A Voz
— E foi isso que aconteceu — Eu disse nervosa e aflita. Aquela cena não sai da minha cabeça
— Tudo bem, vamos investigar isso. Pode sair.
A empresa chamou um detetive particular para investigar o caso comigo. Ele conversou com mais quatro pessoas. Eu não estou entendendo nada. Quem fez aquilo? De alguma forma me sinto culpada.
— Você tá bem? — Pergunta Carlos, se aproximando de mim enquanto se senta no sofá da sala.
— Aquela cena não sai da minha cabeça. — Digo olhando pro chão, sem olhar no rosto dele, escuto respiração forte, como se estivesse nervoso.
— Que merda.
— Quem fez essa coisa horrível? Ainda mais no meu quarto. — Não sai da minha cabeça, a cena se repete como looping.
— Não faço a mínima ideia.
— Vou embora daqui amanhã.
— Você tá louca? Se for será suspeito, não acha? Mesmo que não tenha sido você. — Carlos repreende, colocando a mão nas minhas coxas, e a tira, se desculpando.
— É, faz sentido.
— Relaxa, o assassino vai aparecer.
— Assim espero.
— Sim. — Ar constrangedor paira no ar, e um longo silêncio se manifesta.
— Cacete, logo o Jeff? Ele não machucaria nem uma mosca.
— Eu sei.
— Mas por quê?
— Tem coisas que não vamos entender mesmo.
— É — Disse com uma voz vazia e distante. Aquela cena ainda não sai na minha cabeça.
"Eu vou te caçar, te torturar e dilacerar você"
— Oi?
— O quê?
— Você disse isso?
— Disse o quê?
Fiquei olhando para ele e vejo expressão de confusão no olhar dele. O que foi isso?
— Me desculpa, eu...
— Relaxa, talvez foi alguém.
— Preciso tomar um ar.
Saí de perto dele. Estou ficando louca só pode, não é possível. Aqui dentro está um grande rebuliço. O diretor da empresa não saiu da sala. Nem sei como dizer, todos estão bem abalados e com medo. Preciso tomar um ar, respirar um pouco, ter minha mente sã.
A noite está gostosa e fresca, luzes em postes, um belo jardim com rosas em volta e bancos de praça. Aqui é um belo lugar, mas se tornou manchado pelo assassinato. E não tem nada que eu possa fazer.
— Coincidência você estar aqui, Joyce. — É o doutor, o qual tive consulta ontem. Com o cigarro na boca, ele acendeu o isqueiro e colocou na ponta do cigarro.
— Você... Chegou a falar com ele? — Ela pergunta, e a voz fica pouco difícil de ouvir com esse cigarro na boca
— Não, esperei um tempão.
— Ele não chegou a falar contigo?
— Não.
— Como é possível?
— Alguma coisa está rolando aqui dentro, se eu fosse você garota, cairia fora.
— Não seria suspeito?
— Aqui? Não, não — Ele fala sem olhar para mim, essa situação toda está me deixando paranóica, maluca, mas que porr@.
— Tudo isso está muito mal contado.
— Concordo.
"Eu vou te caçar, Joyce. Torturar e dilacerar você!"
Que voz é essa? Olho em volta e não há ninguém suspeito, ninguém. Estou ficando maluca?
"Um a um, até chegar em você."
— QUEM É VOCÊ? APAREÇA!
Todos olham para mim, sem entender nada. O doutor ficou me encarando com um olhar acusador, como se eu estivesse louca.
Envergonhada me retiro daquele lugar. Passo na sala, Carlos me chama e o ignoro. Meus olhos se enchem de lágrimas, isso não pode estar acontecendo de novo, não, não pode, não aceito isso. Quando viro o corredor, vejo um homem. Não, não pode ser.
— Olá, Joyce.
— Não.
— Sim. Não está feliz em me ver?
— Foi você?
— Que matou aquele homem? Não, foi você.
Ele estala os dedos. Vejo-me no quarto esfaqueando o Jeff, estou toda suja de sangue, troco de roupa e vou tomar uma cerveja. O moço que falou comigo não foi o Jeff, foi outra pessoa. E Carlos não estava comigo.
— Viu só, Joyce?
— O que você fez comigo? — Gaguejo ao falar com ele.
Ele se aproxima de mim. Meu corpo treme, ele fala bem no meu ouvido.
— Eu vou te caçar, te torturar e dilacerar você.
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