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Jeongin estava estranho. A manhã inteira o menor evitava o lúpus, e todos perceberam isso. Até mesmo Hwang Changmin que suspeitava que o menor estava nublado pelos pensamentos. Seungmin já recuperava, devido há marca, Bang conseguiu ajudar o ómega a recobrar dos seus ferimentos mais rápido. O Lee, agora, estava sentado olhando o pequeno ómega lúpus olhando pela janela da sala totalmente inerte ao que acontecia ao seu redor.

— Jeongin...

— ...

— O que aconteceu, hm? O Hyunjin deixou-te assim? Ele fez algo? — indagou vendo o lúpus negar levemente assim que tocou o seu braço. — Então, por que estás assim? Foi pelo beijo?

— E se eu não tiver nada a lhe dar em troca? — sussurrou sentindo os seus olhos arderem por aguentar todas aquelas lágrimas desde manhã. — E se eu não for o suficiente para ele?

— Como assim, Innie? O que queres dizer com isso!? Ya!

Hyunjin, que passava por ali, percebeu a tensão que começava a crescer dentro daquela sala, e por ouvir as últimas palavras de Jeongin, colocou-se atrás da porta olhando discretamente as expressões do ómega lúpus. Ele estava triste, parecia sofrer em silêncio desde que teve aquele sonho do dia anterior, e aquilo incomodava o alfa.

— Eu não sou bom para ele, Lixie... Por mais que eu sinta estes sentimentos, que eu queira ficar perto dele o dia inteiro, por mais que eu sinta isto por ele, não sei... Tenho traumas, sou inútil, há gente atrás de mim, e ainda tenho um passado... sombrio... Tudo irá vir, junto a problemas, já te coloquei em risco, e sofreste as consequências... Não quero colocar mais ninguém em risco... — bradou suspirando. O lúpus, que ainda ouvia tudo, sentiu o seu coração apertar, iria entrar na sala, porém Felix foi mais rápido em se aproximar do seu ómega.

— Eu coloquei-me em risco, porque não queria ver-te magoado! Porque queria acabar com isto tudo, não gosto de ver-te triste, Innie! Todos eventualmente têm um passado, por mais triste ou sombrio que seja, merecem viver uma vida feliz, junto a quem amam! — sorriu confortante, abraçando desajeitadamente o ómega e acariciando os seus fios loiros. — Se gostas dele, ou começas a perceber esse sentimento, permite-te gostar dele, permite o teu ser amar! E, aliás, o idiota não gostaria de saber dessa tua insegurança! Na verdade, é tarde demais... Hyunjin, seu idiota! Estás aí e nem para o acalmares vens!

Era óbvio que Felix sentiria a presença do alfa lúpus atrás da porta, não apenas pelo seu cheiro, mas também sabia que o lúpus conseguiria ouvir de qualquer parte da mansão. Hyunjin, assim, suspirou e saiu do seu 'esconderijo' batendo o seu olhar ao do ómega lúpus.

— Vou deixar-vos a sós! — levantou-se acariciando por uma última vez o ómega. — Não te esqueças do que eu disse! E cuida dele, Hyunjin! — bateu nas costas do lúpus assim que passou por ele, ganhando um olhar sério, mas pouco se importou, deixando os dois sozinhos no cómodo.

Jeongin espremeu os lábios, observando Hwang caminhar até ao sofá e se sentar perto de si. Não havia como fugir, não agora...

Felix de silêncio tornaram-se minutos. Nenhum dos dois sabia como começar uma conversa, Hyunjin queria falar tanto do beijo que havia dado naquela madrugada, falar o quanto amava o ómega, porém não estaria a ir demasiado rápido? A avançar sabendo agora as inseguranças do ómega.

Já Jeongin, o ómega sentia-se confuso, gostou do beijo, as palavras finais do alfa fizeram o seu interior se aquecer, queria ter dito o mesmo, porém estava demasiado confuso, sobre os seus sentimentos, sobre as suas memórias, sobre os seus pensamentos... Jeongin sentia o seu interior se revirar novamente, aquele sentimento de insegurança parecia segui-lo para todo o lado.

— Anjo.

— Não é que eu duvide de ti, Hyun. — desviou o seu olhar do lúpus, sentindo-se intimidado pelo olhar felino. — Nunca duvidei. Mas espero que entendas o meu lado...

— As tuas inseguranças. Eu entendo. Só não percebo o que disseste ao Felix! Como não serias suficiente para mim? — indagou pegando na mão pequena do ómega. — Os teus traumas não escondem quem tu és verdadeiramente, a pessoa fofa que vi naquele leilão continua aqui. A pessoa com o coração quentinho, o ómega adorável que eu me apaixonei! Ele continua aqui! — apontou sentindo o seu coração acelerar ao dizer aquelas palavras novamente. Já estava habituado àquela reação do seu corpo a cada vez que dizia aquilo ao ómega, a cada vez que se declarava.

— Hyun...

— Os pesadelos, os traumas... Tudo isso faz parte de ti. E quando eu te aceitei, eu sabia disso, e mais uma vez repito, estou disposto a ajudar-te. Não quero que me afastes de qualquer maneira. Não quero perder-te de qualquer maneira, percebo que precises de espaço, de tempo. Recuperar tudo o que perdeste estes anos todos, retirar o peso que tens nos teus ombros, largar todo o passado de certa forma, e permitires-te viver tudo o que não pudeste! Esse, sim, será o teu passado e futuro!

— Eu tento, mas isto parece estar colado a mim. Não quer sair. Não é justo, hyung! Não é justo! — bradou desesperado colocando as mãos nos seus fios de cabelo, deixando por fim, novamente, as lágrimas caírem depressa. — Eu não entendo nada! Não percebo nada!!

— Eu sei, anjo! Eu sei. É difícil, eu entendo, eu entendo, meu amor! Olha para mim... — o loiro demorou para atender ao pedido do lúpus, porém assim que teve a mão do alfa na sua bochecha, olhou para o mesmo lentamente. — Vamos recuperar juntos. Com o tempo, deixar o passado no passado, focar no presente, e deixar que o futuro venha. Apenas juntos!

— Eu não tenho nada a oferecer em troca, Hyun... Nadinha... — sussurrou suspirando pesaroso. — Eu nem sei se deva continuar aqui, ao vosso lado... Estou a colocar todos em risco.

— Quanto ao risco... Eu estou disposto a ir em frente. A enfrentar todos os demônios que vierem, se tiveres ao meu lado, tudo estará bem! E em troca... — sorriu sentindo o seu coração palpitar mais uma vez, o do ómega também era possível de se ouvir, os batimentos cardíacos acelerados dos dois lúpus estavam em sintonia. — Eu apenas quero isto! — apontou para os dois. — Um relacionamento sem inseguranças, sem medo, e que me deixes levar-te a conhecer o que é o amor. De verdade!

— Apenas isso?

— Apenas isso.

— Pai? — indagou o lúpus confuso ao ver o velho sentado no sofá disposto no seu escritório. — Eu já disse, preciso de tempo!

— Eu percebi! — o velho suspirou levantando-se calmamente, esticou a mão ao lúpus entregando-lhe uma 'pen drive'. — A tua mãe quereria que eu te mostrasse isso quando tivesses a idade suficiente para perceberes. Acho que ultrapassei o tempo, para não te ver sofrer, mas é necessário. Ela queria que visses ela uma última vez...

— O-o quê? O que isso quer dizer?

— Nessa pendrive há um vídeo, uma despedida que a tua mãe fez antes de partir. Foi-me enviado quando ainda eras pequeno, uns meses após a morte dela. — respondeu. — Vamos ver isto!

Passando pelo ruivo, Changmin praguejou mentalmente, sentindo a raiva que o lúpus emanava. Não devia ter escondido o vídeo durante todos aqueles anos, afinal, Hyunjin também merecia se despedir da mãe adequadamente, sentir a paz e deixar a mulher ir junto, há tristeza guardada.

Os dois seguiram em direção há sala, onde Jeongin estava, assim que viu o pai de Hyunjin levantou-se nervoso. Nunca havia se apresentado diretamente ao mesmo, daí o nervosismo visível.

— H-hyung...

— Depois falamos, Jeongin. Por hora, vamos ver isto! — o semblante sério demonstrava a raiva do lúpus, assim como o nome que saiu da sua boca em vez do apelido. Preparava-se para sair, porém, sentiu o seu pulso ser agarrado. — Desculpa, anjo. Fica comigo, ok?

Changmin observava de longe, alegrando-se pelas ações do seu primogênito. Jeongin trouxe o melhor de Hyunjin novamente, teria que agradecer ao ômega por isso.

— Vídeo de Heejin. Para Hyunjin. — o mafioso leu a tela sentando-se junto a Jisung no tapete perto do sofá. — Vamos ver isto logo! — deu início ao vídeo.

"— Olá, meu amor. — a mulher sorriu em meio ao sangue. — Espero que esteja tudo bem, meu pequeno alfa! Se vês isto agora, é porque o teu pai, o meu alfa, permitiu-te isso. Então, por favor, não chores ao longo do vídeo. Sê forte. Agora sou apenas uma boa memória, não há o que chorar ou lamentar. Morri feliz ao saber que ficarão bem."

Naquele momento Hyunjin sentiu a imensa vontade de se permitir chorar ao observar a mulher que tanto amava. Heejin era uma pessoa bondosa demais, e por isso, deu a sua vida em troca de tudo há sua volta. Manteve Changmin e Hyunjin a salvo, deu tudo de si, até há sua última respiração para obter o que mais queria. A segurança dos dois, e o renascimento poderoso da máfia.

"— Meu amor, espero que agora estejas com a pessoa que realmente amas. Com alguém que faça o teu coração bater rápido, com alguém que te deixe sem fôlego, e o mais importante de tudo, com alguém que te ame de volta. Queria estar aí para ver esse momento, queria muito observar o meu pequeno alfa virar um adulto e finalmente se apaixonar. Porém, fui por um bem maior, deixei-vos em paz e em segurança."

— Eu também queria que estivesses aqui comigo... — sussurrou sentindo o olhar de Jeongin sobre si. — Muito...

"— E se algo deu errado, se algo não correu conforme o planeado, está tudo bem. Se algo te deixou enraivecido, aborrecido, ou num profundo mar de tristeza, está tudo bem cair por vezes. Ninguém é forte, todos têm os seus momentos de fraqueza, mas está tudo bem. Tudo ficará bem! Os dias são feitos de momentos de alegria, de tristeza, de dor... Todos os sentimentos veem, isso nós não podemos mentir, mas também não podemos ser fortes, guardar tudo para nós seria como ter uma faca espetada no coração e não ter ninguém para nos ajudar a sobreviver. A vida é assim, Hyunjin."

Hwang Changmin, que estava escorado na porta da sala, sentia o seu interior revirar, as saudades presentes, o amor que nunca largou ali presente. Nunca se esqueceria de Heejin, tanto que chegou a prometer que não se envolveria com ninguém por respeito há mulher. Era o mínimo que poderia fazer.

"— Permite-te amar, gostar de alguém. Julgo que sejas igual ao teu pai nesse quesito. Sempre teimoso! — a mulher riu levemente, abaixando a cabeça durante alguns segundos, logo a levantou com um sorriso triste no rosto. — A história que os pais dele uma vez chegaram a contar foi bastante engraçada. O meu alfa, o que me ama, o que é um doce para mim, que sempre está disposto a ajudar-me em qualquer coisa, era um alfa marrento. Não possuía a habilidade de amar, segundo ele!"

A mão de Jeongin subiu até à coxa de Hyunjin, onde a mão do lúpus estava repousada, esta tremia levemente. Então, o ómega, querendo repassar segurança e conforto, e percebendo a situação atual, juntou ambas as mãos, passando a fazer um carinho singelo.

Ele sentia-se obrigado a retribuir tudo o que Hyunjin fez durante aquelas semanas, durante aquele tempo em que os seus pesadelos atacaram e o ruivo o ajudava. Mesmo cansado dos seus dias de 'trabalho', o mafioso fazia de tudo para distrair o ómega dos pesadelos, e também os carinhos trocados eram uma forma de afeto que Hyunjin encontrou para distrair a sua mente também.

"— E por mais que eu não esteja mais aqui, espero que saibas que estarei sempre contigo. Para sempre. Eu não tenho mais nada a dizer, ainda és pequeno neste ano. Mas ficarei em paz se estiveres bem! Tu e o meu alfa. Obrigada, Hyun. E não te esqueças que te amo!"

A televisão ficou em tons pretos, sinalizando que o vídeo havia acabado, permitindo ao alfa desabar por fim. Pela primeira vez, conseguiu demonstrar o quão abalado estava pela morte da mulher, uma despedida enfim foi feita.

Todavia, os olhos de Hyunjin mudaram de cor, o vermelho intenso encarou o progenitor raivosamente. E, como esperado, avançou no alfa, segurou-o pela camisola e gritou raivoso na sua face.

— POR QUÊ?! ESCONDESTE-ME ISTO DURANTE ESTE TEMPO TODO! POR QUÊ?!! — a sua voz lupina acabou por assustar o ómega presente, este que deu uma lufada surpreso. Hyunjin parecia não se importar se o alfa que gritava era o seu pai, a pessoa que o sustentou durante anos, a raiva gritava dentro de si, esse sentimento dominava-o, e em breve, se não se acalmasse, o seu lobo era quem o dominaria.

— Desculpa.

— DESCULPAS NÃO RETIRAM O QUE FIZESTE! FIQUEI SEM PODER DESPEDIR-ME DELA! POR TUA CULPA!

— Hyunjin... — o ómega aproximou-se calmamente. — Acalma-te, por favor...

— Ouve o teu ómega! — exclamou Changmin, não sarcasticamente, porém, sim, com medo das futuras ações do lúpus. O peito subia e descia com rapidez, clamando ao seu lobo para o dominar. — HYUNJIN!

— Estou assustado, Hyun... Por favor...

Aquela fala, aquela voz, o ómega que o trazia calmaria. Hyunjin acabou por deixar as suas orbes caírem no corpo do loiro, a feição vermelha e assustada do ómega.

— Assustado? — o outro assentiu. — Desculpa... — largou o progenitor abraçando o ómega com força. — Desculpa...

— Vamos passar por isto juntos, não é? Foi o que disseste. Não deixes a raiva falar mais alto, acalma-te, Hyun. 

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