Após toda a discussão da madrugada, a segunda-feira de Carnaval amanheceu silenciosa no sítio. Duda dormiu sozinha com Arthur, já que não queria dar mais motivos para Mônica reclamar. Tanto ela quanto Diego passaram algumas horas acordados na tentativa de digerir tudo o que aconteceu. Ele sentia-se mais leve por finalmente poder gritar para Deus e o mundo o que sempre quis, mas sabia que sua namorada ainda estava tensa com tudo isso. Já Duda deixou martelar em sua cabeça a frase de Mônica – "o que sua mãe ia dizer disso?". Ela não sabia, mas tantas possibilidades passavam por sua mente inquieta que ela precisou se forçar a dormir para parar de pensar.

          Duda acordou com a mãozinha de Arthur passando por seu rosto e tentando abrir seus olhos com os dedos gordinhos. "Acorda, mamãe! Acorda, mamãe!", ele repetia incansavelmente. Ela abraçou o filho e sentou-se na cama, precisava encarar o dia – e a sogra – como se nada tivesse acontecido. Levantou-se e assim que saiu pela porta com o menino no colo, ouviu uma falação vinda da cozinha e a voz de Diego ainda rouca dizendo "bem feito, ele mereceu".

          Assim que chegou na cozinha, Diego, Gabriela, Steve e Daniela aglomerados ao redor de Jonathan, que mostrava algo no celular para os quatro. Tia Maria cozinhava feijão enquanto Mônica lavava a louça. "Bom dia", ela falou após um pigarreado para mostrar que estava ali.

– Bom dia amor – Diego foi até ela e depositou um selinho em seus lábios, a fazendo olhar envergonhada para a sogra, que estava de costas para os dois – Bom dia filho! – pegou o menino do colo de Duda e o abraçou, sem se importar com o que sua mãe ouvia.

– O que vocês tanto veem nesse celular aí? – perguntou curiosa.

– Du... – Jonathan virou a tela do celular para baixo – Eu tenho uma notícia-barra-fofoca pra te contar...

– Ai meu Deus, lá vem! – Duda sorriu – O que é?

– Você lembra da Renata, ex-namorada do Lucas que trabalhava comigo lá em São Paulo? – falou um tanto quanto reticente.

– Claro, coitada, teve o desprazer de namorar com ele também.

– Então, a gente ainda conversa né... Aí agora de manhã ela me chamou pra contar que o Lucas foi passar o Carnaval no Rio...

– Mas ela tá com ele de novo?! – franziu o cenho.

– Não! É que o amigo que foi com ele tem amigo em comum com ela! Enfim... – suspirou – Ele foi passar o Carnaval no Rio e parece que em um dos bloquinhos, ele assediou uma menina. Agarrou a força e tal, mesmo ela dizendo não e pedindo pra ele soltar, ele ignorou e abusou dela.

– A cada palavra eu fico com mais nojo dele, se é que isso é possível – revirou os olhos.

– Mas então, ela não estava sozinha, parece que ela estava com o irmão... E o irmão dela é bandido – arqueou uma sobrancelha – Acho que você já imagina o que aconteceu com o Lucas...

– Não vai dizer...

– Você quer ver as fotos...? – a interrompeu.

          Duda assentiu e Jonathan virou a tela do celular para ela, que na mesma hora arregalou os olhos e tampou a boca com a mão. Agora entendia o "bem feito" que Diego soltou minutos antes. Não que ela desejasse aquilo para ele, mas também não podia dizer que ele não mereceu. "Acho que agora ele não vai abusar mais ninguém", Gabriela falou com um sorriso cínico, fazendo Duda abrir um sorriso que tentou conter.

          O dia passou rápido e Duda agradecia por estar chegando a hora de ir embora do sítio. Não que não gostasse de ficar lá, adorava a companhia de seus tios e o calor de 37º que fez durante aquela tarde era totalmente propício para se refrescar na piscina, mas cada vez que passava por Mônica ou que oferecia ajuda para qualquer coisa que fosse, recebia olhares de poucos amigos. Mas algo que ela não podia se queixar, era em relação a seu filho. Em momento algum a sogra desfez do menino, inclusive estava ainda mais carinhosa com ele. Diego, assim como a namorada, não estava sendo muito bem tratado pela mãe.

          Se aproximava das nove da noite quando chegaram na casa de Jonathan. Steve sequer fez cerimônia quando Gabriela o convidou para dormir em sua casa, apenas se despediu e a seguiu até o carro. Diego ficaria pela casa do primo naquela noite, já que a cama do gringo estaria livre. Ambos os casais queriam aproveitar a última noite juntos, já que Duda e Steve voltariam para São Paulo na tarde do dia seguinte. O rapaz, inclusive, voltaria para Boston no final de semana seguinte.

          Duda e Diego finalmente conversavam sobre a madrugada anterior, já que durante o dia evitaram o assunto por conta de Mônica. Os dois estavam deitados na cama de solteiro entrelaçando os dedos e brincando com os polegares, vez ou outra trocando beijos longos e silenciosos.

– Ontem quando a minha avó disse que já sabia do Arthur eu fiquei mais confuso do que nunca – sorriu – A velhinha é ligeira.

– Sabe... Teve um dia que ela me deu uma indireta, foi na festa junina, eu acho... Eu pensei que fosse por conta do Alzheimer, que ela realmente estava confusa...

– Ela é mais ligeira que nós dois juntos! – riu – Aliás, mais ligeira que eu, que tendo meu filho debaixo do meu nariz, não percebi.

– Isso já não importa mais – Duda deu um selinho nele – Porque agora todo mundo já sabe e quem não faz mais questão de esconder sou eu.

          Diego avançou sobre Duda e lhe deu um beijo tão apaixonado quanto todos os outros. Ele sentia como se ainda estivesse sonhando e tinha medo de acordar, mas Duda era muito real estava ali ao seu lado, abraçada ao seu corpo, sorrindo como se nada mais importasse além daquele momento. E nada realmente parecia importar.

          No apartamento a alguns quilômetros de distância, Gabriela e Steve conversavam sobre a viagem dele dali alguns dias. A loira não entendia muito bem aquela sensação de nó na garganta, mas cada vez que ele falava sobre a volta para casa parecia que o nó ficava mais forte. Ele forçava um sorriso, mas também não estava tão contente em manter aquele assunto.

– Mas você sabe que está convidada a me visitar, não sabe? – beijou seu pescoço.

– E de onde eu vou tirar dinheiro, gringo?! – riu – Eu sou universitária e pobre!

– Nem que eu tenha que te dar a passagem de presente!

– Tudo isso é vontade de me apresentar para os seus pais? – mordiscou seu lábio.

          Steve não respondeu, já que a resposta parecia óbvia demais em sua cabeça. Há anos seus pais não conheciam qualquer conquista sua, já que ele não pretendia namorar mais ninguém e planejava morrer solteiro, mas apresentar Gabriela não parecia ruim. Ela nem estendeu o assunto, só deitou sobre o peito do gringo e o beijou, queria aproveitar o último dia ao lado do rapaz antes de sentir apenas saudades.

***

          Na tarde de terça-feira, todos se reuniram na velha rodoviária para mais uma despedida. A diferença dessa vez é que no próximo retorno de Duda, o gringo já não estaria mais ao seu lado. Jonathan abraçou Steve e agradeceu por todos os anos em que ele cuidou de sua irmã, além de agradecer pela amizade, ajuda nas noites agitadas de delivery, amor por seu sobrinho. Daniela fez o mesmo, reiterando que ele faria muita falta.

          "Obrigado por cuidar da minha Du quando eu não pude. Você é um ser humano e tanto", Diego falou em seu ouvido ao se despedir com um abraço apertado. Steve não era uma pessoa emotiva, mas todo aquele carinho que estava recebendo fez seus olhos marejarem. Os três foram se despedir de Duda e Arthur, deixando o gringo a sós com Gabriela.

– Então, é isso... – Gabriela sorriu e colocou os óculos escuros para disfarçar os olhos úmidos – Adeus, gringo.

– Não é um adeus, é um até logo, diabinha – ele a abraçou – Não pense que vou ficar muito tempo longe.

– Nos vemos então... Um dia – sorriu.

          Steve a beijou e Gabriela sentiu uma lágrima solitária escorrer, mas a secou antes mesmo do gringo abrir os olhos. Já ele se esforçava para não deixar escorrer nenhuma sequer. O beijo foi interrompido pela chamada no alto-falante, que informava que o embarque chegava ao fim. Os três seguiram para o ônibus e se acomodaram em seus lugares. Os quatro do lado de fora acenavam com um sorriso no rosto. Assim que o ônibus deixou a plataforma, Jonathan abraçou Daniela e seguiu até seu carro. Diego caminhava em direção ao outro automóvel quando Gabriela deitou a cabeça em seu braço.

– Maninho, você sabe que eu não sou de pedir favores, mas eu preciso de você.

***

          A longa viagem foi tranquila e os três chegaram em São Paulo ainda de madrugada. Chegaram em casa e Duda tentava destrancar o portão, mas sua chave não estava entrando. Tentou algumas vezes, até que acendeu a lanterna do celular e viu que a fechadura era nova. Não acreditava que Glória tinha feito aquilo! Enquanto xingava a mulher e todas as suas gerações, apertava a campainha sem parar. Cachorros das casas vizinhas começaram a latir e Arthur começou a chorar, o barulho infernal não dava trégua – assim como Duda também não.

– Você tá louca?! – Glória gritou assim que abriu o portão.

– Quem tá louca é você! – Duda gritou tão alto quanto ela – Como você me troca a fechadura?! E se eu chegasse em um horário que você não está em casa? Vou ficar com meu filho do lado de fora?!

– Essa fechadura nova vai sair do seu bolso! Você quebrou a outra quando saiu toda irritadinha batendo o portão depois de me mandar pro inferno!

– Eu não vou pagar nada porque eu não quebrei nada!

– Isso é o que veremos! Eu continuo sendo a dona dessa casa!

– O que é uma pena! – pegou Arthur do colo de Steve – Agora me dá licença que eu tenho mais o que fazer do que ficar ouvindo uma louca igual a você. E a propósito, não vou mais te mandar pro inferno, tenho até dó do diabo.

          Duda entrou batendo o portão propositalmente e Steve a seguiu soltando xingamentos em inglês, sabendo que a senhora não entenderia. Ela já estava exausta, não bastava a atual sogra com raiva por ela amar Diego, ainda tinha a ex-sogra que a odiava por não ela amar Bernardo. "Minha querida vida, não adianta você arrumar uma coisa e piorar outra", reclamou sozinha ao fechar a porta de sua casa, fazendo Steve rir.

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Olá meus amores! Como estão?!

Eu poderia comentar várias coisas sobre o capítulo, mas eu quero falar sobre esse final do Lucas! Haha

Eu fiquei semanas procurando um final "decente" para ele, mas não encontrava. Então decidi por esse.

O final é aberto e fica a cargo da imaginação de vocês! (Independentemente do que escolherem, já sabem que foi algo bem doloroso haha)

E aí, qual o final que vocês deram?!

É isso, comentem bastante, deixem a estrelinha e eu vejo vocês em breve!
Beijinhos! ♥