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- E não é que você veio mesmo... - Derick sorriu com os braços cruzados, encostado em uma árvore, observando Angel, que acabara de pisar no chão enquanto abaixava as asas.

- Pensei em não vir. Mas... - ela mordeu o lábio inferior. - Confesso que também estou curiosa a seu respeito.

Ele murmurou um "hm", e ficaram em silêncio por alguns segundos, enquanto ela olhava para o lugar onde estavam mais atentamente.

Não tinha reparado das vezes que esteve ali, mas o lugar ela bem bonito mesmo. Com um rio de água cristalina não muito longe de onde estavam, com a terra cheia de grama e árvores, rochas e flores para todo lado. Era como uma clareira, mas bem mais aberta e bonita.

Por sorte, era um tanto afastada do campo aberto.

- Como usa seus poderes? - ele perguntou repentinamente, fazendo-a arquear uma sobrancelha.

- Acho que eu não deveria...

- Qual é, garota, estamos só nós dois aqui. - revirou os olhos. - Eu mostro os meus.

- Por quê? - ela perguntou confusa.

Eles deveriam esconder suas presenças e não fazerem elas ficarem mais visíveis ao usarem seus poderes.

Afinal, eles praticamente eram inimigos mortais! E se qualquer outro anjo ou demônio desse as caras por aquelas bandas ao sentir o forte poder que emana de ambos, estariam perdidos.

- Quero ver se você é forte. Se está a minha altura. - Derick sorriu, mordendo levemente o lábio inferior, se aproximando um pouco da princesa.

Em seguida, foi até uma árvore qualquer que estava atrás dela, e concentrou um pouco da sua energia negra na palma da mão. Encostou na árvore e em um movimento, ela se despedaçou inteira.

Sorriu, encarando para o anjo, que olhava para ele, admirada.

- Sua vez, princesa.

Ela piscou rapidamente, começando a fazer o mesmo que ele, com a árvore ao lado da que ele havia destruído. Mas ao invés da árvore se despedaçar, foi feito um enorme buraco nela, com pequenas chamas ao redor.

A garota suspirou baixinho, enquanto era analisada pelos olhos negros do demônio a sua frente.

- Entendi. Você realmente não tem tantas habilidades assim, nunca treinou não? - o príncipe demônio perguntou sem noção alguma, começando a caminhar, para aí sim, esconder sua presença. Angel fez o mesmo, correndo para acompanhá-lo.

- Na verdade não... Eu vivia trancada em meu quarto.

- Não parece nada interessante.

- Nana me disse que meus poderes são um pouco complexos.- ela mudou de assunto, um pouco corada. - Eu posso roubar um pouco do que usa contra mim, e fazer voltar em você. Então eu não tenho muito o que mostrar. Esse buraco foi feito porque eu só concentrei energia, mas se eu fizer isso em uma batalha, Nana me avisou que era morte certa. Ela que me conta as coisas sobre a vida... - "será que eu posso dar todas essas informações a um demônio?"

- Sua vida não me parece muito legal no Céu. - Derick indagou mais uma vez, sem se importar se estava sendo inconveniente.

- Bem... Ela é. - Angel suspirou, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. - Eu só... Nunca saí de meu quarto até o dia que você me encontrou.

- Argh! - ele praguejou, se jogando na grama, quando chegaram a um lugar afastado e não muito movimentado. Ele se encostou em uma rocha grande que tinha por ali, olhando a garota em pé a sua frente. - Que tédio deve ser.

- Até que não. Eu gosto de escrever em meu livro. - ela deu de ombros, e foi só então que ele percebeu que ela carregava o objeto de leitura nas mãos.

- E escreve sobre o quê? - perguntou despreocupado, mas achando tudo muito sem graça.

Já tinha conseguido o que queria. Sabia como era os poderes da garota. Por que ele simplesmente não lutava com ela e a matava sem piedade nenhuma?

Segurou um sorriso com esse pensamento. Seu pai ficaria orgulhoso, o tornaria Rei das Trevas o mais rápido possível.

Mas ele não conseguiu.

Por algum motivo ele realmente ficou interessado na garota. Ela era gostosa afinal de contas. Só que, também, parecia ser mais do que isso

- Sobre os humanos. - Angel sorriu, abraçando o livro contra o peito.

- Que chato. - ele resmungou.

- N-não, pelo contrário, eles são fascinantes! - a princesa exclamou com os olhos arregalados e uma euforia desconhecida. - Eu trouxe o livro, não saio sem ele, quer ver?

- Me dê. - a garota estendeu o livro na direção do demônio, que pegou e folheou as páginas com o cenho franzido, não sabendo o que aquilo tudo significava. - Não entendo muito bem.

- E-eu te explico. - ela sorriu, se sentando ao lado dele, um pouco apreensiva. Ainda tinha medo. Não dele, mas do que ele poderia fazer em questão de segundos, porém, se sentiu bem por um momento. Nunca havia falado sobre o livro com ninguém além de Nana, e mesmo assim era rápido, então, ela se viu animada em sua presença, e a empolgação tomou conta do medo. - Bom, essas aqui eu anotei quando eles criaram algo que chamam de lamparina. É para deixar as luzes acesas durante a noite, já que eles não têm poder de fazer a luz.

- Você desenha muito bem. - ele murmurou, concentrado, passando os dedos lentamente pelo desenho da tal lamparina que ela havia feito.

- O-obrigada. - corou, desviando o olhar.

- E o que é isso aqui? - ele apontou, com uma careta confusa.

- Eles chamam de roda. Usam para colocar em grandes coisas de metal que se movem com a ajuda dessas "rodas".

- Até que parece legal.

- Sim... - riu baixinho, atraindo o olhar do demônio a ela.

A admirou por um momento. Ela era bem bonita, mas iria ser morta com facilidade. E era ele quem o ia fazer.

Porém, não naquele momento.

Tentou se convencer que só não a mataria alí mesmo porque era uma beleza pura demais para ser acabada tão rapidamente sem antes ser apreciada.

Contudo, ele sabia que na verdade, ele queria saber mais sobre ela. E aquilo era errado em tantos sentidos que ele se sentiu zonzo. Mas já estavam fazendo algo proibido, por que parar agora?

A garota ficou ainda mais vermelha ao perceber que o olhar negro dele estava sobre ela, fazendo-a abaixar a cabeça, com um sorriso tímido, sem saber o que aquele olhar intenso significava e porque estava daquele jeito

- Me mostra mais? - Derick perguntou, ainda procurando os olhos azuis dela para se conectarem aos seus mais uma vez, em vão.

- C-claro.

Começou a folhear o livro para contar um pouco mais do que descobria dos humanos ao demônio que naquele momento, parecia bem concentrado em suas palavras.

Derick odiava admitir, mas estava gostando de saber aquelas coisas, era deveras interessante. Estava gostando ainda mais de como a garota falava.

Os olhos dela brilhavam, e ela dizia com empolgação e orgulho de sua pesquisa, ela falava alegremente, como se fosse a primeira vez que conversava de verdade com alguém.

E era mesmo.

Angel sempre foi muito solitária apesar de Nana estar com ela, cuidando dela como uma filha, como Virtude da Castidade, ela tinha o dever de pelo menos participar das reuniões do conselho da Rainha Celeste, mesmo a princesa não sabendo disso.

Então, quando a mulher não estava por perto, Angel se sentia cada vez mais sozinha, e, infelizmente, já estava acostumada aquela solidão.

- Você só tem esse passatempo? - Derick perguntou do nada, fazendo a garota morder o lábio inferior.

- Sim. Mas eu gosto apesar de tudo. - ela deu de ombros.

- É meio monótono. Não sei se eu aguentaria, sou muito... Agitado. - ele passou a mão pelos cabelos, encarando a princesa, que corou levemente. O garoto arqueou uma sobrancelha. Ela queria lhe dizer alguma coisa, o olhava com uma curiosa e ingenuidade de uma criança. - Pode perguntar, princesa. Estou bonzinho hoje.

- O que... - Angel hesitou por alguns segundos. - O que você gosta de fazer?

- Hum... Transar. - respondeu tranquilamente. Ela estava fazendo tanto mistério para perguntar algo tão banal? Então, ele reparou que a princesa tinha um semblante confuso em seu rosto, e ele, abriu um sorriso malicioso. - O que? Vai dizer que não sabe o que isso significa?

- Bem... - ela olhou para o livro em sua mão, fugindo do olhar surpreso e assustado do demônio.

- Só pode ser brincadeira.- ele arregalou os olhos com a boca entreaberta, se aproximando um pouco mais da garota, com um tom de voz debochado, surpreso e indignado. - Você tem quantos anos? 1.200?

- 3.634. - a princesa deu de ombros, um pouco vermelha.

- Um ano mais nova que eu e não sabe o que é "transar". - riu alto. - Você realmente vivia numa bolha. Apesar de que nenhum anjo deveria saber... A Castidade não fez seu trabalho muito bem.

- O que é isso? - o anjo perguntou, curiosa a respeito da palavra nova.

- É mais fácil eu te mostrar. Mas está meio cedo.

- Eu não...

- Me fale mais sobre você, princesa. - ele a interrompeu, cruzando as pernas e apoiando o rosto na mão e com o cotovelo na perna, a olhando atentamente.

- Bom, eu não tenho muito a dizer. - Angel disse.

- Que vidinha pacata. - revirou os olhos. - Conte as coisas básicas, sei lá. Eu começo. - Derick colocou a mão no queixo. - Hm, deixe eu pensar. - ponderou, sentindo o braço machucado latejar, e ele mordeu o lábio para não demonstrar a tamanha dor, o que, infelizmente, não passou despercebido por Angel. - Bem, eu sou o filho mais novo de sete e mais velho de sete, ou seja, nasci depois dos Nômis, os monstros filhos não tão assumidos assim de meu pai e sou o pecado mais velho. Sou a personificação da Luxúria, faço parte do grupo "Elite do Inferno", nunca tive mãe e meu passatempo favorito é sexo. E matar anjos, claro. - ele sorriu, encarando a menina de forma ameaçadora, que sentiu um arrepio forte na espinha. - Sua vez.

- Eu... Sou filha única, tive pai, mas nunca o conheci, amo escrever em meu livro, gosto de ouvir algumas canções dos humanos e tentar decorá-las e, estou noiva. - terminou, tentando pensar em mais alguma coisa sobre sua vida, mas sem sucesso.

- Noiva? - o demônio franziu o cenho, surpreso.

- É... De Nathaniel. Você o conhece. - ela falou e o mesmo ficou ainda mais confuso. - Ele que... - ela apontou para o braço do garoto.

- Oh, o florzinha? - Derick riu sarcasticamente, retirando a camisa, mostrando os músculos que tinha, mas que estavam roxos e com veias saltadas nos braços, já chegando perto do pescoço e peitoral. A garota arregalou os olhos. A magia angelical estava se espalhando muito rápido. - O que você viu nele?

- Como assim? - tombou a cabeça levemente para o lado, confusa.

- Ah, você sabe. Corpo, personalidade, força, influência, essas coisas. O que te fez se interessar por ele a ponto de um dia se casarem?

- Nada. Na verdade eu nem ao menos o conheço direito. Eu vou me casar porque minha mãe quer, e como eu não entendo muito sobre essas coisas, acho que tudo bem.

- Casamento é algo que não é para mim, de modo algum. Você precisa sentir amor. E acho que a única coisa que eu consigo sentir por alguém é luxúria.

- Não entendo. Nunca senti... Isso. Não sei o que é.

- E eu não sei te explicar, pelo menos não sobre amor, também nunca o senti, mas conheço. - Derick riu sem vontade. Sabia que amor poderia ser um sentimento de proteção e cuidado, igual sentia (muito de vez em quando) pelos seus irmãos. Porém, nunca havia sentido algo por alguém que realmente fosse forte, verdadeiro. - Você realmente parecia uma prisioneira, nem ao menos conhece emoções. Em que tipo de atmosfera você vive?

- S-só querem me proteger... - ela murmurou, triste de certa forma, afinal, ele tinha razão.

- Hm.

Um silêncio constrangedor se instalou entre eles, fazendo Angel corar e Derick revirar os olhos.

Estavam começando a se dar bem, isso era esquisito vindo de dois seres tão diferentes e que poderiam se matar a qualquer momento.

Mas o príncipe não quis isso, ele, na verdade, queria conhecer mais a garota e o mundo dela. Como ela escrevia naquele livro sem graça, como ela cantarolava as músicas terráqueas, como os olhos dela deviam brilhar a cada palavra nova que ele poderia dizer.

E ela, apesar do receio de ser morta, sabia que não era fraca e poderia lutar a altura. Porém, sem treinamento ela levaria uma boa surra. Só que, mesmo com todo esse medo, Angel ao mesmo tempo se sentia segura. Ele parecia bom, com todo aquele deboche, todo aquele jeito impotente e até a beleza... Ela ainda queria estar na presença dele.

Involuntariamente, olhou para o braço do garoto, que ainda estava sem a blusa, e, receosa, perguntou:

- P-posso te curar?

- Não. - respondeu, grosseiro.

- Eu prometo que vou ter cuidado, não vai doer quase nada.

- Nem fodendo, princesa, e olha que eu amo isso.

Ela piscou os olhos azuis rapidamente, ignorando a sua fala, mesmo sem entender o que aquilo significava.

- Você tem braços bonitos, não seria legal se tivesse que os amputar. - deu de ombros, tentando convencê-lo de alguma maneira.

- Alimentar meu ego dizendo que meus braços são bonitos não vai me fazer mudar de ideia, princesa. - Derick riu com a tentativa falha da garota.

- Eu... Eu sei bem como fazer. Isso já nasceu comigo, e eu aperfeiçoei quando alguns pássaros machucados caíam no palácio. Esse é o único poder que tenho certeza de saber.

- Continua sendo não. Seu namoradinho que fez esse estrago, eu prefiro amputar meu braço antes que eu fique doente e morra, do que aceitar ajuda de um anjo. Principalmente se esse anjo é quem eu mais quero matar.

Angel engoliu em seco ao ouvir a palavra "matar", mas mesmo assim, mordeu o lábio inferior e se aproximou dele.

- E... E porque você não fez isso ainda?

- Não sei. Acho que gostei de você, princesa, isso é bem raro. Sinta-se lisonjeada.

- Devo admitir que eu também gostei de passar esse tempinho com você. Acho que eu nunca me senti tão... Viva.

- Você só precisava de alguém para conversar, e talvez eu também precisasse.

- Deixe-me curá-lo. - tentou mais uma vez, olhando nos olhos negros do rapaz.

- Já disse que não. - ele revirou os olhos.

- Quanto mais horas passarem a queimadura vai se espalhar, luz de anjo mata quando em contato errado com outro ser, e você sabe disso. Não seja teimoso. Você já cuidou de mim, com más intenções, mas cuidou, é minha vez de retribuir. Nathaniel fez esse estrago, sinto-me mais ainda na obrigação de lhe curar.

- Anjos não podem curar os demônios, é proibido.

- É, mas é um caso a parte.

- É? - Derick debochou, cruzando os braços. - E por quê?

- Bom, nós já estamos aqui, o que é mais proibido do que infringir mil leis. E também é... Porque eu quero fazer isso. - Angel respondeu, convicta.

O demônio arqueou uma sobrancelha.

Ela realmente queria ajudá-lo?

- Tudo bem. - se deu por vencido, fazendo um sorriso se abrir no rosto da garota.

- Vai doer um pouco, afinal é uma luz divina, mas não vai tanto quanto essas queimaduras. Limparei até onde você se queimou por conta da nuvem, não se preocupe, você se verá livre das cicatrizes. - falou, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha, esticando as mãos até onde estava a queimadura da nuvem primeiro.

- Vou confiar em suas delicadas mãos, princesa. - ele deu de ombros. A dor da luz que se fez em contato com sua pele foi estrondosa, fazendo ele prender um grito de agonia. A queimadura da nuvem mágica era superficial, não fazia tanto estrago, mas era o suficiente para afastar os demônios que a tocassem. Já a luz diretamente ligada de um anjo para um demônio, era fatal, assim como a energia negra dos seres do submundo ou sua doença atravéz do sexo com outro ser divino. Quando se deu conta, ela já havia acabado, e a dor já tinha passado, assim como as feridas. - Obrigado.

- Não há de quê. - Angel sorriu, dando de ombros.

Ele olhou para cima, vendo a posição do sol já em outro lugar.

- Não está muito tarde para você voltar, princesa? Estamos há umas três horas aqui. - Derick falou, colocando sua blusa novamente.

- O quê?! - ela falou assustada, se levantando rapidamente, sendo seguida por ele. - E-eu preciso ir.

- Eu também me senti bem hoje. Nunca fiz isso.

- Isso?

- Conversar com uma garota sem transar com ela ou matá-la. É novo para mim. - ele deu de ombros, encarando suas orbes azuis.

- Não sei o que é "transar", mas... Que bom. - ela riu baixinho.

- Quando você descobrir o que é, não vai dizer só "que bom". Ainda mais sendo eu. - ele piscou para ela, fazendo a mesma corar, e ficar encarando o chão por alguns segundos. - Você não tem que ir?

- Oh, é verdade. - ela abriu as asas, dando uma última olhada para o garoto, começando a flutuar. - É... Até...

- Espera. - ele pulou e segurou o braço dela, puxando-a levemente em sua direção, mesmo com ela ainda no ar. - E seu nome?

- Angel. - encarou ele por alguns segundos, um pouco desnorteada, perdida por causa daquela imensidão negra que era seus olhos. - Me chamo Angel.

- Derick. - o demônio deu um leve sorriso, também um pouco encantado com aqueles olhos tão azuis. - Quer me encontrar aqui amanhã de novo? Podemos... Conversar mais, sei lá.

- T-tudo bem. - a garota mordeu o lábio inferior, finalmente, desviando o olhar. - Até mais... Derick. Obrigada por hoje.

Ela sorriu mais uma vez, antes de sair voando, deixando o garoto com os pensamentos a mil.

Balançou a cabeça negativamente, com um sorriso pequeno nos lábios.

- Angel, né?

Domminic chegou ao palácio com o mesmo semblante de sempre, irritado e tedioso. Curvou-se diante de seu pai, que estava no trono enorme, com sua forma demoníaca gigante.

- Espero que tenha me trago notícias boas. - o Rei das Trevas falou, alto suficiente para fazer os demônios que ficavam de guarda ali estremecerem...

- E eu espero que essas notícias sejam boas para você. - a personificação da Ira se levantou olhando para cima, para enxergar os olhos do pai. - Derick testou os poderes da princesa, ela tem uma igualdade de energia divina com a dele que é surreal, uma luta entre os dois poderiam ser fatal para ambos. Mas ela não sabe usar esses poderes, as habilidades dela são fracas, a garota passou muito tempo trancafiada dentro do palácio celestial e não sabe nem ao menos treinar para ampliar sua divindade, e por isso, bom, eu acho que seja por isso... Que meu irmão não a matou. - após proferir essas palavras, o rei se levantou raivoso do trono, assumindo sua forma "normal", se aproximando do filho e o encarando com fúria, fazendo até mesmo ele, Domminic, tremer. - Mas ele disse que a encontrará novamente. Acho que amanhã quando isso acontecer, ele deve cumprir sua promessa e matar a princesa de uma vez por todas.

- Assim eu espero mesmo, ou providências serão tomadas. - cruzou os braços.

- Posso parar de observá-los então?

- Não. Siga-os amanhã, e depois me relate tudo.

- Não confia mais no Derick? Acha que ele hesitaria em matar um anjo? Ele?

- Não é nada disso. Só que o Derick é muito impulsivo, se ele fizer alguma besteira nós estaremos condenados. É melhor prevenir do que remediar. Ou você discorda de mim? Quer ver seu clã todo assassinado? - perguntou, fazendo filho balançar a cabeça negativamente. - Então faça o que eu mandei. Eles te notaram?

- Impossível. A essa altura, Derick já estaria com uma faca em meu pescoço. - Domminic bufou, estressado.

- Hm. Ótimo. Agora pode se retirar, seu irmão vai passar aqui daqui a pouco para relatar tudo isso.

- Sim, pai, com licença.

- Como foi? - Christoff perguntou, vendo o seu senhor e líder da Elite, entrar no salão onde eles se reuniam, enquanto comia algumas uvas.

- Angel. - Derick disse, com um sorriso brincando em seus lábios.

- O quê?

- O nome dela é Angel.

- Que original, não? - Janna revirou os olhos.

- Combina com ela. Se eu não sentisse uma enorme abominação a todos os celestiais, eu diria que ela tem uma beleza angelical. - Steve riu, olhando para o amigo.

- Melhor você ficar na sua. Esse anjinho já tem alguém com quem conviver o resto da vidinha pacata dela. - o príncipe deu de ombros.

- Quem? Você? - franziu o cenho, para em seguida cair na gargalhada junto com o irmão e o líder. Janna fechou a cara e cruzou os braços, se afundando no sofá que tinha ali.

- Não, pelo menos não ainda. - piscou um olho, ainda rindo, mostrando que era uma brincadeira bem improvável.

- Você não a matou? - a demônio perguntou, surpresa e nada feliz.

- Não. Ela tem o mesmo nível de poder que eu, mas não sabe usar, seria um desperdício de tempo matá-la agora, não valeria a pena. E por isso eu vou me encontrar com ela amanhã.

- Então finalmente vai finalizar o que começou. - concluiu Janna.

- Vai matar ela mesmo? - um sorriso malvado cresceu nos lábios de Christoff.

- É... Isso. - Derick concordou sem vontade. A verdade é que ele ainda não queria matar a princesa, queria conhecê-la mais um pouco, e também mostrar um pouco de seu conhecimento para ela. Mas ninguém precisava saber, não é? - Enfim, ela está noiva de um tal Nathaniel, aquele babaca que lutamos outro dia. O Arcanjo líder.

- Já era de se esperar. Ele é um gato! - a única garota que estava ali na sala, falou, com empolgação.

- Mas é um anjo. - Steve arqueou as sobrancelhas para ela, irritado.

- Só por que ele é gato não quer dizer que seja perfeito.

Ele encarou a demônio, incrédulo. Mordeu a língua, e se levantou do enorme sofá, irritado, andando em direção a saída da casa.

Sem entender nada, Christoff se levantou também, indo atrás do irmão, que provavelmente estava indo para casa.

- O que deu nele? - o príncipe perguntou assim que os irmãos saíram.

- Não sei. Mas já que estamos sozinhos que tal a gente aproveitar um pouco? - Janna disse, sensualmente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e mordendo o lábio inferior, se aproximando do companheiro.

- Janna, eu tenho que ir falar com meu pai sobre a garota, só passei aqui antes para contar a vocês, mas tenho que ir. - Derick falou, retirando os braços dela que começavam a enlaçar seu pescoço. - E além disso, você sabe muito bem que não podemos.

- Eu sei! Mas eu e você sempre nos divertimos sem ter que... Você sabe.

- Sem eu ter que colocar meu pau dentro de você?

- Eu não ia usar essas palavras, mas, é! - ela disse o óbvio, não sentindo a mesma excitação de sempre nele.

- Eu preciso ir, é como um dever, um trabalho, e você sabe. - ele se afastou.

- Eu sei, e sei também que você "trabalha" demais... Precisa relaxar um pouco. - tentou mais uma vez, se aproximando de novo do garoto, tocando seus ombros e descendo para os braços que a garota estranhou não estarem ásperos por causa da doença que logo que ele teria que tirar, mas ignorou, perguntaria outra hora.

- Não. - ele a empurrou de leve mais uma vez.

- Ah, qual é, você nunca deixou de ficar afim quando se trata de algo sexual e...

Derick levantou um dedo, fazendo-a calar a boca no mesmo instante.

- Janna, eu não quero ter que repetir. - foi andando em direção a saída, sem olhar para trás. - Nos vemos depois.

- E foi isso... - Angel suspirou após contar sobre o encontro com Derick no bosque. - O que acha, Nana?

- Bem, parece ter sido legal, mas... - colocou uma mecha de seu cabelo castanho atrás da orelha. - E agora?

- Ele me convidou para encontrá-lo amanhã no mesmo horário e no mesmo lugar, perto da cachoeira.

- Angel, querida, você tem noção que ele é um demônio muito perigoso? É um pecado capital, filho do Rei das Trevas!

- Eu sei, Nana. Mas... Ele parece tão... - ponderou, procurando as palavras certas, mordendo o lábio inferior. - Gentil.

- Só pode ser brincadeira. - a babá riu nervosa, balançando a cabeça negativamente. - Está bem, eu não vou interferir, é bom você sair e conhecer um pouco o mundo lá fora... Mesmo que seja ao lado de um demônio. Eu vou proteger você e te apoiar, mas se cuide.

- Não se preocupe, Nana, apesar de tudo, vou tomar cuidado.

- Cuidado? - Nathaniel perguntou, entrando no quarto, intrometido, com um sorriso galanteador. - Cuidado com o quê?

- E-eu... - travou.

- Com o treinamento. - os dois olharam para a "babá", com o cenho franzido. - É. Angel resolveu sair hoje para treinar e sozinha, ela disse que precisava ajudar mais em campo então está tentando ampliar seus poderes para matar. - olhou para a garota, com um olhar de "vai ter que aprender a mentir". A princesa concordou com as palavras de Nana prontamente, olhando para o noivo.

- Oh, querida, isso é ótimo! - o arcanjo sorriu, empolgado, sentando-se de frente para a garota que estava na cama, com Nana em pé ao lado dos dois. - Você finalmente está se comportando da maneira correta. Matar é o que nós fazemos de melhor, e você como futura rainha, sabe que isso é ótimo para nós. Vai treinar amanhã? Posso ir com você. - deu de ombros.

- Eu vou, mas, é... - Angel mordeu o lábio inferior, nervosa. Não sabia mentir, mas teria que fazer alguma coisa ou estaria perdida. - Eu prefiro fazer isso sozinha. Em campo de batalha que eu quero lhe mostrar o que posso fazer. Seria como uma... Surpresa.

- Essa é minha garota. - sorriu, convencido, mas logo o desmanchou, olhando com certa repulsa para a mulher ao lado da cama de Angel. - Nana, você pode sair, sim? Quero ficar a sós com a minha noiva. - a moça olhou para Angel, buscando confirmação, que acenou positivamente com a cabeça. Nathaniel olhou para a noiva, que estava um tanto inquieta. Estava tudo muito estranho, ele sabia disso, mas o que? - Pode perguntar, amor.

- Como sabe que tenho uma pergunta para você?

- Bem, você não sabe disfarçar, você fica um tanto nervosa e inquieta, igual quando está mentindo, afinal, você não consegue.

- Ah... - se preocupou. Ele havia notado? - É.

- Tudo bem, pergunte. - a olhou atentamente, vendo-a ponderar um pouco.

- Nathaniel, você viveu no começo da guerra, não é? - Angel perguntou, finalmente.

- Sim. Há exatamente 4.000 anos atrás.

- Você se lembra dos motivos de tudo isso?

- É óbvio, Angel, a Terra.

- Sim, mas... - ela mordeu o lábio inferior, pensando em Derick. - Não é possível que seja tudo isso, não mesmo.

- Eu era só uma criança na época. E bom, até hoje ninguém sabe o "real motivo" de tudo isso. - ele deu de ombros, soltando os cabelos um pouco longos do elástico. - Mas até que é bom, devemos mesmo acabar com todos esses demônios idiotas. Tudo isso deveria ser nosso, somos a raça mais forte.

- E-eu... Eu não sei sobre nada.

- Eu tinha 800 anos quando a guerra começou, e nessa época eu nem sei se deveríamos chamar de guerra, já que era muito mais "pacífico", digamos assim. O Rei das Trevas e seu pai, o Rei dos Céus, brigavam, mas eram entre si, apesar do desejo de ambos quererem a Terra, nenhum sangue havia sido derramado. - ele mordeu o inferior da bochecha, odiando ter que explicar tudo aquilo. - Mas eu me lembro que quando fiz 1.500 anos, a Guerra Divina se alastrou de vez, e o Rei das Trevas e a Rainha Celeste lutaram ferozmente, já que seu pai estava um pouco doente quando isso aconteceu, e sua mãe teve que assumir o trono. - sorriu discretamente, mas Angel percebeu um pouco de maldade ali. - 20% das fadas foram mortas naquela confusão, 40% dos humanos também, mas quem mais sofreu foram os magos, que se foram perdidos 70% de sua raça. Foi nessa época que Anastácia veio para o Céu, ela tinha 1.000 anos e era rainha antes se renunciar para ela e o seu povo sobrevivente poderem continuar vivos. - ele revirou os olhos. Ah, como ele odiava aquela maga estúpida. - E também foi nessa época que teve a criação dos Sete Pecados Capitais e das Sete Virtudes, e um ano depois você nasceu e seu pai foi morto.

- É tanta coisa... - murmurou, depois de ouvir como seu noivo se referia ao seu pai com tanta frieza.

- É, quando seu pai foi morto, foi para proteger você daqueles demônios nojentos.

- Vocês não sabem se foi realmente um demônio, assim como não sabem o verdadeiro motivo dessa guerra. Sempre me disseram que meu pai morreu lutando com um para me salvar... Mas vocês não sabem disso.

- Está defendendo eles, Angel? - Nathaniel riu nasalado, com um olhar impiedoso.

- O-o quê...? - ela gaguejou. Droga.

- É o que está parecendo. Você está defendendo aquela raça imunda e inferior.

- Ninguém é inferior a nada ou alguém, Nathaniel. Somos todos iguais, e essa ambição por algo que não sabemos se pode durar é estupidez! - a garota se levantou bruscamente, sendo seguida pelo arcanjo que agarrou o braço dela com uma força brutal.

- Cale a boca. - ele sussurrou perto do rosto dela, com a raiva estampada em seus olhos. Estava perdendo a paciência com aquela garota. Quem ela pensava que era? - Você não entende, é praticamente uma órfã. Vive só aqui nesse quarto abandonado, escrevendo bobagens nesse livro idiota. O que você sabe sobre ter ambição? Sobre querer essa Terra porque ela é enorme, bonita e eficaz para nós? O que você sabe sobre qualquer coisa? Nem para uma luta decente você serve, não sei como conseguiu sobreviver hoje no seu próprio treino. Mas tudo bem, quando você se casar comigo não terá mais essas mordomias. - levou uma mão até o rosto dela, puxando-o em sua direção, sem soltar o braço dela com a outra. - Vai ser mulher de verdade. - riu, dando um beijo casto no canto dos lábios dela, fazendo-a fechar os olhos fortemente e sentir um breve enjôo. - Te vejo mais tarde, amor.

Nathaniel a soltou, saindo do quarto com um sorriso satisfeito em sua face.

Angel caiu sentada na cama, finalmente se pondo a chorar, até ver sua babá entrar no quarto correndo, com um semblante preocupado.

- O que aquele porco fez com você, meu anjo? - Nana perguntou, abraçando a princesa e se sentando do dela dela.

- Nada, Nana. - fungou. - Só disse a verdade.

- Você quer se casar com ele, querida?

- Eu não entendo muito bem esse negócio. Mas é da vontade de minha mãe, não posso deixá-la triste. Ela já é assim tempo suficiente...

- Seu coração é tão bom, Angel. Você merece ser feliz. - a mulher deu de ombros.

- Serei feliz se ao menos conhecer mais sobre a vida. Derick me mostrou muitas coisas hoje, e eu não preciso sair só se for para lutar. Agora que tenho acesso, posso dizer que vou treinar e me encontrar com ele.

- Isso é perigoso, querida. Ele foi legal hoje, mas amanhã pode cumprir o que prometeu e matar você num piscar de olhos. Ele ainda é um demônio!

- Não sinto medo, Nana. É apenas curiosidade. E ninguém aqui em cima vai matar essa vontade que eu tenho de conhecer as coisas, mas ele... - ela sorriu involuntariamente. - Ele é livre.

- Tudo bem. Eu já disse que te apoio em absolutamente tudo... Mas ainda sim, ele não é um demônio comum. É um pecado, é o próximo Rei das Trevas. - Nana passou a mão pelos cabelos loiros de Angel. Estava preocupada, mas ele, apesar de ela não querer admitir, fez bem para sua garota. - Cuidado.

- Está bem...

Dia seguinte...

- Princesa. - Derick sorriu levemente ao ver a garota, não hesitando em passar os olhos pelo corpo da mesma. - Você veio...

- Eu... Gostei de ontem. - Angel sorriu de volta, abaixando as asas. Por um momento, sentiu tensão no ar, e olhou para o garoto, sem esconder o certo pavor que tomava conta de si. - Vai me matar?

- Para a sua sorte não estou afim de fazer isso. - suspirou, confuso, mas fazendo o anjo sorrir.

- Que lisonjeiro. - ela falou antes do garoto se jogar no chão, se encostando em uma rocha, levando as mãos aos pés. - Está tudo bem?

- Ah, é que meus pés estão destruídos! Tenho lutado demais e não tenho descansado. Poxa, como eu estou precisando de uma boa e longa massagem erótica. - o semblante do demônio se tornou cheio de luxúria, mas ao olhar a confusão e a curiosidade nos olhos da princesa, ele engoliu em seco. - Quer dizer, só massagem, é.

- Massagem?

- Não conhece? Eu vou fazer uma em você, deite e relaxe.

Angel deu de ombros, se sentando na grama e encostando sua cabeça em uma rocha, não era nada confortável, mas eles estavam no meio de uma clareira!

Ele se colocou de frente para a garota, colocando as mãos em um de seus pés.

- Sabe o que está fazendo, príncipe Derick? - ela riu ao sentir as mãos dele apertarem de leve seu pé.

- Tenho minhas especialidades além da foda, princesa. - ele piscou para ela.

- Como?

- Esquece. Veja como é bom.

- Hmm... - o anjo concordou, mas ainda ria. - É, bem bom mesmo, mas faz cócegas.

- Relaxa, princesa... - Derick sussurrou, a analisando minuciosamente.

A viu fechar os olhos, e suspirar baixinho com o toque dele em seus pés. Ela relaxou e sentiu a tensão de seus dedos sumirem, ele era bom naquilo.

Quem diria que Derick, o príncipe mais temido da Terra, estaria fazendo massagem nos pés de um anjo. Se lhe contassem isso até uns dias atrás ele provavelmente riria e arrancaria a cabeça do mentiroso. Mas olhe só onde está agora.

Mordeu o lábio inferior com força quando aos poucos, a princesa soltou um murmúrio baixo seguido de um gemido aconchegante. Droga, ela estava relaxada até demais. E ele não conseguiria controlar seus instintos daquele jeito.

Soltou abruptamente o pé da garota, se levantando e afastando-se dela rapidamente, levantando, fazendo-a o olhar confusa pela atitude repentina.

- Estava tão bom, por que parou? - Angel perguntou confusa, se levantando também.

"Isso só pode ser algum tipo de tortura!"

- É... - ele balançou a cabeça negativamente, tentando espantar qualquer tipo de pensamento sobre aquela garota. Mas a inocência dela o encantava, e ele não negaria se lhe perguntassem se queria devorar aquela princesa, mesmo sabendo que não podia. Tratou-se rapidamente de mudar de assunto. - Já brincou de pique-pega, princesa?

- Não. - ela respondeu ainda confusa, ainda mais com a mudança de palavras tão repentinamente, mas relevou, estava curiosa a respeito daquele tal de "pique-pega". - O que é?

- Você tem que correr atrás de outra pessoa e pegar ela, e depois que você faz isso, é a vez dela tentar te pegar. - Derick deu de ombros. - É divertido, eu brincava com meus irmãos disso quando dávamos uma escapada dos treinos.

- Parece legal.

- O que acha? Vamos brincar? Só tem nós dois aqui, mas, acho que você vai gostar.

- Sim, sim, sim! - falou Angel, batendo palminhas e sorrindo ansiosa.

- Tudo bem, então... - o demônio riu da empolgação dela com algo tão simples. Tocou no braço da garota e saiu correndo em seguida, rindo da cara de indignada que ela fez. - Está com você.

- Ei! Isso é trapaça, eu não estava pronta!

- Tenta me pegar, princesa. Ou vai ficar aqui chorando pelo leite derramado?

Angel riu, começando a correr em direção ao demônio, que mesmo com ambos brincando, tentava esconder a presença dos dois. Tudo era muito arriscado apesar do lugar deserto em que se encontravam.

Em um momento de distração da parte dele, a garota aproveitou para abrir as asas e rapidamente encostar suas mãos no braço do rapaz, que arregalou os olhos.

- Te peguei!

- Ah, isso vai ter volta, princesa.

A garota ria como uma criança. Nunca havia se divertido tanto em sua vida.
Os dois correndo pela grama, as vezes se escondendo atrás das árvores e das rochas para não serem pegos, estava sendo extremamente divertido, ainda mais quando involuntariamente ambos acabavam usando seus poderes para correrem mais rápido.

Derick pegou Angel mais duas vezes, mas ela conseguiu inverter a situação, pegando ele desprevenido, e depois ela correu para o rio que tinha ali perto, enquanto Derick corria para se aproximar.

O anjo entrou dentro do rio, com a água batendo somente até um pouco acima da canela, já ele parou na beira, a observando com um sorriso divertido no rosto. Ela parecia tão inocente, tão alheia ao mundo. E realmente era. Isso que o encantava.

Angel também mantinha um sorriso brincalhão nos lábios, com os olhos azuis vidrados nos do demônio.
A água do rio lhe trouxe uma ótima sensação. Uma calmaria diferente, além de deixar seus pés frios e molhados, o que a fazia ter vontade de pular na água fria e esquecer da vida.

- Não vai mais brincar? - a futura rainha dos céus perguntou, com um sorriso infantil ainda presente em sua face.

- Eu não vou entrar aí para te pegar, princesa. - o líder da Elite do Inferno respondeu, com os braços cruzados e um sorriso divertido nos lábios.

- A água está muito boa. Venha! - ela o chamou, e ele, mesmo que involuntariamente, considerou a possibilidade. - Você não vai se arrepender, príncipe Derick.

Ele soltou uma risada nasalada, se dando por vencido. Colocou os dois pés na dentro do rio, vendo os peixes passando por eles e sendo levados pela pequena correnteza.

Aproveitando a sua distração, Angel, com seus poderes, fez uma pequena bola de água e lançou em direção ao rosto do garoto, o acertando em cheio.

- Ah, então vai ser desse jeito? Tudo bem...

E quando se deram conta, os poderes já não estavam mais presentes. Usavam as mãos para jogarem água um no outro, enquanto riam sem parar.
Já haviam caído e se levantado milhões de vezes para continuarem a brincadeira.

Estavam encharcados, cansados. Saíram do rio, de sentando na beira, para em seguida se jogarem na grama, um do lado do outro, ainda sem pararem de rir.

- Eu disse que seria divertido. - disse Derick, virando a cabeça para o lado, enxergando as atualizações da princesa, que já o encarava a um tempinho.

- Foi sim, eu adorei. - ela corou, desviando o olhar daquela imensidão negra. - Mas eu preciso voltar para casa. - olhou para o sol que já estava quase no lado oeste. Se levantou bruscamente, o sol em breve iria se pôr. - Droga, a Nana vai me matar por eu estar tão molhada.

- Relaxa, olha só... - a personificação da Luxúria pensou um pouco, se levantando também. - Torce o cabelo, eu vou secar suas asas com meus poderes e as roupas vou tentar também, mas não vou poder fazer muito, estou esgotado.

- Tudo bem, obrigada. - Angel sorriu quando ele usou os seus poderes para deixá-la normalmente apresentável de novo, e viu que o mesmo também precisava ser seco. - Quer que eu...?

- Não, tranquilo. Eu não tenho que dar satisfação aos subordinados do meu pai.

- Obrigada, de verdade. Esses dois dias foram... Incríveis. Eu não disse isso ontem, mas... - a princesa corou, mordendo o lábio inferior. - Eu gostei de te conhecer. - Derick sorriu levemente com as palavras proferidas por ela, e se afastou quando ela estava já quase completamente seca, só faltava o cabelo. - Você está me mostrando coisas que eu jamais imaginaria saber. Nunca tive alguém para me ensinar e me ouvir.

- Não se importa com o fato de que eu sou um demônio que quer matar você? - o príncipe perguntou, debochado.

- Eu acho que não tenho mais tanto medo. - confessou. - Não depois de hoje. - ela riu e ele a acompanhou. Pareciam duas crianças.

- Gosto da sua companhia, princesa. Eu também nunca fiquei com alguém mais de 24 horas sem matar ou transar. É algo inovador com você. Eu gosto disso. Conversar com você tem sido... Legal. - ele procurou a palavra certa, mas se amaldiçoou quando soltou somente um "legal". - Nos veremos de novo amanhã?

- Parece que isso vai se tornar algo rotineiro.

- Não quer?

- Não estou reclamando. - a garota riu, abrindo as asas, pronta para voar. Colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha. - Eu quero.

- Te vejo amanhã então, princesa. - ele a encarou mais uma vez.

- Até, Derick. - ela falou, se afastando.

Ele sorriu uma última vez, vendo-a virar de costas e sair voando em direção ao Céu, sumindo no meio das nuvens.

O que estava acontecendo com ele? Em momento algum de sua vida pensou que se divertiria tanto sem sexo, ainda por cima com um anjo!

Ele se tornaria Rei e ela Rainha. Eles dariam continuidade a Guerra Divina? Derick não queria pensar nisso. Até porque, ele não matou a princesa ainda, mas também não havia se afastado.

Sabia que estava gostando daquilo, mesmo sendo errado. Mas ninguém sabia. Então por que temer?

Deu de ombros.

A única coisa que sabia, era que não queria ficar longe da princesa, não queria matá-la, pelo menos não ainda. Ele não sentia mais aquilo, aquele desejo suicida pelo sangue dela. O demônio sabia que queria somente a companhia dela, isso já o satisfazia, o que era estranho.

Passou a mão pelos cabelos molhados, puxando-os, nervoso.
Não queria pensar naquilo. E não iria.

Só queria pensar nos cabelos loiros e olhos azuis inocentes de certo anjo. Sem nenhuma preocupação.

Sorriu, caminhando na direção onde ficava a entrada para o Inferno. Sua casa.

- Ele foi mesmo vê-la? - o Rei das Trevas perguntou alto, nervoso.

- Sim. - Domminic deu de ombros, ainda ajoelhado perante ao seu pai.

Derick havia conversado no dia anterior com seu pai, e tinha lhe prometido que iria matar o anjo sem falta. Mesmo que fosse demorar.

Tinha dito que a encontraria novamente, seu filho até então não estava mentindo para si.

Mas Derick sempre fora um demônio de sangue frio. Por que ele não matou o anjo ainda?

- Eu sabia que Derick não resistiria. Mas achei que ele cumpriria a promessa e a mataria. Ele me disse ontem que o conflito que faria seria tremendo, que ele a mataria! - o demônio mais poderoso, gritou exaltado.

- Eles realmente não pareciam em conflito. - a Ira debochou, cruzando os braços fortes. - E bom, ele disse que não valia a pena matá-la agora, que ela não vale a pena. Mas é de meu irmão que estamos falando, ele vai cumprir o que prometeu. - Domminic defendeu o irmão. Mesmo que irritado com ele, afinal, ele não estava nem um pouco satisfeito em seguir ele e um ser insignificante.

O rei sabia que ele estava certo. Mas Derick poderia ainda cair na tentação, e ele sabia que não podia.

Tanto por ele, quanto por seu clã.

- Domminic, meu filho, quero que o siga amanhã mais uma vez, e agora é a última e definitiva. - falou o Rei das Trevas, convicto. - Veja se ele vai se encontrar com ela de novo, quanto a isso tudo bem, mas só se ele a matar. E se seu irmão não fizer nada com ela... - era uma atitude radical a que estava prestes a tomar, afinal era a palavra de Derick que também estava em jogo. Mas quem disse que ele se importava? Sorriu maléfico. - Mate seu irmão.



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