29 - Pra valer

          Bernardo encarava Duda aguardando por sua resposta. No fundo o rapaz sentia que sabia da resposta dela, mas precisava ouvir sair de sua boca. Já Diego estava certo de que ela não o escolheria. Ela sempre teve medo de se relacionar com ele, isso não mudaria agora que ela estava sob pressão. Duda se virou para o namorado e por mais que as lágrimas fossem presentes, sua voz estava calma.


– Eu... – suspirou – Não existe uma escolha, Bernardo...

– Tem que ter u...

– Não existe uma escolha – o interrompeu – Porque nunca existiu outra pessoa a não ser o Diego. Sempre vai ser o Diego.


          Bernardo parecia não acreditar no que estava ouvindo, mesmo já desconfiado que essa seria a escolha dela. Gritou algo que Duda não prestou atenção, pois se virou para Diego para finalmente dizer o que estava guardado há tanto tempo.


– Sempre foi você.


          A expressão de espanto no rosto de Diego deu lugar a um pequeno sorriso e os olhos que antes transmitiam dor agora estavam úmidos de felicidade. Duda sorriu timidamente para ele, que a puxou pelo braço e a abraçou forte. "Obrigado", sussurrou em seu ouvido.


– Parece que não foi uma decisão difícil – Bernardo bufou, atrapalhando o abraço dos dois.

– Bernardo... – Duda caminhou até ele e segurou sua mão – Você é uma pessoa muito boa, tenho certeza que vai encontrar alguém que goste de você da maneira que você merece. Alguém que te escolheria em qualquer circunstância.

– Guarde suas palavras... Eu não preciso delas agora.


          Bernardo virou as costas e se perdeu por entre a chuva. Apenas o som do alarme do carro sendo desativado foi ouvido, seguido do barulho de pneus raivosos sobre o asfalto molhado. De repente o silêncio voltou a se fazer presente na praça e os dois se encararam por um breve momento antes de Diego se aproximar de Duda.


– Sabe, Du... Por mais que eu tenha tentado, o meu coração escolheu você... Ele continua te escolhendo todos os dias e isso é algo que nunca vai mudar. Nunca. Obrigado por me escolher de volta.


          Diego deu um passo a frente, colando seu corpo contra o dela. Duda sorriu sem desviar seus olhos dos dele e passou a mão por seus cabelos molhados, em seguida trazendo seu rosto para perto. "Eu não aguentava mais fingir que não era você", ela sussurrou com os lábios bem próximos aos dele.

          Ansiando há tanto tempo por um beijo dela, Diego não deu espaço para mais nada que não fosse sua boca. A invadiu os lábios lentamente, sentindo o sabor da saudade que era tão diferente da última vez. Apesar dos anos que se passaram e tudo o que viveram, naquele momento parecia que nada mais importava, pois ambos finalmente se sentiam em casa nos braços um do outro. Ela o escolheu, ele ouviu com todas as letras, viu toda a verdade em seus olhos. A cada vez que se lembravam disso, o beijo se prolongava mais. Assim como a chuva que caía, eles não tinham pressa, mas o barulho de um trovão fez com que se soltassem.


– Talvez seja melhor a gente voltar – Diego falou já sem muito fôlego.

– Ou talvez a gente devesse tirar essa roupa molhada – desviou o olhar – Sabe, a gente pode ficar doente – sorriu ladino.

– Eu estou sozinho em casa hoje – retribuiu o sorriso.

***

          Samuel já havia ido embora. Desistiu da festa quando uma das moças que paquerava beijou a outra mulher que estava ao seu lado, mas não quis nada com ele. Jonathan percebeu o sumiço da irmã, mas como Bernardo também havia ido embora, deduziu que foram juntos. Steve e Gabriela estavam abraçados em um canto do bar e ela mal dava tempo para ele recuperar o fôlego, mas ele interrompeu o beijo para perguntar o que ainda estava martelando em sua cabeça.


– Por que você decidiu me beijar? – franziu o cenho.

– Para te provar que você não era meu plano B – sorriu – Mas não fique se achando muito, você pode ser o plano A, mas eu tenho todo o restante do alfabeto caso você pise na bola comigo.

– Nossa, eu entendi a mensagem, tenho que dar valor – riu – Mas preciso te dizer que fiquei com dó do Samuel.

– Ah, ele supera – deu de ombros – Mas não podia perder você para aquela menina.

– Estava com ciúmes, senhorita? – a abraçou mais forte.

– Eu não sinto ciúmes, você sabe – revirou os olhos – Mas eu tenho que ser a única mineira no seu currículo.

– E por hora você é, mas nunca se sabe... Talvez no Carnaval eu conheça outra mineirinha por aqui.


          Gabriela riu do sotaque puxado ao falar "mineirinha" e deu um leve tapa em seu braço.


– Ai! – passou a mão no braço – Por que você me bateu? – Steve perguntou sorrindo, como se não soubesse.

– Sem outra mineirinha para você, gringo! – apontou o dedo para ele – Outra paulista tudo bem, paraense também, mas mineira não! Nisso eu quero exclusividade – sorriu.

– Exclusividade, é? – beijou seu pescoço – Até quando?

– Até um dia antes do Carnaval, o que acha? Depois disso é cada um por si, até porque eu quero estar totalmente livre no Carnaval – riu.

– Feito. Até a véspera do Carnaval.


          Steve esticou a mão para Gabi, que a apertou como se selassem um contrato. Antes ele não sabia se pretendia continuar no Brasil até o Carnaval, mas agora eles tinham um acordo e ele não poderia quebrá-lo. Ele afirmava a si mesmo que só ficaria para cumprir sua palavra, não porque queria aproveitar a companhia de Gabriela por mais alguns meses. O gringo a puxou para um beijo, mas antes mesmo que suas bocas se tocassem, o celular dele vibrou.


– Mensagem da Duda... "Não vou dormir em casa, por favor, fique com o Arthur. Amanhã eu te explico. Está tudo sob controle, love ya" – leu em voz alta.

***

          O barulho da porta do apartamento batendo ecoou por todo o corredor, mas Diego não estava se importando muito com isso, só queria se afogar mais e mais nos lábios de Duda. "Tira essa camisa molhada", ela sussurrou já abrindo os botões. "Acho que você precisa de um banho quente", ele respondeu procurando pelo zíper nas costas do vestido.

          Não pararam de se beijar nem mesmo no caminho até o banheiro, trombando com o sofá e a parede. A água quente começava a embaçar o espelho e o vapor tomava conta do cômodo. Só terminaram de se despir quando já estavam debaixo d'água. Duda se sentiu constrangida ao ficar nua, pois após uma gestação seu corpo já não era mais o mesmo que ele se lembrava. Já Diego a olhava com o mesmo brilho de desejo da primeira vez.

          "Você é a mulher mais linda que eu já vi", Diego beijou seu pescoço e se aproximou ainda mais. "E eu sou o cara mais sortudo desse mundo", desceu os lábios para sua clavícula. Duda parecia ter se esquecido do mundo, apenas desejava tê-lo mais e mais, como se seu toque fosse uma necessidade.

          Os beijos de Diego arrepiavam cada centímetro de sua pele, e as tentativas em se manter de pé já iam pelo ralo junto com a água. Não eram mais capazes de esperar. Diego fechou o chuveiro e ela abraçou seu quadril com as pernas, sendo levada até o quarto por ele. Enquanto suas línguas se entrelaçavam, ele pensava na sorte que tinha por tê-la mais uma vez.

          "Eu nem acredito nisso", ela falou ao encaixar seu quadril sobre o corpo dele. Diego a respondeu com mais beijos e toda a pressa que tinham se desfez em movimentos lentos, até que pudessem preencher por completo a falta que sentiam um do outro, unindo suas almas novamente para nunca mais se separar. A respiração ofegante dos dois era a canção que embalava o quarto. Quando já extasiados, Duda deitou ao seu lado para recuperar o fôlego.


– Sabe... – Diego falou ainda ofegante – A primeira vez em que você esteve deitada nessa cama foi parecida com hoje. Nós dois sozinhos em casa, molhados da chuva, nessa mesma cama...

– Só que eu fugi... – encarou o vazio e logo voltou os olhos para ele – Mas isso não vai acontecer de novo. Não mais – sorriu.


          Diego retribuiu o sorriso e a trouxe para mais perto. Por vezes sentia vontade de se beliscar para ter a certeza de que não estava sonhando. Estava tudo muito bom para ser verdade. Já Duda pela primeira vez ouviu ao conselho que ela mesmo deu ao rapaz mais cedo e decidiu não pensar demais. Foi por pensar demais que ela o perdeu diversas vezes, não repetiria o erro. "Eu te amo", ele falou, a tirando de seu mundinho particular. Ela o beijou e o desejo se tornou palpável mais uma vez.

***

          O primeiro dia do ano de 2018 amanheceu preguiçoso naquele apartamento que teve uma madrugada tão agitada. Já se aproximava do meio-dia quando Gabriela decidiu levantar, já que só chegou em casa quando o dia estava amanhecendo. Se enrolou no cobertor e foi até a cozinha para tomar um copo d'água, na tentativa de aliviar a leve ressaca que sentia. Toda a casa estava silenciosa demais, então ela apenas deitou no sofá com seu cobertor e seu celular e ficou apreciando o silêncio.

          Já no outro cômodo, o casal que passou boa parte da madrugada em claro ainda dormia. Metade do corpo de Duda estava por cima do de Diego e o edredom estava no chão, dando espaço para os dois na pequena cama de solteiro. A vibração do celular do rapaz sobre o piso fez com que Duda acordasse, mas demorasse a despertar.

          Assim que abriu os olhos, olhou para o tronco desnudo e tatuado em que estava abraçada e sorriu ao se lembrar da noite anterior. Se virou para pegar o celular do chão e se assustou ao ver a hora, precisava voltar para a casa de Jonathan o quanto antes para não abusar da boa vontade de Steve em cuidar de Arthur. Estava se levantando quando ouviu o bom dia rouco de Diego.


– Bom dia – respondeu em um sussurro e deu um selinho em Diego.

– Onde você vai? – coçou os olhos que ainda ardiam de sono.

– Preciso ir embora, o Steve deve estar preocupado já.

– Espera – segurou sua mão – Vamos tomar café e depois eu te levo.

– Café? Já é meio-dia! – sorriu.

– Vamos almoçar então – retribuiu o sorriso – Só fica mais um pouco.


          Diego puxou Duda de volta para a cama e a beijou. "Credo, eu tô com bafo, não me beija", ela reclamou, mas ele não deu atenção. Quando conseguiu se desvencilhar dos braços dele, se levantou e procurou seu vestido pela bagunça do quarto. Se lembrou que ele ficou ainda na sala. Pegou uma camiseta que estava pendurada atrás da porta e vestiu. "Suas roupas sempre ficaram melhores em mim", se gabou. Ele apenas sorriu, sentiu falta de todas as vezes em que ela disse isso.

          Gabriela continuava deitada no sofá com as cortinas fechadas e luzes apagadas. A dor de cabeça estava começando e ficar deitada em posição fetal no sofá era o melhor remédio. Ouviu a porta do quarto de Diego abrir e assim que ergueu a cabeça para pedir para ele não fazer barulho, abriu um sorriso sagaz e arqueou as sobrancelhas ao ver a pessoa que saía de lá vestindo uma camiseta do irmão e um samba-canção.

          Duda corou instantaneamente e pensou em voltar para dentro do quarto, mas Diego estava parado bem atrás dela, se espreguiçando no batente da porta sem nem ao menos notar que sua irmã estava ali. "Você me disse que a Gabi provavelmente não tinha dormido aqui", ela sussurrou e deu uma leve cotovelada na costela dele. "Eu não sabia!", ele respondeu também em um sussurro, passando a mão onde Duda acertou.


– Mas que po... o que... Uai gente, o que eu perdi?! – Gabriela até se esqueceu da dor e já se animou no sofá.

– O que você tá fazendo aqui?! – Diego perguntou tão envergonhado quanto Duda.

– Eu moro aqui! – revirou os olhos – Mas me digam, o que aconteceu?!

– Seu irmão disse que você não estava aqui! – Duda respondeu sentindo o rosto quente como se pegasse fogo.

– É né, não era para eu estar, mas você mandou aquela mensagem pro Steve e não pegava bem eu ir pra casa do Jonathan... Aliás, a gente pensou que você tinha ido com o Bernardo!

– A gente não precisa falar dele agora, Gabi – Diego respondeu indo para a cozinha – Café, Du? – perguntou com um sorriso ao abrir o armário.


          "Pode ser", ela respondeu ainda envergonhada. Se sentou à mesa e Gabriela continuava a encarando com um sorriso no rosto, a deixando ainda mais tímida. Diego colocou um saco de pão amanhecido sobre a mesa, entregou uma caneca para ela e uma para sua irmã e sentou ao seu lado. Os dois tentavam comer em silêncio, mas Gabi não pretendia deixar.


– Sério que vocês não vão me contar nada?! – abraçou a almofada que estava ao seu lado e puxou o vestido vermelho e ainda molhado que encontrou todo amassado no canto do sofá – Pelo jeito a noite foi boa... – sorriu ao erguer a peça de roupa.

– A gente se pegou, Gabi. A gente se pegou na sala, no corredor, no banheiro, no quarto... quer mais detalhes? – Duda abriu um sorriso irônico.

– Não quero detalhes não, Deus me livre! – abanou a mão – Eu só tô feliz por vocês! Finalmente! Isso é motivo de comemoração, cadê a champanhe?!


          Diego riu e Duda se deu por vencida, rindo também. Gabriela sempre torceu pelos dois, era óbvio que ela faria mil perguntas quando os vissem juntos. Enquanto terminava seu café, ficou pensando na reação das outras pessoas. Seria mentira se dissesse que não sentia mais medo disso, mas estava cansada de privar sua felicidade por conta do que os outros iriam pensar. Agora que finalmente estava com Diego, não pretendia mais deixá-lo. Já estava imaginando como seria contar para seu irmão – que acompanhou tudo desde o início – que tudo finalmente estava se resolvendo. Saiu de seus devaneios quando ele a chamou.


– Quer ir agora? – Diego perguntou segurando sua mão.

– Eu preciso... – suspirou – Eles devem estar preocupados comigo.

– Eu acho que eles vão até se esquecer da preocupação quando me virem chegar com você – se levantou e deu um selinho apaixonado em seus lábios.

– Ai meu Deus! Eu amo tanto vocês juntos! – Gabriela exclamou com as mãos no rosto, como se aquela fosse a cena mais fofa que ela já viu.


          Duda riu e foi até o banheiro para um banho rápido antes de sair. Logo em seguida, Diego fez o mesmo. Enquanto arrumavam o quarto bagunçado, conversavam sobre o que aconteceu. O que seriam dali em diante? Continuariam escondendo o relacionamento de Mônica? Ele afirmava que não se importava em contar para todos que finalmente estava com o amor de sua vida, mas ela ainda tinha medo. Do lado de fora Gabriela já estava impaciente, desejando ser uma mosca para saber o que eles tanto conversavam dentro daquele quarto.

***

          Jonathan e Daniela dividiam uma cerveja sentados ao chão enquanto Steve quase dormia em pé ao brincar com Arthur na garagem da casa. O carro estacionou em frente ao portão e Gabriela foi a primeira a descer, depois de implorar uma carona para o irmão. Disse que queria ver a reação dos três, mas a verdade é que já estava com saudade do gringo.

          Steve rapidamente abriu o portão para a loira, que cumprimentou a todos e se sentou no degrau de entrada da casa. Diego sempre demorava para descer do carro, então só deixaram o portão destrancado e voltaram a conversar. O bater de duas portas ao invés de uma chamou a atenção de Daniela para o automóvel, que assim como Gabriela, não escondeu a surpresa ao ver sua cunhada dar a volta no carro e entrelaçar seus dedos nos de Diego.

          "Boa tarde", Diego falou assim que entrou. Jonathan e Steve ergueram o olhar até ele e sorriram ao ver que Duda segurava sua mão. O sorriso dela ainda era tímido e suas bochechas estavam coradas, mas seu irmão via em seus olhos que ela finalmente estava feliz.


– Mas que porra é essa? – Steve falou em seu português enrolado.

– Então... – Duda passou o braço pela cintura de Diego e o abraçou – Parece que nós estamos juntos...

– E dessa vez é pra valer – Diego sorriu e beijou o topo de sua cabeça.


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EU SÓ QUERO DIZER QUE É TETRAAAAA!!!

Duda finalmente tomou uma decisão!

Será que dessa vez é realmente pra valer?!

A propósito, tenho certeza que dessa vez eu não mereço nenhum xingamento, né? Pelo menos uma vez haha

Espero que tenham gostado do capítulo tanto quanto eu gosto!
Vejo vocês semana que vem!

Ah, não se esqueçam da estrelinha!

Beijinhos ♥

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