Two

Saturday

Sábado à noite, na maioria das vezes, significava descanso para Claire, talvez um filme, ou alguns episódios de sua série favorita, e uma taça de vinho, com certeza. Mas não essa noite.

Claire analisava, pela milésima vez, seu guarda-roupas, tentando decidir o que vestir para o jantar na casa de Tom e Maya. Ela não podia estar mais nervosa, afinal há tempos ela não saía de casa, muito menos para um encontro como esse. Espera, será que ela podia chamar isso de encontro?

Enfim, suas opções não eram vastas, então, depois de deliberar por mais alguns minutos, decidiu em uma saia midi de cintura alta, na cor caramelo e uma blusa branca, com pequenos detalhes nas mangas. Nos pés, um par de sandálias de salto baixo foram a escolha de Claire, que depois de colocar tudo que precisava na bolsa, entrou no táxi que a levou até o endereço que Tom havia lhe passado.

Ao chegar lá, ela se surpreendeu com o tamanho da casa, que pra falar a verdade, combinava mais com o termo mansão. O lugar era praticamente coberto de árvores, a casa sendo o único destaque entre tanto verde. A estrutura era moderna, com vidraças cobertas com cortinas, que iam do teto ao chão. Detalhes em madeira davam um toque especial, já que as paredes que não eram vidraças, haviam sido pintadas de preto, algo que não era muito comum.

Talvez ela tenha ficado tempo demais apreciando os detalhes, pois quando percebeu, Maya havia aberto a porta e corrido até seus braços. —Srta. Claire, você chegou! — exclamou a pequena, exalando animação. —Oi, Maya! Como você está linda! — Claire elogiou a garotinha, que vestia um de seus melhores vestidos. —Obrigada! Vem, vamos entrar! — Maya puxou a mão de Claire, a levando até a porta da casa.

—Papai, a Srta. Claire chegou!— Maya exclamou, soltando a mão da professora. Tom apareceu antes mesmo que ela pudesse falar alguma coisa, usando uma camisa social branca, com alguns dos botões abertos. —Você veio! — o moreno abriu um sorriso ao vê-la. —Eu vim! — respondeu Claire, sem graça com o olhar intenso de Tom.

—Ela não está linda, papai? — indagou Maya, deixando ambos adultos envergonhados. —Oh, é... sim! Muito linda! — Tom afirmou, fazendo de tudo pra disfarçar o nervosismo. —Obrigada, Tom! Posso te chamar assim? — Claire indagou. —É meu nome, então... sim! — ele respondeu, se sentindo um idiota assim que as palavras saíram de sua boca.

—Oh, alguns pais preferem ser chamados pelo sobrenome, então achei melhor perguntar. —Claire explicou, sentindo o rosto corar. —Não, tudo bem! Tom está ótimo por mim! — ele afirmou, sorrindo ao vê-la sorrir.

Depois das primeiras interações embaraçosas, Tom finalmente à convidou para entrar, e ela aceitou, ficando ainda mais surpresa com o interior da casa. Os móveis eram todos embutidos, e como no lado de fora, a maioria na cor preta, com pequenos detalhes em madeira.

Claire foi tirada de seus pensamentos pela voz animada de Maya, que agora já estava na cozinha, acompanhada de uma mulher mais velha. —Louise, essa é a Srta. Claire! — exclamou a pequena, apontando para a professora, que sorriu.

—É um prazer finalmente te conhecer, Srta. Claire! A Maya têm falado muito bem de você! — a mais velha sorriu, á puxando para um abraço. —O prazer é meu! — Claire respondeu, pega de surpresa com o gesto.

—Essa é Louise, ela nos ajuda com... praticamente tudo! — afirmou Tom, colocando um braço nos ombros da mulher, que sorriu ao responder. —Você sempre exagera, não é Thomas? — murmurou a mais velha, balançando a cabeça. Então essa era Louise.

—Bom, agora que você chegou e o jantar está quase pronto, eu posso ir embora. — anunciou a mais velha, pegando Claire de surpresa. —Oh, não vai ficar e jantar com a gente? — questionou a mais nova. —Imagina! Eu já fiz a minha parte, agora vocês sentem e aproveitem! — afirmou Louise.

Mesmo com a insistência de Claire, Louise afirmou que precisava ir pra casa, cuidar do cachorro que já havia ficado o dia todo sozinho. Então, depois de algumas breves despedidas, a mulher foi embora, deixando Tom, Claire e Maya sozinhos.

Tom disse para Claire se sentir em casa, enquanto ele terminava os preparativos do jantar, não que fossem muitos, já que Louise havia feito a maior parte. Mas isso não quer dizer que ela não apreciou a vista que tinha do sofá da sala, Tom casualmente mexendo as panelas, ação que fazia seus músculos ainda mais proeminentes debaixo da camisa social branca que ele usava.

Claire só percebeu que estava o encarando quando de repente, um cachorro apareceu em seu colo, tentando lamber seu rosto. —Oh, Deus! Eu não sabia que tinham cachorro! — disse ela, tentando acalmar o animal. —Maya, o que conversamos sobre abrir o portão da Tessa? — em instantes, Tom estava na sala, que era conectada à cozinha.

—Desculpa, papai! Eu queria que ela conhecesse a Srta. Claire! — afirmou a pequena, enquanto Tom tentava afastar o cachorro. —Mas não sabemos se a Srta. Claire gosta de animais, por isso deveríamos ter perguntado antes, como sempre fizemos com as visitas. Lembra disso? — disse o pai de Maya, que assentiu, parecendo chateada.

Tom continuava tendo problemas para conter a felicidade do animal e foi aí que Claire decidiu interferir. —Tudo bem! Eu gosto de animais! — ela afirmou, fazendo carinho nas orelhas pontudas de quem ela, mais tarde, aprendeu ser Tessa.

Com o jantar finalmente servido, Claire foi até o banheiro lavar as mãos depois de brincar com Tessa, ficando mais uma vez surpresa com a modernidade do cômodo, que como o restante da casa, era de tirar o fôlego.

Na mesa, os pratos de medalhões de porco e gnocchi, foram acompanhados de vinho para os mais velhos, enquanto Maya tomava suco de maçã, contando uma de suas inacabáveis histórias. Enquanto jantavam, Tessa continuou dando voltas e mais voltas ao redor da mesa, fazendo de tudo para ganhar alguma coisa.

Quando Tom foi até a cozinha buscar mais suco para Maya, a garotinha rapidamente colocou uma das mãos no seu prato, roubando um gnocchi, que em um rápido movimento, foi parar na boca de Tessa, que agora abanava freneticamente seu rabo. Claire arregalou os olhos para a pequena, que sorrindo, fez sinal de silêncio, arrancando risadas da professora.

Depois do jantar, Claire ajudou Tom a colocar tudo o que havia sido usado na lava-louças, enquanto Maya assistia um de seus desenhos favoritos. Entretanto, quando chegou a hora dela ir pra cama, Maya protestou, dizendo que queria ficar mais um pouco com os adultos. —Então eu quero que a Srta. Claire leia uma história hoje! — exclamou a pequena, surpreendendo os adultos.

Tom olhou rapidamente para Claire, que ficou sem saber o que dizer. —Oh, eu... se for tudo bem por você, Tom?! — ela questionou, se sentindo insegura em modificar a rotina da família. —Sim, quer dizer, se você quiser... claro! — Tom sorriu e antes que Claire pudesse falar mais alguma coisa, Maya já estava à puxando para o seu quarto.

A única palavra que Claire conseguiu pensar para descrever o quarto de Maya era mágico. Tudo era perfeitamente decorado, com a personalidade da garotinha, desde os papéis de parede coloridos, até as fotos penduradas em um mural iluminado com inúmeros cordões de luzes.

Depois de colocar o pijama e escolher um livro, Maya subiu na cama, deixando espaço suficiente para Claire fazer o mesmo. Como a professora já esperava, não demorou muito para que a pequena pegasse no sono, leves roncos deixando seus lábios semi-abertos. Deixando o livro de lado, Claire saiu da cama, depositando um beijo na testa de Maya, a cobrindo com um cobertor estampado. O que a mais velha não sabia era que, enquanto ela fazia isso, Tom ás observava do lado de fora, com um grande sorriso no rosto.

Antes de sair do quarto de Maya, Claire parou em frente ao mural de fotos para observá-las. A maioria delas era de Tom e Maya, mas algumas acabaram lhe chamando a atenção. Uma mulher ruiva, mais ou menos da mesma idade de Claire, segurava um bebê, do qual a professora imaginou ser Maya, nos braços.

Será que essa era a mãe de Maya? O que será que havia acontecido? Porquê parece que as fotos com a mulher eram poucas, em relação com as de Tom e a filha? O que aconteceu?

As perguntas rondavam a cabeça de Claire, que depois de alguns minutos, voltou para a sala, onde Tom à esperava com duas taças e outra garrafa de vinho. —Ela deu muito trabalho? — questionou o moreno, a convidando para sentar. —Imagina! Ela é a criança mais doce que eu conheço. — afirmou a professora, arrancando um sorriso do pai da criança.

Com taças cheias, Tom e Claire as aproximaram em um brinde, sorrisos estampados nos rostos. —Essa casa é incrível, Tom! — Claire elogiou, desesperada para finalmente quebrar o silêncio e a tensão que pairava no ar. —Oh, obrigado! Ela foi projetada por um dos melhores arquitetos de Londres e grande amigo meu, Harrison Osterfield! — respondeu Tom, colocando sua taça de lado para prestar atenção na conversa.

—Espera, ele não é o "tio Haz"? Acho que Maya já comentou sobre ele. — Claire sorriu, lembrando de uma de suas conversas com a pequena. —É, é ele, sim! Ele é meu melhor amigo, mas Maya insiste em chamá-lo de tio desde o dia em que ela aprendeu a falar. — Tom sorriu, e por alguns segundos, Claire se perdeu em seu sorriso.

Com vinho como companhia, eles passaram o restante da noite conversando. Tom contou que era diretor chefe de uma grande empresa de software, enquanto Claire explicou para o moreno como veio parar lecionando na escola de Maya.

Quando Claire sentiu a bebida fazer efeito, ela finalmente teve coragem para perguntar o que queria saber desde o momento em que saiu do quarto de Maya. —Tom, eu... posso te fazer uma pergunta? — indagou ela, continuando ao ver Tom assentir. —Eu vi algumas fotos quando estava no quarto de Maya e... aquela mulher ruiva, ela é mãe da Maya? — questionou, vendo Tom imediatamente ficar tenso.

Coçando a garganta, ele respondeu. —É sim! O nome dela era Sophie! — respondeu o moreno, e Claire teve certeza que sentiu seu coração partir ao ouvir a palavra era. —O que aconteceu? — insistiu Claire, que logo se arrependeu. —Me desculpa, Tom! Estou sendo indelicada, você não precisa responder... — ela tentou se desculpar, mas Tom a interrompeu. —Não, tá tudo bem! Nos conhecemos na faculdade, ela estudava pediatria. Ela amava crianças, então depois de um ano juntos, decidimos ter o nosso próprio filho. Todo mundo achou que estávamos loucos por querer uma criança com nossa idade mas, eu não sei, sentíamos que era o certo, entende? — ele suspirou fundo, antes de continuar.

—Nove meses depois, Maya nasceu e eu acho que nunca vi Sophie tão feliz! Eu não sei, era como se... se finalmente estivéssemos completos. — parando novamente, o moreno dirigiu á Claire um sorriso torto. —Quando Maya estava com um ano e meio, Sophie e eu completamos três anos juntos e pra comemorar, decidi deixá-la com os meus pais, e levar a Sophie pra jantar, sabe... uma noite só pra gente. — Tom respirou fundo antes de continuar a história. —Um motorista bêbado nos atingiu em alta velocidade, á matando instantaneamente. Ela só tinha 22 anos! — Tom quase não conseguiu fazer com que as palavras saíssem de sua boca, sem que derramasse lágrimas. —Tom, eu sinto muito! Eu não deveria ter feito você falar disso! — disse Claire, se sentindo idiota por tê-lo feito reviver essa dura e triste memória.

Enxugando suas lágrimas com a manga da camisa, Tom balançou a cabeça. —Não, tudo bem! Eu tenho que viver com isso, afinal a culpa foi minha, eu que dirigia a droga do carro. — as palavras, junto com a expressão de completa tristeza de Tom foram demais pra Claire, que se aproximou, segurando firme suas mãos. —Tom, olha pra mim! — ordenou a professora, mas o moreno continuou. —Deveria ter sido eu! Eu devia ter visto as luzes do caminhão e virado o carro há tempo. — Claire não aguentava mais vê-lo assim, ela sentia que precisava fazer alguma coisa. —Tom, olha pra mim! — ela repetiu e dessa vez, ele obedeceu a sua ordem. —A culpa não foi sua! Você mesmo disse que foi um motorista bêbado que causou o acidente. — Claire continuou reafirmando isso, e se precisasse, iria continuar até sentir que Tom acreditasse em suas palavras.

Se alguém perguntasse o que aconteceu depois disso, ambos ficariam sem resposta. Pode ter sido a bebida, ou talvez as emoções que já estavam á flor da pele, uma mistura de ambos, quem sabe? O que os levou á lentamente se inclinar e acabar com a distância entre eles com um beijo, não importava mais. O que importava agora eram os sentimentos que estavam sendo transmitidos um pelo outro durante o leve toque de seus lábios.

Trinta segundos, um minuto, talvez dois? Claire não fazia mais ideia de quanto tempo havia se passado e pra falar a verdade, uma eternidade poderia ter passado enquanto eles tivessem se beijando. Quando a mão da morena ia em direção ao rosto de Tom, ele subitamente se afastou, desconectando seus lábios com um audível som de "pop", que foi o suficiente para tirá-los do transe em que pareciam se encontrar.

Tom tentou falar alguma coisa, mas Claire estava tão envergonhada que o interrompeu. —Eu sinto muito, Tom! Eu... não sei o que aconteceu! — disse ela, criando distância entre eles. Tom estava paralisado, ele não conseguia entender o que havia acabado de acontecer. Ele havia mesmo beijado a professora da filha, enquanto contava à ela sobre Sophie?

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz frenética de Claire, dizendo que já estava tarde e que achava melhor voltar pra casa. —Eu... eu vou chamar um táxi! — exclamou Tom, antes de levantar do sofá e correr até seu quarto. O moreno sabia o quão idiota que estava sendo por deixá-la sozinha naquele momento, mas ele precisava mesmo de alguns minutos sozinho, pra tentar colocar os milhares de pensamentos no lugar.

Claire sentia que precisava fazer alguma coisa, então decidiu levar o que sobrou da garrafa de vinho e as taças para a cozinha, antes de pegar sua bolsa e ir até a porta. Ela pensou mesmo em esperar do lado de fora, estando tão envergonhada, que não queria mais ter que olhar pra Tom essa noite, mas isso seria um tanto imaturo, ainda mais vindo da professora da filha.

—O táxi já deve estar chegando! — a voz súbita de Tom fez com que Claire se assustasse, dando um leve salto. —Ótimo! — ela respondeu, tentando disfarçar o quão sem graça estava. Alguns minutos, que mais pareceram uma eternidade, se passaram quando de repente, ambos foram tirados de seus pensamentos pela som do celular de Tom, avisando que o táxi havia chegado.

—Está aqui! — Tom afirmou, mostrando a tela do aparelho. —Ótimo! — Claire repetiu, se sentindo ainda mais estúpida. —Claire, eu... — Tom pareceu querer começar a falar, mas Claire estava tão sem graça, que tudo que ela queria no momento, era não estar mais ali.

—Obrigada pelo jantar, Tom! Agradeça Louise pela comida! A gente se vê na escola, tchau! — a morena praticamente vomitou as palavras, dando chance alguma á Tom, que ficou boquiaberto, vendo Claire entrar no táxi e desaparecer em segundos.

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