Capítulo 09 - Uma História na Praia
A chuva fina e fraca que começou assim que Seth foi para casa, tomou força e volume durante a madrugada, uma ventania assoviava tão forte que, desprendera um galho de sua árvore e o arremessou contra a parede da casa.
O estrondo foi gigantesco, acordando todos da casa e alguns vizinhos, que acenderam as luzes de suas casas enquanto tentavam entender o que havia acontecido.
Não me lembrei o que sonhava antes de acordar no meio da madrugada. Adormeci logo que o susto passou, o vento soprava forte e a chuva não tinha intenção de se dissipar até o amanhecer.
Encontrava-me na escola da reserva, mas não haviam alunos ali, apenas eu.
Comecei a caminhar por entre os corredores que pareciam aumentar seu comprimento e diminuir sua largura à medida que começa a caminhar.
O lugar era uma mistura da minha escola antiga com a nova.
Atravessei uma porta que deveria me levar ao refeitório, mas me vejo na trilha da cachoeira, que vi na caminhada para o Prado.
A água cristalina caia por vários "degraus" de pedras formando pequenas cacheiras.
Um cervo de vastas galhas pastava do outro lado do riacho, que se iniciava ao final da queda d'água.
O animal parou o que fazia e me encarou por um instante, levantou sua cabeça para o topo da cachoeira e saiu em disparada.
Virei para o local, onde o pobre animal, parecia ter visto seu maior predador e lá estava ele.
O rapaz que brilhava como diamante ao sol, a sua visão do ângulo em que estava, o deixava iluminado e tão belo, que poderia descrevê-lo como um "Deus".
Subi pela lateral da cachoeira até próximo ao seu topo, e passei algum tempo observando o rapaz e seu brilho, até que uma estranha claridade me acordou.
O sol tentava aparecer por entre as nuvens cinzas que ainda cobriam quase todo o céu.
Aproveitei a oportunidade de ter acordado antes de Jacob e Billy, para utilizar o banheiro pelo tempo que desejasse.
Tomei meu banho, lavei os cabelos, hidratei a pele, escovei os dentes e sai pronta para um dia incrível.
Preparei o café para todos da casa, café preto, ovos com bacon e panquecas.
Jacob foi o segundo a levantar, mal tomou o seu café e saiu com Seth para afazeres de homens.
Nosso passeio na praia foi adiado para o período da tarde.
Quando Billy apareceu para tomar seu café, o sol já deixava escapar alguns de seus raios por entre as nuvens que mudavam da cor cinza para um tom mais claro.
Durante a hora do almoço, as nuvens começaram a avançar, surfando pelo céu azul e ficando momentaneamente na frente do sol.
Seth chegou quase meia hora após o almoço, vestia um short de pano leve e uma regata, em seus pés seus habituais tênis de corrida; também levava sua mochila praticamente cheia às costas.
Me vesti em um tempo razoavelmente bom para alguém que descansava no sofá da sala.
Enquanto saía do quarto para a sala e enfim à porta de saída, ouvi alguém me chamar dentro de casa.
— Kayra, você está saindo? - Disse quase que inaudível.
— Tio Billy? - Perguntei parada em meio a sala.
Por um breve instante o silêncio, então ouvi o barulho da cadeira de rodas dele que vinha de seu quarto em direção a sala.
— Vai sair querida? - Me perguntou ele novamente, agora parado no corredor.
— Vou sim, tio Billy, vou à praia com Seth.
— Com Seth? - Perguntou ele deixando um sorriso escapar. — Divirta-se. - Levou sua cadeira de rodas para perto da janela.
— Hey, Seth, cuide bem da Kayra. - Pediu Billy, olhando sério para o garoto parado em frente a casa.
Cruzei a porta em direção a Seth, com as bochechas coradas. Seu tom de pele cor de cobre destacava, seus olhos de um tom negro que caía perfeitamente com o belo sorriso, onde se destacavam suas presas.
— E o sol saiu só para te ver brilhar. - Disse Seth, que segurava minhas mãos, enquanto me fazia girar em torno de mim mesma.
Novamente senti meu rosto queimar e deixei um sorriso bobo escapar.
Já havia estado na praia antes, então os primeiros quilômetros já me eram familiares, mas ir à praia somente com Seth, vendo a trilha por sua perspectiva, era completamente mágico e de tirar o fôlego.
A água era de um tom cinza-escuro, mesmo com todo o sol que fazia ali.
A praia em si tinha apenas uma faixa próximo a água, em sua maioria era coberto por grandiosas pedras, que pareciam uniformes vistas de longe.
Havia um vento fresco vindo das direção do mar. Pelicanos flutuavam sobre as ondas e gaivotas rondavam a praia.
Começamos a caminhar, Seth fazia questão de me mostrar cada detalhe daquele lugar, ovos de tartarugas eclodiam próximos a um tronco caído a praia, coberto por musgos e algas.
Alguns corais que se soltaram de seus recifes prendiam-se as laterais das pedras ou nas brechas entre elas.
O Sol já começava a baixar, quando vi a oportunidade de pergunta sobre os Cullen's.
— O que você quis dizer, ontem com... - Dei uma pequena pausa, imaginando se deveria ou não continuar. - os Cullen's terem uma história complicada com a reserva?
Seth me olha sério, enquanto fazia uma expressão pensativa.
— O que você sabe sobre as lendas da tribo? - Perguntou ele, enquanto começava a juntar alguns galhos de salgueiros secos próximos a floresta.
— Quando criança, minha mãe costumava me contar histórias para dormir. Lembro que algumas vezes ela contava as histórias da tribo. - Disse a ele que me observava enquanto juntava mais galhos em seus braços.
— De acordo com as crenças antigas, os primeiros homens foram transformados em lobos por um viajante. - Respondi a Seth encurtando a história.
— Existem várias lendas sobre nossa tribo, a mais conhecida diz que nós somos descendentes dos lobos, e que os lobos ainda são nossos irmãos. É contra a lei tribal matar eles. - Completou Seth.
— Então tem as lendas sobre os Frios. - Continuou ele, enquanto despeja os ganhos de salgueiro no chão.
— Os Frios? - Perguntei , enquanto procuro em minha mente, vestígios de alguma história contada por minha mãe.
Enquanto pensava, Seth construía uma "cabaninha" de galhos em meio a um círculo feito de pequenas pedras, próximo a algumas toras que serviam de banco.
— Sim, existem lendas sobre os Frios, como existem sobre os lobos, e algumas delas são muito mais recentes. - Disse ele, olhando em volta como se procurasse verificar se realmente estávamos a sós.
— Você gosta de histórias assustadoras? - Me pergunta ele, enquanto retirava um isqueiro de sua mochila ao meu lado no banco.
— Eu adoro. - Menti, eu odiava histórias assustadoras.
— Você já viu como é uma fogueira construída com galhos de salgueiro? - Desviou ele o foco da conversa para um galho em sua mão.
Parei por um instante, enquanto tento lembrar algum evento onde houveram-se fogueiras.
— Não!
Estava sentada em um dos troncos que rodeavam a fogueira, o vento começava a assoprar com mais intensidade e o sol brilhava seus últimos raios do dia nas ondas do mar que batiam na praia fazendo um som de splash.
Seth acendeu o galho em suas mãos, se abaixou próximo à pilha de galhos e o colocou bem ao meio dos outros galhos da cabaninha.
— Então observe. - Alertou, enquanto colocava o galho aceso entre os outros no círculo.
— É azul! - Exclamei, fascinada ao ver as chamas brilharem em um azul reluzente.
— Agradeça ao sal. - Respondeu ele, sorrindo se sentando ao meu lado, retirando um saco de marshmallow de dentro de sua mochila.
As chamas mudavam do azul para o verde, enquanto os galhos queimavam cobertos por sal, dando pequenos estalos.
Seth abriu o saco, espetou um marshmallow em um galho seco que havia separado, me entregando em seguida, preparou um para si e se voltou em minha direção.
— Os Frios são os maiores inimigos dos homens-lobos, - colocou o doce para assar na fogueira. - nossa magia enfraquece na sua presença, sua pele parece marfim, seus olhos são de sangue no tom vermelho mais vibrante e não há coração batendo em seu peito. - Contou, tentando deixar um clima de terror.
— Uma vez seu bisavô, há muitos anos, conheceu um grupo de Frios diferentes dos tradicionais. Esse grupo caçava de uma forma diferente dos Frios que conhecíamos, seus olhos não eram do tom vermelho que estávamos acostumados, eram de tons amarelos. Então Ephraim Black fez um acordo com eles. - Disse, enquanto retirava seu marshmallow, quase queimado do graveto.
— Um acordo? Com seu inimigo? - Indaguei, enquanto retirava meu marshmallow do fogo, assoprando enquanto tentei mordisca-lo.
— É sempre um risco para os humanos ficarem perto dos Frios, mesmo se eles forem civilizados como esse clã era. Nunca se sabe quando eles podem estar com fome demais para resistir. - Seth, deliberadamente, colocou um tom de ameaça em sua voz.
— Civilizados?
— Eles diziam que não caçavam humanos. Ao invés disso, eles supostamente eram capazes de se alimentar de animais. Diferente da maioria dos malditos Sangue Sugas. - Disse, vindo com sua boca em direção ao meu pescoço.
— Não caçavam humanos? Estamos falando de vampiros, Seth? - O questionei indignada, assim que ele beijou meu pescoço e se afastou.
Seth, sorridente, passa seu braço, a minha volta, sentindo os pelos levemente arrepiados pelo frio que começava a vir com as ondas.
— Mas, o que os Cullen's tem de haver com esses frios? - Perguntei, voltando novamente minha atenção para a fogueira. — Eles eram parecidos com os frios que meu bisavô conheceu? - Apoiei minha cabeça em seu ombro.
— Claro que não. — Seth parou dramaticamente por um instante, como se estivesse indignado com minha pergunta. — Eles são os mesmos.
— São apenas histórias, Kayra. - Respondeu, rindo em seguida, retirando um poncho de dentro de sua mochila e me cobrindo.
Olhei fixamente para Seth, que parecia se divertir com o ocorrido.
— Teremos companhia. - Comunicou, olhando em direção a trilha na praia.
Havia cerca de dez pessoas caminhando em nossa direção, traziam consigo instrumentos musicais, cestas de comida, bebida e uma animação contagiante.
Sentaram-se em volta de fogueira em um grande círculo, onde cantavam, comiam e bebiam em plena festa.
— Eles são sempre assim? - Sussurrei a Seth, que parecia incomodado com a quantidade de pessoas o zoando por estarmos juntos.
— Na maioria das vezes, sim. - Respondeu ele, me abraçando e beijando meu rosto.
Obs: Capítulo Revisado.
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