21 - Nada mais
Mônica levantou antes de todos. Foi até a sala e encontrou Diego dormindo encolhido no sofá com a televisão ligada. O repreendeu baixinho e desligou o aparelho. Jogou uma manta em cima do filho, o fazendo acordar. Ele se sentou em silêncio e ficou observando a mãe colocando água para ferver. "Mãe...". Mônica não ouviu. "Mãe!", disse mais alto. Ela se virou para ele, fazendo sinal para falar baixo.
– Mãe... Eu preciso falar com você.
– Pode falar, filho.
– Senta aqui. – puxa a cadeira.
– Ai meu Deus... Você está se drogando?
– Não mãe... Não! É que...
– Desembucha, moleque!
– Sabe a Nicole, minha ex namorada?
– Claro, né Diego!
– Então... Ela está grávida...
– Ah meu Deus, não vai me dizer...
– E eu sou o pai.
– Eu te mato! – belisca seu braço.
– É um favor que você me faz...
– Diego, a menina é super novinha!
– Eu sei, mãe!
– Onde você foi amarrar seu burro... Aliás, o burro é você! – dá um tapa em sua cabeça.
– Eu sei...
– Os pais dela sabem?
– Sabem. O pai dela ficou puto.
– É lógico! Eu também fiquei! Você tem merda na cabeça?!
– Não, eu acho que a camisinha furou, porque eu sempre usei. Eu juro.
– Diego do céu, você é tão novo! Que estupidez!
– O pai dela quer que a gente se case...
– Não é uma ideia tão ruim.
– A gente não tá mais junto, mãe.
– Você não tem a mínima noção do que é criar um filho sozinha. Seu pai foi embora quando vocês já eram grandinhos e já foi muito difícil, imagina a menina novinha com um bebê. Uma criança cuidando de outra. Não seja o seu pai. Assume essa criança, seja um pai presente, dê uma chance.
– Eu não quero ser comparado a ele de forma alguma.
– Então não seja como ele. Mostra que você é diferente. Imagina o que está se passando pela cabeça dessa menina agora? O corpo dela vai mudar, a cabeça, ela vai abrir mão de todo um futuro que ela poderia ter. Imagina o que ela está passando na casa dela.
– Eu tenho medo...
– Todo mundo tem medo do que é novo. Seja honrado.
– Obrigado, mãe. – a abraça.
– Não me agradece não, eu to puta da vida com você.
Diego continuou sentado enquanto observava a mãe passar o café. Mesmo com a bronca, estava mais tranquilo. Foi mais fácil conversar com Mônica do que com Duda. Ela era sua mãe, podia ficar brava, dar uns tapas, mas, ainda assim, continuaria o amando incondicionalmente. Duda não. Ela ficaria indignada, decepcionada, magoada e isso mudaria tudo para ele. Casar com Nicole mudaria tudo. Mas não, ele não queria ser um espelho de seu pai. Não pensou muito, vestiu um moletom e saiu.
***
Tirou o capacete e tocou a campainha. Ninguém atendia, não sabia nem se a campainha estava funcionando. Pulou o pequeno muro. Respirou fundo e bateu à porta. Batia repetidamente, até que José abriu, ainda de pijamas. Não estava feliz ao vê-lo, ainda mais tão cedo.
– Espero que tenha um bom motivo para ter me acordado às sete e meia da manhã.
– Eu... Eu... Eu vou me casar com a Nicole.
Diego sentiu como se seu coração fosse parar de bater. Se arrependeu no mesmo segundo que concluiu a frase. Mas repetia mentalmente que não seria uma nova versão de Felipe, seu pai. Precisava fazer isso. Precisava assumir suas responsabilidades. Foi a primeira vez que Diego viu José sorrir, ou ao menos esboçar um sorriso quando gritou por Nicole, que chegou na porta espantada por ver Diego ali.
– O que aconteceu?! Diego, ontem você me deixou falando, está tudo bem?
– Sim... Eu vim falar pro seu pai que... Eu aceito me casar com você.
Nicole viu a infelicidade nos olhos dele, que desviou o olhar ao concluir a frase, mas tentou um sorriso amarelo para fingir alegria. José continuou apoiado no batente da porta com ar de satisfação. Sua filha não seria a mal falada da igreja, ele não receberia olhares tortos durante o dia. Tudo seguiria como ele planejou. Nicole pediu para conversar a sós com Diego. Seu pai não gostou, mas aceitou, afinal, ele já os considerava noivos.
– Por quê, Diego?
– Não sei. Eu conversei com a minha mãe hoje, ela me disse para tentar.
– Eu não queria me casar tão nova. Eu não queria um filho tão nova.
– Eu também não.
– Eu não queria mais você. Não queria mais a gente.
– Nem eu.
– O que vai ser da gente agora?
– Vai ser um dia de cada vez. A gente já namorou uma, duas vezes. Conseguimos conviver. Podemos tentar ser felizes.
– Eu não queria me casar pra tentar ser feliz. Eu queria me casar com a certeza de que seria.
– Minha mãe casou com o meu pai com essa certeza. Nada é certo nessa vida.
– O que vai ser da gente agora?
– Eu não sei, mas amanhã a noite terá o meu aniversário no sítio dos meus avós. Pensei que seria uma boa hora pra contar pra todo mundo logo e não dar tempo para a falação alheia. Se topar, aparece lá. Seu pai sabe o endereço.
Diego se despediu e subiu em sua moto. Chegou em casa e todos estavam sentados à mesa tomando café. Olhou o relógio e eram oito e meia, nem percebeu que ficou tanto tempo na casa de Nicole. Sua mãe o olhava ansiosa, mas ele não demonstrou nada. Olhou de rabo de olho para Duda, suas olheiras estavam fundas. Ela percebeu e saiu da mesa, desconcertada.
Maria terminava de colocar o almoço na mesa quando chegaram no sítio. Os dois carros chegaram lotados, todos foram com Laura, pois o carro de Mônica estava abarrotado de bebidas, carnes e a decoração para a festa. Diego não estava mais ansioso pela festa, só não cancelou porque já havia comprado tudo, mas queria que passasse logo.
***
Anoiteceu, Gabriela finalizava alguns detalhes da retrospectiva que insistia em fazer. Os mais velhos jogavam cartas na cozinha, um jogo que ninguém mais conhecia, mas que era passado de geração para geração. Duda estava no quarto terminando de vestir seu pijama enquanto Jonathan tomava banho. Diego entrou sem bater.
– Eu não aguento mais esse clima ruim...
– Nem eu.
– Você não falou comigo o dia todo.
– O que você quer ouvir de mim?
– Qualquer coisa.
– Qualquer coisa. – ironiza.
– Você me entendeu.
– Eu preciso digerir tudo isso.
– Eu contei para a minha mãe.
– E aí?
– Ela me disse para aceitar...
– E você aceitou.
– Eu não tive escolha, me desculpa.
– Mas Diego, você não tem que se desculpar comigo. Eu sou só sua prima, nada mais.
– Nada mais?
– Nada mais.
Jonathan entrou no quarto e percebeu a tensão entre eles. "Preferem que eu volte depois?", perguntou. Diego respondeu que não e saiu do quarto. Duda tentou não chorar, mas foi só olhar para o irmão que as lágrimas começaram a brotar. Ele a abraçou forte, tentando consolá-la.
– O que aconteceu?
– Tudo que eu não queria que acontecesse.
– Se quiser desabafar, eu estou aqui. Se não quiser, estou aqui também, te fazendo companhia.
Duda deitou a cabeça no colo de Jonathan e contou tudo o que aconteceu desde o dia em que foram para a casa dele. Não o poupou de nenhum acontecimento, disse sobre a noite que tiveram, sobre ir embora e ele deixá-la sozinha na rua, o dia que saiu chorando do bar... Tudo. Ele a ouviu atentamente, sem julgá-la ou interferir.
– Eu queria que vocês enxergassem o que eu enxergo em vocês.
– Como assim?
– Ah Du, vocês parecem ímãs. Pena que são ímãs burros. Sabem que deveriam ficar juntos, mas ficam tentando o polo errado, que só repele o outro.
Ela riu da comparação do irmão, o deixando feliz. Talvez não tenha ajudado muito, mas, pelo menos, descontraiu o clima pesado que ficou no quarto. Fez cafuné em sua cabeça enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios. Ela observava seu irmão e pensava sobre quão maravilhoso ele era. Ele merecia uma pessoa tão extraordinária quanto ele.
***
Diego acordou tarde, mas continuou deitado. Ouvia a falação vinda da sala. Gabriela já estava mexendo com a decoração. Ele insistiu que não queria enfeite nenhum, era pra ser apenas um churrasco com os amigos, mas Gabi queria que fosse um grande evento. Se revirou e cobriu a cabeça com o travesseiro, na falha tentativa de diminuir o barulho. Não adiantou, precisava levantar e encarar o sábado.
Chegou na sala e Duda estava sentada ao lado de Gabriela cortando alguns enfeites. Ela estava feliz. Pelo menos, parecia estar. "Bom dia", ele disse enquanto se espreguiçava no batente da porta. Duda respondeu sorrindo, o fazendo sorrir também. Ele se sentou de frente para as duas, mas não conseguia tirar os olhos dela. Ela estava linda. Nada de especial, inclusive ainda estava de pijama, calçando chinelo e meia. Os cabelos curtos estavam presos em um minúsculo rabo de cavalo, feito de qualquer jeito. O rosto um pouco inchado, como o de quem acordou há pouco tempo. Mas ainda assim, ele a achava linda. O tempo todo linda. Ela percebeu o olhar insistente dele, mas não retribuiu, apenas sorriu enquanto ainda falava com Gabriela.
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Oi meu povo!
Hoje chegamos no capítulo 21, metade da história!
Deixe aquele votinho que tanto amo e os comentários que eu adoro ler!
Então quer dizer que o Diego agiu por impulso – mais uma vez – e aceitou se casar com Nicole.
Vou perguntar já sabendo da resposta: o que acharam disso? haha
Quinta-feira estou de volta com o esperado aniversário, onde mais um personagem vai surgir. Será que vai ser um Lucas da vida ou será que vocês vão gostar??
Aguardem... ♥
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