37 - Pose de James Dean

          Duda estava apoiada no corrimão da escada observando a quantidade de crianças correndo pela sala. Em sua cabeça, todo aniversário infantil americano acontecia no quintal, com uma churrasqueira assando hambúrgueres e salsichas e com as crianças brincando pela grama debaixo do sol quente. Ali isso era impossível, então os poucos adultos precisavam se espalhar pelos cômodos, deixando espaço livre para toda a agitação infantil.

          Correu os olhos pela sala à procura de Elisa, mas não encontrou. Via que todos interagiam, menos ela. Tudo bem que era a mais nova entre os adultos e que todos os presentes conversavam sobre a educação dos filhos, o clima, sobre o trabalho. Ela conversaria sobre o quê?

          Foi até a cozinha e pegou um copo de suco. Olhou para a pizza no balcão e não estava nada apetitosa. Sentiu saudades da pizza de São Paulo, sempre transbordando de queijo. Foi até a janela e ficou observando o sol tímido por trás das nuvens. Finalmente não estava tão frio quanto nos outros dias, afinal 14° fazia até mesmo em São Paulo.

          Abriu a porta dos fundos e saiu para o quintal para aproveitar os poucos raios de sol, mas uma nuvem de fumaça atingiu seu rosto. Olhou para o lado irritada e encontrou um rapaz apoiado na parede com um cigarro nas mãos. "Ah, me desculpe! Não te vi sair", ele abanou a mão no ar para dispersar a fumaça.


– Está tudo bem.

– Steve Trainor, muito prazer – apoia o cigarro no canto da boca e a estende a mão.

– Maria Eduarda – o cumprimenta.

– Só Maria Eduarda?


          Duda riu da maneira que ele repuxou o R ao repetir seu nome.


– Maria Eduarda Castro – sorri – Me desculpe, ainda não me habituei a esse costume de falar nome e sobrenome.

– Você não é daqui, não é mesmo?

– Não, sou do Brasil.

– Uau, Brasil. Dizem que é um país lindo.

– É sim, mas não pense que nós vivemos no meio da floresta – ri.

– Não, de forma alguma. Também sei que nem todos gostam de samba e futebol e que vocês não falam espanhol! – sorri.

– Já é um bom começo.

– Faz tempo que você está aqui? – apaga o cigarro na parede.

– Quatro dias.

– Você fala bem para tão pouco tempo.

– Muitos anos de estudo e muitos seriados e filmes – sorri.

– Já encontrou algo que não gostou muito por aqui?

– O frio. Não que eu não goste, mas quando eu cheguei, parecia que ia congelar.

– Também não sou muito fã. Eu morei dois anos e meio em Phoenix, no Arizona e me acostumei com o calor. Lá é bem quente, voltar pra cá foi um sacrifício.


          Ela não sabia muito bem o que conversar com aquele completo estranho que jogou fumaça em seu rosto. Ele parecia uma pessoa legal, apesar de toda a pose de James Dean escorado na parede. Assim como os demais dentro da casa, acabou no assunto do clima. Encostou ao seu lado e passou a encarar o céu mais ensolarado desde que chegou.


– Então, Maria Eduarda – puxou o R mais uma vez, a fazendo rir.

– Pode me chamar de Duda – sorri.

– Duda – repete – Oh, Duda, muito melhor. Então, Duda, você está aqui acompanhando alguma criança?

– Sou babá de duas crianças, e você?

– Vim trazer minha irmãzinha. Sabe como é, não temos babá – sorri.


          Duda retribuiu o sorriso e mais uma vez ficou em silêncio. Olhou para o celular e já passava das três da tarde. Fez as contas e imaginou que a festa de casamento já havia terminado. Seu dedo coçou para abrir o Facebook e procurar por Diego, queria ver alguma foto, mesmo sabendo que isso a destruiria por dentro. Bloqueou a tela e se virou para a porta.


– Eu tenho que ir, preciso ver se as crianças precisam de algo. Foi um prazer conhecê-lo.

– Espere, me passa o seu número?

– Eu ainda não tenho um.

– Como assim?!

– Eu ainda não tenho... Esqueci de comprar um chip.

– Você é engraçada – sorri.

– Foi um prazer conhecê-lo – retribui o sorriso.


          Assim que entrou, Noah a cercou e abraçou sua perna. Elisa estava na cozinha com a mãe do aniversariante e a chamou para a conversa. Falavam sobre a escola das crianças. Duda não prestava muita atenção no papo das duas, sua mente girava somente em torno da curiosidade sobre o casamento.


"Será que ele disse não?"

"É claro que não, Eduarda, para de fantasiar"

"Será que ela disse não?"

"Se eu abrir o Facebook aqui, vou ficar com vergonha de chorar na frente dos outros e vou me segurar. É uma boa ideia"

"Mas e se eu não conseguir segurar e chorar na frente desse bando de gringo desconhecido? Vergonha internacional"


– Maria Eduarda...? – Elisa chama.

– Ah, sim... Oi! – dá uma piscada dura, tentando voltar a si – Perdão, me distraí.

– Vamos para a sala cantar os parabéns.


          "Happy birthday dear Justin, happy birthday to you", cantavam em uníssono. Duda estranhava o fato dos americanos não baterem palmas ao cantar os parabéns. No começo até deu algumas palmas perdidas, mas viu que era a única. Sentiu a risada de Steve do outro lado da sala. Recebeu um pedaço de bolo e... Deus, que saudades do Brasil.

***

          A praça estaria deserta se não fosse por um casal com trajes de festa sentados na mesa de cimento, dividindo uma garrafa de cerveja. Daniela contava sobre seu trabalho e a semana cansativa que se passou. Jonathan lamentava a ida da irmã e a saudade que já estava sentindo.


– O pior é que essa saudade só vai aumentar, porque daqui algumas horinhas eu tô voltando pra São Paulo e você vai ficar aqui.

– Fica aqui.

– Como? Não rola ficar na Mônica sem o Diego lá.

– Fica lá em casa.

– Eu não, vai que você me sequestra – sorri.

– Larga de ser bobo, menino! Eu moro sozinha, fica comigo lá em casa.

– Você está me pedindo em casamento, senhorita?!

– Mas você se acha, hein? – sorri – Fica uma semaninha só.

– Uma semaninha? E se eu gostar muito e não querer ir embora?

– Eu te dou ordem de despejo.

– Eu duvido – a beija.

***

          Laura entrou no carro em direção a São Paulo sozinha. Jonathan acenou do lado de fora ao lado de Daniela. Assim que o veículo desapareceu entre as ruas, ele sentou no banco do passageiro do fusca azul e a acompanhou até sua casa. Sentiu o coração acelerar antes de passar pelo pequeno portão de ferro. "A casa é sua", ela disse ao jogar a chave de lado.

          Da porta ele conseguia ver a casa inteira. A pequena sala contava apenas com um sofá azul-claro e a televisão presa na parede. A cozinha era um corredor minúsculo onde mal caberia os dois. Nos fundos da cozinha havia uma porta que levava à área de serviço. A parede entre a sala e a cozinha era aberta em uma bancada para as refeições e dois bancos de bar. Ao lado da sala, a porta do quarto entreaberta mostrava apenas uma cama de casal e um pequeno guarda-roupas. A garagem parecia maior que a sala e a cozinha juntas. Apesar de pequena, a casa era muito organizada e bem decorada.


– Eis a minha mansão – se joga no sofá.

– É linda – se senta ao lado dela.

– Você tá todo travado aí, pode ficar à vontade, tira o sapato, estica os dedos... Relaxa! – empurra sua sandália para longe.

– Eu queria tomar um banho...

– O banheiro fica dentro do quarto. Não sei o que as pessoas que construíram aqui pensavam, mas enfiaram o banheiro lá. Tem uma toalha novinha atrás da porta, pode usar.


          Jonathan assentiu e foi para o banheiro. Daniela se esparramou no sofá e fitou a mochila do seu... seu... o que eles eram, afinal? "Meu Deus, eu trouxe ele pra minha casa... Eu trouxe ele pra minha casa por uma semana!", sussurrou sozinha. O que ele faria durante a semana enquanto ela trabalhava? Também não pensou nisso. Repetia que precisava parar de agir por impulso, mas, ao mesmo tempo, estava feliz porque ele estava ali. Gostava dele e já sabia disso, senão não contaria os dias para ele chegar. Ele também parecia gostar dela na mesma intensidade.


– Eu preciso usar seu varal...


          Daniela olhou para cima e viu aquele homem enrolado na toalha no alto dos seus um metro e oitenta e cinco. Seu quase arrependimento em tê-lo convidado passou imediatamente. "A porta da cozinha", apontou. Ele agradeceu e ela o acompanhou com os olhos. Que homem maravilhoso. Jonathan notou o olhar indiscreto de Dani e riu.


– Você não é nada discreta.

– Por quê?

– Você tá me desejando aí!

– Você não era convencido assim!

– Mas eu estou mentindo?

– Não...


          Ele foi até o sofá e a beijou. Sua toalha caiu no caminho para o quarto. O vestido caiu ainda antes.

***

          Nicole saiu do banho e Diego estava sozinho na cozinha. Ela foi até o quarto e trancou a porta. Abriu minutos depois, já vestida, mas não saiu do cômodo. Diego foi até ela com a pequena caixa de salgados que o buffet mandou e dois copos de suco.


– Não quero, obrigada.

– Você precisa de alguma coisa?

– Não, eu estou bem, fica tranquilo.

– Eu vou ficar na sala hoje. Qualquer coisa pode me chamar.


          Diego pegou seu travesseiro e foi para a sala. Deitou no sofá mas não ligou a televisão, o escuro parecia mais convidativo ao sono. Então assim que seria sua vida? Conversando apenas o essencial com sua esposa? Dormindo na sala? Não se sentindo em casa no seu próprio lar? Mas que droga... Não havia pensado muito sobre a primeira noite depois de casado, mas, certamente, não imaginou que seria assim. Cobriu os olhos com uma almofada e tentou dormir, o dia foi longo e ele estava moído.


– Diego?


          Ele estava cochilando quando sentiu o leve toque em sua mão e descobriu a cabeça para ver quem era, como se houvesse mais alguém ali que não fosse ele e sua esposa. O rosto de Nicole era iluminado apenas pela claridade que vinha do quarto.


– Diego, vem dormir na cama.

– Não, vou deixar a cama para você.

– Isso não faz sentido... você é meu... marido.


          Diego se levantou e seguiu até o quarto. Seu lado da cama continuava intacto. "Boa noite", Nicole disse antes de virar de costas para ele. Ele deitou de barriga para cima e passou as quatro horas seguintes fitando o vazio sem conseguir dormir. Tentou encostar sua mão na de Nicole, mas ela se esquivou mesmo dormindo. Todo o sono deu lugar às lembranças. Sabia que seria difícil, só não imaginou que seria tanto.

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Boa tarde meus amores!
Mais um capítulo fresquinho! E aí, o que acharam?
Gostaram do Steve? rs

Deixem sua estrelinha e vários comentários!
Sei que estou em débito com eles, não tenho respondido com tanta frequência, mas estou totalmente focada no segundo livro, esse está na reta final e eu quero terminar a continuação logo para  que vocês não esperem tanto. 

É isso, vejo vocês semana que vem!
Beijinhos ♥

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