41 - Definitivamente

          Vinte e quatro de dezembro. Nicole estava pronta para sair, mas Diego continuava sentado na beirada da cama encarando o chão. Passariam a véspera de Natal no sítio, pois seus pais não gostavam de comemorar a data. Ele agradeceu aos céus por isso, ainda não se dava muito bem com os sogros.


– Amor, a gente vai se atrasar.


          A voz de Nicole o despertou de sua distração. Ele assentiu, calçou os tênis e se levantou. Ela se olhava no espelho quando Diego acariciou sua barriga. Aquele ultrassom mudou tudo. A partir daquele dia eles se empenharam em ser um casal, uma família. E estava dando certo.

          Diego entrou no carro – pelo qual trocou sua moto – e deu partida. Nicole estranhou o caminho, aquela não era a estrada para o sítio. "Eu preciso passar em um lugar antes", ele afirmou sem tirar os olhos do retrovisor. Ela não conhecia o bairro. Ele esteve ali poucas vezes, mas todas foram difíceis.

          Estacionou em frente a casa, segurou a mão de Nicole e seguiu até a porta. Tocar aquela campainha era sempre difícil. Felipe sorriu ao abrir a porta e encontrar o filho ali. Diego não sorria. Sua mão suava e o calor parecia ter se intensificado. Nicole ainda estava confusa.


– Filho! Que surpresa! Cadê a Gabi?!

– Ela não veio. Ela não sabe que eu estou aqui.

– Entra, pode entrar. Vocês querem ficar para a ceia?!

– Não, eu já tenho que ir embora. Vou passar a ceia com a minha família.

– Você não veio até aqui só pra me dizer que tem que ir embora, não é?!

– Não... eu... esquece, vamos embora.

– Espera... Você, você é a Nicole né? Você estava linda no casamento, meus parabéns. Aliás, você é linda!

– Obrigada – sorri envergonhada.

– Filho, no que eu posso te ajudar? Vocês estão precisando de dinheiro? Estão precisando de alguma coisa?

– Não, eu não preciso de nada de você. Quer saber, eu vou embora.


          Diego virou-se em direção ao carro e Nicole o seguiu, pedindo desculpas ao sogro pelo inconveniente. Diego deu um soco no volante e jogou a cabeça para trás, a apoiando no encosto do banco. Felipe não esperou o carro sair e voltou para dentro de casa.


– Eu não sei o que aconteceu entre vocês e nem o que você veio fazer aqui hoje, mas eu acho que você deveria falar com ele.

– Eu não consigo, Ni. Eu cheguei aqui com um roteiro pronto na minha mente, mas eu olho pra ele e eu lembro de tudo o que a minha mãe passou e... eu não consigo.

– Você consegue. Eu fico aqui no carro, ninguém precisa saber o que vocês conversaram.


          Diego assentiu e saiu do carro mais uma vez. A caminhada até a porta pareceu mais curta dessa vez. Respirou fundo e tocou a campainha. Felipe demorou um pouco mais para atender. Sua feição já não era sorridente.


– Diego, hoje é dia de festa, por favor, não estraga isso.

– Eu vim aqui pra... pra te agradecer. Obrigado por ter ido no meu casamento. Sei que não falei com você lá, mas eu não estava pronto.

– Aquele dia você não estava pronto para muita coisa...

– Obrigado por ter ido, pensei que não seria, mas acabou sendo importante pra mim.

– Pra mim também foi.

– E também vim aqui pra te dizer que eu te desculpo. Eu não te perdoo e não esqueço o que você fez, mas te desculpo.

– Filho... eu... eu não sei o que dizer...

– Não precisa dizer nada, não. Eu realmente preciso ir agora, minha mãe está me esperando.

– Tudo bem...

– Ah, quase me esqueci, também vim te dizer que é um menino. Você terá um neto.


          Diego virou-se para ir embora, mas Felipe o interrompeu com um abraço. Ele ainda não sabia como se portar diante ao carinho do pai, então continuou parado. Passou um braço pelas costas dele e deu uns tapinhas. "Obrigado", Felipe disse ao segurar os ombros do filho. O olhar de felicidade era evidente, o sorriso largo até se parecia com o dele.


– Tenha um bom Natal, pai.


          Felipe acenou da porta enquanto Diego seguiu com o carro. Nicole não falou nada, mas percebeu o ar bem mais leve ao redor do marido. Ao chegarem no sítio, foram bombardeados com perguntas sobre o atraso. "Eu demorei para me arrumar", Nicole inventou antes de sentar-se à mesa. Maria fechou os olhos e deu início a oração que fazia questão todos os anos. Diego fechou os olhos e por mais que não soubesse muito bem o que dizer, agradeceu por finalmente conseguir levar um dia de cada vez.

***

          Vinte e cinco de dezembro. A ceia americana era um pouco diferente da brasileira, por isso a noite anterior terminou pouco antes das dez, quando as crianças colocaram um copo de leite e biscoitos para o Papai Noel e foram dormir. Duda aproveitou para participar da ceia de sua família. Jonathan fez uma ligação por vídeo para a irmã e ela pôde matar um pouco da saudade de seu lar. De todas as noites no país desconhecido, essa foi a mais difícil. Nunca dormiu antes da troca de presentes após a meia-noite ou deixou de festejar a véspera de Natal.

          As crianças acordaram cedo e correram até a árvore para descobrir o que o Papai Noel havia deixado debaixo dela. Olivia vibrou com seus patins novos e Noah subiu em sua bicicleta antes mesmo de tirar todo o embrulho. "O Papai Noel não se esqueceu de você", Elisa disse ao entregar um pacote para Duda, que ficou envergonhada por não ter comprado nada.

          Era um porta-retrato com quatro fotos: Duda, Laura e Jonathan em um restaurante, ela abraçada às crianças em um parque, ela com a Jéssica e a Carol no bar e... aquela foto dos quatro na balada. Parecia que por mais que ela tentasse apagá-lo de sua vida, o mundo insistia em empurrá-lo de volta.


– Espero que tenha gostado. Eu peguei as fotos no seu Facebook, sei que você sente muita falta do Brasil, então eu tentei trazer um pouco das pessoas que ficaram lá para perto de você.


          Duda assentiu e agradeceu. Sua vontade foi de tirar aquela foto imediatamente, mas Elisa poderia se magoar. "Daqui um mês eu troco", pensou. Não precisaria olhar para aquele porta-retrato todos os dias, chegaria um momento em que seria apenas um enfeite em seu quarto.

          O almoço de Natal foi divertido, apesar de diferente. Não havia peru ou pernil, foi apenas uma lasanha e cookies em formatos natalinos. Durante a tarde, ficaram no quintal brincando com seus novos presentes. Duda estava sentada no degrau de entrada quando engasgou de tanto rir.


– O que é isso, Steve?!

– Feliz Natal para você também!

– Que roupa é essa?!

Duh, minha roupa de Natal. Ela é muito moderna.


          Duda riu e o mediu por inteiro. Ele vestia um suéter natalino com várias renas e duendes estampados. Steve se sentou ao seu lado e acendeu um cigarro. Apagou em seguida, ao levar uma bronca de Olivia.


– Cadê o meu presente de Natal?

– Estar sentada ao seu lado com você vestido assim já é o meu presente pra você – sorri.

– Qual é! Você adorou!

– Não...

– É uma pena, porque você vai ter um bem parecido.

– O quê?!


          Steve entregou a sacola que carregava para Duda. Ela não conseguiu parar de rir ao abrir e encontrar o suéter vermelho com uma grande rena na frente. "Coloca pra gente tirar uma foto!", Steve ordenou. Duda vestiu a peça e sorriu para a câmera. "Diga cheese". A foto não ficou muito bonita, mas ficou espontânea. "Eu tenho um porta-retrato perfeito para essa foto", pensou.

***

          Trinta e um de dezembro. Jonathan abriu a porta abruptamente, assustando Laura que cozinhava o pequeno jantar que aconteceria em poucas horas. A explicação do extenso sorriso do rapaz passou pela porta logo em seguida com sua mochila amarela. Ele mal podia acreditar que Daniela estava na casa dele. Que passaria o Ano Novo com ele.

          Laura a recebeu com um abraço caloroso, mas logo precisou voltar para a cozinha. Jonathan levou a moça até o quarto de Duda, onde ela dormiria pelos próximos dias. Ele não gostava muito de entrar lá, depois que a irmã foi embora ficou tão vazio que a voz até parecia ecoar lá dentro. Aquela mochila amarela em meio a tanto branco deu um pouco de vida ao lugar. Para Jonathan, Daniela sempre dava vida aos lugares.

***

          Gabriela corria com a decoração do apartamento. "Tudo branco e dourado, eu quero tudo branco e dourado!", gritava com Diego, que se divertia com o estresse da irmã todas as vezes que ele insinuava colocar algo colorido em qualquer lugar. "Gabriela, se controla!", sua mãe ordenava. Pela primeira vez a festa de Ano Novo seria na casa de Mônica e isso estava a deixando doida.

          Os primeiros convidados começaram a chegar, os pais de Nicole. José continuava com a carranca de sempre, como se nada estivesse bom o suficiente para ele. Já Cristina sorria a cada vez que via a filha sorrir. Não costumava sair muito de casa, então até mesmo uma pequena reunião entre amigos se tornava uma grande festa para ela.

          A menos de cinco minutos para a meia-noite, Diego levou Nicole até seu antigo quarto e ficou de frente para ela, segurando suas mãos e a olhando nos olhos. As coisas simplesmente mudaram, mas em momento algum eles conversaram sobre isso.


– Por que você me trouxe aqui?

– Pra te dizer que daqui alguns minutos será o ano da nossa família, e que ela não é perfeita, que as coisas não aconteceram como a gente escolheu, mas que a gente prometeu fazer dar certo, então é isso que a gente vai fazer.

– Tentar.

– Conseguir.


          Diego a beijou. Qualquer pessoa que visse de fora ficaria encantado com aquele beijo apaixonado, mas os dois, lá no fundo, tentavam adormecer a verdade. Ele nunca foi o que Nicole queria para o resto de sua vida. Ela não era quem Diego tanto desejava. Era o início da terceira tentativa e ambos rezavam para dar certo.

***

          "Cinco, quatro, três, dois, um... Feliz Ano Novo!", gritaram em uníssono. Laura estourou a champanhe na varanda do apartamento e Jonathan lascou um beijão em Dani. Assistiram os fogos apoiados no beiral e Daniela ficou maravilhada com o show de luzes. É claro que em sua cidade também tinha, mas em São Paulo a quantidade e variedade era muito maior.

          Eram duas e meia e Laura já estava dormindo, mas Daniela continuava debruçada na varanda. Jonathan apoiou-se ao seu lado e estendeu uma taça de champanhe.


– Você não está com sono? Viajou a noite inteira.

– Estou, mas São Paulo é tão linda vista daqui de cima, não dá nem vontade de ir embora.

– Então não vai.

– Uai, tá doido? Tenho que trabalhar.

– Não, é sério. Fica aqui.

– Agora pronto, endoidou! Por que você não vem comigo?

– Eu vou... Mas com uma condição.

– Qual?

– Casa comigo?


          Se houvesse uma competição para ver qual coração ficou mais acelerado, daria empate. Dani derrubou champanhe ao ouvir o pedido de Jonathan, não sabia se ele falava sério, ele já brincou com isso antes. Jonathan sentia as mãos suarem, nunca falou tão sério.


– Deixa de bobiça, menino.

– Eu tô falando sério. Casa comigo?

– Você não...

– Sim, eu tô sim.

– Mas você vai deixar tudo aqui e ir comigo?

– Eu não tenho nada que me prenda aqui. Eu praticamente moro sozinho se você levar em conta que minha mãe ou está trabalhando ou está viajando.

– Jonathan do céu...

– Você tá me deixando agoniado... Vou perguntar e você responde "sim" ou "não", tá? Casa comigo?

– Sim! Claro que sim!


          Daniela deixou a taça cair quando Jonathan a puxou para um beijo, espalhando vidro e champanhe por toda a varanda. Laura apareceu de pijamas para descobrir o barulho e recebeu a notícia com lágrimas nos olhos. Seu menino cresceu. Ficou triste por tirá-lo de sua asa, mas adorava a nora e tinha certeza que eles seriam muito felizes.

          Já Daniela não conseguia acreditar que ia se casar. Havia fantasiado isso quando ele ficou em sua casa, mas não imaginou que se concretizaria tão rápido, eles sequer eram namorados. Jonathan pensou em pedi-la em namoro para seguir a ordem que manda o figurino, namoro-noivado-casamento, mas mudou de ideia no momento em que ela desembarcou do ônibus. Ele a queria por inteiro o tempo todo. Ele a queria definitivamente. 

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Boa tarde, meus amores!
E aí, o que acharam do capítulo?
Apoiam essa ideia repentina do Jonathan? haha
Deixem a estrelinha e os comentários que tanto amo! ♥

Esse foi o penúltimo capítulo e eu estou com um misto de sentimentos aqui dentro ♥ haha
Semana que vem, o fim de Imperfeitos e as novidades para Incompletos!
Vejo vocês na segunda!
Beijinhos ♥

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