22 - Dança comigo?
"Gabi, pelo amor de Deus, chega de enfeite!", Diego implorou enquanto Gabriela montava a mesa do bolo e o ignorava. Jonathan ficou responsável pelas batidas e drinks, inclusive a tal "Fantástico Mundo de Bobby", então passou a tarde na cozinha. Era muita bebida, ninguém ficaria sóbrio naquele lugar. O DJ chegou duas horas antes da festa para montar seu equipamento. Diego ficou surpreso ao ver todo o equipamento profissional, pensou que fosse um DJ de festa de bairro, um pendrive e uma caixa de som. Tinha luzes, fumaça, laser, tudo.
Faltava uma hora para começar a festa, Jonathan foi o primeiro a se arrumar, colocou uma camiseta do Ramones e uma calça vinho. Diego saiu do banho, se vestiu de preto da cabeça aos pés, exalando o luto. Duda decidiu usar a camiseta da mosca com uma calça jeans. Gabriela ainda estava no banho, mas separou um shorts preto e uma blusinha amarela. Duda estava terminando de se arrumar quando Diego entrou.
– Ei, posso te pedir uma coisa?
– Claro, se for do meu alcance.
– Vem aqui fora comigo?
– Diego...
– É rápido, eu juro. Vai demorar uns quatro... cinco minutos no máximo.
Duda assentiu e o seguiu. Ele fez um sinal para o DJ e a levou para trás da casa, no mesmo lugar que costumavam observar o céu. A melodia da primeira música que dançaram juntos começou a tocar. "Dança comigo?", pediu.
– Não sei se é uma boa ideia...
– Ah Du, é meu aniversário, por favor... – sorri.
Ela retribuiu o sorriso e segurou sua mão. Diego ainda não levava muito jeito para dançar xote, mas conseguia se virar. Ele abraçou sua cintura e ela recostou a cabeça em seu peito, sentiu as mesmas borboletas no estômago de dois dias atrás. Diego fechou os olhos e por alguns minutos se esqueceu da montanha-russa que estava vivendo. A música acabou e eles continuaram abraçados, dançando no silêncio. Queriam que o tempo parasse. Duda ouviu algumas vozes desconhecidas e voltou ao mundo real.
– Diego, acho que seus convidados estão chegando.
– Espera... – segura sua mão.
– ...
– Obrigado... Por aceitar dançar comigo.
– Obrigada por me convidar... – sorri.
– Não existiria outra pessoa pra isso.
Duda sorriu desconcertada e voltou para o quarto. Pegou o celular e viu algumas mensagens de Lucas através de um novo número. Mensagens de ódio apenas porque soube que ela foi viajar. Ele sabia exatamente como atingi-la.
• "Foi viajar pra pular de macho em macho? Porque é só isso que você sabe"
• "Vagabunda, eu tenho nojo de você"
• "Você fica procurando macho, mas vai morrer sozinha, ninguém te suporta, nem mesmo sua mãe, por isso ela trabalha tanto, pra ficar longe de você"
• "Seu pai morreria de desgosto ao ver a piranha que você se tornou... Ah, espera, ele já está morto".
Ela não entendia tanto ódio. Vagabunda, piranha... Nada disso a atingia, mas falar do seu pai era jogar baixo demais. Ele extrapolou todos os limites, ainda jogou a ausência da mãe como sal na ferida. Na cabeça de Lucas, ela só não estava com ele por conta de "machos" e não porque ele era abusivo. Abusou física e psicologicamente, só não sexualmente porque Jonathan chegou a tempo. Ele não conseguia enxergar que o problema todo era ele, sempre seria ele. Duda tentou não se abater, sabia que não era verdade, mas, lá no fundo, sentia vontade de sumir.
***
A festa começou uma hora mais tarde que o combinado, uma chuva forte pegou a todos de surpresa, mas isso não impediu os convidados de chegarem. Os carros estacionados tomavam parte da estrada. A música alta não agradava aos mais velhos, que ficaram jogando cartas na cozinha para fugir do barulho.
Diego convidou todos os amigos, haviam vários da escola, mas só uma amiga da faculdade. Dois colegas de trabalho que ouviram falar da festa e se autoconvidaram. As únicas pessoas da família além de sua mãe, irmã e avós, eram Duda, Jonathan e Laura. A área da churrasqueira estava cheia, cerca de setenta pessoas. Só cinco convidados arriscaram a água fria da piscina durante a chuva.
Jonathan estava enchendo seu copo com um pouco de Fantástico Mundo de Bobby quando ouviu uma voz que parecia familiar em meio a tanto barulho. "Eu pensei que nunca mais fosse te ver, paulista!". Se virou e reconheceu no mesmo segundo.
A moça que deixou ir embora naquela primeira festa. Ela estava tão linda quanto no outro dia. O cabelo cacheado em um black power cuidadosamente arrumado. Vestia uma regata branca, soltinha, sem nenhum detalhe, a calça jeans com algumas voltas até a canela e um tênis branco. Ostentava um batom vermelho-alaranjado no sorriso largo.
– Eu também pensei que jamais fosse te ver de novo! – sorri.
– O que faz por aqui? Mais precisamente... Aqui!
– Bom... Eu deveria te fazer essa pergunta, afinal, o Diego é meu primo.
– O mundo é realmente pequeno! Nós fizemos faculdade juntos. Bom... Começamos, né? Nós dois trancamos depois de um ano. – ri.
– Eu preciso te perguntar, porque eu não me perdoo por não ter perguntado antes. Qual o seu nome?
– Daniela, e o seu?
– Jonathan. Muito prazer em te reconhecer. – sorri.
Ele a ofereceu um copo, que aceitou prontamente. A chuva havia dado uma trégua, então decidiram se sentar ao ar livre, em um tronco improvisado como banco. Ele lembrava de tudo o que conversaram da outra vez, mas ela não parecia se lembrar de muita coisa, inclusive se desculpou por isso. Ele fingiu não recordar também.
Ela contou que tinha vinte e cinco anos, iniciou a faculdade de cinema, mas não era o que ela queria. Trancou a matrícula semanas depois de Diego. Se mudou para Belo Horizonte e iniciou o curso de gastronomia, onde encontrou sua paixão. Voltou para sua cidade e trabalhava no restaurante de uma empresa. Não era o emprego dos sonhos, mas pagava suas contas e era em sua área de formação. Jonathan se sentiu envergonhado por dizer que estava desempregado e que não se formou na faculdade. Daniela percebeu o incômodo na fala dele e mudou de assunto com naturalidade.
– Essa bebida está maravilhosa! O que é?
– Chama Fantástico Mundo de Bobby... Não me pergunte o porquê!
– Por quê? – sorri.
– Eu não faço ideia. A gente foi em uma balada e esse era um dos drinks da casa. Foi amor ao primeiro copo. Como eu tomei vários, eu observei o pessoal preparando e aprendi.
– Menino prodígio!
– Bêbado prodígio seria melhor! Mas, modéstia à parte, todas as batidas e drinks que você beber hoje, fui eu que fiz.
– Prevejo que sairei bêbada daqui, então. – sorri.
Jonathan retribuiu o sorriso. A conversa com Daniela fluía naturalmente, como se os dois se conhecessem há anos. Ela tinha muita facilidade em se expressar, não estava preocupada em agradá-lo, dizer o que ele queria ouvir, não pretendia encenar. Ela foi ela mesma, o deixando ainda mais confortável. Conversavam olhando nos olhos, realmente interessados no assunto, seja ele qual for. Falaram desde séries até posições políticas. Ambos concordavam com o outro neste último tema.
***
Dez e quinze da noite. Esse foi o horário que o sorriso de Diego se desfez. Nicole chegou à festa junto com seus pais. Ela também não sorria. Os pais... bom, eles já não sorriam há algum tempo.
Não cumprimentaram ninguém, somente Diego. Sentaram-se em uma mesa livre e permaneceram em silêncio. Nicole ficava somente no celular, não queria encarar seus pais. Duda a reconheceu de longe, apesar da visão minimamente turva. "Ele a convidou", sussurrou enquanto virava o último gole de cerveja.
Gabriela foi pegar uma cerveja e viu Duda enchendo um copo com vodka e o tomando na mesma velocidade em que o encheu. Normalmente não se importaria, mas nunca tinha visto a prima bebendo tanto e tão rápido, ainda mais ela, que nunca misturava nada.
– Duda, você está bem?
– Eu estou ótima, por que não estaria? – seu hálito é puro álcool.
– Você quer conversar?
– Gabriela, você tá bem? Você querendo conversar comigo?
– Você não tá bem, vem aqui comigo...
Gabi a puxou até um dos quartos externos e fechou a porta. Duda sentou-se na cama e começou a chorar. Nem ela sabia o porquê, mas estava ficando bêbada, já não sabia a razão de muita coisa. Só sabia que estava bebendo para esquecer as mensagens duras de Lucas, mas isso só abriu as portas para novas paranoias. Gabriela sentou-se ao seu lado tentando consolá-la, mas não sabia muito bem o que dizer.
– Duda, por que você está chorando?
– Eu não sei...
– É por causa do meu irmão?
– Como assim, seu irmão? Você ainda tá insistindo nisso, Gabriela?!
– Ah Duda, pelo amor de Deus, eu pareço burra, mas eu não sou. Ainda mais para perceber uma coisa que está tão na cara assim. Você pode até achar que eu não gosto de você, o que é engano seu a propósito, mas eu amo o meu irmão, então não gosto de vê-lo assim.
– Assim como? Percebeu o quê? Não entendi...
– Você me entendeu bem... Cara, eu observo vocês e não é de hoje. Eu sou extremamente observadora. Da primeira vez que vocês vieram... Você ficou aqui três dias e assim que vocês foram embora, ele ficou o tempo todo no celular esperando qualquer sinal de vida seu. Aquela tarde chuvosa, lembra? Eu estava escondida debaixo da mesa de sinuca. Eu vi que você não se escondeu no baú. E eu aposto o que você quiser que você estava no quartinho de bagunças do meu avô junto com o Diego.
– Não Gabriela, eu estava no baú...
– Pelo amor de Deus, Eduarda, para de mentir! Você mente pra si mesma! Aquele dia no bar você saiu chorando e ele foi correndo atrás! Você namorou aquele rapaz e ele ficou super frustrado em casa... Ele terminou com a Nicole por sua causa...
– Mas parece que agora eles vão voltar, não é mesmo?
– Então você também sabe?
– Ele me contou... Pensei que você ainda não soubesse.
– Minha mãe me disse... Até porque se for para esperar ele contar...
– E de que adianta agora tudo isso que você tá me dizendo?
– Eu sei que ele gosta de você, Duda. Vocês parecem aquele lance de alma gêmea, sei que é clichê, mas parece. Cada vez que você vai embora ele se fecha no mundinho dele e fica inacessível. Ele passou essa semana inteira triste e quando você chegou ele se iluminou de novo.
– Você tá falando besteira.
Duda saiu do quarto e voltou para a geladeira para encher seu copo. Sabia que tudo o que Gabriela disse era verdade, só não estava pronta para ouvir tudo aquilo. Saber que outra pessoa descobriu seu segredo a frustrava, ela tinha tanta certeza que eles escondiam tudo tão bem. Virou uma dose de tequila enquanto procurava algo mais forte. Transbordou seu copo com mais uma das bebidas de Jonathan.
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OLHA ESSA GABRIELA SENSATA, MINHA GENTE!
O que acharam do capítulo?
Deixem seu voto e aqueles comentários maravilhosos que eu tanto amo ♥
Finalmente o Jonathan reencontrou Daniela! Estão shippando? rs
Segunda-feira estou de volta, trazendo mais um capítulo fresquinho.
Beijinhos ♥
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