Epílogo

          A tempestade de neve era noticiada o tempo todo na televisão. Era a pior nevasca que já havia caído sobre Boston. Foram algumas semanas de neve intensa e incessante, pessoas deixaram de trabalhar, as ruas ficaram desertas por dias, mesmo na semana do Valentine's Day. A temperatura ficava sempre muitos graus abaixo de zero.

          Ainda assim, Duda saiu de casa. Não avisou Elisa, apenas colocou seus casacos mais quentes e entrou em um dos poucos táxis corajosos o suficiente para dirigir em meio a tanto gelo. Mal conseguia enxergar o caminho, apenas torcia para que o motorista conseguisse.

          Desceu em frente a uma farmácia da Massachusetts Avenue e sentiu como se seus pés fossem congelar a qualquer minuto. Entrou no estabelecimento e deixou o ar quente voltar a tomar seus pulmões quase congelados.

          Passeou pelos corredores, tentando evitar o inevitável. Logo encontrou o que procurava. Jogou na cestinha que carregava e continuou a vagar pelos corredores até chegar no de alimentos. Pegou uma barra de cereais e começou a comer ali mesmo.


– Posso te ajudar, senhora?

– Já encontrei o que precisava, obrigada. Ah, – balança a embalagem vazia – eu vou pagar assim que sair.


          O atendente assentiu com um sorriso e voltou para o caixa. O menino era a única companhia de Duda dentro da farmácia vazia, ninguém mais sairia de casa naquelas condições climáticas. Duda foi até o caixa e se debruçou no balcão, sorrindo para o garoto magrelo e de cabelo escorrido que mal parecia ter dezesseis anos.


– Como é o seu nome?

– John Parker, senhora.

– Muito prazer, John. Eu sou a Maria.

– Muito prazer. Em que posso ajudá-la, senhora Maria?

– Eu posso usar o seu banheiro?


          John olhou para a cesta nas mãos de Duda e assentiu, um tanto quanto envergonhado. Apontou para o fundo da loja e a acompanhou com os olhos até que ela sumiu no corredor mal iluminado.

          Duda abriu a embalagem e leu as instruções. Levantou a tampa do vaso com pressa, não aguentava mais segurar. Deu descarga e abaixou a tampa. Sentou-se no vaso fechado e aguardou. Um milhão de pensamentos corriam em sua mente, mas ela tentava espantar a todos. O frio na espinha que sentia nada tinha a ver com o frio externo. A ansiedade a consumia por inteiro.

          Cinco minutos. Tempo o suficiente. O medo congelava seus dedos, impedindo que ela virasse aquela régua de plástico que tinha a resposta que ela tanto temia. "Duda, Duda... você não saiu de casa a toa", repetia a si mesma. Fechou os olhos, respirou fundo e virou o visor para si. Duas linhas. Um positivo.


– Não pode ser...

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