Capítulo 4
No ápice da juventude infantil, em seus 10 anos de idade, Davina ainda tinha o prazer de correr livre, envolvida por calor, risadas e vida.
Sua figura antiga e infantil, havia completado a idade e ganhara alegremente um potro, o macho ficaria enorme, segundo as palavras de seu pai, e pelas palavras de sua mãe, Davina o montaria e, se tornaria o vento vivo. Ela gostou disso, e amou o jovem cabelo, ainda um filhote, como ela também era.
— Ele virá para me ensinar a montar? — Questionou aos pais.
Seu pai envolveu o rosto com um sentimento de negação, mas, sua mãe, acariciou o braço tenso do marido e sorriu com tranquilidade.
— Enviamos uma carta.
Davina sorriu, uma carta, era o suficiente.
××××
Ele não chegou, talvez nem tivesse tentado vir.
— Davina! — Sua mãe gritou estendendo a mão — Corr...
Ela não terminou de falar, e sua garganta foi aberta, sangue explodiu em rios e cascatas, que cairam no piso limpo de horas atrás. Seu pai, também estava morto ao lado da esposa, sendo pisoteado há horas enquanto a esposa era usada e Davina era segurada com força.
— Isso — disse o homem em seu pescoço, apontando para a morte. — Isso é sua culpa, garotinha.
Minha culpa. Pensou, é, sua culpa, ela sabia. A profundidade do que era, o que havia os atraído aqui.
— Seu poder é sujo e é por isso que seus pais morreram.
O som de engasgo veio em seguida, e o homem caiu ao seu lado, perto de seus pais. Não, ela queria gritar, não é digno de morrer ao lado dos meus pais. Mas, não teve tempo, sequer voz, nada, Davina foi envolvida por uma escuridão profunda que se apossou de sua língua, uma névoa que queimou seus olhos e só deixou lágrimas caírem.
Uma mão fria e feminina tocou seu ombro trêmulo, envolvendo seu queixo com a frieza, Maeve sorriu com benevolência, existia escuridão naquele rosto.
— Ah, chegamos tarde — disse com os olhos no sangue.
Sim... Tarde. Estão mortos.
— Salvei você, Davina.
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Cairn abriu a porta e o lobo branco passou de forma rápida, ele caminhou até o caixão, mas parou de forma abrupta ao ver o corpo adormecido do lado. A garota estava deitada e a cabeça apoiada em uma das laterais.
De súbito, ele estava ao lado dela, observando todas as inúmeras correntes e o ferro pesado. Fenrys curvou as orelhas, abaixando o rosto até que o focinho estivesse perto da máscara.
— Não se aproxime dela — Cairn ordenou com um grunhido.
A feérica foi puxada pela coleira que Cairn prendeu ao pescoço dela, puxando-a com força bruta; ela acordou assustada, arfando com a falta de ar. Ajoelhada e frágil daquele chão, Fenrys se perguntava se ela estaria assim pelo aperto ou, pela escuridão do sono.
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Maeve mandou que abrissem a porta de ferro, o som arrastado trouxe uma irritação para os ouvidos da rainha e a fez pensar em como Davina se sentia com o barulho. Bem, talvez? Estava tão acostumada, fazia tantos anos, bom, não era como se Maeve realmente se importasse, mas Davina era necessária, e, por esse motivo, Maeve fingiria se importar.
— Me disseram que Cairn foi duro com você hoje — disse a soberana. — Pegue, trouxe água, as curandeiras colocaram ervas medicinais.
Davina, a feérica que estava encolhida no canto mais escuro daquele cubículo de ferro, levantou a cabeça e apertou os olhos, aquele brilho esverdeado de antigamente havia se apagado, transformando-a em uma figura opaca e apagada. Ela se levantou lentamente, sussurros baixos de dor saindo de sua boca, conforme caminhava para pegar a água, quando pegou, bebeu ferozmente, como se nunca tivesse bebido líquido antes, e, de fato, nunca havia bebido água tão limpa, não nessa fortaleza.
— Vou viajar — avisou, e lentamente, Davina parou de beber.
Parecia confusa com o aviso, Maeve nunca avisara antes.
— O custo. — Davina abaixou a cabeça, e Maeve a segurou pelo pescoço, empurrando o queixo para cima, logo, a soberana continuou: — Vou viajar, Davina, e, quando eu voltar, espero trazer Rowan comigo.
Era mentira, Maeve não estaria viajando por isso, mas, Davina não precisava saber.
Pode ver o brilho reacender dentro da máscara de ferro, o fôlego exasperado que indicou a surpresa de Davina, ou talvez, estivesse só sendo sufocada.
— Se aceitar e finalmente ceder... Deixarei que Rowan treine você.
Maeve a soltou e Davina caiu no chão, tão pequena e ignorante com os próprios poderes que corriam nas veias. Rowan não seria capaz de treinar um poder tão bruto, provavelmente, morreria na primeira aparição dessa escuridão sem fim, mas, Maeve estava jogando e acabara de atacar com o que tinha de mais valioso.
— Pense nisso, Davina — murmurou, virando-se para partir. — Minha benevolência não será eterna.
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Seria possível? Davina se questionou. Maeve acabara de sair e com isso, deixou a mente da garota cheia de pensamentos intensos, aquilo, a proposta, foi a mais rara e inigualável que Maeve havia jogado.
Mas, por que? Qual o motivo de ser agora... Depois de tantos anos, onde estaria indo o desespero da rainha? E, principalmente, o que ela de fato queria?
Davina não sabia o que pensar, sequer sabia o que fazer, ali, ela era nada menos que alguém manipulável, se Maeve queria, ela ela teria, mas, nunca tomou com força, sempre esperou, e agora estava jogando, as opções pareciam estar acabando, ou, o tempo.
Ela se recolheu no canto, e naquela noite, Davina pensou no que faria.
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Pelo o que tinha ouvido, Maeve teria viajado e Aelin acreditou que teria algo de paz, porém, Cairn ainda estava ali, sempre presente, substituindo as ilusões por longas sessões de tortura. Agora, trêmula no caixão, Aelin Galanthinyus desejava mais as ilusões.
Fenrys se levantou e a cabeça do lobo branco surgiu, ele piscou três vezes. Você está bem? Aelin o olhou, e em sua imaginação, ela o responderia com palavras, mas, naquele momento, sequer sabia mover os olhos.
A porta se abriu e aquela parte de imaginação se dissipou, apagando uma parte de sua mente quando de novo, a feérica acorrentada foi empurrada para dentro.
— Fora, Fenrys — Cairn disse, quando a garota caiu tropeçando nas correntes.
Fenrys foi, não antes de olhar para trás, mas, logo foi fechado pela porta, onde as duas ficaram sozinhas.
O coração de Aelin retumbou quando a garota se levantou e caiu ao lado do caixão, ofegante e trêmula, a voz saiu em um sussurro rasgado:
— Rowan... — Disse, parando por um segundo. — Rowan pode voltar?
Não, Aelin queria dizer, Rowan nunca voltará. Pelo menos, era assim que ela queria...
— Maeve... Maeve me disse que o trará de volta.
Aelin se moveu dentro do caixão, suas correntes rasgando sua pele em locais sensíveis já machucados.
— Diga-me se ele voltará. — A feérica agarrou as laterais de ferro. — Ilumine esse caminho.
Sem respostas. Aelin piscava, porém, não era o bastante, a ilusão nunca entenderia, nunca saberia.
— Quero sair daqui, Aelin...
Ela gritou quando foi puxada pela correntes, o rosto batendo no chão, Aelin se afogou com a respiração que travou na garganta, quando Cairn levantou o rosto tomado por fúria.
— Eu sabia... Sabia que você faria algo. — Ele a agarrou na cintura. — Muito previsível, ratinha. Rowan ainda acende algo em você...
O lobo na porta se levantou para entrar, porém, Cairn gritou e chutou a porta, as deixando na escuridão novamente, mas, com ele junto.
Ela soltou um som sufocado quando foi jogada sobre o caixão aberto de Aelin, e, quando sentiu as mãos de Cairn obrigando o corpo a se arquear. Não, Aelin piscou se debatendo, não, não, não! A máscara de ferro caiu em seu peito, e ela sufocou um grito quando os cabelos claros foram libertados e o rosto petrificado revelado. O som de rasgo foi o suficiente para que a mulher olhasse Aelin nos olhos, era como se pedisse por algo...
Vou tirar você daqui. Disse Aelin com o olhar, tinha que entender, ela tinha. Vou te tirar daqui!
E quando Cairn usou o corpo da feérica como bem quis, ela não derramou uma lágrima sequer, porque, em seus olhos, uma esperança renasceu.
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