38 - Como amigos
Olivia desceu do ônibus escolar e correu até Duda, que a aguardava na esquina. No caminho até em casa tagarelava sobre o seu dia, contava todas as atividades que a professora passou, do que brincou na hora do lanche, o nome dos amiguinhos... Duda tentava prestar atenção em tudo, mas a menina falava rápido demais. Entraram em casa e Olivia correu até a mochila e voltou para a sala com algo nas mãos.
– Ah, Maria, a Emma pediu pra te entregar isso, o irmão dela que mandou!
Duda pegou o pequeno envelope das mãos da menina e abriu. Retirou um pedaço de papel e sorriu ao ver um chip de celular grudado com um pedaço de fita adesiva. "Espero que você não se importe" escrito um pouco mais acima, seguido de um número de telefone. Olivia espiou por cima do papel e saiu cantando a plenos pulmões "A Maria tem namorado, a Maria tem namorado!".
Com o chip devidamente ativado, Duda adicionou o número de Steve aos contatos e enviou um SMS. "Olá! Muito obrigada pelo chip. Agora você tem o meu número!". Já que estava com o celular em mãos, não custava nada entrar no Facebook para dar uma espiadinha nas fotos do dia anterior... "Não Duda, se segura. Já se passou vinte e quatro horas e você conseguiu não olhar", se auto repreendeu. Antes mesmo que pudesse bloquear a tela, a resposta de Steve pipocou na tela, "De nada! Tenha um ótimo dia, brazilian girl".
***
Quatro dias se passaram. Duda seguia firme sem sequer abrir o Facebook. Também, estava tão atribulada com as crianças que mal tinha tempo. Seu horário livre era o período em que os dois estavam na escola, mas ela o gastava aperfeiçoando seu inglês. Steve inclusive a ajudava com isso, trocavam mensagens de texto todos os dias e ela percebeu que por trás daquela pose de bad boy existia um rapaz muito bonzinho. Aliás, combinaram de sair naquela noite.
Já a milhares de quilômetros dali, Nicole e Diego seguiam tentando acertar os ponteiros de suas vidas. Naquela primeira semana de recém-casados, assistiram televisão juntos. Saíram para jantar como um casal. Visitaram Mônica juntos. Ela perguntava sobre o seu trabalho, ele perguntava sobre o bebê. Se esforçavam para sorrir, para serem felizes, para recriarem o vínculo que um dia tiveram, mas na hora de dormir, cada um virava para um lado e remoíam tudo em silêncio. O último beijo ficou no altar.
A algumas quadras de distância, Jonathan e Daniela elevavam o romance a um novo patamar que, até então, era algo novo para eles. Os dias ao lado de Jonathan foram mais fáceis do que ela imaginou. Ela saía para trabalhar e o deixava dormindo. Quando chegava, o jantar estava pronto e ele a aguardava todos os dias com um sorriso no rosto. Ouvia atentamente tudo o que ela tinha para contar, não importava se era sobre o trabalho ou até mesmo sobre alguma teoria da conspiração que ela adorava ler.
A relação dos dois era muito boa, não haviam cobranças e nem joguinhos de desinteresse. Os dois sabiam exatamente o que queriam e deixavam claro para o outro. Não se rotulavam, mas não ficaram com outras pessoas desde que se (re)conheceram. Eram felizes da maneira deles.
***
O relógio se aproximava das sete e Duda já estava pronta. Sugeriu de encontrá-lo em algum lugar, mas ele insistiu em buscá-la em casa. Estava um tanto quanto insegura em sair com alguém tão rápido, havia acabado de completar uma semana em Boston e já tinha um date, como Elisa brincou enquanto ela se arrumava.
Sentou-se na cama e ligou para Jonathan para contar a novidade, mas que na verdade seria um pedido de conselho. Agora as coisas não eram tão simples quanto correr no quarto ao lado. Chamou até cair. Não falava com o irmão há dias, a última vez foi uma ligação por vídeo na segunda-feira, em que ele apareceu com Dani e contou que passaria a semana com ela. Tentou ligar mais uma vez. Estava aguardando atender quando Noah entrou correndo no quarto.
– Auntie, seu namorado chegou! Seu namorado chegou!
– Noah! Ele não é meu namorado, quem te falou isso?!
– Olivia!
"Essa menina...", bufou. Desligou o celular e desceu. Vestiu seu casaco e saiu. Uma fraca nevasca caía, mas mesmo assim Steve a aguardava do lado de fora do carro. Ele abriu a porta do carro para ela, que sentiu um arrepio não só de frio, mas por lembrar que o excesso de cavalheirismo a fez acreditar em Lucas, e, bom... todos já sabem o que aconteceu depois disso.
Os dois tentaram se conhecer melhor no caminho. Steve ficou chocado ao saber que Duda só tinha dezenove anos. "Ia te levar a um bar, mudança de planos". Ele contou que tinha vinte e quatro anos, trabalhava como fotógrafo em um estúdio e que morava sozinho, porém passava mais tempo na casa dos pais.
Deixaram o carro em um estacionamento e atravessaram a avenida. Duda reconheceu o lugar, a lanchonete era exatamente ao lado da cafeteria que esteve dias antes com Elisa. Sentaram-se e logo uma garçonete trouxe os menus. Ela fingia olhar o cardápio, mas estava pensando o que raios tinha em mente para sair com um desconhecido. Pediram os hambúrgueres e Duda continuou em silêncio.
– Você está bem?
– Ah, sim. Estou sim.
– É que você está tão calada.
– Desculpe, é que eu não pensei que fosse sair com alguém tão rápido. Na verdade, eu não pensei que fosse sair com ninguém nos próximos seis meses.
– Oh, não. Não, Duda, você pode ter entendido errado. Eu te chamei para jantar como amigo, apenas.
– Ai Deus, que vergonha! – cobre o rosto com a mão.
– Não, não fique envergonhada. Desculpe se eu demonstrei algo. Amanhã é seu aniversário, você está sozinha, pensei que você gostaria de comemorar, por isso te convidei.
– Apesar de toda a pinta de bad boy, você é uma pessoa boa, Steve – sorri.
– Você também é, Maria Eduarda.
– Você precisa treinar falar o meu nome!
Steve passou os vinte minutos seguintes tentando falar o nome de Duda, arrancando muitas risadas dela. Ela se sentiu mais à vontade depois de saber que não haviam segundas intenções, apenas dois colegas passando um tempo juntos. Os hambúrgueres chegaram e Duda ficou maravilhada com aquilo. "O Diego precisa experimentar isso!"... Droga, Diego de novo não, Duda. Chacoalhou a cabeça na tentativa de espantá-lo de seus pensamentos, mas Steve o fez voltar instantaneamente.
– Por que você disse que não pensou que sairia com alguém nos próximos seis meses?
– Bom... digamos que... eu tinha alguém antes de vir.
– Ele vai ficar te esperando no Brasil?
– Não. Ele se casou.
– Espere... o quê?!
– Sim. Ele se casou domingo agora, no dia em que nos conhecemos.
– Não brinca...
– Acho que nem posso dizer que eu o tinha, porque ele nunca foi meu de verdade.
– A gente pode abrir um clube...
– Por quê?
– Lembra que eu te disse que morava no Arizona? Minha esposa era de lá. Ela fez faculdade aqui, nós namoramos por um ano e meio, depois nos casamos e eu fui pra lá com ela. Dois anos e meio depois ela me pediu o divórcio.
– Nossa, eu sinto muito...
– Não sinta, foi melhor assim. Já faz pouco mais de um ano que eu estou aqui de novo e estou feliz.
– Espero chegar neste mesmo estado de espírito que você, por enquanto eu estou na... como dizer isso em inglês... ahn... Sofrência.
– Que diabos é sofrência?
– É a junção de sofrimento e carência – ri.
– Oh, Lord... Essa é a melhor definição que já ouvi.
Continuaram conversando sobre palavras com significados únicos. Ele a ensinava algumas gírias em inglês e ela retribuía com expressões em português. As outras mesas já estavam incomodadas com as risadas dos dois. As horas passaram voando. Steve pagou a conta e logo correram até o carro. "Liga o ar quente, pelo amor de Deus", Duda pediu soprando as mãos. "Só se você quiser levar um choque térmico quando sair do carro", ele respondeu sem ao menos tocar no botão do ar-condicionado.
Seguiram por todo o caminho falando sobre assuntos randômicos, até que Steve estacionou em frente a casa de Duda. Ela soltou o cinto de segurança e se apressou para descer, mas Steve a pediu para esperar um minuto. "Pra quê?". O relógio virou e ele a abraçou. "Feliz aniversário, Maria Eduarda!" – dessa vez seu nome saiu (quase) certinho – "Eu espero que sua vida seja muito feliz aqui". Duda sorriu e agradeceu. Ela também esperava isso. Desceu do carro e antes que pudesse dar muitos passos, Steve a chamou.
– Amanhã eu estou à toa. Se você quiser fazer algo para comemorar seu aniversário, pode me ligar. Como amigos.
Steve esticou o punho fechado para fora da janela. "Como amigos", Duda respondeu batendo seu punho no dele. Ele a esperou fechar a porta antes de continuar seu caminho. Ela entrou em casa e Elisa estava dormindo no sofá. Subiu direto para o seu quarto e se jogou na cama com o celular nas mãos. Assim que se conectou à internet, mensagens começaram a chegar no WhatsApp. O celular tocou quase que imediatamente. Atendeu a ligação por vídeo, era Jonathan. O rosto dele era iluminado apenas pelo celular e seu rosto estava inchado, como o de quem acabou de acordar.
– Parabéns pra você, nesta data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida! – sussurrou.
– Obrigada!
– Desculpa falar baixinho, a Dani tá dormindo e eu tô na sala. Coloquei meu celular pra despertar agora só pra poder te dar os parabéns à meia-noite, igual a todos os anos. Atrasei alguns minutos porque demorei pra conseguir levantar.
– Mas agora são três da manhã aí!
– Eu sei, mas pra você é meia-noite.
– Você não existe...
– Existo sim pô, tô aqui em Minas, todo largado no sofá falando com a minha irmã.
– Falando em Minas, como está a brincadeira de casinha com a Dani?
– Eu adoro essa mulher, Du.
Jonathan passou a meia hora seguinte exaltando todas as qualidades de Daniela e quão incrível era a companhia dela todos os dias, ao dormir e ao acordar. Duda ficava contente ao ver o irmão tão feliz. Sentia muita falta dele, mas sabia que ele estava em boas mãos. Por mais que quisesse perguntar, não tocou no nome de nenhuma pessoa mineira que não fosse Daniela. Também preferiu não contar sobre Steve. Seu irmão certamente daria uma de Olivia e não acreditaria quando ela dissesse que ele era apenas seu colega. Na verdade, até acreditaria, mas faria piadas mesmo assim, apenas para irritá-la.
Só se despediram quando Jonathan mal aguentava os olhos abertos. Assim que desligou, algumas notificações do Facebook chegaram. "Não, você não vai abrir". Deixou o celular de lado e tentou dormir. Minutos depois, pegou o celular e abriu o aplicativo depois de quase uma semana.
Haviam várias notificações acumuladas, comentários em suas postagens, curtidas em suas fotos, felicitações de aniversário... Mas nada de Diego. Ao mesmo tempo que tinha medo de ver algo que a entristeceria, queria saber tudo o que aconteceu. Tinha o terrível defeito de precisar ver para crer. Chegou a digitar seu nome na busca, mas apagou em seguida.
Rolar o feed do Facebook era um verdadeiro campo minado para ela. Não tinha muitos amigos adicionados, então a chance de encontrar alguma foto perdida do domingo anterior não era algo impossível. Amigos adicionados... Buscou por Steve Trainor. Não foi tão difícil de encontrar, haviam poucos homônimos. Enviou uma solicitação de amizade e deu uma olhada rápida nos interesses do rapaz. Ótimo gosto musical. Bons filmes. "Friends, melhor série do universo".
Continuou rolando pelas páginas até que viu uma foto de Gabriela com um vestido de festa. Certamente era do casamento. Sentiu uma pontinha de ciúme porque sabia que no fundo Gabi torcia por ela e Diego, mas ela era irmã dele, era óbvio que seria madrinha. Ficou tentada ao abrir o perfil da prima, mas se conteve. "Hoje é seu aniversário. Você não pode ficar triste". Desligou o celular e rolou pela cama até pegar no sono.
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Olá meus amores! Como estão?
O que acharam do capítulo? Confiam no Steve?
Deixem o votinho e muitos comentários!
Ah, e parabéns para a Duda! ♥ haha
Vejo vocês na segunda! Beijinhos ♥
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