— Eles ainda estão no mesmo sítio? — indagou olhando seriamente para os capangas que cuidavam do porão, onde Minjun e Kwang estavam.

— Sim. E bastante silenciosos, o Jeong principalmente! — comentou.

— Normal. Quero todos na sala em cinco minutos! — avisou pelo aparelho no ouvido, mantendo a sua pose séria. Hyunjin, após as suas descobertas, organizou um grupo para cuidar de Jeongin, porém desistiu assim que se lembrou do que aconteceu a Felix. O alfa inimigo não havia dito nada, apenas uma mensagem medíocre de Iseul, antes de Hyunjin, na sua forma lupina, abocanhar o pescoço do alfa, dando um fim nele.

"— Chefe...

— O quê?! — bradou com a sua voz lupina, tentando ao máximo manter o controle sob as suas próprias ações. O beta engoliu em seco, assim que teve as orbes vermelhas de Hyunjin em si, o pobre rapaz recuou alguns passos.

— T-temos... u-um problema... — falou praguejando mentalmente por gaguejar. — O alfa recusa-se a falar de todo. Disse que o Iseul mandou um recado.... Mantenham-se longe e quero o ómega. Foi isso que ele disse.

Uma risada sarcástica saiu da garganta do lúpus após alguns minutos da fala do beta. O que não o assustou, porém, de certa forma, estava amedrontado pela pose séria e o que parecia ser o lobo do lúpus a dar sinal de vida mais uma vez.

— Mata-o! — ordenou olhando a situação na sala em que o alfa estava. Acorrentado, banhado no seu próprio sangue, com ferimentos grandes e profundos de cortes de alguns instrumentos usados e mal se podia sentir o cheiro do alfa no cómodo. O que acabou por fazer com que o cheiro do único lúpus, com uma presença, naquele momento, amedrontadora para qualquer um, se sobressaísse a todos os outros. — Parece que tenho de fazer o serviço, não?!

— C-chefe... — pronunciou-se com receio em deixar o lúpus passar por si, mas assim que teve os olhos do outro em si, afastou-se velozmente. Ninguém queria colocar-se em frente ao lúpus, mesmo que ponderassem avisá-lo de que ainda poderiam extrair informações do alfa, Hyunjin estava cego de raiva para entender qualquer tipo de palavras.

E o seu progenitor atrás de si, nada fazia. Olhava a situação ao seu redor atentamente, e mesmo vendo o filho virar um enorme lobo preto de olhos vermelhos, manteve-se encostado à batente da porta de aço. Hwang Changmin mantinha um semblante calmo, esperando pacientemente pelo que o lúpus iria fazer, ao contrário dos capangas de Hwang, estes tinham expressões de nojo nos rostos, por mais que convivessem com Hyunjin e já 'habituados' àquele tipo de situação, mesmo assim, era nojento de se ver.

O sangue que escorria do focinho do lobo, os seus olhos vermelhos enquanto ele abocanhava o resto do corpo e tentava o desfazer em pedaços, era realmente assustador de se observar.

— Chega, Hyunjin! Ele já está morto! — apontou, finalmente, o velho Hwang. Hyunjin olhou para o homem e rosnou alto, como se aquilo fosse uma negativa para o que o mais velho lhe disse. — Não rosnes para mim, seu cãozinho malcheiroso!!

Ninguém conseguiu evitar, naquele momento risadas foram ouvidas por todos. Tanto como os capangas como o velho Hwang riam da sua fala. E foi nesse momento, que os homens de Hyunjin pararam ao ouvirem um rosnado ainda mais feroz da parte do lúpus.

— Deixa de ser assim, seu resmungão! Por algum acaso eles são militares ou robôs para não poderem rir?! — resmungou o velho Hwang recebendo outro rosnado de Hyunjin. — Chega disto! Mataste o idiota e não conseguimos nenhuma informação, alguma ideia espertalhão?

Ainda irritado, Hyunjin, ainda na sua forma lupina, atravessou a porta sem se importar com os chamados atrás de si.

— Hyunjin! O Jeongin... vais assustá-lo! — gritou o velho Hwang, porém o lúpus pareceu não ouvir já que seguiu o seu caminho tranquilamente. As patas banhadas em sangue deixavam um pequeno rastro no chão, as escadas em que subiu já não estavam na sua cor normal e sim com pegas de lobo.

— Hyunjin?! — Minho atrás de si arregalou os olhos, colocando-se rapidamente em frente ao lobo preto ao perceber o rumo que ele tomava. — Acalma-te!! Coloca-te na tua forma humana! Pelo amor de Deus!!

— Saí da minha frente!!

— Se eu sair, irás arrepender-te! — respondeu com um olhar sério. — O Jeongin está na cozinha...

Sem dizer mais nada, Lee desviou-se, cruzando os braços e seguindo o lobo preto. Na sua mente, a burrice que o Hwang acabava de fazer iria dar muito errado, apenas não esperava que Yang recebesse o lobo, ainda com receio, porém com coragem e totalmente meigo e observador.

Ambos os alfas entraram no corredor da cozinha, o cheiro de Jeongin ali muito presente acabou por atrair ainda mais o lobo. As risadas do menor, junto às de Jisung, acabou por também alegrar, de certa forma, Hyunjin. Desde que havia chegado, Jeongin parecia conter-se na presença de qualquer um, com o tempo o loiro parecia habituar-se àquilo, tanto que agora ria na presença dos seus amigos e de si.

— Hyunjin...? — sussurrou Jisung arregalando os olhos, totalmente pasmo com o que via atrás de Jeongin.

— Hm? — ainda com o sorriso na face, Jeongin estranhou o cheiro amadeirado de Hyunjin envolto do seu próprio corpo e a cara séria e pasma que Jisung tinha no rosto enquanto olhava para trás de si. — Hannie? O que foi? Tem algum bichinho atrás de mim?

Não evitando, o ômega lúpus acabou por olhar para trás, assustando-se e andando alguns passos para trás ao ver o focinho do lobo tão perto de si, assim como as suas orbes vermelhas.

— Hyun?

— Anjo.

Não era Hyunjin ali, e sim o seu lobo.

— Wow... fofo... — foi tudo o que Jeongin disse antes de se agarrar ao pelo fofo do lobo preto com um pequeno sorriso."

— Tinha tudo para dar errado, sabias?! — afirmou o velho Hwang esbofeteando o primogênito, recebendo um resmungo em troca. — Assustar o menino daquele jeito! Sinceramente!

— Não o assustei! — comentou bufando. Era a milésima vez que o alfa dizia aquilo. Hyunjin realmente não foi com a intenção de assustar o ómega, e acabou por também não o fazer. — Agora, como vamos resolver a situação do Iseul?? Matei o idiota, que também não iria dizer nada. Mesmo que o fizéssemos sofrer, e torturá-lo, ele não diria nada.

— Separa o Kwang e o Minjun! Contaste-me que quando os interrogaste, o Kwang iria falar, certo? — o ruivo assentiu. — Então... Separa-os. E interroga o Kwang bem longe do Jeong! Acredito que mais cedo ou mais tarde ele abre a boca.

— Primeiro, juntemos algumas informações sobre ele. Podemos usar isso contra ele mesmo! Se ele tem filhos, ómega ou algum companheiro, ou companheira, como foi a sua infância, onde ele nasceu e como cresceu ao redor dos seus! Como ele entrou na máfia. Basicamente tudo e mais um pouco! — afirmou Hyunjin para o Chris, este que estava ao seu lado apenas ouvindo tudo e anotando o que o lúpus pedira. Seria fácil. Com a ajuda de Seungmin invadia os arquivos com a ficha do alfa, e analisariam tudo, entregando depois a Hyunjin as informações pedidas.

— Espera! Chan, faz tudo em silêncio. Tu e o Seungmin, vocês não dizem nada, nem mesmo uma palavra sobre o que fazem a ninguém! Nem mesmo a Minho! Ele pode abrir a boca sem nem mesmo perceber! — afirmou o velho Hwang, causando uma risada ao alfa.

— Tudo bem! Não sairá nada daqui!

Bang, eventualmente, acabou por sair, deixando Hyunjin junto ao velho Hwang sozinhos.

— Quando irás apresentar-me adequadamente ao teu ómega? — indagou com um semblante brincalhão no rosto. — Hyunjin?

— Ele ainda não é meu ómega... — sussurrou bufando.

— Ainda! — deu ênfase na palavra rindo. — Hyunjin, eu tinha menos alguns anos que tu quando conheci a tua mãe. Ela era uma ómega bastante carinhosa, protetora, um pouco ciumenta e além de tudo não via o mal ao redor do mundo. Ela era bem positiva, sabes? — o lúpus assentiu, sentando-se de frente ao progenitor realmente interessado no assunto. Eram poucas as vezes em que Hwang Changmin falava na sua esposa e mãe de Hyunjin, ainda doía tocar nesse assunto. A ferida, ainda aberta no seu coração, era dolorosa demais, e lembrar-se dos detalhes da ómega era doloroso.

— Igual o Jeongin? — o mais velho assentiu. — Lembro-me ainda do rosto dela. Espero não me esquecer...

— Mesmo que a esqueças mentalmente, ela sempre estará contigo. Onde quer que estejas, o que quer que faças, ela sempre estará lá Hyunjin. Ela prometeu estar! — afirmou suspirando. — Quando tive que me apresentar aos seus pais, de início eles ficaram inconformados por eu parecer ser 'mau', digamos assim, ela não sabia que eu quando fosse mais velho teria que liderar uma máfia.

— Acredito que se ela soubesse nessa altura, nem eu estaria aqui!

— Verdade. Ela nem aceitaria os meus pedidos para sair! — ambos riram.

Hwang Heejin era uma mulher de espírito vivo. Confiante, um pouco medrosa, bondosa, porém um pouco séria. Assim que soube estar grávida de Hyunjin, ela chorou, não de raiva ou tristeza, ela ficou alegre por finalmente carregar um filho do seu amado.

Tanto que quando contou, fez uma minifesta, alegando ao marido confuso que era aniversário de algum amigo seu. A mentira perdurou a festa inteira, até finalmente Heejin retirar uma pequena caixa com variadas cores do seu quarto.

A cara de Changmin ao abrir e ler a pequena carta foi impagável. O choque, a alegria, o misto de emoções, foi tudo junto.

"— EU VOU SER PAI!!"

O grito que deu fez com que todos ali ouvissem, e aquela festa de 'aniversário' virou uma comemoração para o futuro primogênito do Hwang e da sua esposa.

Entretanto ambos não imaginavam que anos mais tarde a vida despencaria e Hwang Heejin morreria aos olhos de Changmin.

— Como ela morreu? Não adianta esconder por mais tempo. Eu quero e exijo saber como a minha mãe morreu!! — finalmente Hyunjin conseguiu indagar mais uma vez. O velho Hwang, sabendo que não tinha escolha, e que provavelmente metade das informações da morte da sua esposa valeriam para aquela missão, olhou as orbes escuras do lúpus.

— Acho que chegou a hora de te contar tudo...