40 - Moleque
Duda olhou para o lado e Steve estava ali, dormindo feito uma criança. Levantou o cobertor e viu que estava usando apenas uma camiseta. Uma camiseta dele. Não sabia se o enjoo que sentia era proveniente da ressaca ou da situação. Correu até o banheiro e vomitou tudo o que havia em seu estômago. Ouviu um barulho vindo da casa e se enrolou na primeira toalha que encontrou. Steve apareceu na porta do banheiro com os olhos quase fechados.
– Você está bem?
– Steve, eu... eu...
– Aqui, coloca isso – joga um shorts em sua direção.
– Obrigada, mas eu preciso ir embora...
– Calma. Eu vou fazer café e a gente conversa.
Steve preparou o café da manhã enquanto Duda tentava se recompor no banheiro. Ela encarava o espelho tentando lembrar como tudo aconteceu. "O café está pronto", a chamou dando duas batidinhas na porta. Duda pegou seu copo de café e se sentou ao lado dele no sofá. Maldito sofá.
– Duda, você quer conversar sobre isso?
– Sim. A gente... eu e você...?
– Sim.
– Como?!
– Eu não lembro de todos os detalhes, mas eu lembro que eu estava fazendo minha incrível performance de Meninas Malvadas e de repente você estava tirando minha blusa.
– Meu Deus, que vergonha...
– Vergonha de quê? Você não fez nada sozinha.
– Mas eu... eu... droga, Steve! Você é realmente gostosão e tal, mas a minha intenção era só ser sua amiga.
– E você é. Fica tranquila, não vai acontecer de novo.
– Me desculpa.
– Pelo quê? Eu também não quero que aconteça mais. Desde o início eu deixei claro que o nosso lance é só amizade.
– Você me dá uns foras tão reconfortantes – sorri.
– Você merece. Ontem você me disse que eu sou bom, mas que preferia um tal de Diego – sorri.
– Oh, shit.
– Tudo bem, eu sei que sou muito bom, mas é que no seu caso o amor falou mais alto. E além do mais, você acabou de dizer que eu sou gostosão.
– E o bad boy metido está de volta – ri.
Steve sorriu e foi encher o pote de ração de Christmas Eve. Duda levantou de supetão e pegou o celular, lembrou que precisava avisar suas amigas que estava tudo bem antes que elas se desesperassem e avisassem Deus e o mundo do seu sumiço. Haviam muitas mensagens preocupadas das duas. "Estou viva", respondeu. Abriu o Facebook e logo de cara se deparou com uma nova foto do casamento de Diego. Steve sentou-se ao seu lado e esticou o pescoço até seu celular.
– Esse que é o Diego?
– Sim... E essa é a esposa dele.
– Sou mais eu... mas ele também é bonitão.
– Você acha que eles formam um casal bonito?
– Eu acho que você deveria parar de ficar olhando as coisas dele.
– Eu não procurei, apareceu no Facebook.
– Então deleta ele. Sei que é difícil, mas cada vez que você abre suas redes sociais você fica triste porque viu uma foto dele... Uma amizade no Facebook vale mais que sua sanidade?
Duda não respondeu pois sabia que Steve tinha razão. Uma notificação pipocou na tela, "Duda, você está bem?". Era Elisa... droga, era Elisa! Vestiu sua roupa apressadamente e pediu para Steve levá-la para casa. Seu estômago revirou assim que estacionaram em frente ao gramado. "Diz que eu fiquei bêbado demais para dirigir e você preferiu dormir em casa". Duda assentiu e desceu do carro.
Assim que entrou em casa, foi recebida pelo sorriso ardiloso de Elisa. "Como foi a noite com o seu amigo?", perguntou de imediato. Duda contou a desculpa que Steve inventou a olhando nos olhos para fingir verdade. "Vocês formam um casal tão lindo, deveriam tentar", Elisa afirmou antes de Duda subir para o quarto e se jogar na cama para tentar dormir, pois a ressaca ainda estava presente e sua cabeça doía com todo e qualquer movimento.
Antes de fechar os olhos, abriu o Facebook mais uma vez e foi até o perfil de Diego. Pensou algumas vezes antes de tocar a tela. Respirou fundo. Desfazer amizade.
***
Quatro dias se passaram. Jonathan já estava de volta a São Paulo há alguns dias, mas havia deixado parte de si naquela minúscula casa do interior de Minas Gerais. A despedida na tão frequente rodoviária mineira foi mais difícil do que todas as outras vezes, essa foi a primeira vez que Daniela o acompanhou – e também a primeira vez que ele viu qualquer demonstração de tristeza vinda da moça. O abraço demorado na plataforma quase o fez perder o ônibus, e, no fundo, os dois queriam que isso acontecesse.
***
Diego acordou em um pulo, com aquela mesma sensação que acordamos quando sonhamos que estamos caindo. Olhou para o lado e Nicole já havia se levantado. Foi até a cozinha e a encontrou tomando café afobada. "Por que toda a pressa? Vai sair?", perguntou se apoiando no armário. Ela afirmou enquanto virava um gole de café. Diego coçou os olhos para tentar enxergar o relógio, ainda eram sete e vinte.
– Está cedo, onde você vai?
– Fazer ultrassom, já estou atrasada, está marcado para oito horas, até pegar o ônibus vai demorar.
– Eu não sabia que você tinha ultrassom hoje, por que não me avisou?
– Achei que não fosse importante...
– Claro que é! Me dá cinco minutos, vou colocar uma roupa e te levo.
– Não, Diego, não precisa.
– Cinco minutos! – grita do quarto.
Nicole subiu na garupa de Diego e seguiu calada até o centro da cidade. O silêncio se estendeu à sala de espera da clínica. Ela estava focada no noticiário que passava na TV, já ele prestava atenção nela. Era nítido em seu olhar que ela não estava feliz, tampouco à vontade com a presença dele ali.
Ela se levantou para ir ao banheiro e ele pegou o celular. Rolou pelo Facebook para passar o tempo. A foto que Jonathan publicou no aniversário de Duda estava por ali. Ele sorriu sem perceber e abriu o perfil dela. O sorriso se desfez ao ver que já não eram mais amigos na rede social.
Ficou sem entender, será que fez algo? Não, Diego, isso não é hora de se importar. Sua esposa estava ao seu lado minutos antes. Talvez de fato Duda estivesse cumprindo o que prometeu: estava o apagando de sua vida. Ele sabia que ela não estava errada. Nicole sentou-se ao seu lado e ele desligou o celular. Não era hora para isso.
"Nicole Oliveira Ribeiro", a enfermeira chamou. Foi estranho ouvir pela primeira vez o nome dela seguido de seu sobrenome. Nicole e Diego se levantaram e seguiram até o corredor. Ela entrou na sala, mas ele ficou parado na porta. E se ela não o quisesse lá dentro? Ele não queria incomodá-la, de forma alguma. Recuou alguns passos, mas a enfermeira o chamou novamente. "O senhor não vai entrar?".
Diego assentiu e entrou na pequena sala escura. A enfermeira apontou a cadeira onde ele deveria se sentar, que obedeceu prontamente. Nicole deitou na maca e encarou o monitor. Ele pegou ar para tentar puxar assunto, mas foi interrompido pelo médico.
– Bom dia! E aí, será que hoje essa criança deixa a gente ver se é um meninão ou meninona?!
Nicole sorriu e Diego respirou aliviado, queria conversar com ela, deixá-la mais confortável, mas não sabia como fazer. Olhou para o monitor e sentiu seu coração acelerar e os olhos marejarem ao ver a silhueta de um rosto se formar entre as manchas cinzas do aparelho. O médico correu o transdutor pela barriga de Nicole até formar outra imagem.
– Hoje o pai deu sorte! Olha aí, as perninhas abertas. Parabéns mamãe, parabéns papai, vocês terão um meninão!
Os olhos de Diego se encontraram aos de Nicole, igualmente marejados. Ele segurou sua mão e trocaram um sorriso cúmplice. Ele voltou a encarar o monitor ainda encantado, mesmo sem entender muitas das manchas da tela. Era o seu filho. O seu menino. De repente nada mais importava a não ser ele, Nicole e seu moleque. Estava na hora. Era hora de fazer dar certo.
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Olá meus amores!
Esse capítulo é tão curtinho, me desculpem.
O que acharam? Deixem a estrelinha e muitos comentários! ♥
Vejo vocês na próxima segunda, quando postarei o penúltimo capítulo.
Meu Deus, tá acabando, não sei se tô pronta pra isso! :O
Beijinhos ♥
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