O DUQUE

Capítulo 1 – O Duque.

Acho que não existia nada no mundo que Min Hee gostasse mais do que a minha geleia de amora. A menina casaria com um pote de geleia sem pensar duas vezes se pudesse, tenho certeza disso. Ela sempre se lambuzava toda ao comer e me partia o coração que a Madame Sun Hee a proibisse de comer apenas porque manchava sua pele.

Eu não podia ir contra a Madame, já que ela era a dona da casa e havia me acolhido ali depois de tudo, mas ainda sim, me partia o coração. Ela não era a melhor das mãe, mas sei que fazia tudo aquilo pensando no melhor para a menina.

Min Hee não era como as outras ômegas de 17 anos. Ela era infantil e agia como uma criancinha de 10 anos. O doutor tentou explicar o que ela tinha, mas entre tantas palavras difíceis, eu apenas entendi que minha menininha estava doente.

Eu cuido dela desde que me entendo por gente. Madame Sun e o Senhor Lee sempre confiaram em mim para manter sua filha segura enquanto trabalhavam em suas terras e para o próprio Rei. Eles viajavam a maior parte do tempo e eu realmente agradecia por isso.

Eu amava meu tempo sozinho com Min Hee. A menina era doce, sincera e acima de tudo, não me julgava pelo meu passado. Ela era a única que não me olhava como se eu fosse o ser mais nojento do mundo e que não apontava o dedo para mim para dizer palavras grosseiras. Então eu aproveitava do nosso tempo sozinhos para fazer de tudo o que a menina gostava, porque ela merecia.

– A Madame havia dito que não queria a menina Min comendo essa coisa. – Jinny disse com nojo na voz enquanto olhava para as amoras que eu havia acabado de colher. Ela era a cozinheira mais velha da casa. Costumava me abraçar como se fosse uma mãe, mas hoje em dia, se recusava a tocar um dedo sequer em mim. – Você vai acabar engordando a menina. – Brigou com o nariz empinado.– É isso o que você quer? Que ela acabe encalhada como você? – E era nesses momentos que eu pedia o argumento antes mesmo de começar.

– Jinny, você sabe que...

– Calado Jimin. – Ela me interrompeu com grosseria. – Madame Sun está planejando um bom casamento para Min. Com um Duque de verdade. – Disse venenosa e eu apenas encarei as minhas mãos manchadas pelas frutinhas. – Ela me mandou preparar um pato para o jantar dessa noite. Acho que eles irão fechar o acordo de terras ainda hoje. – Relatou alegre, mas sua expressão logo se fechou. – Ela não ficará mal falada como você.

Já fazia 5 anos que eu era tratado dessa forma. As lágrimas já haviam secado e eu nem sequer conseguia chorar mais pelo ocorrido. Eu havia sido enganado e sofreria o resto da minha vida por isso. Já tinha consciência disso e de nada adiantaria chorar, mesmo que a vontade fosse grande.

– Fico feliz por ela. – Respondi sentindo meus olhos ardendo. – Eu só quero a felicidade da Min.

– Você sabe o que vai acontecer quando ela for embora, não sabe querido? – Jinny sussurrou com a voz carregada de maldade. – Madame Sun colocará você para fora na mesma hora. – Disse com raiva. – Ela só te atura nessa casa porque Min é apegada a você, depois que ela se casar, você vai pra rua.

– Chimchim. – Escutei a voz doce me chamar e eu tive que olhar para cima, para as lágrimas que se formavam nos meus olhos voltarem para seu devido lugar. – O vestido novo que a mamãe me deu, não fecha. – Brigou emburrada.

– Querida, o zíper emperrou. – Ri fraco olhando para o vestido cheio de babados de renda e camadas de tecido nobre. – Vamos lá pra cima, Chimchim vai concertar isso pra você.

– Pense no que eu disse, Jimin. – Escutei Jinny sussurrar enquanto eu saia da cozinha.

– Você está fazendo geleia para mim? – A menina perguntou animada.

– A geleia ira ficar para outro dia. Seus pais estão voltando. – Respondi cansado subindo as escadas com ela. – Ranque o vestido. Irei pegar meu kit de costura. – Ela me olhava atentamente enquanto eu arrumava o zíper do vestido que Madame Sun havia planejado para aquela data.

Min Hee já tinha 17 anos. Já estava na idade certa para uma ômega se casar. Mesmo sendo doente, ela não teria problemas contanto que tivesse um título e um dote, o que era o caso, já que o Senhor Lee estava disposto a dar uma pequena fortuna como dote de sua filha única. E um Duque era o sonho de toda mãe. Madame Sun não deixaria essa oportunidade passar.

Depois de vestir a menina e conferir que ela estava perfumada e penteada. Brinquei com ela até a hora do jantar. Escutei quando os senhores da casa chegaram, mas eles nem sequer passaram pelo quarto da filha. As vozes na sala de jantar eram altas e descontraídas. Senhor Lee contava algo sobre a partida de esgrima com o Rei, ao qual se gabava por sua performance e Madame Sun falava algo sobre a prataria que havia herdade de sua tia avó, uma verdadeira relíquia.

Eu pouco ouvia a voz do convidado, mas conseguia sentir seu cheiro forte e amadeirado. Sua presença era intensa, como se era esperado de um verdadeiro alfa. Senti alguns pelinhos se arrepiarem com o pensamento. Eu era contra Min se casar. Não por saber que seria jogado na rua logo depois, mas sim por medo do que o futuro marido pudesse fazer com ela. Nem todo mundo entenderia as limitações da garota e era disso que eu tinha medo.

– Min. – Escutei a voz severa da Madame Sun na porta e imediatamente olhei para ela. – Venha. O Duque Jeon está aqui e o jantar já vai ser servido. – Disse com rispidez e eu mais do que depressa me levantei.

– Eu já iria leva-la madame. Estávamos apenas brincando de bonecas. – Respondi arrumando melhor a roupa velha no meu corpo.

– Você não irá descer. Não quero que o duque saiba que temos um impuro como você na casa. Se esconda na cozinha ou vá para o estabulo. Não quero nem sequer ver sua sombra hoje. Ter você na casa dará azar para Min.

– Irei para o estabulo, Madame. – Confirmei. Seria um pesadelo passar mais tempo com Jinny e os cavalos pelo menos não falavam. – Tem certeza que Min ficará bem sozinha? – Perguntei preocupado com a menina, que apenas nos encarava encolhida e em silencio

– Ela irá aprender. Não terá você como baba por muito mais tempo. Em breve estará casada e terá que aprender a se virar sozinha. – Seu olhar era frio e a menina não ousou dizer coisa alguma. – Agora vamos Min.

– Vejo você mais tarde. Se comporte bem. – Disse com um sorriso carinhoso, tentando acalmar a menina. – Lembre-se de sorrir bem bonito para seu marido, Hum. – Ela então sorriu para mim, como se perguntasse se assim estava bom e eu apenas concordei rindo fraco.

Quando ela saiu pela porta, pensei em como seria minha vida sem ver aquele sorriso. Com toda certeza eu sentiria falta de Min Hee. Mesmo eu tento apenas 22, sentia como se ela fosse minha filha. Seria difícil para mim viver sem ela.

Caminhei até os estábulos em passos lentos. Não tinha a menor pressa para chegar até lá e uma garoa fraca caia sobre minha cabeça. Me deitei no feno e me permitir ficar em silencio. Em momentos como aquele, onde estava sozinho comigo mesmo, pensava em como eu havia sido tolo em acreditar que alguém me amaria de verdade. Eu era apenas um maldito ômega, sem títulos ou riquezas. Eu nem ao menos sabia ler. Talvez se eu não fosse tão ignorante, não haveria caído em um conto de fadas.

– Senhor Park – Escutei um voz me gritando ao fundo. Eu já estava naquele estabulo a uma hora, mas os gritos pareciam desesperadores. Sai para fora a tempo de ver um alfa elegante, montado em um cavalo. O Homem estava um pouco molhado pela fina chuva que agora caia, mas nem mesmo isso desmanchava sua pose. – A Senhorita Min Hee está tendo uma crise. Precisamos de você. – Disse me estendendo a mão e eu nem sequer pensei antes de aceitar.

Min costumava ter ataques quando era contrariada. Eu sempre a acalmava e a mantinha sobre controle, mas Madame Sun tinha o dom de irritar a menina. Foi um erro eu ir para um lugar tão longe da casa. Como eu pude ser tão egoísta. Eu deveria ter ficado na cozinha. Ouvir as maldades da Jinny não é nada comparado a manter Min segura.

O Alfa me puxou para cima do cavalo como se eu não pesasse nada. Me manteve a sua frente, seguro pelos seus braços que seguravam as rédeas. Fazia tanto tempo que ninguém, além da Min Hee, chegava tão perto, que era até mesmo estranho para mim. O cheiro forte e amadeirado, me deixava claro que aquele era o duque das terras altas, que Jinny havia dito. O homem que nem sequer deveria me ver. O futuro marido de Min Hee.

Tentei me manter em uma distância segura, ele não me conhecia, não sabia quem eu era, mas repudiaria assim que soubesse. Me manter longe, era o indicado. Não queria ser mandado a forca por não conhecer o meu lugar. Em menos de cinco minutos a galopes rápidos, já avistávamos a casa.

Assim que chegamos, ele desceu do cavalo e estendeu os braços para me pegar, mas recusei o contato descendo pelo outro lado. Corri para dentro, apenas agradecendo pela carona e pedindo desculpas por todo o resto. Entrei pela casa e conseguia ouvir o choro alto e irritado da menina.

Na sala de jantar, os talheres estavam jogados no chão, a comida estava espalhada para todos os lados. Senhor Lee não estava mais ali, mas Madame Sun parecia ainda gritar alguma coisa com a menina. Sem pensar muito, me joguei no chão a abraçando com força e sussurrando que tudo ficaria bem. Ela me apertava com força, como se estivesse com medo de me perder e seu choro aumentou antes de diminuir.

Fechei meus olhos respirando fundo, fazendo um carinho em seus cabelos loiros. A voz irritada de Madame Sun ainda estava presente ao fundo. Senhor Lee agora estava observando a cena de longe enquanto bebia um copo de Whisky. O duque também nos observava com curiosidade.

– Esse é Park Jimin? – Perguntou recebendo uma confirmação do Senhor Lee. – Se ela precisa tanto assim dele, porque ele não estava conosco durante o jantar? – Fechei os olhos com força, já sabendo o que viria pela frente.

– Ele é um.... – Madame Sun hesitou antes de falar. Lutando entre a vergonha de admitir que havia um impuro em suas terras e o prazer de me humilhar. – Ele é um ômega sem honra, Milorde. – Disse por fim.

Ainda abraçando a menina, abri meus olhos a tempo de ver o olhar do Duque vacilar, algo como surpresa e desprezo, os fechei novamente, porque não queria ver mais nada. Min Hee já não chorava mais e eu pude me afastar aos poucos.

– Está melhor querida? – Perguntei com um tom doce.

– Você não vai embora, né Chimchim? – Questionou triste. – Não vai me abandonar, certo? – Haviam dito isso a ela? Meu futuro era incerto e eu sabia disso, mas não deveriam falar disso com ela.

– Não seja tola, Min. Um imundo como ele não pode morar nas terras de um duque. – Madame Sun respondeu afiada.

– Ele não sairá do seu lado, Senhorita Min. – Escutei a voz suave do alfa e me senti estremecer. – Park Jimin ira conosco. 

| IMPURO |

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