2 - Hulk

          Steve sentou-se ao lado de Duda, que continuou deitada sem acreditar naquela informação. "O que você vai fazer agora?", o rapaz perguntou sem desviar os olhos de sua barriga pouco visível através da blusa levemente erguida, observando o sinal óbvio de gravidez.


– Eu não sei – respondeu abaixando a blusa.

– Mas Duda, já tem quase três meses que você está aqui... você só percebeu agora?!

– Eu... Ah, minha menstruação nunca foi das mais reguladas e... bom, a gente se protegeu, né?

– Nós dois sim, mas e o Diego?!

– Ele sequer passou pela minha cabeça – se surpreendeu com sua própria constatação.

– Vocês não usaram...

– Claro que usamos!

– Duda... não mente pra mim – sorriu.

– Bom, algumas vezes...

– Dois inconsequentes – balançou a cabeça negativamente.


          Duda se sentou na beirada da cama ainda tentando digerir toda as descobertas daquele dia. Steve passou o braço por seu ombro e a trouxe para si. Os dois encaravam o chão, ela, perdida em seus devaneios. Ele, pensando em como ajudá-la. Mas antes...


– Você vai limpar tudo isso – Steve apontou a bagunça no chão.

***

          "Ainda tem ração ali, ó", Steve apontou o canto do carpete. Enquanto Duda terminava de juntar tudo o que tinha espalhado pelo chão – que não era somente o que ela jogou ­– Steve ficou deitado na cama brincando com Christmas Eve. "Você poderia me ajudar!", respondeu tirando o cabelo que caía por seu rosto. O rapaz negou. "Quem deu a louca e começou a arremessar coisas em mim foi você", concluiu.

          Duda se jogou no sofá, exausta. Nem se lembrava de ter jogado todas aquelas roupas, mas ainda assim, as recolheu. Steve se sentou na cama e a encarou. Ao menos toda aquela arrumação pareceu distraí-la. Mas... eles precisavam conversar sobre isso.


– Você vai contar para a Elisa? – tamborilou os dedos nos próprios joelhos.

– Acho que... não sei.

– Como não sabe? Você sabe que essa barriga aí não é só de comida e que uma hora ou outra ela vai perceber, certo?

– Que barriga?!

– Pelo amor de Deus, Duda. Você sempre teve a barriguinha de cerveja, mas agora ela tá um pouco maior. Não sei como eu só percebi agora.

– Você teve tempo o suficiente para reparar enquanto eu arrumava a sua bagunça, né?

Nossa bagunça. Você me ajudou nisso.

– Que seja... Mas respondendo à sua pergunta, eu não posso contar pra Elisa. Não agora.

– E por que não?

– Eu preciso aguentar só mais três meses e aí... eu volto para o Brasil.


          Duda engoliu seco e se afundou ainda mais no sofá. A ideia de voltar para o Brasil com uma criança em seu ventre, tendo de responder milhares de perguntas que ela mal sabia as respostas a desesperava. Ainda mais saber que estaria tão perto do pai daquele bebê, perto do rapaz que tanto amava, mas que naquela altura já teria outro filho nos braços. Este, que inclusive, nasceria dali um mês.

          Em frente à janela fechada – já que Steve não tinha a coragem de comprar um espelho de um tamanho decente –, Duda levantou a blusa tentando examinar o tamanho de sua barriga através do fraco reflexo. Steve a olhava também. Notou algo que não havia reparado antes.


– Duda... o que é essa cicatriz? – perguntou, a fazendo desviar os olhos da janela e voltá-los aos seus.

– Eu... sofri um acidente. Mas foi em setembro, já faz um tempo – abaixou a blusa rapidamente.

– Nossa, eu não sabia. Nunca nem tinha visto essa marca aí.

– Por favor, né Steve?! Você sabe bem o que fizemos no meu aniversário.

– Eu estava bêbado, mal lembro das coisas que eu faço sóbrio – sorriu.


          Duda sorriu, pois sabia que era verdade. Até então só havia contado do acidente para Jéssica e Carol, mas estava bêbada e pulou alguns – grandes – detalhes. Acomodou-se com as pernas nas almofadas do sofá e começou a contar tudo o que aconteceu. Desde Lucas – que Steve sequer havia ouvido falar, mas desejou trucidá-lo – até a perda do bebê. Neste momento ela não conseguiu conter as lágrimas. Era um assunto que ainda a machucava, e seria mentira se ela dissesse que não estava preocupada com essa possibilidade desde o primeiro positivo que viu mais cedo.

          Steve a abraçou sem falar nada. Não sabia muito bem o que dizer e apesar de ser seu único amigo naquele país, ainda não sabia muita coisa sobre a brasileira de olhar perdido que o fazia companhia quase que diariamente. Duda também não tinha um dossiê completo dele, mas ele não tinha muito o que contar. Divorciado, o fotógrafo dividia sua casa apenas com seu cão e visitava seus pais várias vezes por semana – principalmente quando o cesto de roupas ficava cheio.

          O rapaz acreditava também que não precisava saber de tudo sobre seus amigos, respeitava o espaço pessoal de cada um, eles se abririam quando se sentissem à vontade – ou quando fossem atacados por tênis e tigelas de rações, como foi o seu caso –, mas agora não sabia o que dizer. A vida de Duda foi mais difícil do que ele achava. Agora ele entendia todos os olhares vazios que frequentemente apareciam em seu rosto. Steve começou a brincar com o cão pensando no que falar, mas somente uma coisa passou por sua mente.


– Os espermatozoides do Diego são o Hulk? – riu.

– Ah não, Steve! – tentou ficar séria, mas não conseguiu segurar a gargalhada que chegou.

– Eu não estou brincando! Além da esposa, engravidou você duas vezes! Pede para ele me dar um pouco da fertilidade dele?! – caçoou da própria condição.

– Eu espero chegar neste ponto de rir da minha própria desgraça – sorriu.

– Se você levar tudo muito a sério, chega uma hora que você não é mais capaz de suportar.


          Por muito tempo Steve foi uma pessoa triste. Se lamentava sobre seu divórcio a cada oportunidade que tinha, não importava com quem. Deixou de fotografar casamentos, sentia que todos eles eram forçados e que todos acabariam iguais ao dele. Rodou alguns Estados, gastou o dinheiro que não tinha em exames que pudessem provar para Sharon que ele poderia engravidá-la, mas todos lhe davam a mesma resposta: Estéril. Tentou convencê-la a adotar uma criança, mas ela não quis. Poucos meses após a separação, ele a viu feliz ao lado de um outro rapaz. Foi aí que percebeu que era hora de voltar para casa.

          Abriu mão do clima agradável do Arizona e voltou para o quarto gelado da casa de seus pais nos arredores de Boston. Se afundou em sua própria angústia e decidiu se dar um fim. Ao caminhar até a porta sentindo ser a última vez, foi surpreendido pelo abraço de Emma. Ele não podia deixar sua irmã. Ela era só uma criança e ele era seu herói, e, bom, heróis não deveriam morrer. Fechou a porta e nunca mais a abriu com a mesma intenção. Levou algum tempo até se recompor e voltar a ser o mesmo Steve feliz e piadista de antes. Percebeu que a culpa nunca foi dele. Ele tentou. Eles tentaram. Só não era pra ser. Para poder suportar, preferia pensar assim.

***

          Já era tarde, mas Duda não queria ir embora. Steve foi capaz de fazê-la sorrir e até mesmo pensar em nomes de bebês – e sua primeira sugestão foi, para a não-surpresa dela, Steve. Ela não sabia como ele era capaz disso, levando em conta o tamanho do medo e da tensão que ela sentia, mas ele simplesmente conseguia fazê-la se distrair. As horas seguiam, e a enrolação de Duda também.


– Posso dormir aqui? – pediu, esticando as pernas na cama

– Não. Eu não posso deixar uma grávida dormir nesse sofá duvidoso e também não quero dividir a minha cama. E outra, amanhã é segunda-feira e você trabalha.

– Qual é! Por favor.

– Não, Duda. Estou falando sério, você precisa conversar com a Elisa. Sei que você só está me enrolando pra não ir embora, mas você precisa contar pra ela. Vamos, eu te levo.


          Duda soltou um suspiro e reclamou algo em português. "Eu não sei o que você disse, mas vai você!", Steve respondeu calçando os tênis. Ele pegou as chaves e os dois seguiram até a casa de Elisa. Ele estacionou e ela sentiu o coração descompassar. Negou quando Steve perguntou se ela queria que ele a acompanhasse. "Não, por Deus, ela vai achar que é seu!", respondeu antes de abrir a porta. "Você também achou!", o rapaz respondeu e deu uma piscada antes de dar uma buzinada e sair com o carro.

          Elisa estava na sala assistindo à televisão quando Duda entrou nas pontas dos pés. Pelo horário, torceu para que ela estivesse dormindo. Contar de sua gravidez para Elisa seria o mesmo que contar para sua mãe – com a diferença que sua mãe não pagava o seu salário. "Chegou tarde. Estava com o Steve?", a mulher perguntou sem desviar os olhos do programa que assistia. Duda suspirou e foi até a sala. Mais uma vez o curativo precisava ser arrancado.


– Elisa... a gente precisa conversar.

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Olá meus amores! Tudo bem com vocês?!
Mais uma vez o capítulo não era para ser postado ainda, mas eu não sei me controlar.

O que estão achando da continuação dessa história?
O feedback de vocês é muito importante pra mim!

Mais uma vez, não sei quando chegarei com o próximo capítulo.
Eu quero que seja só quando eu terminar de escrever, mas já deu pra perceber que eu sou ansiosa demais para isso, né?

É isso, tenham uma boa semana, bebam água, deixem a estrelinha e comentem bastante!
Beijinhos ♥

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