sorriu envergonhada. Não tinha lembranças dele, já que ela era pequena quando ele abandonou Mônica.
Felipe desceu o olhar até a mão do filho, que estava entrelaçada à dela. Já sua outra mão segurava a mão de uma criança de olhos azuis.
– E como seus pais estão?!
– Eles morreram – sentiu a respiração pesar e Diego apertou sua mão.
– Ah, eu sinto muito... – falou com pesar – Eu gostava muito dos dois...
– Enfim, – Diego mudou de assunto, fazendo Duda agradecer mentalmente – Eu só vim te dizer que nós estamos namorando... – respirou fundo e pegou Arthur no colo – E esse aqui é nosso filho.
Diego contou com toda a naturalidade do mundo já que não ligava muito para possíveis broncas do pai, pois ele não tinha moral alguma para falar o que quer que fosse. Já Felipe ficou sem fala. Pouco se importava com o parentesco entre Duda e o filho, naquele momento sua vontade foi abraçar a criança e chorar da mesma maneira que fez quando visitou Pedro ainda recém-nascido. Arthur não deu a chance, já que assim que Diego o colocou no chão, o menino saiu correndo para brincar. Duda pediu licença e foi atrás do filho.
– Bom, agora que você já conheceu o Arthur, licença – Diego se virou para conversar com outros convidados, mas seu pai segurou seu pulso.
– Filho, eu sempre desejei sua felicidade, e te olhando agora com a Maria Eduarda, eu vejo que você já a encontrou.
"Eu sei", Diego respondeu antes de sair. Na cozinha, Nicole ajudava Daniela a preparar alguns lanches quando Duda se aproximou e ofereceu ajuda. Sua cunhada percebeu que ela queria conversar com Nicole, então limpou as mãos e disse que já voltaria. As duas ainda não haviam conversado além do essencial, mas Duda tinha um assunto específico.
– Nicole, eu... eu queria falar com você.
– Pode falar – Nicole respondeu sem muita preocupação e sem desviar os olhos dos pães que cortava.
– Eu queria me desculpar... – engoliu seco – Sei que provavelmente você não queria a minha presença aqui hoje, mas o Diego insistiu e...
– Pode parar! – a interrompeu – Eu fiz questão de te chamar. Eu quero que o Pedro cresça com o irmão dele, eu sou filha única e sei a falta que um irmão me faz. Eu vejo você e o Jonathan tão unidos, a Gabi e o Diego mais ou menos unidos – riu – Eu quero que ele tenha isso.
– Eu pensei que você ainda me odiasse... – murmurou.
– Duda, eu nunca te odiei. Já senti ciúmes, sim, mas nunca tive raiva de você. Eu tive inveja de como o Diego te olhava, porque ele nunca me olhou assim. Quando a gente se encontrou naquele banheiro quando eu ainda estava grávida eu fui ridícula com você...
– Você era nova, estava grávida, os hormônios todos loucos... já passei por isso, foi totalmente compreensível – Duda riu – Eu também nunca senti raiva ou algo do tipo.
– Então estamos quites – limpou as mãos na roupa e a olhou nos olhos – De verdade, eu não guardo nenhuma mágoa de você. Talvez se você não tivesse reaparecido nas nossas vidas, eu ainda estaria presa em um casamento infeliz, já que nenhum de nós tinha coragem suficiente para assumir que fracassamos mais uma vez.
– Que lindo ver vocês duas conversando! – Gabriela surgiu pela porta com uma bandeja – Seria melhor ainda se enquanto falassem, vocês também fizessem os lanches para eu servir!
As duas riram e atenderam ao pedido de Gabriela. Ambas sabiam que isso não as tornariam melhores amigas, mas se sentiram mais leves após a conversa. Mônica observava tudo pelos cantos, estava se sentindo mal por ver todos seguindo em frente, menos ela. Através da janela, olhou para Arthur brincando com Pedro e sentiu os olhos marejarem, talvez estivesse sendo dura demais. Foi até Duda e pediu para conversar com a nora, que assentiu mesmo com o coração acelerado. As duas foram até a sala vazia e Mônica se sentou de frente para ela.
– Duda, eu quero... eu preciso me desculpar com você.
–Môni...
– Não, por favor, me deixa falar – a interrompeu – Eu sei que não aceitei muito bem o namoro de vocês, mas eu... eu tive medo que você afastasse o Diego do Pedro, que a Nicole tirasse o meu neto de mim... e tem o fato de vocês serem primos... – suspirou.
– Interrompo? – Diego perguntou da porta da sala.
– Não, filho. Senta aqui – bateu a mão no sofá – Eu preciso me desculpar com vocês dois. Não vou te dizer que é fácil, mas eu vejo como vocês estão felizes e se eu não desejo a felicidade do meu filho, que tipo de mãe eu sou?!
– Tá tudo bem, Mônica – Duda segurou sua mão – Eu te desculpo e eu tenho certeza que o Diego também – olhou para ele, que assentiu com um sorriso – Você é mãe, mães se preocupam o tempo todo, eu sei... ainda mais com um filho como o Diego – riu e deitou a cabeça no ombro do namorado.
– Você não faz nem ideia, Duda! – Mônica riu – Você tem noção que uma vez ele saiu de casa e me deixou um recado na geladeira dizendo pra eu não ligar pra polícia porque ele estava vivo, mas ia passar o fim de semana fora?! Depois voltou com a maior cara lavada!
Diego começou a rir e nenhuma das duas entendeu, apesar de Duda rir com a história que sua sogra contou.
– Mãe... – ele ainda ria – Se não fosse por aquele fim de semana, hoje o Arthur não existiria.
Mônica arregalou os olhos, já o rosto de Duda ruborizou na mesma hora. "Então aquelas marcas nas suas costas...", sua mãe murmurou e ele arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso ladino, confirmando.
– Vamos mudar de assunto, por favor! – Duda pediu envergonhada – Enfim, Mônica, eu fico feliz que agora tudo esteja bem entre nós... – sorriu.
– Por favor, Mônica é tom de bronca. Me chama de sogra – retribuiu o sorriso.
– Então, sogra... Aquele dia no sítio você me perguntou o que minha mãe ia dizer disso tudo... E hoje eu posso te afirmar que ela ficaria do meu lado e apoiaria a gente também.
Duda e Diego trocaram um sorriso cúmplice, já que ela havia contado sobre a carta que encontrou para ele.
– Sua mãe? – Mônica franziu o cenho – Tem certeza?
– Tenho. Ela me contou – sorriu.
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Olá meus amores! Como estão?!
Sou só eu que não curto esse clima de final?
Não estou pronta para me despedir não, viu? E falta tão pouquinho...
Votem, comentem e me contem o que acharam do capítulo!
Beijinhos ♥
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