5


- O que caralhos aconteceu com você? - Janna perguntou alto, correndo pelas ruas escuras do submundo ao lado de Steve e Christoff para alcançar Derick assim que o viram.

- Nada. - o príncipe respondeu simplesmente, com um sorriso bobo.

- Nada? - Steve franziu o cenho. - Você está todo molhado e com uma cara de idiota impagável.

- Senhor... - Christoff o chamou, fazendo-o parar de andar e olhar em sua direção. - Tem um peixe preso na sua calça. - depois que disse isso, Derick olhou virou um pouco o tronco, para tirar um pequeno peixe já morto que estava preso em suas calças, somente com a calda de fora. - Posso comer?

O líder deu de ombros e jogou para o alto, fazendo Christoff sorrir largamente e pular para comê-lo numa só mordida.

- Derick, seus braços... - Steve o analisou, com os olhos arregalados. - Estão curados.

- Eu sei. - o príncipe demônio murmurou, se amaldiçoado por ter tirado a blusa antes de chegar em casa e tê-la pendurado nos ombros.

- Tinha notado ontem, mas você estava meio ocupado com seu pai, por isso não perguntei, mas hoje... - Janna cruzou os braços. - Você está estranho.

- Não estou. - ele revirou os olhos.

- Como curou os braços? - ela perguntou, nervosa e curiosa.

- Tenho meus meios.

- Por que está molhado? O que aconteceu?

- Eu não devo satisfação para você, Janna. - perdeu a paciência, elevando a voz enquanto passava a mão pelos cabelos molhados. - Não estrague o único pingo de felicidade que eu estou tendo hoje e me deixe em paz. - Derick se virou de costas. - Vou para casa, preciso de um banho.

- Eu fico preocupada com você. - Janna o olhou nos olhos, sentindo uma pontada em seu coração. Ele nunca havia falado daquele jeito tão rude com ela.

- Não precisa. Estou ótimo. - ele falou baixo, ainda de costas para os companheiros.

- Esse não é o Derick que conhecemos. - a demônio confrontou.

- É, talvez esse seja melhor.

Saiu andando de volta em direção ao palácio, sem dizer mais uma palavra sequer. Não seria Janna que estragaria sua felicidade naquele momento, mas nem ele ao menos sabia o porquê de estar tão alegre.

Steve colocou as mãos atrás da cabeça, andando lado a lado de Janna, com o irmão atrás, que comia alguns doces que estavam com ele.

- Derick está estranho. - ele falou.

- Isso é óbvio. - a garota revirou os olhos. - Mas por quê?

- Sinceramente ele está assim desde que saiu com a tal princesa. Agora, é um mistério o braço dele ter se curado assim do nada.

- Sim. Mas eu vou dar um jeito nisso.

- E vai fazer o quê? - Christoff perguntou finalmente prestando atenção.

- Vou falar com o Rei das Trevas. - Janna falou convicta, arrancando olhares preocupados dos irmãos.

Ela não ia desistir, queria saber o que se passava com Derick. E mesmo sabendo que o mesmo estava indo para o palácio, não se importou em praticamente o seguir, afinal, ele iria direto tomar um banho antes de se apresentar ao rei.

E essa seria a oportunidade perfeita para a mesma agir e falar com o demônio supremo.

Não fugiria.

Derick saiu do banho, revigorado. As costas foram aliviadas pela água quente e o cheiro de peixe que aquele rio lhe deixou havia saído.

Enrolou uma toalha na cintura, saíndo do banheiro de seu quarto, sendo surpreendido por encontrar Dustin ali.

- E aí, pirralho. - olhou para o irmão mais novo. - O que você quer?

- Vim lhe dizer duas coisas, irmão. A primeira é que quero que depois do jantar, você me ajude a drenar um pouco da minha magia. - a criança pediu com um sorriso alegre, que parecia ir sumindo aos poucos. - Ou você está muito ocupado?

- Não, não, eu te ajudo sim, irmão. - disse, fazendo o sorriso do menino voltar a crescer. - E qual a segunda coisa?

- Papai está furioso hoje. E quer falar com você.

Derick bufou.

- Tudo bem. Onde estão os outros?

- Dakota está com Demétrius e Darius no salão de treinamento. Dimitri está contando o ouro na troca das armas do mercado negro e eu não vi Domminic o dia todo, deve estar naquele lago perto da entrada daqui, ele gosta tanto de lá. - Dustin respondeu, cruzando os pequenos bracinhos, já indo em direção a porta do quarto.

- Hm. - o príncipe mais velho murmurou. - Vai ficar com Dakota no salão, ela cuida de você melhor do que ninguém, e na hora do jantar, pode vir me chamar depois.

- Sim, senhor! - Dustin fez uma saudação, como um soldado, mas ainda rindo. - Tchau, maninho, até mais tarde.

Derick apenas deu um sorriso de escárnio, e assim que a porta bateu, secou seus cabelos negros de forma rápida, sem ao menos pentear. Mas eles ficariam bons de qualquer jeito, mulheres gostavam de homens de aparência despojada, apesar dele não ter que se preocupar com isso.

Ele não se gabava como Darius, mas, tinha que admitir que a Luxúria lhe caía muito bem, poxa, fazia o tipo de qualquer uma!

Espantou aqueles pensamentos por um momento, andando em direção a saída de seu quarto, respirando fundo para ouvir as lamúrias de seu pai.

- O senhor deseja falar comigo, meu pai? - perguntou ele, se ajoelhando na frente de seu rei, assim que chegou no salão.

- Sim, Janna estava aqui, acabou de sair, e eu soube que você não vai mais precisar amputar seus braços. - o Rei das Trevas falou, com desgosto. - Como os curou?

- Foi o anjo. Ela me curou. - Derick não hesitou em falar. Não poderia esconder afinal.

- Você pediu? - perguntou o rei, com uma voz assustadora.

- Não! Ela quis. - o príncipe revirou os olhos. - Disse que eu a salvei, então queria fazer algo por mim.

- E você a matou quando se encontram hoje?

- Não.

- E por quê?! - gritou alto, ficando de pé, fazendo um estrondo no salão quando ele pisou no chão, já que ele estava em sua forma imensa.

- Não acho necessário fazer isso agora, pai. - ele procurou as palavras certas, com cautela. Seu pai nervoso poderia ser a coisa mais assustadora que já viu. - Mas não se preocupe, vou cumprir minha promessa, quero que ela morra nas minhas mãos. Só estou aguardando o momento certo.

- Vai se encontrar com ela de novo, Derick? - o Rei das Trevas perguntou, já se acalmando com as palavras de Derick, voltando a se sentar no trono.

- Não. - falou tentando passar convicção, mesmo sabendo o tamanho daquele blefe.

- Espero que não esteja mentindo para mim.

- O que eu ganharia com isso, pai?

- Ainda bem que sabe. Nada. - o rei respirou fundo. - Pode se retirar, e eu espero que não me desaponte. Você é meu sucessor.

- Sim, meu pai.

Dia seguinte...

- E foi isso. - Derick praguejou, se jogando na grama, com Angel sentada ao seu lado, terminando de contar sobre as conversas com seu pai, principalmente sobre ontem. - É um saco! - trincou os dentes. - Mas a Janna me paga por ido contar sobre os braços... Ela não sabe o que a espera.

- Eu te entendo, mas você não acha estranho o fato de seu pai não reagir tão normalmente quando você relatou sobre os encontros? É como se ele já soubesse. - Angel concluiu, fazendo o príncipe se levantar novamente, a encarando, surpreso. Ela estava certa.

- Como se alguém estivesse observando... - ele assentiu, pensando. - Sabe, princesa, às vezes eu esqueço de que você não é tão burra quanto parece.

- Vai fazer alguma coisa quanto a isso? - perguntou ela, ignorando a fala do garoto.

- Não. Eu disse a meu pai que não encontraria você mais e cá estou eu, se isso chegar até ele eu procuro até na última chama do Inferno quem é o dedo duro.

- Por que não acaba com isso e me mata logo? - ela soltou, com medo da resposta, sentindo o coração acelerar.

- Você é precoce ou o que, garota? - ele franziu o cenho. - Está querendo morrer?

- Não. - Angel falou baixo, olhando para a grama, com as bochechas vermelhas. - Eu só não entendo. Se queria tanto que eu morresse em suas mãos, por que não me matou ainda com tantas oportunidades?

Aquela pergunta o pegou de surpresa, fazendo-o arquear as sobrancelhas. Sem perceber, um sorriso malicioso cresceu em seu rosto.

Era involuntário, mas como o pecado digno, era mais do que normal toda aquela luxúria.

- Nossos últimos dois encontros foram divertidos, e esse até que também foi, eu gosto de conversar com você, já disse. Para um anjo, você não é tão desagradável. - deu de ombros. - E além disso, é como eu disse para meu pai: você é forte, mas não tem a mínima habilidade. Seria uma perda de tempo te matar agora. - terminou, fazendo ela o olhar com um semblante perdido e assustado. - Não fique com essa carinha, pelo menos estou sendo sincero com você. Desde o primeiro momento, minhas intenções eu sempre deixei claro, tudo leva a eu matar você, mas não escondo que até acho você legal. Então me agradeça por ser tão bonzinho com você. - ele disse, arrancando uma florzinha rosa que estava ao seu lado, e estendendo para Angel. - Toma.

- Obrigada. - a princesa agradeceu, sorrindo no final das contas. - Eu acho melhor eu ir. - disse, ficando de pé junto com ele. - Ainda... - pigarreou. - Iremos nos ver?

- Está gostando, princesa? - Derick debochou, com um sorriso malicioso e maldoso.

- Estou aprendendo tanta coisa nova nesses últimos três dias. - Angel falou, rindo. - Mentir não é meu forte, mas graças a Nana, para Nathaniel e todos que moram lá em cima eu estou treinando. Então, eu não posso fingir que não estou gostando de toda essa adrenalina e de um tempo com um demônio que quer me matar. É novo e assustador.

- Eu diria o mesmo se eu já não tivesse falado com minha família. Mas eu vou dar um jeito, é como eu disse... Acho você legal. - ele prometeu, já começando a se afastar do anjo, que abria as asas. - Nos vemos amanhã, princesa.

- Boa sorte com tudo. - a princesa respondeu, acenando.

- Não preciso de sorte. - ele se virou, piscando um olho, deixando ela corada. - Eu já me garanto.

Não disse mais nada, e voltou a andar para a direção da entrada do inferno, enquanto Angel voava de volta para a entrada do céu.

Domminic, que até então estava atrás de uma grande pedra, saiu, podendo respirar pesadamente, temendo pelo irmão.

Pelo menos iria parar de seguir os dois, era um pé no saco ficar, literalmente, na moita, só esperando para contar as coisas para o papai.

Sentiu uma leve presença, revirando os olhos por saber de quem se tratava.

- Você gosta mesmo de me seguir, não é, garota? - o príncipe perguntou, se virando com certa raiva para a moça já parada na sua frente.

- Oi para você também, Domminic. - Violeta sorriu, com os braços cruzados.

- Desde quando está me seguindo, hum?

- Olha, eu não estou seguindo você especificamente. Mas sim a Angel e seu irmão.

- Ah, entendi, então a Rainha Celeste também sabe. - ele bateu a mão na própria testa.

- Muito pelo contrário. Ela não faz a mínima ideia. E eu estou aqui, para que o Rei das Trevas também não saiba. - a Paciência falou, convicta e com calma, sem medo algum.

- Diferente de você, eu não minto para meu superior. Além disso, meu pai já sabe desses encontros que meu irmão anda levando com essa princesa. Mas eu acabo com isso hoje.

- Não ouviu seu irmão? Ele matará quem estiver contando sobre suas intimidades a seu pai.

- Eu não tenho um pingo de medo do Derick. - Domminic falou, com a típica raiva repentina na voz. - Ele é meu irmão, e vai entender quando souber que eu só estou fazendo isso para protegê-lo.

- Se continuar contando com isso, será morto sem perceber. - Violeta revirou os olhos.

- Está me chamando de desatento? - riu, debochado. - Gracinha, eu sou considerado um dos três mais poderosos depois de meu pai, juntamente com Derick e Dustin. Se ele quiser bater de frente comigo, vai ser até a morte. E eu não tenho medo de morrer e nem de matar. - ele falou com a voz sombria, fazendo um arrepio correr pela espinha da garota.

- Mesmo assim, se não é Derick com suas ameaças que vai te impedir... - ela encarou os olhos dele, com coragem. - Eu vou.

- O que você quer, Violeta? Não me irrite!

- Você sabe o que eu quero, Domminic.

- Ah, aquele papo fajuto de nós dois acabarmos com a guerra. - o garoto riu, mas rapidamente o seu rosto mudou para uma expressão irritada. - Escuta, gracinha, a coisa que eu mais quero é matar anjo por anjo, me ver livre essa escória com asas. E você com toda certeza está incluída nisso.

- Antes eu lutava para sobreviver, hoje eu quero lutar para que todos nós possamos viver. - Violeta falou. - Estamos nos destruindo, podemos todos dividir a Terra.

- Acho que é melhor você contar para sua perfeitíssima rainha que a filhinha dela está se encontrando com um demônio ao invés de ficar falando besteira. - bufou, saindo andando, pretendendo ignorar o anjo. - O que ela pensaria, Violeta?

- Nada, porque ela não vai saber, assim como eu sei que você irá correndo contar sobre esse encontro dos dois para o seu pai, mas ele também não vai ficar sabendo.

- E por quê?

- Você não vê? - correu para alcançá-lo. - Eu não falei nada com ninguém do céu porque a Angel nunca me fez absolutamente nada, por que eu iria prejudicá-la? Eu a vi saindo do palácio há dois dias para vir até essa clareira, quando cheguei aqui ela estava conversando com seu irmão. Poderia tê-la impedido, ter contado a rainha. Mas a Angel estava tão feliz, estava tão aberta por conversar com alguém sem ser tratada só como uma princesa, como uma prisioneira. - a virtude deu de ombros. - Eu não vou estragar a felicidade dela, e eu sei que Derick também está se sentindo bem com ela.

- Ele vai se sentir bem assim que matá-la como havia prometido. - o demônio disse, parando de andar, ficando frente a frente com a garota.

- Está enganado. - ela balançou a cabeça negativamente, o olhando com calma. Isso o fez trincar os dentes. - E eu não acho que somos nós dois que podemos acabar com essa guerra. Mas eles sim.

- Você só pode ser louca. - a olhou, indignado.

- Angel e Derick vão ser em breve divindades governamentais. Rei e Rainha. Se tudo continuar bem entre os dois, quando eles forem coroados essa guerra terá de acabar, foi isso o que eu pensei antes de estragar a alegria dos dois. Mas se você falar com seu pai sobre hoje, acho que o rei não vai tolerar mais esperar a morte de Angel. Eu ouvi a conversa que Derick acabara de ter com ela, ele explicou o que estava acontecendo, e pelo o que eu pude perceber, o Rei das Trevas já está com a paciência no limite. É capaz de matar seu próprio filho.

- Ele não faria isso.

- Como pode ter tanta certeza?

- Como você tem certeza que essa guerra vai acabar? - Domminic explodiu. - Não somos nós que decidimos e ainda não são eles também.

- Ainda. - Violeta murmurou.

- Você não vai me fazer mudar de ideia, está delirando. Palavras insignificantes que vem de alguém que tem poder suficiente para me matar, não irão me convencer. Eu não ganho nada mentindo para o meu pai.

Violeta respirou fundo, se aproximando a passos largos, Domminic assumiu uma posição desconfortável, enrijecendo os músculos, pronto para receber um ataque direto dela.

Mas ele não veio.

O anjo colocou as duas mãos nas bochechas dele, e puxou seu rosto para si, colando seus lábios dela. Ele arregalou os olhos, ficando sem reação por alguns segundos.

O que aquela garota estava fazendo?

A empurrou com certa brutalidade para trás, a encarando, incrédulo.

- Acha mesmo que isso vai me convencer de não contar ao meu pai o que Derick anda aprontando? - perguntou nervoso, limpando a boca de forma exagerada.

- Não, não acho. Mas eu tenho certeza, que quando você for abrir o bico, vai se lembrar de mim e desse beijo. - a Paciência piscou um olho, com um sorriso irônico nos lábios.

- Você só pode ser maluca! - Domminic sentiu a raiva fluir sobre seu corpo, ficando muito irritado. - Vê se não me encosta mais hein, garota, que nojo! - fez ânsia de vômito, fazendo Violeta revirar os olhos. - Ah, quer saber? Que se dane! Você vai acabar morrendo em alguns dias mesmo, sabe muito bem que demônios tem uma doença que não se pode ter nenhum contato com seres divinos intimamente assim. Tecnicamente você está ferrada e, bom, eu nem ligo. Confesso que queria que você morresse nas minhas mãos, mas se eu for o causador da morte, já está ótimo para mim, me deixa satisfeito. - ele terminou com um sorriso.

- Acha mesmo que um beijinho mixuruca desse é capaz de me derrubar? - ela riu alto. - Qual é?! Foi só um toquezinho, não deu para sentir quase nada. Mas até que não foi tão ruim assim.

- Como é que é? - o príncipe da ira a olhou, indignado com aquelas palavras. Um sorriso maldoso surgiu em seu rosto. - Eu vou te mostrar o que não é "tão ruim assim".

Antes que Violeta pudesse contestar, sentiu os lábios de Domminic contra os seus com certa força.

Abriu a boca, segurando um sorriso no meio do beijo, deixando ele a guiar. Sabe... Aquilo realmente não era tão ruim assim.

Sentiu as mãos do Pecado da Ira irem para sua cintura, e ele a apertou, aprofundando o beijo. Com certa pressa, empurrou a menina contra uma árvore sem parar de beijá-la, sentindo o gosto bom da boca da mesma.

Ela acabou se deixando levar e começou a deixar-se sentir com mais calma. Levou as mãos a nuca do garoto, puxando os fios curtos de seu cabelo negro.

O príncipe, já perdendo totalmente o controle, a prensou ainda mais contra a árvore, puxando o lábio inferior dela com os dentes, sentindo-a afrar e apertar seus ombros em seguida.

Ele sorriu, convencido, em meio beijo que ia prosseguir, mas assim que levou as suas mãos até o bumbum da garota, ela lhe interrompeu, o empurrando levemente para trás com sorriso vitorioso nos lábios.

- Acho que já está bom por hoje, Domminic. - piscou um olho, abrindo as asas e começando a voar de volta para o céu, mas antes se virou para dizer: - Espero que pense em mim.

Assim que ela sumiu de sua vista, ele socou árvore com muita força fazendo-a se quebrar. A raiva ainda não havia passado totalmente, mas pelo menos ele havia descontado um pouco dela naquele mísero pedaço de madeira com folhas.

- Desgraçada.

Foi andando para casa, e assim que entrou na entrada para o Inferno, sua mente voltou a se embaralhar, principalmente por conta do beijo daquela estúpida.

Ele ia contar para seu pai, ele precisava contar. Dom precisava se proteger, e seu irmão também era uma prioridade. Em escolha de deixar um anjo ser morto a sangue frio e eles ouvirem sermão pelo resto da eternidade... Ele ficava com a primeira opção.

No entanto, odiava admitir, mas Violeta tinha razão. Derick parecia muito feliz ao lado daquela garota, e fazia tempo que ele não o via conversar tão abertamente com alguém. Sem medo das consequências.

Parecia que não, mas acima de tudo, ele queria ver seu irmão feliz. Porém, já não tinha mais certeza de nada. E aquele beijo só serviu para confundi-lo mais.

Estava começando a se irritar, quando ouviu a voz de seu pai presente em seus ouvidos. Ele nem havia notado que já estava no salão real. Ficou tão desorientado depois do ocorrido, que não pensava em absolutamente nada além dos lábios macios de certo anjo.

- E então, filho?

- Ele foi treinar. - falou o príncipe, se arrependendo logo em seguida. Lamentou-se por ter sido tão fraco, ah, como queria se bater por ter caído tão facilmente no plano de Violeta e ter a beijado. Mas ela iria pagá-lo e caro. - Não se encontrou com a princesa e, pelo visto, não se encontrará mais até o dia de matá-la.

- Perfeito... - sussurrou, abrindo um sorriso diabólico.

Algumas semanas depois...

Derick já esperava Angel no lugar de sempre, com os braços cruzados encostado na árvore.

Já fazia semanas que eles estavam se encontrando as escondidas daquele jeito, e se o príncipe não fosse tão contra os anjos, gritaria ao mundo que estava adorando sair com ela.

Angel chegou, sorrindo diretamente para o príncipe, com um olhar gentil de sempre e as típicas bochechas coradas.

- Que bom que chegou, princesa. - o Pecado da Luxúria, sorriu de volta. - Tenho uma surpresa.

- E o que seria? - perguntou ela, se aproximando.

- Vou te levar para conhecer uma vila. - ele falou, fazendo ela arregalar os olhos. - Soube de uma, nunca fui lá, mas parece bem pacífica além de afastada.

- P-por quê? - ela sussurrou, ainda estática com tal surpresa.

- Bem, você e eu sempre lemos seu livro ou escrevemos coisas sobre os humanos nele, além de coisas nossas, mas principalmente sobre essa raça sem poder. E eu sei gosta muito disso, então, por que não vê-los de perto? Conhecer mais sobre eles? Eu não estou nem aí, mas talvez, bem talvez, eu queira que você vá e, sei lá, goste.

- Eu não sei o que dizer... - sorriu alegremente, mas o sentiu desmanchar ao pensar nas consequências. - Mas, eles não vão estranhar? Um anjo? Ou melhor, um anjo e um demônio juntos?

- Sim, e por isso eu pensei em tudo. - falou o demônio, dando de ombros. - Bom, humanos trabalham para os demônios em troca do dinheiro que conseguimos com facilidade graças ao meu irmão Dimitri, mas isso não quer dizer que somos bem recebidos, muito pelo contrário, o ódio deles é bem explícito. Isso tudo graças aos seus amiguinhos anjos, que fizeram eles nos odiarem, e tratarem vocês como "salvadores". - ele debochou, fazendo Angel corar de vergonha, mas revirar os olhos. - Ou seja, não vai ser um problema para você chegar lá com suas belas asinhas e agir como se só estivesse passando por ali. E eu, bom, para minha sorte demônios podem esconder as "asas" que temos criadas pela escuridão, então, se eu escondê-las e encobrir minha presença, eu vou parecer só um humano normal que também só estava de passagem e acabou esbarrando no anjo, levando ela para a vila. - sorriu ao o terminar explicação, convencido. - Fala se não é o plano perfeito?

- É, é sim! - a princesa voltou a sorrir, porém, em seguida sentiu as bochechas arderem mais intensamente. - E... Você pensou em tudo isso... Por mim?

- Eu não diria isso. - Derick deu de ombros, desviando o olhar, sem graça, e coçando a nuca. - Mas já que quer acreditar...

- Obrigada! Obrigada! Obrigada! - Angel ignorou a fala dele ainda sorrindo, e o abraçou fortemente. - Estou tão feliz! Eu nunca vi um humano de perto. Vou poder falar com eles?

- Claro que sim. - ele riu, colocando as mãos na cintura dela para retribuir ao abraço.

- Ai! Obrigada, de verdade! - disse ela empolgada, ainda abraçada com ele. Se afastaram fazendo o garoto encarar os olhos dela e se perder por alguns segundos, para logo depois soltá-la repentinamente.

- É melhor irmos...

A garota apenas concordou, com um sorriso tímido e o rosto corado, começando a andar com Derick para fora da clareira, também encobrindo sua presença.

Andaram por longos 10 minutos até chegarem em uma vila não muito grande mas com vários sons e pessoas movimentando o lugar.

Entraram lá sem saberem ao certo o que fazer. Angel atrair muitos olhares por causa de suas belas asas enormes, denunciando rapidamente que ela era um anjo.

Ignoraram e continuaram andando com a princesa fascinada com tudo aquilo enquanto segurava na mão de Derick um pouco nervosa. Ele a olhava sorrindo e se divertindo internamente com as reações dela quando via alguma coisa nova. Parecia uma criança.

- Oi! Bem vindos, forasteiro e anjo. - uma senhora os cumprimentou com belo sorriso assim que eles chegaram na entrada da praça principal da vila. - É um prazer recebê-los. Parece que vieram por conta do festival.

- Festival? - Derick franziu o cenho.

- Sim. Todo ano fazemos um aqui na vila para homenagear os fundadores de origem estrangeira e nossos ancestrais dessa vila.

- É tudo muito lindo. - Angel sorriu, tentando encarar melhor a praça, mas a entrada para ela era em uma esquina, o que ficava um pouco difícil.

- Obrigada. Nunca vi um anjo de perto, você é muito linda! - a moça disse fazendo Angel corar e agradecer com um sorriso. A mulher olhou para Derick. - E você é de onde?

- Sou de uma vila bem longe, estava viajando quando vim parar aqui e encontrei a prin... - se interrompeu ao perceber que estava começando a falar besteira. - Esse anjo. Resolvemos entrar e conhecer um pouco aqui, afinal, somos novatos.

- Fizeram bem. Me chamo Caterina. - ela se apresentou. - O que precisarem podem falar comigo.

- Derick. - deu de ombros.

- Angel. - também falou seu nome, se apresentando.

- Podem entrar e aproveitem o festival.

Os dois sorriram para a mulher, e entraram na praça principal, onde estava acontecendo uma festa enorme.

Crianças corriam e brincavam por toda parte, enquanto mariartes tocavam no coreto belas músicas, e várias barracas de comidas diversas estavam espalhadas pelo lugar.

Também tinham várias bandeirinhas e luzes piscantes ainda apagadas por ainda ser dia, mas com o resto tudo bem colorido, com um monte de pinturas no chão e nas paredes, deixando o ar alegre e divertido.

- Ei, moça... - uma menina que parecia ter seus 10 anos, chamou. - Você é mesmo um anjo?

- Ahn... Sou sim. - a princesa assentiu.

- Eu disse! Eu disse! - a garota pulou, rindo, e chamando as outras meninas com a mão, que correram na direção deles. - Minhas amigas não estavam acreditando.

- Eu sou a Angel, e este é Derick.

- Você tem cara de mau. - outra menina apontou.

- Talvez eu seja mau. - o príncipe respondeu, com um sorriso cruel estampado em seu rosto.

- Não acho, você é fofinho. - como menininha pequenininha, talvez a menor do grupo, que parecia ter seus cinco anos, disse rindo enquanto pulava no colo de Derick.

- Quem? Eu? - ele perguntou enquanto desajeitadamente segurava a menina em seus braços.

- Uhum!

- Que insulto. - riu achando a menina fofa e colocando ela no chão.

- Angel, Angel, eu e as meninas podemos te arrumar? - a primeira garota falou enquanto segurava nas mãos da princesa.

- Está um saco brincar de bonecas. - outra disse com um olhar entediado

- Você vai ficar linda! - mais uma disse, sorrindo para o anjo.

- Hm... - ela pensou um pouco. - Tudo bem.

- Derick, quer também? - a menorzinha perguntou entrelaçando os dedos nos de Derick.

Pelo visto ela havia mesmo eu gosto dele e ele não negou toque dela. Parecia extremamente frágil e ela era muito fofa, estava pensando até em ter uma filha depois de ver aquela garotinha, mas não queria ser igual ao seu pai.

Ele temia ser como ele.

- Vou ficar só olhando. - o príncipe deu de ombros.

- Está bem! Venham, ali está mais calmo. - uma das garotas exclamou, enquanto os outros a acompanhavam até uma árvore enorme, onde tinha uma boa sombra.

As meninas começaram a pentear os loiros cabelos de Angel, o prendendo com uma presilha um pequeno rabo de cavalo, deixando a testa da menina a mostra, mas com uns fios de cabelo caindo sobre seu rosto, enquanto o resto do cabelo solto.

No final, colocaram uma flor vermelha no cabelo da garota, combinando com o vestido rodado, e depois, passaram um gloss vermelho claro na boca da mesma.

- Tchanram! - uma das meninas mais velhas levantou os braços, e estendeu um espelho para Angel se ver.

- Está linda! - a outra bateu palminhas.

- Ei, Derick.- a menor das meninas chegou perto do garoto, que estava encostado em uma das casas, e puxou a barra da blusa dele para baixo, apontando sorridente para a futura rainha. - Olha!

O príncipe levantou a cabeça para olhar o anjo, mas se surpreendeu ao ver a moça a sua frente.

Ela estava tão... Uau.

Derrick sorriu maliciosamente ao imaginar sua princesa completamente nua. Ah, como ele gostaria de contemplar aquele corpo.

Apesar de que já viu o anjo daquele jeito que pensara, ele queria mais daquilo. Ver as asas enormes batendo, seus cabelos voando, ela vir em sua direção pronta para se entregar.

Ah, como ele queria, mas não podia.

- Por que está me olhando assim? - Angel perguntou, corada com o olhar intenso que o garoto lhe lançava.

- Porque você não sabe como é satisfatório vê-la desse jeito, princesa. - Derick disse, com a boca entreaberta, quase babando.

- O que isso significa?

- Que você está bonita. - ele a olhou mais uma vez da cabeça aos pés, parando novamente em seus belos olhos azuis, dando um sorriso malicioso. - Muito bonita.

- Obrigada, Derick. - ela colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha.

De repente, uma música animada começou a tocar, sendo iniciada no violão, e com batidas ritmadas de mão dos que estavam no pequeno palco da praça, para entrar, em seguida, o som de um trompete.

Um forte sotaque se fez presente na voz do cantor, fazendo uma bela mistura entre duas línguas na letra da canção.

Não podia ser diferente, afinal aquele festival era para agradecer aos ancestrais mexicanos, estava tudo tão incrível, que Angel não acreditou que estava ali.

- Vamos dançar, Angel! - uma outra menina, tentava puxá-la para o meio da praça.

- Ah... - a princesa tentou relutar. - Eu não...

- Vem, vem!

- Vem também, Derick! - a menorzinha puxou o demônio, com suas pequenas mãozinhas.

- Nem pensar, pequena humana. - ele negou, tentando tirar as mãos dela.

- Vai ser divertido! - sorriu para ele, mostrando que estava sem os dois dentinhos da frente.

- Nem pensar.

- Venha logo, senhor Derick. - as outras garotas que também puxavam Angel, o arrastaram também.

- Ei, ei! Eu não...

As meninas não deixaram ele terminar de falar, quando o demônio percebeu, já estava com um enorme chapéu vermelho com detalhes dourados e algumas cordinhas com bolinhas pretas, enfeitando a borda toda do chapelão.

Angel riu ao ver o garoto daquele jeito, enquanto se mexia rápido no ritmo da música e acompanhava as meninas pequenas na dança.

Derick abriu um sorriso ao vê-la tão solta e livre, dançando uma música temática e típica, de uma região que era longe dali, mas que era forte.

Quando se deu conta, vários adultos e algumas crianças, contando as meninas, estavam em uma fileira, homens de um lado e mulheres do outro, dançando todos abraçados, batendo o pé no chão, ao som rápido do violão afinado e das vozes no palco.

Todos batiam palma, e voltavam a se abraçarem de lado. Derick tentava acompanhar, mas ele não era bom de jeito nenhum naquilo, diferente de Angel, que quando ele olhou, já estava acostumada a aquele ritmo tão novo e rápido.

Ela estava rindo como as crianças ali, mexendo os pés no chão, batendo as mãos e até cantando algumas vezes. Em alguns momentos, ela sentia o olhar de Derick e retribuia da mesma forma.

Mas, teve uma hora que ambos não desviaram o olhar, eles não estavam de frente um para o outro, mas a conexão entre os olhares e o som da música mexicana, fez parecer que suas almas estavam ligadas.

Em uma parte repetitiva -, porém nem um pouco enjoativa - da música, as pessoas começaram a se afastar para girarem, sem parar de baterem os pés e as mãos acompanhado o cantor e o violão, para enfim, encerrarem a música.

Todos ainda giravam, incluindo Angel que estava de olhos fechados, apreciando a música, e quando ela deu uma breve pausa, ela abriu os olhos, vendo todos ainda girando, mas se direcionado a uma pessoa. A música acabou com mais alguns sons do trompete, e então, sentiu a mão forte de alguém em sua cintura e entrelaçando a outra em uma mão dela. Era Derick.

O anjo olhou em volta. A música acabava daquele jeito, com todos os rapazes colocando uma mão na cintura das moças e com a outra segurarando uma mão das mesmas, enquanto elas permaneciam com a mão livre no ombro deles, para assim, encerrar a canção.

Derick procurou Angel enquanto ainda rodavam, para encerrar a canção daquele jeito com ela. E ele conseguiu.

Estava muito próximo do rosto da garota, que sentia o coração acelerado. O demônio abriu um leve sorriso, sendo retribuído com as bochechas coradas do anjo e uma timidez e inocência estampada em seu semblante.

Todos no local começaram a bater palma e assobiar quando o ritmo da dança foi finalizado com sucesso juntamente com a música, aquilo ficaria na história.

Mas os aplausos altos, fizeram o casal se assustar e se afastarem rapidamente com sorrisos constrangidos.

- Nada mau. - disse ela, ofegante e vermelha, sem entender o que aquela proximidade fez com seu coração.

- Eu que o diga. - ele respondeu, do mesmo jeito que ela.

- Angel, Derick, vocês foram incríveis! - uma das meninas sorriu.

- Nem parecia que estavam dançando pela primeira vez. - piscou, outra garota.

- Tão fofo! - a garotinha pequena, falou suspirando e entrelaçou os dedos.

- Crianças, parem de atormentarem nossos visitantes. Vão comer alguns nachos, vão. - uma senhora, parecendo ter seus 34 anos, falou, e as meninas foram correndo para comer. - Desculpem, olha, podem ficar a vontade, comida e bebida têm de sobra, aproveitem, viu?

- Obrigada. - Angel agradeceu, e a mulher foi embora com um sorriso.

Outra música começou a tocar, uma mais lenta e leve.

- Me concede esta dança, señorita? - Derick perguntou, debochando um pouco, estendendo a mão para ela.

- E-eu...

- Não aceito "não" como resposta. Eu também não sei dançar música lenta ou qualquer coisa, mas, acho que não faz mal tentar.

Angel corou, sorrindo um pouco aliviada. Não sabia dançar e não queria passar vergonha.

- Então tudo bem. - riu. - Aceito sim, señor.

E assim eles foram até o fim da tarde, dançando, comendo e rindo como nunca haviam rido na vida.

Estavam felizes. Tanto pela companhia um do outro, quanto pela nova experiência.

Derick levou Angel para um pouco longe do festival, mas ainda dentro da vila, ambos subiram numa árvore bem alta, se sentando em um galho grande e forte, onde podiam ver a vila toda, afinal, ela era bem pequena mesmo com o fato de ter tanta gente.

Olharam para o final do horizonte, onde podiam ver o sol finalmente se pôr, dando cores incríveis para o céu, ficando alaranjado e meio rosado.

Uma brisa forte bateu, fazendo Angel estremecer. Derick, percebendo isso, retirou o casaco que estava em sua mochila, pronto para colocar na mesma.

- Não sabia que era tão cavalheiro. - a princesa sorriu para o demônio timidamente, enquanto ele colocava um casaco sobre seus ombros, tendo dificuldade por conta das enormes asas.

Fazia um friozinho gostoso naquela tarde, o outono deixava o trabalho das fadas muito mais bonito, as cores em tons alaranjados e vermelhos, assim como marrons e amarelos, deixavam Angel encantada.

- Ah, eu sou demais, né? - Derick riu convencido, sendo acompanhado pela princesa. - Você gostou?

- Eu adorei. Acho que nunca me diverti tanto! Nunca experimentei nachos e guacamole na minha vida e... Puxa é delicioso! - ela exclamou, divertida, fazendo o garoto rir. - Eu também nunca dancei algo tão animado, e nunca ninguém prendeu meu cabelo desse modo. E... - mordeu o lábio inferior. - Nunca havia dançado tão próxima a alguém.

- Que bom que gostou. Podemos voltar mais vezes se quiser. Eu gostei daquela garotinha, parece um bichinho. - ele deu de ombros, sentindo o coração aquecido. O que estava acontecendo?

- Eu adoraria! - Angel sorriu, empolgada, mas logo, seu semblante se tornou um tanto perdido. - Você... - engoliu em seco. - Já tinha dançado com alguém antes?

- Não, você foi a primeira. E eu gostei muito disso. - o demônio falou, atraindo o olhar da princesa. Estavam com os rostos virados nas direções um do outro, e aquela aproximação era perigosamente boa. - Você estava incrível. - ele murmurou, colocando uma mão no rosto de Angel, fazendo um breve carinho. - Você é incrível.

Ela sorriu timidamente, abaixando a cabeça para desviar o olhar, mas dessa vez, Derick não a deixou ficar assim por muito tempo.
Levou a mão ao queixo dela, puxando para cima devagar, deixando ela um pouco atordoada.

O príncipe encarou aqueles olhos tão azuis, quase se perdendo por um minuto. Ele estava mesmo fazendo carinho em um anjo?

Se afastou, voltando a olhar a vila, sem nenhuma explicação do porque de ter se afastado tão repentinamente. Porém, a princesa não questionou e também voltou a observar a vila, prendendo sua atenção a um casal que estava como ela e o garoto há alguns minutos atrás, mas este, estavam mais próximos, e ela podia ver a boca dos dois coladas.

Franziu o cenho, confusa.

- Derick, o que aqueles dois estão fazendo? - ela perguntou, apontando para o casal.

- Estão se beijando. - o garoto respondeu, achando graça de toda aquela inocência e curiosidade.

- Beijando? O que é isso?

- É quando um casal quer demonstrar afeto e se sentirem mais próximos. É quando duas pessoas se gostam, mas não como as meninas gostaram de nós dois, tipo, como amigo, é como... Um casal. Um relacionamento.

- Mas também existe relacionamento de amizade, né?

- Bom, tem vários tipos. Amigos, amantes, namorados, noivos, família. É um convívio diferente com cada um, mas ao mesmo tempo é parecido. Só que, de amizade é muito diferente de namoro, por exemplo. Amizade é só um carinho de proteção e um amor especial que você quer sempre ajudar o amigo. Namoro é a mesma coisa só que mais intenso, você pode vir a sentir mais coisas e claro, até beijar.

- Puxa. É tudo tão novo. - os olhos de Angel brilhavam com toda aquela explicação. Ela sabia o que era, só não entendia, não sabia como defini-los em "seus lugares certos".

- Você vivia em um buraco, princesa. - Derick deu de ombros, rindo. - Para a sua sorte eu estou aqui para lhe ensinar.

- Sim... - mordeu o lábio inferior, com um sorriso. - Então... - ela ponderou, fazendo-o, olhá-la. - Você pode me ensinar? Sabe, a beijar...?

- O que?! - o líder da Elite arregalou os olhos. Ele realmente não esperava por aquilo. E o mais impressionante, é que ele via nos olhos dela que a mesma de fato não sabia o que era beijar. Droga, como aquilo o deixava louco! - Eu... Eu não acho uma boa ideia.

- E-eu só estou curiosa. - Angel corou, gostando de considerar a possibilidade de estar tão perto de Derick como aquele casal estava um do outro. - Tem gosto bom?

- Bom, sim... - ele respondeu, hesitando por um momento.

- Mostra como é... - ela o encarou se sentindo mais próxima dele. - Por favor.

O príncipe demônio fechou os olhos com força, serrando os punhos.

Aquele sussurro, aquele pedido...

Pensava em diversas maneiras de como poderia tê-la ali mesmo em cima daquela árvore e que o mundo se danasse!

- Tudo bem, ahn... - ele molhou um pouco os próprios lábios com a língua, abrindo os olhos e sentindo uma tensão incrível em seus ombros. O que ela estava fazendo com ele? Um simples pedido de beijo não poderia deixá-lo assim, ele era o Pecado da Luxúria! - Fecha os olhos e relaxe.- falou, vendo-a obedecê-lo prontamente, o fazendo soltar o ar pesadamente.

Ele aproximou o rosto do dela, olhando para a boca vermelha e deliciosa da menina. Só ele sabia o quanto queria experimentar o gosto dela, e aquilo era torturante.

Colocou o nariz no pescoço dela, respirando lentamente seu perfume, fazendo a garota se arrepiar e apertar olhos mais fortemente.

Derick levou a mão que estava na bochecha de Angel até seus cabelos loiros, os puxando levemente para trás, deixando a menina com a boca entreaberta. Suspirou pesadamente. Ela o mataria daquele jeito.

Encostou sua boca na dela levemente, roçando somente para sentir a textura macia da princesa. Sentiu o coração dela acelerar em expectativa, mas, um choque de realidade bateu em Derick como um raio.

Ele não podia. Não podia.

Se afastou tão abruptamente dela, que acabou caindo de cima da árvore, batendo a cabeça no chão fortemente.

- Derick! Minha nossa... - Angel gritou, assustada, descendo da árvore com as asas a pousando no chão. Se agachou colocando a cabeça de Derick em cima de suas pernas. - Você está bem?

- Estou, estou. - falou ele, gemendo de dor, se levantando para ficar o máximo possível afastado da garota. E infelizmente ela percebeu. - Acho melhor irmos embora, você não pode voltar muito tarde.

- Mas... - tentou argumentar.

- Vamos logo. - Derick respondeu seco, fazendo-a se calar e um arrepio de medo subir pela sua espinha. Desde que o conhecera não sentia aquilo.

Os dois voltaram para onde ainda estava tendo o festival, se despedindo das pessoas com alguns sorrisos falsos.

Angel deu abraços nas meninas, enquanto o demônio a esperava de cara fechada. Os chamaram para voltarem, mas ambos não estavam muito empolgados depois do ocorrido na árvore.

Eles andaram em silêncio até a clareira. O caminho todo, o anjo se perguntava o que havia feito de errado.

Estava tudo tão bom. Sentir o corpo dele tão próximo, - mesmo tendo que se manter em equilíbrio na árvore - o cheiro viciante dele, a boca que a chamava, as mãos que a tocavam... Tudo estava ótimo.

Mas quando ele caiu, ela pensou que talvez não tivesse sido sem querer, que talvez ele não quisesse beijá-la. Parando para pensar, poderia mesmo ser aquilo, afinal, ela sabia que Derick não negava contato físico, ele mesmo sempre deixava claro isso, mas com ela... Ele hesitou.

- Nos vemos amanhã, princesa. - o príncipe só disse isso quando chegaram no meio da clareira. Dali ela subiria sozinha para a entrada para o Céu.

Ele saiu andando, sem ao menos se despedir. Estava tão aéreo quanto ela, e realmente não queria conversar.

A garota ficou lá, parada, com um olhar perdido e sem entender nada. Não sabia porque, mas se sentia vazia, frustrada. Seu corpo estava quente ainda pelo contato de Derick nela, seu coração ainda estava acelerado dentro do peito.

O que era aquilo?

Abriu as asas voando rapidamente para o Céu. Ela não sabia o que era, mas talvez Nana a explicasse.

Entrou no palácio de forma imperceptível, entrando em seu quarto em silêncio, encontrando sua babá já lá dentro, com uma expressão preocupada.

- Onde você estava? - a mulher perguntou, se sentando com Angel em sua cama. - Demorou muito hoje.

- Eu sei, Nana, mas aconteceu tanta coisa. - Angel disse, mostrando sua aflição e desespero nas suas palavras. - Eu preciso te falar, eu preciso de respostas.

- O que houve? - preocupou-se

- Nana... - a princesa respirou fundo. - O que é beijo?

Nana engoliu em seco.

- Por que quer saber disso tão repentinamente?

- Quase aconteceu entre mim e Derick hoje.

- Como é que é?! - ela se exaltou, se levantando da cama, nervosa.

- É, mas quando ele ia me beijar... Ele simplesmente caiu de cima da árvore! - a garota piscou os olhos azuis, vendo a babá andar de um lado para o outro dentro do quarto. - E eu tenho certeza que não foi um acidente.

- Ainda bem que isso aconteceu, Angel! Imagina se ele te beijasse; um demônio?!

- E o que tem?

- Você ainda pergunta? - Nana passou a mão pelos cabelos castanhos. - Olha só, vocês eram para ser inimigos mortais, não amigos tão... - se interrompeu, procurando as palavras certas. - Íntimos.

- Eu não consigo entender. - a futura rainha balançou a cabeça negativamente. - Por que ele foge? Por que eu não posso beijar ele?

- Querida... - suspirou, voltando a se sentar perto da princesa. - Acho que já está na hora de eu te explicar algumas coisas mais íntimas sobre as pessoas. - ela entrelaçou os dedos uns nos outros, procurando as palavras certas para Angel entender, enquanto a garota lhe olhava com atenção. - Tanto seres humanos quanto seres mágicos podem se relacionar entre si, mas não somente na amizade e na familiaridade, é para isso que existe o amor. - assim que o disse, a atenção do anjo se multiplicou. - O amor é quando você tem um sentimento profundo por uma pessoa, várias emoções misturadas. Suas mãos suam, seu coração acelera, seus pensamentos ficam embaralhados. Você só quer estar perto dessa pessoa que lhe causa isso, você só quer ficar com essa pessoa você quer que tudo seja recíproco com ela também, e beijar essa pessoa te faz você se sentir ir às nuvens, é como se vocês estivessem unindo o amor de vocês através daquele beijo. Conectando vocês. Bom, quando você sente isso bem fortemente, é amor, amor puro, bonito, mas se você ainda está começando a sentir, como uma coisa mais "leve", é porque você está começando a gostar da pessoa, começando a criar um sentimento de amor. Só que... - mordeu o lábio inferior. - Não existe só o beijo para poder "conectar". Isso na natureza de todos os seres existentes, há o que chamam de "fazer amor" ou, como sem romance nenhum, a "transa".

- Oh! Derick disse que ama isso. - exclamou, Angel, começando a compreender as coisas. E sinceramente, aquilo sobre sentimentos de amor... Era familiar.

- É porque ele é o pecado da Luxúria, esse sentimento de querer transar se faz mais forte nele, porque isso é a própria luxuria, é a excitação.

- Estou entendendo.

- As pessoas querem selar esse amor dessas duas formas: de sentimentos, emoções e fisicamente, que é no caso do beijo e... Bom, da transa. - Nana disse, com certa vergonha de falar aquela palavra na frente de Angel. A sua _castidade_ era bem devota. - Mas não são todos que sentem essas coisas, e mesmo assim fazem os dois. Derick faz, só com humanas, mas faz. Agora se com sentimentos ou não, é coisa dele.

- E por que só com humanas? Por que ele não poderia fazer algo assim comig... - a garota se interrompeu, corando. - Com um anjo?

- Demônios não podem se relacionar com outros seres divinos, Angel. Eles têm uma doença que se espalha pelo corpo quando em contato íntimo outro ser. A doença não os afeta, só se eles se relacionarem entre si, por isso também é proibido, mas quando em relação entre fadas, magos e... Anjos, a doença é fatal para quem a recebe e não para o demônio que a passou. - a moça deu de ombros, vendo o olhar tristinho da princesa. - A não ser que eles tenham relações com outros demônios.

- Então... - a princesa piscava, atônita. - Derick não pode me beijar e nem...?

- Não. E nem pense nisso, pelos céus! - franziu o cenho, desgostosa.

- E não tem nenhuma maneira de curar?

- Hum-hum, pelo menos ninguém ainda procurou saber sobre ou tem poder suficiente. - Nana negou, e começou a afagar os cabelos de Angel. - Querida, posso ser sincera com você? - perguntou, vendo a garota assentir. - Eu acho que é melhor vocês se afastarem.

- Mas eu não quero fazer isso. - murmurou a futura rainha.

- Eu sei, mas é o melhor, tanto para você quanto para ele. Vocês nasceram para se odiarem, não podem ficar juntos, não podem ser amigos tão íntimos como vocês vem se tornando nessas últimas semanas, minha querida. - terminou de falar, se levantando e indo até a porta para deixar a garota em paz por algumas horas. - Eu sinto muito.

Assim que Nana bateu a porta do quarto, a princesa pôde se jogar na cama, sentindo os olhos marejarem um pouco.

Teria mesmo que se afastar de Derick?

- Acho que... Relacionamento de amigo não é o que eu sinto pelo Derick. - Angel murmurou sôfrega para si mesma, se sentindo sozinha mais uma vez. Presa em seus pensamentos.

Uma pequena fada entrava no palácio do submundo, tentando não ser notada, enquanto carregava com sigo, uma folha de papel muito bem dobrada.

Entrou em um quarto, mas estava vazio. Foi aí que então ouviu o barulho do chuveiro, e decidiu se sentar na cômoda que tinha no lugar, enquanto esperava.

Depois de alguns minutos, o chuveiro foi desligado, e de dentro do banheiro da suíte saía uma figura masculina com apenas uma toalha amarrada na cintura, fazendo a fadinha soltar um gritinho agudo e fino, ficando vermelha da cabeça aos pés.

- Quem é você? O que está fazendo aqui?

- E-eu v-vim a mando d-da senhorita Violeta. - a fada disse, tentando desviar o olhar.

- O quê? - Domminic franziu o cenho.

- Sou Cindy, trabalho para ela. A minha senhora me salvou quando me abandonaram fora da Floresta das Fadas há alguns anos, desde então eu jurei fidelidade a ela e cuido dela e faço o que ela me pede.

- Então a gracinha ainda está viva. Que interessante... - ele murmurou, mais para si mesmo do que para a fada. - Mas eu não estou nem aí, quero que dê o fora. Fadas são proibidas aqui ao menos que meu pai permita, acho que é a mesma coisa com a política da Rainha Celeste.

- E é, eu sei disso, mas, somente a senhorita Violeta sabe que eu vivo no palácio lá em cima, afinal, a rainha nos cortaria em dois. E agora... Você também sabe. - Cindy riu, sem graça.

- Eu não quero nada que venha da "sua senhora".

- Não posso voltar de mãos vazias, senhor Domminic, e ela me disse que o senhor se negaria a ler o bilhete, mas também me disse para insistir.

- Não. Saía daqui antes que eu mate você. - a personificação da Ira falou, começando a se estressar.

- É de extrema importância, senhor. - ela estendeu tentando mais uma vez. Passar esses anos todos ao lado de Violeta havia a feito bem mais paciente do que aparentava ser.

- Me dê logo isso. - tomou das mãos da fadinha com certa brutalidade.

"Domminic, se está lendo isso, acho que vou assar alguns cookies para a Cindy. O que eu quero de você, é que me encontre amanhã à tarde atrás do rio de onde Derick e Angel se vêem, não se preocupe, lá eles não poderão nos ver. Mas eu preciso que você vá, quero lhe dizer que vou conversar com a Angel sobre a guerra e acho que você deveria falar com seu irmão também, eu tenho um plano quanto a isso, aliás, parece que alguém andou pensando em mim antes de contar para o papai. Contudo, se esse assunto não é de sua importância, acho que vai gostar de saber porque eu estou bem viva agora. Só vai saber se vier me ver. Te espero, atenciosamente, Violeta."

Domminic abriu um sorriso malvado.

A filha da mãe sabia bem como fazê-lo se sentir curioso e irritado ao mesmo tempo.

- E então? - Cindy perguntou, esperando a reação dele ao ler o bilhete.

- Diga a ela que estarei lá.

Dia seguinte...

- Achei que não viria. - Derick sorriu fracamente ao ver a princesa chegando na clareira.

- E-eu... - Angel mordeu o lábio inferior.

- Eu queria te pedir desculpas por ontem, eu devia me controlar mais, não queria deixar você assustada ou triste, ou brava, ou sem graça, ah! Qualquer coisa do tipo. Eu só... - ele se interrompeu, ao olhar o semblante atônito da garota. - O que foi?

- Derick... - ela respirou fundo. - Conversei com a Nana ontem e bom, eu estou sentindo algumas coisas.

- Coisas? - ele franziu o cenho, começando a se preocupar. - Que tipo de coisas?

- Quando eu estou perto de você, minhas mãos suam, meu coração acelera, quero sempre estar perto de você e, quando estamos juntos, você me faz bem. Quero experimentar coisas novas com você, tipo aquele negócio que chamam de "beijo", quero poder te proteger e te ver feliz. Quero que seja recíproco. E pelo que eu entendi com minha conversa com a Nana, isso não é uma coisa de só amizade, só uma coisa pacata. Ela me disse que quando se sente isso muito intensamente, é amor, e, eu sinto por você, mas não é algo assustador, não é algo que eu diria ser forte... Só que é algo. - Angel falou, suspirando, e sentindo corar de vergonha, ainda mais com o olhar tão atento de Derick sobre ela. - E eu sei que isso significa que eu gosto de você e é mais do que como um amigo que temos sido durante todas essas semanas. - colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha, para enfim encarar os olhos negros dele. - Eu gosto de você, príncipe Derick.

Ele estava paralisado. Estava surpreso. E até com certo medo.

Mas não hesitou em direcionar seus passos até ela, e colocar uma mão em seu rosto, fazendo um carinho aconchegante, enquanto ela fechava os olhos para aproveitar.

O demônio encarou a boca rosada da menina, a desejando mais do que qualquer coisa no mundo.

- Eu queria tanto poder te beijar agora. - sussurrou, como se estivesse sendo torturado.

- Então me beija. - ela sussurrou de volta, sentindo algo novo dentro de si.

- Angel, eu não posso. - balançou a cabeça negativamente, fechando os olhos também e encostando a testa na dela. - Eu não quero te machucar. - ele disse. - Não quero.

- Nana me explicou da doença. Eu não me importo com isso, não ligo agora. - Angel disse, sôfrega, se sentindo mais aliviada e com o coração acelerado. Apoiou as duas mãos nos ombros de Derick, ainda com a testa colada na dele e ambos de olhos fechados. - Finge que isso não é um problema no momento, esqueça as consequências. Me beija, Derick. - ela voltou a sussurrar, fazendo o corpo do garoto se arrepiar por inteiro.

E então, ele mandou tudo para o Inferno, para o Céu, para seja lá onde fosse.

- Sei que vou me arrepender depois.

E a beijou.

Começou calmo, afinal era o primeiro dela, e a mesma não sabia o que fazer direito.

Ele apenas estava aproveitando a maciez da boca dela, sem aprofundar o beijo ainda. Nem aprecia ele que vivia sempre com tanta luxúria e voracidade. Mas ele queria aproveitar cada segundo com os lábios dela sobre os dele.

Derick então, apertou a cintura da garota, como se pedisse silenciosamente para ela abrir um pouco a boca. E mesmo confusa, ela o fez, sem realmente saber que era isso mesmo que ele queria. Então, o líder da Elite pôde aprofundar o beijo, sentindo cada vez mais o gosto da garota.

Angel estava começando a se acostumar com aquilo e começou a acompanhar os movimentos do príncipe. Quando ele apertou novamente sua cintura a puxando para mais perto de seu corpo, ela soltou um suspiro e o sentiu sorrir no meio do beijo.

O garoto levou uma mão até a nuca dela, brincando com os fios de cabelo, os puxando levemente para trás vez ou outra, deixando ela arrepiada.

Ela resolveu fazer a mesma coisa e afundou os dedos no cabelo tão negro e tão macio de Derick, o sentindo afrar quando ela os puxou devagarinho.

Sentiu ficar sem o ar, então ele encerrou o beijo com uma mordida em seu lábio inferior e um sorriso um tanto malicioso, mas encantador.

- Você está sempre na minha cabeça, princesa. - ele murmurou, fazendo Angel abrir os olhos e o encarar com as bochechas coradas e um olhar cheio de expectativa. - Eu também gosto de você.


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