Capítulo 30 - Rudá Lahote

Permaneço paralisada por alguns instantes.

— Entendo que para você, deva ser um choque minhas palavras, mas peço que me ouça e entenda a minha versão da história. - Me pede Rudá.

Passe a vida toda, ouvindo minha mãe falar que meu pai mentiu e nos abandonou. Agora ele está parado na minha frente e pedindo uma chance para se explicar.

— Lhe dê uma chance querida, pelo menos ouça o que ele tem para lhe falar. - Me pedi Billy.

— Gostaria de levá-la a cidade esta noite, para conversar, por você tudo bem? - Me pergunta ele.

Balanço apenas com a cabeça em confirmação.

— Se me derem licença, gostaria de tomar um banho e descansar um pouco. - Falo, me retirando da cozinha para meu quarto.

Sentei em minha cama e milhões de coisas passavam pela minha cabeça. Havia um motivo para minha mãe ter fugido daqui comigo e nunca ter falado de meu pai. Mas, ele estava ali, parado na nossa cozinha, como se nada tivesse acontecido e me pediu uma chance para se explicar.

Tomei o banho mais demorado que pude, passei falas e conversas em minha cabeça, já tinha palavras de respostas prontas, dependendo do rumo que nossa conversa tomasse.

A noite chegou rápido demais, não consegui descansar um minuto sequer, a ansiedade tomava conta de meu ser. Não demorou muito e pude ouvir novamente a voz de Rudá, ele me aguardava.

Rudá me aguardava próximo à porta de entrada, estava todo produzido, como se estivesse pronto para um encontro, ao me ver, seu sorriso cruzou de orelha a orelha.

— Você está linda minha filha. - Me disse ele.

Ouvir a palavra filha, vindo dele me deixou um pouco desconfortável.

Havia um CrossFox preto parado à porta de casa. Ele fez questão de abrir a porta para que eu pudesse entrar.

Permanecemos em silêncio absoluto, por quase todo o caminho, até ele irrompe-lo com um comentário qualquer.

— Que loucura não? Vamos lutar ao lado dos frios pela vida de nossa reserva. - Fala ele, enquanto dirige cautelosamente pela estrada levemente congelada.

— Não os consideramos nossos inimigos a algum tempo. - Lhe respondo.

O silêncio voltou a reinar no carro, até chegarmos a uma lanchonete - Sully's Burgers, sua frente era composta por grandes fachadas de vidro, com tijolinhos expostos em sua base. Um letreiro enorme com o nome do lugar, - em amarelo - que se destacava no verde ao fundo.

— Sua mãe e eu costumávamos vir aqui sempre. - Comenta ele.

Permaneço calada.

Entramos na lanchonete, haviam mesas de madeira com bancos grandes, seu estofado era na cor vermelho, que se estacava no tom amadeirado do lugar.

Nos sentamos em uma das vagas mesas próximas a uma janela. Uma garçonete de aparência cansada, nos trouxe o cardápio.

Rudá não demoro em sua escolha, pedindo hambúrguer e fritas, acompanhado de um copo de refrigerante.

Pedi anéis de cebola e fritas, - nunca fui grande fã dos hambúrgueres - para a sobremesa, torta de frutas.

A garçonete anotou nosso pedido e seguiu para o balcão.

— Sua mãe nunca pedia hambúrguer. - Ele comenta.

Dou de ombros em reposta.

— Kayra, minha filha, você não tem noção do quanto estou feliz por estar com você está noite. - Rudá comenta.

Ouvir a palavra filha sair de sua boca me dava náuseas, o silêncio novamente propaga entre nós.

— Você me pediu para ouvir seu lado da história, então me conte. - Falo rudemente quebrando finalme o silêncio.

Ele me observa por alguns instantes.

— Percebi que herdou o temperamento de Adahy. - Me fala sorrindo.

— Ela sempre disse que eu a tirava do sério. - Comento, me lembrando de alguns momentos nossos.

— Conheci sua mãe no ano em que se mudou para a reserva. - Finalmente ele começa a falar.

— Adahy havia acabado de perder sua mãe, - Emmie Black - tinha apenas doze anos, era uma garota linda e adorável. - Seus olhos pareciam brilhar ao falar dela.

Permaneci calada, apenas ouvindo suas palavras.

— Na época estava com meus quatorze anos, morava a algumas casas da dela. Começamos a nos encontrar pelo caminho para a escola, com o tempo nos tornamos amigos. - Sua fala é interrompida pela garçonete que trazia nosso pedido.

— Hambúrguer, fritas e um refrigerante para o senhor. - Fala a garçonete colocando o pedido a sua frente.

— Anéis de cebola e fritas para a senhorita. - Fala ela sorrindo em minha direção, saindo logo após nosso agradecimento.

Rudá continuou a sua história entre uma mordida e outra.

— Com o tempo, nossa amizade começou a tomar uma proporção maior. Quando ela completou quinze anos, a pedi em namoro, ela aceitou na hora. - Ele volta a falar, sorrindo em alguns momentos da história.

— Posso até imaginar o sorriso de felicidade dela. - Lhe respondo.

— Sim, ela soltou aquele sorriso maravilhoso, que fazia pequenas covinhas aparecerem em suas bochechas. - Complementa ele, dando outra mordida em seu hambúrguer e tomando um grande gole de seu refrigerante em seguida.

— Namoramos por pouco mais de um ano. No verão em que completei dezenove anos, precisei acompanhar minha mãe, - que estava doente na época - a uma consulta em Washington. Foi nesta época que tive meu primeiro contato com um frio, descobrindo que era possuidor do sangue mágico de nossa tribo. - Fala dando outra pausa para mordiscar seu pedido.

— Quando voltei, já não era o mesmo namorado que ela conhecia, estava com medo de machucá-la, mas tentei ao máximo ficar ao seu lado. Alguns meses depois, novamente voltei a Washington. Foi aí que tudo mudou, conheci uma garota no hospital, ela acompanhava sua mãe, que assim como a minha, estava a beira da morte. No momento em que a vi, aconteceu. Sofri um Imprinting por ela, e fiquei completamente perdido. - Me conta ele, acabando com seu refrigerante e batatas.

Não era necessário ouvir o restante da história, para entender o que havia acontecido entre eles.

— Quando retornei a reserva, terminei com sua mãe, me partiu o coração vê-la sofrer, então decidi me mudar para Washington. - Concluí ele.

— E deixou minha mãe aqui, sozinha e sofrendo? - Lhe pergunto.

— Não podia contar a ela o que estava acontecendo, ela não poderia saber sobre o lobo. Acreditei estar fazendo o certo. - Me responde ele, com um olhar triste.

— Adahy nunca me contou que estava grávida. - Me responde sério, voltando a contar a história em seguida. — Precisei voltar para a reserva alguns meses depois, mas quando cheguei lá, sua mãe já havia ido embora, nem ao menos a Billy disse para onde estava indo. - Conta ele.

Término minha refeição e início minha torta.

— Quando cheguei de volta, a procurei, para saber como estava, foi então que soube sobre você. Billy me contou que sua mãe estava grávida quando parti e que quando soube que voltaria, ela fugiu te levando com ela. - Relata ele.

— Tentei de várias maneiras encontrá-las. Um dia então, Billy me envio uma carta, dizendo que Adahy estava em Walla Walla. Fui imediatamente procurá-las, mas sua mãe não me permitiu me aproximar de você, a vi pela janela da sala de estar da casa em que moravam. - Continua ele.

— Lembro-me vagamente deste dia em especial, minha mãe ficou muito nervosa e chorou muito. - Digo a ele.

— Filha, não estou lhe contando essas coisas na intenção de fazê-la odiar sua mãe. Apenas quero que entenda que eu não a abandonei, amava sua mãe, mas como já deve saber, nosso lobo tem suas próprias escolhas e vontades. - Fala ela, aproximando sua mão da minha.

— O que você espera de mim? - Lhe pergunto em um tom sério.

— Quero o seu perdão, por magoar sua mãe e por nunca ser presente em sua vida, apesar de ter tentado por diversas vezes. - Me responde ele. — Quero que me dê a chance de estar ao seu lado, nos conhecermos aos poucos e recuperar o tempo perdido. - Declara ao final.

Permaneço calada, muitas coisas se passam em minha cabeça, sempre ouvi minha mãe dizer que ele nos abandonou, que mentiu e a enganou.

— Podemos tentar nos conhecer neste tempo em que ficará na reserva, mas, me dê espaço para aceitar e entender que tudo que sei sobre você, não é exatamente da forma que sempre ouvi. - Lhe respondo, arrancando-lhe um sorriso e lágrimas de felicidade.

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