18 - Me dê nomes
Assim que aquela voz foi ouvida, a pequena distância que mantinham entre suas bocas foi rapidamente interrompida. Seus corações pareciam que saltariam pelo peito a qualquer momento, e ao mesmo tempo que agradeciam mentalmente por não terem feito nada que se arrependeriam na manhã seguinte, estavam receosos com as possíveis consequências.
No que se viraram para ver quem os interrompeu, respiraram aliviados. Gabriela – um tanto quanto descabelada – e Steve encaravam os dois com uma interrogação nos olhos. Os lábios inchados de ambos entregavam o que eles pretendiam continuar ali fora. Um sorriso cínico surgiu no rosto do gringo, enquanto a diabinha balançava a cabeça em negação para o irmão.
– E então, o que vocês estão fazendo aqui fora?! – Gabi perguntou, cruzando os braços.
– Estávamos conversando – Diego deu de ombros.
– Tão perto assim?! – arqueou uma sobrancelha e sorriu.
– Mas e você, Gabi? O que você e o Steve estão fazendo aqui fora? – Duda questionou.
– Ah, sabe... Lá dentro tá tão calor...
– Você é um diabo, não deveria se incomodar com o calor...
– É que o Steve me chamou pra conversar – sorriu.
– E o Samuel não viu você conversar com ele?! – Diego riu.
– Não – deu de ombros – Da mesma forma que a Nicole também não viu você conversar com a Duda... – abriu um sorriso debochado.
– Gabi, nós não fizemos nada – Duda interveio – Só conversamos, sem nenhum duplo sentido igual vocês dois – apontou com a cabeça para Steve.
– Guys, eu agradeceria se pudéssemos conversar algo que eu entenda.
Steve pediu e os três concordaram. No fim das contas, ele só queria tirar o foco de Gabriela dos dois. Mesmo não entendendo o que eles falaram antes, os nomes citados e a voz debochada dela o fez perceber que Duda tinha razão, Gabi era muito mais esperta do que parecia.
Logo Diego e Duda decidiram voltar para dentro do bar, mas Steve afirmou que queria conversar um pouco mais com Gabriela. Assim que chegaram ao karaokê, viram que ninguém mais cantava. Jonathan e Daniela estavam cochilando no sofá junto com Samuel – que estava até de boca aberta – enquanto Nicole e Thiago permaneciam conversando animadamente, sem nem ao menos perceber que os dois voltaram – ao menos era o que os dois achavam.
Quando decidiram ir embora, Diego se apressou em ir até o lado de fora para avisar sua irmã e o gringo que já estavam de saída e logo menos Samuel questionaria onde ela esteve todo esse tempo. Gabi deu um último beijo em Steve e saiu apressada, dando risada enquanto ajeitava o vestido e o cabelo. Assim que foi questionada pelo rapaz, disse que estava no banheiro todo esse tempo. "Dor de barriga", o respondeu com um sorrisinho descarado enquanto abraçava sua cintura.
Mônica havia sugerido de Arthur dormir com ela para não tirar o menino de casa no frio da madrugada, então Duda aceitou e seguiu com Steve, Jonathan e Daniela para a casa deles. Já Gabriela pegou carona com Samuel até sua casa, mas subiu sozinha. Thiago e Nicole se despediram com um beijo no rosto e ele seguiu para um lado com sua moto enquanto ela entrou no carro com Diego.
Duda e Steve se ajeitavam nas duas camas de solteiro no quarto de visitas de Jonathan. Quando ele e Daniela compraram a casa, fizeram questão de mobiliar um segundo quarto para possíveis hóspedes. Ambos adoravam receber visitas, mas como todos seus amigos eram daquele lugar a chance de usá-lo era mínima, principalmente depois que Duda disse que voltaria para Boston, então o deixaram apenas ali, aguardando por alguém. A espera não foi tão longa, pois os dois hóspedes mais esperados já estavam ali. Um deles, inclusive, falava o tempo todo sobre os benefícios de se dormir numa cama e não num sofá.
– Sério, você já sentiu a maciez desse colchão?! – Steve abraçava as laterais da cama, tomando todo o espaço
– Você tem uma cama lá em casa!
– Mas não com essa maciez – afundou o rosto no travesseiro.
– Só não é mais macio que os lábios da Gabi, não é? – Duda riu.
– Ela realmente é o diabo em forma de mulher – se jogou de costas na cama e colocou os braços sob a cabeça.
– Esse elogio é um tanto quanto... exótico.
– Estou falando sério. Ela estava com aquele outro rapaz, mas toda hora mandando mensagem no meu celular pedindo para eu ir ao banheiro. Assim que eu fui, ela praticamente me atacou!
– Coitado de você, Steve. Aposto que você nem gostou – atirou seu travesseiro nele.
– Foi da hora, como vocês dizem. A adrenalina, o medo de ser flagrado por ele... Você me entende, não é? – sorriu e atirou o travesseiro de volta.
– Eu? Por que entenderia? – sorriu.
– Você e o Diego lá fora, huh? Eu te conheço, Duda. Você estava doida para beijar ele.
– Claro que não! – tentou conter o sorriso, mas não conseguiu – Você está doido.
– Sua falsa! Você se esqueceu que eu já beijei você, morei com você, apresentei amigos meus pra você?! Eu sei quando você está interessada em alguém, my honey!
– Você está errado – sorriu.
– Realmente, eu estou errado. Você não está interessada por ele. Você é interessada por ele desde o dia em que eu te conheci – sorriu – Mas vamos lá, me conte tudo, desde o "oi"!
Duda suspirou e começou a contar. Não adiantava, ela nunca conseguia esconder nada de Steve, ele a conhecia tão bem quanto Jonathan. A diferença é que seu irmão não sabia de um ou outro segredo seu, mas que ela precisou esconder por necessidade.
Já a alguns bairros de distância, Nicole terminava de tirar sua maquiagem enquanto Diego saía do banho e se aprontava para dormir. No caminho até em casa trocaram poucas palavras, já que precisaram parar nos pais dela para buscar Pedro e desde o dia da discussão, evitavam tocar no assunto. Assim que ela voltou para o quarto, ele já estava deitado com o celular em mãos.
– E aí, o que achou da festa? – Nicole perguntou ao deitar ao seu lado.
– Foi maravilhosa e todo mundo parece ter adorado.
– Só foi meio cansativo trabalhar, passar com bandeja sem derrubar nada em ninguém é um equilíbrio que eu não tenho.
– Ah, é algo que com o tempo a gente pega prática. Difícil era competir com os drinks do Jonathan.
– Verdade, isso não dá pra competir – sorriu – Mas a parte mais legal foi depois que o pessoal foi embora e ficou só a gente.
– Realmente foi – Diego murmurou, lembrando do quase-beijo com Duda – Você até dançou.
– Sim, ao menos eu tive uma companhia pra isso hoje.
– Você e o garçom pareceram se dar bem – ele falou sem desviar os olhos da tela.
– O nome dele é Thiago e ele é bem legal, foi uma ótima companhia pra mim.
– Que bom. Ele poderia te ensinar a carregar a bandeja sem derrubar nada.
– Você tá com ciúmes dele?
– Claro que não – respondeu com sinceridade – Eu só estou com uma dúvida mesmo.
– E qual é a sua super dúvida? – perguntou com rispidez.
– Você ficou com ele? – bloqueou a tela e a encarou.
– O quê?! – sorriu – Você não pode estar falando sério... – revirou os olhos – Você está com ciúmes?! – aumentou o tom.
– Não, eu só te fiz uma pergunta – manteve a voz baixa.
– Não, Diego, eu não te traí. Já você eu não sei se posso dizer o mesmo...
– Como assim?! – franziu o cenho.
– Você sabe o que eu quis dizer. Mas voltando a responder sua pergunta, eu tive vontade de ficar com ele, sim. Muita vontade, inclusive. Não é todo dia que eu tenho uma companhia agradável que demonstra estar interessado em mim. É bom se sentir desejada às vezes, sabia? Mas eu não te traí. Você e eu sabemos muito bem que já tem gente demais na nossa cama, não caberia mais um.
Diego continuou encarando Nicole sem saber o que responder, já que sua intenção não foi confrontá-la e sim sentir-se menos culpado por quase beijar Duda. Ela afirmou com tanta facilidade que sentiu vontade de traí-lo que o pegou de surpresa, por mais que ele já tivesse certeza disso. E também, o que ela quis dizer com "gente demais"?
– Eu fui sincera com você, então espero que você seja comigo também. Você me traiu?
– Não.
– Diego, por favor, me fala a verdade.
– Eu não te traí, por que você tá desconfiada disso?!
– Eu achei engraçado você e a Duda sumirem e reaparecerem ao mesmo tempo. Eu estou errada em desconfiar?
– Está – engoliu seco – Nós estávamos juntos, mas só conversamos.
– Eu até acreditaria em você, se a forma que vocês se olharam a noite toda não entregasse a verdade.
– Eu não te traí, cacete! – se irritou.
– Mas sentiu vontade. Estamos quites.
Nicole encerrou a discussão apagando a luz e virando de costas para o marido. Já Diego viu o amanhecer pelas frestas da janela enquanto ainda pensava em tudo o que aconteceu na festa – desde a chegada de Duda até o quase-beijo – e na discussão com a esposa. No fim das contas, ela não estava errada; ele sentiu vontade e por mais que doesse afirmar, se não fosse a interrupção de Gabriela e Steve, ele teria a traído.
***
Diego mal dormiu e já acordou com seu celular tocando. Era sua mãe, desesperada porque seu avô a ligou dizendo que sua avó havia levado um tombo. Na mesma hora parecia que todo o sono que sentia sumiu, ele apenas acordou Nicole e informou que estava indo para o sítio. Ela preferiu ficar em casa com Pedro, estava com uma leve ressaca da noite anterior e naquele momento preferia não encarar o marido. Ele não questionou, até preferiu assim. Só vestiu uma roupa e saiu.
Assim que chegou no sítio, encontrou sua mãe, seu avô e Jonathan ajeitando a avó no sofá enquanto Daniela e Duda terminavam de preparar o café da manhã que a senhora havia começado. Já Gabriela dormia debruçada na mesa enquanto Steve dava um pedaço de pão para Arthur.
– Bença vô – deu um beijo na careca do idoso – Bença vó – deu um beijo na mão da senhora.
– Deus abençoe, meu filho. Ocê viu essa sua vó?! Acha que é mocinha ainda, tá toda nervosa porque eu liguei pra sua mãe – o senhor riu.
– Eita, vó, como foi que você caiu?!
– Foi só um tombinho besta, meu filho. Esse véio aí que é desesperado. Não tinha que ligar pra ninguém não, tirou ocês tudo de dentro de casa pra vir me acudir. Eu ainda tenho que fazer café pros seus tios irem trabalhar...
Todos desfizeram o sorriso que mantinham ao ouvir toda a reclamação da senhora. Não havia nenhum tio ali. Há pelo menos vinte anos já não havia ninguém morando ali a não ser o casal de idosos. Mas mais uma vez, Maria se confundiu.
– Fica tranquila, mãe. A Daniela e a Maria Eduarda estão fazendo o café – Mônica falou ao afofar o travesseiro nas costas da mãe.
– Quem é Daniela?
– Minha esposa, tia – Jonathan respondeu e apontou para a cozinha – Aquela mulher maravilhosa ali.
– Olha que menino de sorte! Ela é linda! – sorriu – E sua mãe, tá bem? Ela não veio com vocês?
Mais uma vez foi preciso lembrá-la que Laura havia partido há cinco meses. Diego não aguentava ver sua avó assim, ela sempre foi tão astuta, era estranho vê-la se esquecendo de tudo aos poucos. Deu um beijo nos cabelos grisalhos da senhora e foi para a cozinha. Se sentou ao lado da irmã e deu um tapa na mesa, fazendo com que ela acordasse assustada e todos rissem.
– Idiota – deu um tapa na cabeça do irmão e voltou a deitar sobre os braços.
– Não dormiu? – perguntou ao fazer cafuné em sua cabeça.
– Não – tirou a mão dele de sua cabeça e levantou o rosto – E pela sua cara podre, você também não.
– Dormi exatamente duas horas e meia. Insônia.
Diego desviou o olhar para Duda, mas ela estava distraída conversando com Daniela e não percebeu. Gabriela reparou e chamou a atenção do irmão para si. Olhou ao redor e viu que ninguém estava prestando atenção nos dois e por mais perto que Steve estivesse, ele não entendia o idioma.
– O que você fez ontem foi errado – sussurrou.
– O que eu fiz?
– Beijou a Duda! – ergueu as sobrancelhas.
– Eu não beijei! – sussurrou um pouco mais alto e Gabi fez sinal para ele se calar.
– E eu não beijei o Steve – revirou os olhos – Assim que eu saí eu vi vocês!
– Foi quase. Graças a Deus você apareceu.
– Enfim, quase ou não, isso é errado com a Nicole.
– Eu sei, mas eu não traí...
– Diego! – beliscou o braço do irmão – Você trai a Nicole há muito tempo! Pode não trair fisicamente, mas emocionalmente, sim!
– Você fala como se entendesse algo...
– Sai da defensiva um pouco! Eu posso não entender muito de relacionamento sério, mas eu entendo de traição – deu de ombros – E na boa, de um jeito ou de outro você tá traindo. Se não gosta da Nicole, por que continua com ela?!
– Porque a gente tem o Pedro e eu não quero ser...
– Você não quer ser igual ao pai, tá, isso eu já entendi, você repete isso desde antes de casar – o interrompeu – Mas você percebeu que disse que continua com ela por causa do Pedro, mas não porque gosta dela?! Porra, isso é tão injusto com vocês dois!
– Tem também o pai dela...
– Quem liga pro pai dela?! – o interrompeu novamente – Só você.
– Você é minha madrinha de casamento, deveria me incentivar a fazer dar certo, não? – sorriu.
– Antes de ser sua madrinha, eu sou sua irmã. Tô nem aí pro seu casamento, só quero te ver feliz.
Diego passou o braço pelo ombro da irmã e a abraçou. "E ver a Nicole feliz também", ela concluiu, se soltando do abraço do irmão. Os dois continuaram cochichando, dessa vez, sobre Steve. "Quem cochicha, o rabo espicha", Mônica apareceu na cozinha chamando a atenção dos dois, que logo pararam de sussurrar e incluíram todos na conversa – mas com outro assunto, é claro.
Algumas horas se passaram e todos continuavam ali. Tia Maria estava melhor e o tombo foi apenas um susto, mas eles preferiram ficar por mais algum tempo. Do jeito que a senhora era teimosa, nada a impedia de tentar fazer o almoço e se machucar mais uma vez. Gabi assistia televisão e fazia companhia para a avó na sala quando Arthur entrou no cômodo e começou a mexer nos quadros da estante.
– Diego! – Maria chamava o menino com a mão – Diego, para de mexer aí! Vem aqui com a vó! – se sentou no sofá – Diego, eu tô falando com você, menino!
– Vó, a senhora quer que chame o Diego?
– Menina, manda o Diego parar de mexer na estante que ele vai se machucar!
Gabriela observou a cena um tanto quanto confusa. "A senhora me chamou, vó?", Diego apareceu na sala com um pano de prato na mão. Gabi olhou para o irmão e em seguida voltou o olhar para a criança que logo se esqueceu dos quadros e começou a brincar com o puxador da gaveta. Só aí percebeu com quem o menino se parecia. Mas não podia ser, seu irmão nem saiu do Estado nos últimos anos, imagine então ir até Boston. Sequer fazia sentido, ela estava apenas entrando na confusão de sua avó. Mas teve aquela noite com Steve... Ela estava um pouco bêbada, mas se lembrava bem do que ele disse e, ao juntar as peças, isso não sairia de sua cabeça tão cedo.
***
A tarde chegava e antes de irem embora, Daniela e Duda estavam brincando com Arthur no monte de areia do quintal. Gabriela se sentou na rede e ficou observando de longe a diversão do menino, toda hora tentando assimilar ainda mais a aparência dele com a do irmão. "Isso não faz sentido nenhum", ela dizia a si mesma.
"Preciso ir ao banheiro", Duda se levantou batendo as mãos na roupa para tirar o excesso de areia. O menino fez cara de choro, mas logo Daniela o distraiu e ele voltou a brincar de fazer castelos. Essa era a chance de Gabriela. Não poderia perguntar para Jonathan, Diego ou Steve, então sua chance era Dani, a única que ela acreditava não saber de nada. Se levantou e foi até ela com um sorriso no rosto. Se sentou no tronco de árvore improvisado como banco e começou a sua "investigação".
– Ai, esse menino da Duda é tão lindo, né?! – disse, fazendo carinho nos cabelos cheios de areia da criança.
– Muito! E ele é um amorzinho, super bonzinho – Dani sorriu.
– Eu não sei, eu olho pra ele e ele me lembra alguém, você não acha?!
Apesar do sorriso em seu rosto, Gabriela estava com o coração acelerado, estava ansiosa para saber se era apenas algo de sua cabeça. Tinha quase certeza que sim, mas quanto mais olhava o menino, mais o achava parecido com Diego.
– Não sei, com a Duda, talvez?
– Não, esse menino não tem nada da Duda. Eu não sei, eu tenho a impressão que ele me lembra alguém...
– Alguém tipo quem?
– Não sei, o rosto dele... a cor dos olhos...
Daniela percebeu onde Gabriela queria chegar, mas será que ela também sabia? Duda não parecia do tipo que contaria um segredo desses para Gabi, que adorava uma fofoca. Bom, mas se ela descobriu sozinha, como saber se a loira também não havia descoberto?
– Me dê nomes, Gabriela – sorriu.
– Ah, não sei – enrolou uma mecha de seu cabelo no dedo – Você não acha que ele se parece um pouco com o Diego?
Pronto. Foi dito. Agora as duas estavam mais ansiosas do que nunca. Gabriela queria ter certeza que não estava ficando paranoica, Daniela queria poder finalmente falar sobre isso com alguém. Seus olhos se arregalaram e um sorriso sutil apareceu em seu rosto.
– Então você também sabe! – Dani concluiu.
• • • • • • • • • • • • • • • • • • •
Eu só vou dizer... EITA MEU DEUS!
E agora?!
Será que ainda tem jeito de esconder isso da Gabriela? Ou será que Daniela vai confirmar tudo?!
Deixem a estrelinha e muitos comentários, porque terça-feira eu volto com o próximo capítulo.
Beijinhos ♥
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top