Capítulo 05 - O Lobo Audaz

Não demorei muito no banho, a água não estava exatamente quente. Pude ouvir quando Charlie e Jacob conversaram sobre Renesmee e sua família, mas parecia que em alguns momentos da conversa, eles cochichavam para que ninguém pudesse compreender do que falavam.

Sai do banho e fui direto a meu quarto, Billy não havia feito o jantar, então era bem provável que haviam trazido algo para nós, iria aguardar ser chamada.

Deitei na cama e então ouvi o barulho de nova mensagem em meu computador.

— O e-mail que enviei a Justine. - Falei a mim mesma dando um pulo da cama e correndo para meu computador.

Havia me esquecido completamente do e-mail que havia enviado a ela, o dia foi tão produtivo que me fez esquecer das dores e preocupações.

Havia acabado de receber o e-mail de resposta e no assunto já havia escrito em letra maiúscula:

ELA LEMBROU QUE EXISTO!!

Com toda certeza aquilo era a cara da Justine. Apertei em cima do e-mail e o aguardei carregar.

Oi, para você também Kayra, achei que houvesse me esquecido completamente. Foram quatro dias, repito: QUATRO dias sem notícias sua.

Não esperava nada diferente vindo da rainha do drama, - Justine - dei uma risada de canto ao ler suas palavras e continuei.

Vi que precisa de ajuda com seu primo e a namorada, posso tentar conseguir alguns dados pra você, mas vou precisar de nomes, e o máximo de informações que puder sobre a família.

Ela havia concordado em me ajudar com Jacob e Renesmee, estaríamos novamente trabalhando juntas. Sua falta era gigantesca.

Ainda me lembro do dia em que nos conhecemos. Estava na secretaria pois havia jogado água em uma colega de classe, após seu comentário maldoso sobre minha mãe, e Justine também estava lá aguardando. Havia hackeado o computador da sala dos professores e modificado todas as notas para a máxima, de todos os alunos, mais de quatro mil alunos com nota máxima em todo o seu boletim.

Saio do devaneio e continuo a ler o e-mail.

Mas e você? Já conheceu alguém? Quando vem me visitar ou quando posso ir te visitar?

Sua mania de tentar me juntar com alguém era irritante, tinha certeza que na hora certa me interessaria por alguém.

Apertei o botão responder no canto inferior da tela e comecei a digitar as respostas para suas perguntas.

Não há como te esquecer, Justine, nem se eu quisesse, você não me permitiria. Sei que não escreveu antes por estar chateada ainda com minha decisão, mas fico feliz em ver que nossa amizade é mais importante.

Pode vir me visitar quando quiser, vai adorar este lugar. É o tipo de lugar em que você e seu pai procuram para acampar.

Tem os garotos também, que são bem diferentes dos bobalhões de Walla Walla.

Até o momento não estou namorando, digamos que estou conhecendo um alguém que... talvez... possa estar me interessando.

Por alguns minutos fiquei olhando a tela do computador e lendo o último parágrafo escrito, será que eu estava começando a gostar do Seth?

Decidi continuar a escrever o e-mail e não apagar aquela parte, possivelmente iria me arrepender de enviá-lo para Justine.

Sobre a família da namorada de Jacob, descobri algumas coisas, não muito. As pessoas daqui parecem não gostar de falar dos Cullen's.

Sem contar que tudo aqui parece envolto em conto de fadas.

Carlisle Cullen, avô de Renesmee, é médico e conseguiu um novo emprego, por isso decidiu se mudar com a esposa Esme e os quatro filhos de Forks, estão em algum lugar no Alasca.

Edward e Bella Cullen são os pais de Renesmee. E Charlie Swan, o pai de Bella, e o xerife de Forks.

A Família Cullen é proprietário de uma residência entre Forks e a Reserva. Pelo que descobri, Edward, Bella e Renesmee moram em uma casa separado dentro da propriedade.

Se não me engano quando conheci Renesmee, ela ou Jacob me falou que sua casa ficava a dez km da reserva e doze km de Forks.

Pronto, Justine já tinha o suficiente para fazer seu trabalho de investigação. Lembrava de que com muito menos ela descobriu tudo sobre uma "namorada" de seu tio e pôde desmascara-lo para sua tia, por mentir sobre várias coisas.

Isso lhe rendeu noventa dias no reformatório, por invadir sistemas da polícia federal. É claro que seu tio a entregou para o sistema, a garota havia acabado com seu casamento.

Depois do dia em que nos vemos na sala de espera do diretor, começamos a nos esbarrar pelos corredores e refeitório, não demorou muito para virarmos amigas, ambas as vezes se isolavam dos outros alunos por algum motivo.

Reli todo o e-mail verificando se não havia erros ou informações desnecessárias e novamente me atentei ao parágrafo em que falava de Seth.

Antes que mudasse de ideia sobre enviar aquele trecho, apertei o botão enviar e fiquei no aguardo da resposta. Tinha certeza que assim que Justine visse sobre minha possível paixonite, responderia o e-mail na hora, querendo saber tudo sobre ele.

Haviam pouco mais de cinco minutos que enviei o e-mail, Jacob bateu na minha porta.

— Kayra, vamos jantar, tenho um convidado para esta noite. Acredito já o ter conhecido. - Fala ele do outro lado de minha porta.

Abri a porta de supetão, o assustando, definitivamente ele não esperava por aquela atitude.

— Oi, Jack, já o conheci sim. O que temos para o jantar? - Perguntei em seguida, não dando oportunidade para prolongar o assunto.

— Trouxemos comida da cidade e Charlie trouxe peixe frito. - Responde Jacob, já no meio da sala seguindo para o cozinha.

O jantar foi rápido, pelo menos de minha parte, precisava voltar para o quarto e tentar escrever alguma história que não parecesse uma história de fogueira.

Sentei em frente ao meu computador e tentei escrever, mas não havia ideia de por onde começar. Peguei meu diário na bolsa e procurei minhas anotações sobre meu sonho, escreveria tudo que tinha escrito no diário e em cima daquilo tentaria obter uma história.

Não deu muito certo. Transcrevi tudo que havia do diário para meu computador, li e reli por diversas vezes, mas não fazia ideia do que escrever.

O relógio marcava dez e doze da noite, uma garoa fina começava a cair e a névoa a aparecer.

Pude ouvir quando Charlie foi embora e vi quando Jacob e Seth saíram para a corrida deles. No entanto, desta vez eles não estavam sozinhos. Leah, Embry e Paul estavam juntos.

Salvei as anotações que havia escrito sobre minha história e desliguei o computador. Justine ainda não tinha respondido o e-mail e se deixasse o computador ligado, a ansiedade não me deixaria dormir.

Quando me deitei o relógio marcava pouco mais de dez e meia da noite, o chuvisco já poderia ser chamado de chuva, e trovões começavam a fazer barulho ao longe.

Acreditava que mais alguém estava se sentindo incomodado com o barulho de gota caindo na lata, pois não a ouvia mais. Alguém deveria ter a retirado dali.

Por um longo tempo permaneci deitada e olhando para o teto do quarto, tentando relembrar de cada detalhe do primeiro sonho, com o Lobo de pelagem cor de areia. Então em meio a meus pensamentos e lembranças adormeci e sonhei.

Estava na escola, era uma manhã ensolarada, os pássaros cantavam alegremente e um grupo de amigos havia decidido matar a aula para fazer trilha na floresta atrás da reserva.

Caminhamos por algumas trilhas cobertas por arbustos, trepadeiras e musgos, o sol brilhava irradiante fixando tudo ao redor com uma beleza notável.

Parecia um dia normal, até perceber o silêncio. Todos haviam sumido, os pássaros não cantavam, a mata parecia bem mais fechada do que minutos antes.

Onde segundos atrás era dia e sol brilhava intenso no céu, começava a noitecer e a garoa fina a cair.

Entrei em desespero assim que percebi estar sozinha. Chamava por meus amigos, mas era possível apenas ouvir o eco da minha própria voz.

Caminhei enquanto a pouca claridade me permitia, a noite dentro de uma floresta caía bem mais rápido do que em qualquer outro lugar. Precisava me apressar, logo não conseguiria enxergar um palmo a minha frente.

Tropecei por diversas vezes, enrosquei minhas roupas em galhos e espinhos, até estar em completa escuridão e absolutamente perdida.

Tateei com certa dificuldade algumas árvores e tentei continuar caminhando mesmo no escuro, foi quando tropecei e caí próximo a um tronco de uma enorme e velha árvore que estava caída, me sentei escorada em seu tronco, juntei minhas pernas e as envolvi com meus braços, repousei minha cabeça em meus joelhos e comecei a chorar.

Foi quando ouvi seu respirar profundo. De início o medo da morte me tomou por completa, era algum animal selvagem que aquela altura deveria estar faminto e havia encontrado seu jantar.

Então pude ver seus olhos castanhos brilhantes me olhando por entre arbustos. Era possível sentir seu bafo quente a metros de distância de mim. Logo congelei.

O lobo parecia ter quase dois metros de altura, o que era totalmente impossível.

Ele se aproximou cautelosamente, passo a passo, olhando sempre fixo em meus olhos. Cada centímetro de meu corpo tremia. Fechei meus olhos esperando a morte e então ele falou comigo.

— Me siga, jovem garota. A floresta não é o lugar para alguém tão frágil.

Abri meus olhos a procura de quem havia dito aquelas palavras, pois era totalmente improvável terem saído daquele animal.

E novamente ouvi sua voz, mas pude perceber que ela estava dentro da minha cabeça.

— Vamos, preciso te tirar daqui antes que o Frio volte. Suba em minhas costas e se segure firme.

Continuei imóvel, deveria estar enlouquecendo ou aquilo era algum mecanismo de defesa de meu corpo para que minha morte fosse menos dolorosa.

— Agora! - Ouvi seu grito em minha mente.

Bem lentamente levantei minha mão e comecei a me aproximar do animal. Seu pelo era macio e vasto, estava levemente molhado devido a garoa que caia. Ele então se abaixou, ficando na altura certa para que eu pudesse subir em seu lombo. E foi o que fiz.

Subi em suas costas e me agarrei com toda força em seu pescoço, fazendo com que meus braços dessem a volta por ele e as mãos se tocassem, segurando firmemente uma na outra.

O animal se levantou com muita rapidez e começou a correr por entre a floresta escura, sempre cochichando ações em minha cabeça.

Se baixe, segura firme, não tenha medo.

Em minutos já havíamos saído daquele lugar e estávamos em frente à minha casa.

Desci de seu dorso enquanto tentava entender como ele sabia onde era meu lar. No instante em que me distrai com a pergunta, ele simplesmente desapareceu.

Obs: Capítulo Revisado.

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