Passado e Futuro

Três Anos Atrás

      Faz dias que estou no laboratório, a minha pesquisa já está quase chegando ao fim. Essa água brilhante e estranha que o astronauta Thomas descobriu em outro planeta é um milagre da ciência e da vida, com ela pode fazer muitas coisas, principalmente criar vacinas e muita gente não sofrerá mais de doenças, porém, estou em um projeto só meu sem que a empresa saiba. E eu, finalmente, poderei trazer a minha irmã de volta à vida se a pesquisa der certo.

     Me sento na cadeira segurando a seringa. Aplico no meu braço o vírus. Sinto uma dor horrível, pego um algodão e pressiono onde apliquei a injeção, espero o efeito começar. Ah... Tudo gira, minha cabeça começa a queimar e a suar gotas. Está dando certo. De repente alguém entra no laboratório, é o Jeff.

— Doutora? Ainda é cedo para aplicar isso.

— Sai daqui Jeff... Sai. — Estou fadigada, mal consigo falar.

— Joyce.

    Ele veio até mim, me levantou com cuidado.

— Preciso.. Salvar minha irmã Jeff.. Essa vacina.. — Estou bizarramente fraca.

— Joyce é arriscado. — Sinto preocupação em sua voz.

— Sai cacete...

    Eu empurro ele com força, o garoto cai e bate a cabeça no chão fazendo um barulho de "crack". A sala ficou tomada com poça de sangue de Jeff. Fiquei olhando aquilo, sem entender nada, estou drogada demais com essa coisa que apliquei.

— Jeff ? Ei garoto... Ah não... — Ainda digo pouco fraca, mas tenho pouco força para ficar de pé.

    Aproveitando que o corpo dele esta aqui, tenho uma ideia. Por que não começar o experimento agora? Preparo a seringa devagar, não me sinto bem fazendo isso mas.... Ah... Aplico no corpo morto dele... Vai, fique vivo... Antes que eu veja alguma reação, outros cientistas que trabalham comigo chegam em seu turno. Eles ficam horrorizados com a cena.

— Por favor, ele vai viver. — Tento impedir que eles se aproximem. Estou muito drogada, mas bizarramente tenho consciência.

— Que merda é essa Joyce? — Carlos está com uma expressão horrível de horror, sem acreditar no que está vendo. Vejo isso em seus olhos.

— Carlos eu...

— Você o matou... Joyce?

     Não tenho respostas, olhei pro Carlos, depois pro corpo, e duas pessoas me tiraram de lá e me levaram para uma sala. Merda...

Agora

    Sentada na cama com Thomas e mais duas pessoas, todos estão em silêncio após me contar um pouco do que aconteceu.

— Eu era cientista?

— Era não, é. — Confirma o Josh

— Me desculpe, mas quem é você?

— Sou Josh. Nós coletamos toda a sua pesquisa, relaxa.

— Vou adiantar, deu certo, mas não como você imagina. — O ar de mistério do Thomas me deixa arrepiada, que merda deu agora?.

— Gente chega, quero explicações agora. Digam tudo, mas antes, o Jeff está vivo?

    Thomas respira fundo, se levanta olhando para os outros.

— Após tirar você da sala. Nós pegamos o corpo dele, fizemos todo o procedimento. Percebemos que o corpo dele estava envelhecendo, fizemos mais pesquisas e descobrimos que as células estavam evoluindo mais rápido que o normal. É difícil entender o que aconteceu. E pelo descuido nosso, deixamos o corpo dele na sala sozinho e... Ele saiu — Conclui o Thomas, com certo arrependimento em sua voz

— O encontraram?

— Sim. E não também. — Continuou ele

— Como assim? Eu fiquei esse tempo todo aqui? Desacordada?

Eles se entreolharam, sérios.

— Como vamos explicar isso pra você? — Disse a moça, com o rosto expressando ansiedade e preocupação.

— Joyce, quando voltei do espaço com essas descobertas que fiz, eu soube que eu podia contar com você para fazer pesquisas. Graças a você que as vacinas que criou cura vários tipos de doenças do mundo, incluindo câncer e doenças raras. E eu sei que você fez coisas por fora Joyce, mas queria que continuasse criar algo inédito e fazer alguém voltar a vida é uma ideia de maluco e é possível. Vimos que matou o Jeff sem querer, porém teve culpa em aplicar a vacina nele, então, decidi esconder você. Mas, com a tecnologia que temos, levamos sua consciência para outras realidades enquanto dormia, porque se não, seu corpo não aguentaria ficar tanto tempo desacordada Joyce, a vacina que aplicou em si mesma quase custou sua vida, ela fez você ficar desacordada por muitos anos, é perigoso e bizarro. Você foi para três ou quatro realidades paralelas. Tudo que você fazia com os outros voltou para você nessas realidades, não sei se percebeu, mas foi cobaia na maioria delas. Uma, o Jeff estava morto em seu quarto, na outra no banheiro, e em outra, você estava na banheira, porém, nessa última realidade que esteve na banheira foi um tanto diferente, mas não vamos falar disso agora. Prosseguindo minha amiga. Jeff tem visitado cada universo e matado uma versão sua por vez, tudo por puro ódio. Portanto Joyce, aquele a quem você matou sabe também viajar para outras Mundos, com poder natural que ele ganhou com a vacina que você deu, sim, o elemento da água contida na vacina é mega poderosa e pode gerar reações no corpo que nós mal imaginamos. Jeff se se intitula como Alucino. Ele é perigoso Joyce, o cara conseguiu hackear o sistema e entrar na sua mente, criando assim coisas aleatórias na realidade onde você estava. Você me entendeu?

— Acho que sim. Então resumindo, por causa da vacina fiquei praticamente em coma, e o que me salvou na real foi o fato de eu ter viajado para outras realidades, afim de preservar o meu corpo e a minha consciência?

— Exatamente. — Confirma o Thomas, segurando minha mão.

— Isso é bizarro demais.

    Refletindo fico olhando para ele sem acreditar que era real mesmo. Isso é demais pra mim. Consciência, realidade e.... O Jeff é aquele cara bizarro do Terno Branco. Coloco minhas mãos na cabeça porque doem demais. Só de pensar em tudo isso.

— Joyce você tá bem?

— Só um pouco enjoada...

— Foi devido às viagens, esse cara também mexe com a mente... Ele consegue distorcer as realidades.  Chamamos essas viagens de Impulso. Impulsionamos a sua consciência para outros Universos. Por isso você sempre parava em lugares aleatórios, era um pouco do Jeff e da gente também, pedimos desculpas por isso.

— Tá para, cala a boca, para de falar. — Já estou enjoada dessa conversa toda, só quero comer algo e tomar um bom café.

     Escuto uma risada. O quarto começa a piscar, todos acham estranho aquilo. Passos dançantes, alguém entra no quarto. É ele, Jeff... Agora como Alucino. Todos em minha volta ficam paralisados, como uma estátua.

— Como prometi, que irei te caçar, te torturar e dilacerar você — Diz ele com ar de superioridade, lento, como se estivesse no controle, cara escroto.

— Você... Eu não fiz por mal, me perdoe Jeff. Eu estava fora de mim naquela hora, estava drogada. — O medo vai crescendo em mim. Eu não sou disso, não sou de ter medo... Como fiquei assim? Será as influências de outras versões minha?

— Oh por favor não chore. — Ele se aproximando contorcendo o seu corpo e com largo sorriso na cara

— Eu estava fora de si.

— É claro que estava, tanto que me usou como um animal para um experimento seu. Eu tinha uma vida Joyce, tinha uma família, uma filha, uma bela esposa. E você tirou tudo isso de mim. A minha filha foge de mim, a minha esposa tem medo de mim. Ah Joyce, sabe a quanto tempo que eu não fodo uma buceta? A cinco anos, desde quando a sua turma desviou você de mim. Tive que me virar e achar você. Demorou, mas achei, e foi gostoso matar cada versão sua. Sabia que a grande maioria das realidades a sua irmã estava viva? Fiz questão de me aproveitar de cada versão dela na sua frente e matar passando a faca no pescocinho. Com você viva amarrada na cadeira. — Seu rosto está próximo ao meu. Estou trêmula e muito tensa.

— Não. Eu usei em mim antes, mas você veio. — Não consigo falar, estou tremendo muito.

— Não quero perder tempo falando disso. Você me deu algo que nunca imaginava ter Joyce, você me modificou e te agradeço pois agora eu tenho dons que muita gente morreria para ter e eu tenho. Tenho um propósito. E muito obrigado por isso minha loirinha. — Ele beija o meu rosto, a sensação de nojo que sinto é enorme. A presença dele pesa toda atmosfera desse quarto. Estou bizarramente com medo. E procuro um jeito de sair daqui.

    Eu saio da cama procurando uma forma de sair dali. Porém, estou encurralada. Ele estala os dedos. Me vejo na rua e estou no lado de várias pessoas correndo desesperadas. A cena é horrível ao ponto de me causar náuseas naquele momento. Vi alguém saltando em cima de outra pessoa e arrancando a carne do pescoço dela, assim jorrando sangue para toda a rua. Meu Deus. O que está acontecendo aqui?

— Ver tudo isso? O fim está chegando e a culpa é sua Joyce, juntamente com o Thomas.

— O que é isso?

— Sua vacina dá certo, mas daqui uns dez anos as coisas vão dar errado. Novamente.

— Isso é mentira, você cria memórias ou lembranças falsas.

— Sério? Quem te disse isso?

— Eu não lembro. — De fato não lembro, foi o Thomas eu acho.

— Eu não sei como você fez aquele dia que alterou a vacina, mas eu quero, agora.

— Eu não sei, eu não lembro.

— Vai ter que lembrar Joyce. Eu preciso dessa vacina para eu voltar ao normal e voltar pra minha família que você tirou de mim. Infelizmente, não dessa realidade, mas dá outra... — Sua voz fica melancólica nessas últimas palavras.

— Você não tava só indo pra várias realidades atrás de outras versões minhas não é? Estava atrás de uma realidade onde sua família não tem medo de você...

—Calada.

— O que aconteceu com elas Jeff?

— Não me chama desse nome.

— O que aconteceu Jeff?!

— EU AS MATEI! TA LEGAL! EU NÃO AGUENTEI VER E LAILA, MINHA FILHA, COM MEDO DE MIM.. NÃO SUPORTEI VER MINHA ESPOSA COM HORRORIZADA AO ME VER... E TUDO É CULPA SUA JOYCE, CULPA SUA QUE FEZ ESSA PORRA DE VACINA E APLICOU EM MIM JOYCE, SUA CULPA — Ele estala os dedos novamente.... Ah não.... Estou num lago e vejo o corpo... É o corpo dela boiando.... Desgraçado... Não... Não...

     As lágrimas saem de meus olhos automaticamente, não consigo me controlar. Eu não aguento mais esse pesadelo, só quero ficar livre. Isso é atormentador demais. Meu Deus, o que e eu faço? Eu só queria a minha irmã de voltaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH

    Tudo fica lento, as coisas começam a flutuar. Alucino está parado estaticamente me observando e quando fuma o seu cigarro.

— Isso Joyce, libera o que você já tem, libera o seu poder.

— CALA A BOCA, CALA A BOCA.

— Anda Joyce, quero ver o seu poder! — Ele pressiona

     Eu ergo minha mão e lanço alguma coisa nele. O desgraçado desvia. Agora me encontro em outro lugar. Na lua...

— Que tal lutar na lua, garota?

    Eu não consigo respirar direito, mas ainda sim consigo juntar umas coisas pelo ar e acertar ele, telecinese, consigo mover coisas e lançar nele.

    O Cenário muda de novo. Agora estamos na Terra de novo. No meio da rua. Cacete, se decida.

— Para uma iniciante até que você está levando jeito com seu poderzinho.

— Eu só quero acabar com isso logo, não aguento mais.

— Olha, você é.....

    Não espero ele terminar de falar, lancei um carro em cima dele. Não é tão difícil usar essas coisas, é essa sensação de usar poderes?

   Ele se levantou, parece machucado.

— Você me matou uma vez, não vai matar de novo. — Ele distorce toda a realidade e tudo em minha volta se transforma em mar. Uma chuva muito forte está rolando agora.

     Eu estou no céu caindo para o mar. Meu corpo bate nas ondas e sou levada para o fundo das águas. Caio na superfície e vejo o meu quarto debaixo do mar. Quarto de infância e me vejo brincando com a minha irmã. E escuto a voz, uma voz grossa e lenta dizendo algo, mas não sei o que é.

— Me dê a vacina Joyce... E você viverá, e eu poderei te levar para uma realidade onde sua irmã está viva e você morta. Imagina, ela terá você, e você ela.

— CHEGA — Uso o meu poder mais uma vez e tudo volta ao normal e ele vai na rua. Não há monstros, não há ninguém correndo. Tudo está normal. Agora entendo como funciona o poder dele.

    Me aproximo dele e escuto sua risada. Ele está caído no chão.

— Isso não acabou Joyce — Não consigo avançar mais dele. Um espelho me impede e o vejo no outro lado se levantando com dificuldade com golpe que eu dei. Ele olha para mim, com sorriso, ajeita seus óculos escuros, arruma seu terno branco. E estala os dedos novamente.

   
    Acordo.... Meu Deus... Eu estava dentro da minha mente? O Alucino é muito poderoso. Que bizarro... Como ele ficou tão poderoso assim? Tudo isso foi a vacina? Uma simples vacina?

— O que aconteceu? — Perguntou Thomas, voltando da paralisia

— Alucino veio pra cá.

— Quê!? — Exclama ele

— Sim, ele veio.

— E o que houve? Cadê ele?

— Fugiu.

— Fugiu? Assim do nada? — Disse Josh, nitidamente assustado.

— Sim, assim do nada. — Preciso mentir, não quero dar detalhes. Mas o que aconteceu comigo? Como conseguir fazer as coisas voarem e ganharem vida? Quem é aquele senhor? Será que realmente tenho esses poderes ou só foram na minha mente? Demorou tanto para eles despertarem... Perguntas sem respostas, será que é assim que essa história vai terminar? Ainda mais confusa que terminou? Meu Deus, eu preciso muito de terapia e me preparar para enfrentar o Alucino, ele vai voltar. Isso deveria ter acabado agora, o desgraçado resolveu fugir...

.......

    Estou no cemitério em frente ao túmulo da minha irmã. Como amava a minha maninha, ela morreu afogada naquele lago que Alucino me levou... só tinha ela no mundo. Queria trazê-la de volta. Talvez um dia eu consiga. Mas agora tenho coisas a fazer, a vacina já está sendo testada em pessoas, pude modificar umas coisas para que não as prejudique e que elas fiquem iguais ao Jeff.  Muita gente foi curada, eu espero que continue assim. Porém, o Jeff ou Alucino ainda está vivo por aí, preciso pará-lo, mas ainda não é hora. Finalmente estou conseguindo respirar um pouco.

— Ela com certeza sentiria orgulho de você — Thomas se aproximou e ficou no meu lado vendo a lápide dela.

— Eu espero que sim.

— Pode ter certeza. — Ficamos ali parados, um ao lado do outro. E decidimos em silêncio ir embora.

— Tenho tido sonhos bem estranhos. De quando sair daquele planeta. No meu sonho eu volto no tempo antigo, vejo pessoas em um parque, aqueles prédios sabe. No sonho alguém vem tentar pegar algo que possuo, que é importante. — Pensei que ele iria continuar a falar, mas parou, e entendo, ele enfrentou coisas estranhas naquele planeta.

— Talvez seja uma versão alternativa sua de um outro universo. Os nossos sonhos são fragmentos de outras realidades.

— A nossa consciência viaja para lugares inimagináveis e achamos que são apenas os nossos sonhos, isso tudo é muito complexo... — Diz ele, enquanto caminhamos para o carro. Ele abre a porta para.mim e eu entro, reflexiva.

     Tem muita coisa que ainda está confusa. Aquelas realidades, minhas outras versões... Ah... Só de pensar minha cabeça dói... Em compensação, Thomas e os outros estão me treinando com o poder que adquirir, não consigo usar só na minha mente, na vida real também. Acho que será útil para algum dia lutar contra o Alucino... É isso, agora é esperar a próxima jornada.


FIM

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