5 - Melhor Coxinha do Mundo

 Amanheceu e Duda acordou na cama de sua mãe ao lado de Gabriela, que ainda dormia. Foi até seu quarto e encontrou Diego dormindo todo esparramado em sua cama. Jonathan dormia no sofá junto com o balde de pipoca quase vazio e a televisão ligada.

Não demorou para que todos acordassem com o barulho da reforma do apartamento ao lado. "Vizinhos infelizes, enfiem a furadeira..." Jonathan reclamava enquanto cobria a cabeça com a almofada do sofá. Gabriela caminhava para a sala parecendo um zumbi. Diego continuou deitado, na esperança de que o barulho parasse. Duda tomava café enquanto ria da revolta do irmão.

– Hoje é sábado! SÁ-BA-DO! – Jonathan grita, na esperança do vizinho ouvir.

– Mas já é quase meio-dia... – Duda ri.

– Só o Diego mesmo para não acordar com esse escarcéu – Gabriela diz enquanto se espreguiça no sofá.

Duda concordou e foi até seu quarto para acordá-lo. Entrou e sorriu ao vê-lo dormindo novamente, todo torto e com a cabeça coberta pelo travesseiro. Como conseguia dormir com tanto barulho? Duda cutucou sua perna com o pé, mas ele nem se mexeu. Tenta fazer cócegas debaixo do braço. Nada. "Meu Deus, esse menino tá morto". Cócegas no pé. Isso é infalível. Diego se revirou na cama um tanto quanto irritado.

– Sai, Gabriela!

– É a Duda, seu bobo! Vem tomar café!

– Ah não, me deixa dormir... – vira para o outro lado a vã tentativa de descansar mais um pouco.

– Você me disse a semana inteira que queria aproveitar a viagem. Então trata de levantar e tomar café. Vamos sair daqui a pouco.

– Você fala igual minha mãe! – ri.

Duda riu e foi para a sala, não demorou e Diego foi também, ainda sonolento. Duda estava animada, enquanto os três mal se moviam de tanto sono.

– Meu Deus, vocês parecem idosos. Vão se arrumar, vamos sair. – ordena enquanto termina de ajeitar a louça.

– Ai, eu marquei de encontrar uma amiga no Shopping Cidade, ela estudou comigo, mas mudou para cá há três anos e nunca mais nos vimos. Desculpa, mas podem ir sem mim. – Gabriela diz enquanto enche sua xícara de café.

– Tudo bem, Gabi. Mas volta até umas oito horas porque vamos sair a noite, sem pretensão de voltar cedo ou sóbrio. – Duda sorri.

– Du, se você quer que eu saia para beber a noite, eu preciso curar a ressaca durante o dia. Estou velho. Vou passar essa saída de agora. – Jonathan ri.

– Mal completou vinte e dois anos e já está se sentindo assim? Meu irmão, você já foi melhor! – Duda ri. – E você, Diego?

– Por mim tudo bem. Ainda mais depois da intimada no quarto! Mas nós vamos para onde?

Duda respondeu que era surpresa e foi se arrumar. Diego foi até o quarto para se trocar e a encontrou já pronta. Ela vestia uma camiseta cinza surradinha com a estampa do disco Help! dos Beatles por dentro da calça jeans de cintura alta e uma imitação barata do Keds branco. Enquanto a observava, pensava em como ela conseguia ficar tão bonita sem nem fazer questão disso. Nem maquiagem fez questão de passar. Lembrou de Nicole e como sempre estava tão montada, até mesmo para um passeio no parque e se sentiu péssimo por compará-las.

– Ei, Diego, planeta Terra chamando... – Duda estala os dedos para ele.

– Oi! Desculpa, estava distraído. Disse algo?

– Perguntei se você se importa de andar de metrô.

– Claro que não. Você não vai mesmo me dizer onde vamos?

– Não, só fica pronto! – sorri.

Diego se arrumou e logo saíram. Caminharam até o metrô Tatuapé enquanto falavam sobre música, bandas e novos artistas. "Tá aí, você me deu uma ideia de primeira parada para o roteiro do dia!", Duda exclamou ao passar pela catraca da estação. "Uai, mas espera aí, você ainda não sabe onde vamos?", Diego riu e Duda deu de ombros. Desembarcaram na estação República e caminharam até a Galeria do Rock.

– Chegamos!

– Meu sonho pré-adolescente era conhecer isso aqui! – Diego ri.

– Olha, sinto que você vai se decepcionar, mas podemos subir e descer os andares quantas vezes você quiser.

Diego olhava vitrine por vitrine, andar por andar. Ele imaginava algo totalmente diferente. Talvez ele ainda via como era há uns dez anos, várias tribos diferentes dividindo o mesmo espaço, vez ou outra rolava alguma briga. Agora haviam mais famílias andando por ali. E também aqueles adolescentes que parecem feitos por lotes, as meninas com a meia arrastão por baixo da calça jeans rasgada, algum cropped com estampa da moda, uma blusa de frio amarrada na cintura mesmo no calor do Saara e um coturno que custou algumas centenas de reais, empurrando a boca para tirar fotos. Os meninos de touca de lã quase caindo da cabeça, uma camiseta longa e larga contrastando com a calça skinny e algum tênis da moda. Não podia faltar a camisa xadrez na cintura, que vez ou outra eram usadas como sobreposição.

Diego parou em uma loja de bugigangas que o interessou. Procurou um chaveiro no expositor que o agradasse. Eram muitos, difícil escolher só um. Encontrou um que seria perfeito. Um dachshund – aquela raça de cachorro que chamamos de salsichinha – no meio de um pão de cachorro quente. Achou caro para algo tão pequeno, mas, ainda assim, comprou.

– Toma, um presente. – Diego entrega o chaveiro para Duda.

– Ah, que lindo! Obrigada! Mas por quê?!

– Uai, acho que não preciso de motivos para dar presentes para alguém. Mas pode ser pela hospitalidade, por nos acolher na sua casa, por me deixar dormir na sua cama... – sorri.

– Eu não lembro de ter deixado você dormir lá, mas vou relevar isso. E também remete ao nosso primeiro rolê! – sorri.

– Sério?! Eu nem tinha reparado! – ri ironicamente.

Duda revirou os olhos e abriu um sorriso debochado. O convidou para a segunda parada. A caminhada de vinte minutos debaixo de sol os deixaram famintos. Diego avistou de longe as luminárias redondas nos postes vermelhos. Estavam chegando no bairro da Liberdade. Foram até o Mc Donald's localizado na Praça da Liberdade. Por mais que quisessem fugir do óbvio que tem em todo lugar, estavam com fome e não queriam andar muito. Fizeram o pedido e seguiram para o andar de baixo do local. Duda escolheu uma mesa na área externa – porém escondida – da lanchonete que continha um jardim.

– Eu adoro esse lugarzinho. – Duda diz enquanto se ajeita para sentar.

– Nem parece São Paulo, é tão calmo.

– Exatamente! É sossegado. Ali fora já está um caos, aqui segue tranquilo. Olha que eu nem gosto tanto de Mc Donald's, mas esse cantinho vale a pena.

– Como você não gosta de Mc Donald's?! – fica surpreso.

– Burger King é bem melhor! – confidencia baixinho.

Diego riu e discordou com a cabeça. "Você precisa ser estudada", respondeu de boca cheia. Terminaram de comer e ficaram em silêncio, curtindo a paz do lugar. Vez ou outra dividiam a paz com o choro de alguma criança que deixou a batata cair ou então com algum grupinho adolescente rindo compulsivamente no lado interno do salão.

Saíram da lanchonete e seguiram para a feira da Liberdade. Duda queria encontrar algo para retribuir o presente de Diego. Achou uma pulseira com tiras de couro trançadas, em tons marrons, cinzas e preto. Um ou outro detalhe metálico com aspecto envelhecido.

– Pra você! – estica a mão com um sorriso no rosto.

– Mas Du, por quê? Não precisa, sério!

– Ué, retribuindo a gentileza. "Acho que não preciso de motivos para presentear alguém!" – o imita.

– Mas como você é boba! Obrigado! – sorri e a abraça forte. Duda sente seu rosto corar.

– Eu... acho melhor... a gente ir para o último destino do dia, né? – se solta do abraço.

Diego assentiu e eles seguiram para o metrô. Saltaram na estação Tatuapé. Ele percebeu não estar tão longe da casa de Duda. Questionou o porquê de irem primeiro no centro da cidade em vez de começarem por ali. Ela sorriu e só respondeu que era para deixar o melhor para o final. Caminharam por quinze minutos, até que chegaram em uma lanchonete que funcionava na pequena garagem de uma casa. Assim que chegaram, Duda já foi cumprimentada pelo nome.

– Eu disse que ia te levar para comer a melhor coxinha do mundo. É aqui. E o melhor, só custa sete reais.

– Sete reais em uma coxinha é muito! – ri.

– Só espera... – sorri.

Duda fez o pedido e Diego se surpreendeu quando o rapaz trouxe as duas coxinhas para a mesa. A base era quase do tamanho do prato sob ela. Tinha no mínimo quinze centímetros de altura. Não estava encharcada, pelo contrário, aparentava ser bem sequinha. O rapaz ainda trouxe talheres, caso quisessem. Duda esperava ansiosa pela reação de Diego. Ele deu a primeira mordida e seus olhos brilharam.

– Esse trem é maravilhoso! – Diego exclamava ainda de boca cheia.

– Não é?! Eu descobri esse lugar faz um tempo e desde então, pelo menos uma vez por semana eu venho aqui. Eu já comi coxinha em vários lugares, até naqueles mais famosos, que saem em revista e tem até fila de espera, mas nenhuma supera essa aqui. E o melhor é que é do ladinho de casa, além de ser lugar sem muita firula. Já vim até de pijama.

– Você é in... Essa coxinha é incrível!

Duda fingiu não ouvir o quase elogio. Ambos devoraram a coxinha em silêncio, saboreando cada pedacinho. Diego ficou pensando como Duda conseguia comer um combo do Mc Donald's e ainda ter espaço para uma coxinha de meio quilo. "Essa menina não é normal", ele repetia mentalmente. Descansaram por alguns minutos antes de seguirem para casa.

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O próximo capítulo é curtinho, mas muita coisa vai rolar!
Ele chega na quinta-feira, e eu já adianto que é um dos meus favoritos.
O nome dele é o nome de um desenho animado antigo. Vocês tem algum palpite?!

• O que vocês acham que vai acontecer nessa saída sem nenhuma pretensão de voltar sóbrio?

• Quem vai dar PT primeiro?

Se estiver gostando, deixa seu voto e seu comentário, isso ajuda muito a ganhar visibilidade e me deixa muito feliz ♥

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