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O cheiro de sangue invadia o olfato lupino a cada fluxo de ar, que cada vez mais se impossibilitava de ficar dentro daquela cabana improvisada. Os lumes claros e tristonhos encaravam o corpo delicado de Jeongin, passeava a sua destra cuidadosamente pelos fios loiros, deixando o seu lado paternal, juntamente ao seu lobo, aproveitar a presença inconsciente e o cheiro característico de baunilha que tanto almejava voltar a sentir.
Variados anos foram retirados de si. Yang Sohui espoliou anos da infância e adolescência do seu pequeno ómega lúpus, do seu filhote. Retirou e cortou os laços paternos que o alfa desenvolveu ao longo do tempo com o seu filhote, algo que poderia ser considerado repudiante na sociedade atual.
E, ao ter o conhecimento das façanhas e planos que a mulher detalhou e descreveu, Duri fruiu ainda mais de furiosidade pela ex-esposa que algum dia a considerou a sua amada. Tudo aquilo em troca de poder? Todas as lágrimas, alegrias, momentos melancólicos... A ómega trocou as boas lembranças e um futuro digno pelo poder que almejava obter.
Trocou a sua família por um desejo que almejava, riqueza, poder, e o reconhecimento. Porém, não era tal coisa que mais chocava yang Duri, e sim a venda do seu pequeno filhote ao leilão por dinheiro. Sentiu-se desesperado e culpado por não ter, sendo um alfa lúpus, protegido o seu pequeno, sequer esforçou-se para isso. Durante todos aqueles anos o seu lobo culpou-o, abandonando-o e submetendo Duri ao completo silêncio. Fora tão ignorante ao ponto de beber aquele "chá" que a sua ex-esposa naquela época lhe oferecera, cogitou a ideia de que ela melhorava e a ação poderia ser considerado um belo pedido de desculpas. Estava completamente errado.
Ao escutar atentamente as palavras e planos de Hwang Hyunjin, o homem sentiu o seu interior ainda mais quente, agora, numa tristeza mais célebre e profunda.
— Por isso, ainda não temos a total certeza de como, ou até o porquê, de Sohui ter dominado as memórias do Jeongin, mas temo que não foi somente ela, e sim todos ao seu redor durante estes anos. — explicou Hyunjin observando os lumes claros do alfa, também, lúpus reluzirem em agonia. Agora, sabendo que o próprio filho o odiou por tantos anos, Yang Duri ouviu o seu lobo uivar e choramingar. Ambos estavam desolados pela notícia. — Os pesadelos eram em torno de si, como uma figura robusta e maldosa, o meu ómega estava sempre propenso ao perigo nas torturas do sono. Chegava a ocorrer vezes, pelo que me foi relatado, em que o Jeongin sequer dormia, tudo para escapar às artimanhas da sua mente. Temo que ocorra uma demasiada pressão no cérebro e que se ele o vir frente a frente, possa desmaiar pelo baque de memórias. Então, por favor, peço que vá com calma, eu não gostaria de interferir...
— Entendo a agonia que ele deve ter sentido estes anos todos. — sorriu amargurado. — Obrigado por cuidares do meu filhote, mesmo que tenha sido por pouco tempo. Se ele confiou em ti, acredito que eu também possa!
— Com todo o respeito, senhor yang, eu realmente espero que ela tenha falecido de vez. — mudou de assunto exalando mais dos seus feromônios para o pequeno lúpus acordar.
— Seria mentira se eu não concordasse. É nestes momentos que penso que foi o melhor nunca a ter marcado. Porém, ela precisa de arcar com as sequências das suas ações, e não pagar com uma simples morte. Fiquei angustiado ao ver o meu filho com uma arma em mãos e pronto para atirar... E ele receber o tiro de volta foi ainda mais inesperado. — concluiu. Não estava incluído no plano Jeongin atirar na mulher, foi uma ação totalmente inesperada e, agora, incorrigível. Por sorte, o pequeno lúpus resguardou a sua vida e a do filhote ao vestir um colete há prova de balas. A bala ficou presa no colete, localizada perto do peito, deixando Hyunjin remoer-se em pensamentos. Se Jeongin sequer tivesse pensado no possível contra-ataque, ou na sua segurança e na do futuro filhote, provavelmente Hyunjin estaria com o corpo do seu ómega nos braços totalmente sem vida.
Não querendo pensar nas possibilidades infinitas, Hwang grunhiu virando a cabeça com destreza.
— Que porra, Jisung, que brutidão é essa?! — resmungou colocando a mão no ferimento, porém logo sentiu a bofetada que Han lhe deu no braço, impedindo mais a sua exploração pelo pequeno machucado. Sorriu pequeno ao ver os dedos manchados pelo líquido ferroso, e lançou os seus lumes irritados para Jisung, que teve a certeza em colocar uma força desnecessária ao limpar a ferida. Clicou uma vez no auricular, indicando que a ligação estava aberta para todos os capangas. — Como estão por aí?
— Cerco feito! Tenho todos os pontos da área coberta por aqui! — afirmou Minho atando os fios de cabelo, recém-pintados de preto, para trás. — Equipa alfa a postos!
— Equipa beta confirma posição!
— Todas as equipas prontas? — indagou Bang Chan, olhando os arredores da floresta. Logo subiu há árvore ouvindo as confirmações das equipas. Subiu o mais alto que conseguiu da grossa copa, achando por fim um tronco forte o suficiente para aguentar o peso do seu corpo. Recarregou a arma, uma M4 Ronin Saigo defense, uma das suas favoritas, conhecida pelo estrago que fazia. Chegando a pesar duas mil gramas, a airsoft com um carregador de cento e trinta rds, tinha uma velocidade incrível, chegava a ser o paraíso nas mãos de Christopher.
— Equipa lúpus.... Inativa. Ainda não estamos prontos. Felix? — respondeu Hyunjin, olhando de breve para o corpo do seu ómega e seguidamente o olhar melancólico do respetivo progenitor.
— Sim?
— Preciso de reforços aqui, quero a tua equipa aqui!
— Certo!
A ordem fez com que a equipa de Lee, a postos, se dirigir-se para a localização definida por Hwang, ao entrarem na cabana, tiveram a visão de Hyunjn a colocar o colete há prova de balas após recarregar a metralhadora, G5K MP5 Galaxy. Uma arma totalmente automática, o sistema de disparo é retardado por roletes e possui diferentes modos de disparo, como tiro único, automático, duas rajadas e três rajadas. Porém, não era isso o que mais importava e deslumbrava os mirantes negros, e sim a cadência de oitocentos tiros.
Hyunjin chegou perto do corpo ainda inconsciente e colocou uma das suas mãos disponíveis nas bochechas rechonchudas e pouco avermelhadas. Suspirou e beijou o nariz do ómega, sorrindo brilhante ao que o ómega lúpus, mesmo sem consciência, cheirasse o ar provando mais do aroma característico do seu alfa.
Decidido, Hwang marcou o pequeno ómega com o seu cheiro, querendo dispor de um conforto maior. Desceu a destra e acariciou a barriga ainda lisa.
— Eu amo-vos, hm? — sussurrou. Levantou o corpo e a sua expressão, antes serena e amorosa, mudou completamente. A face séria e fria do Hwang fez os corpos dos capangas tremerem repentinamente e colocarem-se nos seus devidos postos. — Vou deixar o meu ómega e o seu progenitor ao vosso cuidado! Jisung, vamos!
E assim, decidido, sério e confiante, Hyunjin prometeu a si mesmo que buscaria a tão desesperada vingança. Efetuaria um massacre e acabaria com aquela farsa de uma vez. Queria viver em segurança, sem medos, sem um inimigo bem do seu lado, e apagar os fantasmas que perseguiam o seu ómega para onde quer que fosse.
Hyunjin traria sangue.
Sangue de todos os que o importunaram e fizeram da sua vida um pesadelo, e descobriria quem realmente retirou a vida da sua progenitora. Descobriria quem matou Hwang Heejin.
✦
✦ 6 anos atrás...
O pequeno lúpus com quatorze anos rondava o progenitor engraçadamente. Ria de todas as facetas brincalhonas que o alfa reproduzia tentando tranquilizar o ómega da presença da sua progenitora em casa.
Com o seu peluche fofinho em mãos, Jeongin tomou a bacia do pai apertando-o alegremente, gargalhou alto ao que o homem se aprontou em distribuir algumas cócegas na barriga do menor.
— A-appa! Para, para isso f-faz cócegas!! E-eu vou fazer x-xixi!! — gargalhou gaguejando ao que o alfa ria das expressões e fala do ómega.
— Vais nada! — riu, parando repentinamente a brincadeira ao colocar os seus olhos na figura esbelta da sua ómega. O vestido preto decotado no seu peito, atribuía um aspeto deslumbrante há mulher, o cheiro de lavanda em pouca abundância e a leve maquilhagem que cobria as suas olheiras e breves ferimentos. Ambas as mãos tinham ligaduras, indicando que ou a mulher socou alguém, ou a mesma ficou furiosa e recorreu há violência. Muitos motivos para os hematomas e feridas que confiantemente Yang Sohui escondia.
A mulher desceu a escadaria com os saltos altos também pretos, fazendo inquietantes e terríveis sons com o calçado a bater contra o chão de madeira polida. Duri deu de ombros voltando a sua atenção para o próprio filho, este que agora esbugalhava os olhos e denunciava o seu medo através do cheiro de baunilha.
— Ei, filhote, está tudo bem. — acariciou os cabelos loiros com calma e amor. Abaixou o corpo e permaneceu de joelhos, encarando os lumes castanhos do ómega lúpus. Ele tinha variadas parecenças consigo, mais do que a própria esposa. — Acalma-te, não queres ver o appa dormir, pois não?
— N-não... — sussurrou fechando os olhinhos de forma adorável. Inspirou e expirou seguindo os comandos do progenitor. — Estou melhor.
— Ainda bem. Vou preparar o jantar, tudo bem? Vai para o quarto e termina o livro, a leitura e os exercícios do livro didático, por favor. — proferiu com calmaria observando o sorriso miúdo do pequeno filhote que assentiu alegre. Devido há idade, quatorze anos, Yang ainda não obteve um contacto direto com o seu lobo interior, todavia os feromônios abundantes num momento de risco deixando os indivíduos ao seu redor totalmente sem consciência, significava que o lobo estava presente e cuidava do pequeno. Era tudo conforme os sentimentos ou situações.
— Yang? — a voz grave e antes fofa ecoou pela cozinha, levando a que o alfa lúpus caminhasse até ao cómodo com um semblante sério.
— O que foi? — seco e direto.
— Preparei um chá de limão, o teu preferido. — ofereceu com um sorriso meigo, porventura, o alfa lúpus cerrou os olhos, desconfiado pelas ações da mulher.
— O que queres tão repentinamente? — questionou debruçando-se sobre a ilha localizada na cozinha. — Hm?!
— Não posso nem perpetrar nada que gostes? Quando não faço nada é porque não faço, e quando realizo algo do vosso interesse, vens argumentar que tenho motivos fúteis por detrás das minhas ações! Merda, Yang, estou apenas a ser simpática!! — rosnou, deixando o marido em alerta. As íris tornaram-se azuis cintilantes e logo a mulher ressoou em instinto. Por mais que tentasse ser autoritária, existia uma hierarquia, onde os lúpus estavam no topo. Assim, não importava se fossem ómegas, alfas ou betas autoritários e com atitude, enquanto existentes, os lúpus comandavam toda a humanidade.
— Espero que não haja segundas intenções, ómega! — a voz lupina sussurrou em frente há mulher que tremelicou negando. Sohui tentou alegar algo, todavia os lábios moviam-se e nenhum som era emitido. — Acho bom mesmo!
Pegando a caneca, o lúpus estava demasiado atento há mulher que sequer notou que o chá tinha uma substância a mais dentro.
Tranquilizantes.
Após beber todo o conteúdo, Yang Duri sentiu-se mais relaxado e agradeceu de maneira rápida há mulher, deixando que o seu corpo involuntariamente caísse sobre o chão de madeira. Os olhos levemente cerrados tentavam se manter abertos e atentos o tempo todo. O lobo uivou em raiva, furiosidade era mantida no seu timbre, e mais que tentasse não conseguiu dar o controle ao seu lobo, Yang apagou após sussurrar um pedido de desculpas ao seu pequeno filhote.
Foi por sua culpa que Yang Jeongin sofrera tanto naquela vida.
Foi inteiramente a sua culpa...
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