ᴠᴀɪ ᴊᴀɴᴛᴀʀ ᴏᴜ sᴇʀ ᴏ ᴊᴀɴᴛᴀʀ?
— Foi difícil entrar? — fecho a porta do quarto e olho em direção à ela que está sentada no sofá em frente a uma grande tevê, na mesa de centro tem vários tipos de petisco.
Franzo o cenho.
— Não gosta? — se levanta e vem na minha direção e eu nego.
— Não é isso, eu só não... — olho por cima do ombro quando vejo ela rodar ao meu arredor. — O que está fazendo? — sorrio virando o rosto pro outro lado para acompanhá-la.
Aperto meus dedos no pescoço da garrafa de vinho que trouxe quando sinto as mãos dela subir pelas minhas costas e apertar suavemente meus ombros.
— Hope... — tranco meus olhos e ouço ela suspirar.
— Eu fui em uma festa ontem. — viro-me para ela e suas mãos caem ao lado de seu corpo.
Hope veste um short moletom preto e esconde os braços com uma blusa de manga cumprida fina e cinza, nos pés tem meias brancas.
Estou surpreso, não pelo fato dela ir na tal festa, disso eu já sei, mas por ela me contar.
— E eu beijei um fulano. — cruza seus braços e eu sorrio.
— Um fulano? — ela assente, estica a mão e tira a garrafa de mim.
— É, o nome dele é Josh. — caminha até a pequena mesa aonde tem duas taças. — Mas não sei vamos nos ver de novo.
— E por que está me contando?
Meus olhos observam as reações dela, Hope está parada ao lado da mesinha agora e sem conter caminho até ela.
— Olha, você é solteira, não tenho nenhum poder sobre você e não deve nada à mim. — encaro seus olhos e ergo minha mão para acariciar seu maxilar.
Ela sorri e se põe na ponta dos pés.
— E porque seus olhos me dizem outra coisa? — ela está perto e sinto meu coração acelerado.
Há um tempo atrás, quando Cristian se apaixonou por Alice ele tentou me explicar qual era a sensação, eu não sei dizer se estou por Hope, mas meu peito dispara quando estou perto dela e a minha vontade é de mantê-la assim, junto ao meu peito, como ele disse que acontecia com ele.
— O que meus olhos te dizem? — estar tão perto e não poder abraçá-la é quase insuportável.
Eu não quero me importar com quem ela se relaciona, sei que talvez isso soa doentio, porém não namoramos.
Ela dá de ombros e eu estalo a língua.
— Eu gosto de você, Hop... — disparo pondo-me surpreso logo em seguida, ela sorri de uma forma bonita enquanto coloco uma mecha de cabelo dela atrás da orelha, agora estou nervoso. — Mas...você não me deve fidelidade se não temos nada sério.
— E existe uma possibilidade de termos? — eu solto um riso nervoso, Deus, ela acaba comigo um dia desses.
— Você quer?
— Ora. — se afasta e vai até a pequena mesa. — Me diga primeiro você. — pega a garrafa para abri-la.
Eu me sinto incerto, ainda não sei identificar o que sinto por ela com perfeição, sei que está escrito nas paredes do destino que estamos destinados, porém eu tenho medo.
Meu mundo está em guerra, estamos prestes a mandá-la para uma missão suicida e eu nem tive coragem de lhe contar a verdade sobre mim, sobre os outros, sei e realmente espero que eles não a matem já que sabem que não podem, mas sei que posso perdê-la e dar meu coração à ela é como colocar uma corda em meu próprio pescoço.
— Não ficarei cheteada se a resposta for não, Daio. — ela despeja o líquido nas taças e eu suspiro.
— A minha resposta não seria não, mas provavelmente você não diria sim ao meu pedido de casamento. — me junto a ela no chão que agora me encara com um misto de surpresa e descrença.
— O que quer dizer? — me entrega uma das taçaas e eu dou um longo gole.
— Que se fosse ter um relacionamento com você seria pra por uma aliança no seu dedo e te chamar de Sra. Mollin — Hope me encara, seus olhos estão um pouco arregalados e os lábios um pouco abertos, sorrio.
— Não brinque comigo. — sussurra deixando a atenção ir para outro lugar.
Não posso deixar de pensar em Sebastian e no quanto ele a machucou, não quero ser como ele, Hope merece mais, merece meu melhor.
— Não estou. — garanto com um sorriso ladino.
Ela pisca, uma, duas vezes e engole em seco, seus olhos caem em sua própria taça.
— Ramires veio até mim hoje. — muda de assunto, assinto aceitando seu recuo, mas disso eu já sei também. — Sábado irei jantar com ele e com o tal do Michel.
— Está nervosa? — ela sorri ao negar e leva o vinho até os lábios.
— Porém teremos que brigar no dia, pra parecer mais real a raiva por você. — eu rio, não é uma péssima ideia.
— Brigariamos por que? acho que formamos uma dupla e tanto... — provoco e ela joga sua cabeça pra trás para rir.
Eu olho pro seu pescoço bem definido, os cabelos caem pelos ombros e os brincos delicados estão depindurados nas suas orelhas, Hope olha pra mim de volta e eu me sinto um idiota, talvez eu esteja mesmo apaixonado.
Por uma humana, uma Valente.
— Casaria comigo, Hope? — olho em seus olhos.
De vestido branco ela aparece na minha frente, seu sorriso e olhos brilhantes me fascinam, ela segura um buquê de rosas vermelhas na mão e caminha na minha direção sem desviar seus olhos de mim.
— Coma. — me tira do devaneio disparatado, pega uma esfirra e traz até minha boca.
Eu a aceito e mordo um pedaço generoso, o salgado não é grande, provavelmente ela o encomendou no restaurante do hotel, e está bom.
— Quantos anos você tem Mollin? — sua boca está cheia, mas Valente não se preocupa com isso, fala mesmo assim com a mão em frente aos lábios.
— Não é deselegante perguntar a idade de uma pessoa? — ela nega com um grande sorriso e morde outro pedaço de salgado, dessa vez uma empada que parece mesmo deliciosa.
— Não, isso só serve para damas. — molha a boca com vinho. — Agora, vamos, eu quero saber.
— Eu tenho 27 anos. — e mais uma vez me sinto culpado por não contar-lhe a verdade sobre mim, sobre todos e sobre tudo.
Eu realmente tenho 27 anos, mas já faz alguns anos que essa idade não muda.
— Uh, apenas dois anos mais velho que eu, você tem um ponto. — chupa o dedo que lambuzou com alguma coisa. — Tem irmãos? — nego cortando com a mão o croissant ao meio.
— Eu sou o filho único. — ela assente e talvez eu saiba o que Hope está fazendo. — Além de Kaleb, você tem mais irmãos?
— Não que eu saiba. — sorri — Mas talvez eu possa considerar Lissa como uma. — eu assinto, é bonito ver como os olhos dela brilham ao falar da família, eu sinto saudade da minha. — Margot também, ela sempre esteve comigo, meu pai a considera como filha, então sim, eu tenho outros irmãos de consideração.
— Sendo assim, eu também tenho Cristian.
— Desde quando se conhecem? — parece interessada agora que o mencionei.
Sorrio me lembrando quando os Barroso mudaram-se do primeiro plano para Ódrion.
Rodrigo, pai do meu amigo, era dono de plantações de oliveiras, importava e exportava azeite para vários lugares do mundo, mas com o alvoroço da segunda guerra mundial ele decidiu deixar suas terras e voltar para nosso mundo com a esposa e com o filho.
Isso porque Cristian estava em processo de transformação, por ser um Original seu amadurecimento aconteceu quando completou os dezoito anos.
Rodrigo e a esposa temiam que, se Portugal entrasse na guerra, pai e filho seriam convocados, eles chegaram à Ódrion um pouco antes de Portugal declarar neutralidade.
— Só tem à ele?
— Não, eu tenho... — eu hesito, talvez falar isso a afaste de mim, mas eu quero que ela saiba quem eu sou e sinto que não posso mantê-los a sombra, não para ela. — Filhos, adotivos. — completo e vejo suas sobrancelhas arquearem. — Não me olhe assim, são adotivos por consideração, são quase da mesma idade que você, um pouco mais novos eu acho, ou não. — apresso-me em explicar, mas ela nega.
— Mollin, você me surpreende. — seu sorriso é bonito, vejo quando ela se levanta, vem até mim e senta ao meu lado. — O que mais que eu deveria saber sobre você?
— Muita coisa... — murmuro me esticando para pegar o outro pedaço do croissant. — Eu gosto do verão e adoro a praia. — conto enquanto mastigo e sorrio quando a vejo me olhando com entusiasmo.
— Nunca conheci o mar, mas tenho certeza que eu amaria. — se aproxima e meu corpo se arrepia quando mão dela toca a minha.
Ela entrelaça seus dedos nos meus e leva-os para seu colo.
— Quanto a estação, eu prefiro o inverno. — sua mão me acaricia e eu tenho que usar meu pouco alto controle pra me manter bem paradinho.
— Aparentemente somos dois extremos totalmente diferentes. — minha voz sai estranha, rouca, e eu me sinto um idiota por estar assim na presença dela.
O calor do corpo de Hope, seu cheiro, sua presença são suficientes pra me alucinar e me fazer esquecer, mesmo que por pouco tempo, os problemas que venho enfrentando e os que logo terei que enfrentar.
— Acredita naquele ditado que diz que opostos se atraem? — respiro fundo, uma boa pergunta.
Já parei pra pensar em coisas assim, mas em nenhuma delas eu conclui algo, talvez se atraiam mesmo, mas não por obra da oposição e sim do destino.
— Acredito no destino, acredito em almas escolhidas uma pra outra. — os olhos dela estão conectados aos meus, sinto minha cabeça formigar e ela sorri.
— Acredita em amor à primeira vista? — poxa, essa é ainda mais difícil.
Talvez exista, como quando aconteceu com Cristian e Alice, mas acho que são exceções.
— Não sei, talvez para poucas pessoas. — dou de ombros. — Acredito que amor é uma decisão, uma construção. — suspiro quebrando nosso olhar, lembrando-me dos meus pais.
— O amor verdadeiro é eterno pra você, Mollin? — sua voz soa baixa, talvez esteja pensando em Sebastian, aquele des******* realmente a machucou e isso me irrita, profundamente.
Eu não vou mentir, o amor hoje está sendo confundido com outro sentimento que geralmente é mais abrasivo e desesperado: a paixão; porém o que não é levado em conta muitas vezes é que confundir os dois pode ser e resultar num problemão.
A diferença entre estar apaixonado e amar é que a paixão acaba e o amor permanece nos pequenos detalhes feitos ou falados um para e pelo outro, como estar com a pessoa sem que haja interesses secundários ou próprios é porque você a ama, o amor é calmo e terno.
Olho para Hope que ainda espera pela resposta, sorrio.
— Amores eternos são impossíveis, já os possíveis começam a morrer no momento em que se concretizam. — recito e suspiro em seguida. — Acredito que a pergunta deveria ser o que é o amor para mim. — murmúrio deixando com que meus olhos caiam nas nossas mãos.
Meu pai me ensinou a sempre enfrentar o que fosse preciso pra descobrir a verdade, ela nunca o deixará confuso, e toda vez que olho pra Hope e eu me vejo em seus olhos eu sei que mesmo que negue eu a amarei como nunca consegui amar ninguém.
— Se um dia você não estiver ao meu lado o que eu sinto por você continuará a queimar em meu peito... — sussurro. — O amor não é pra ser sentido somente quando se existe alguém pra confessar, muitas vezes ele permanecerá guardado dentro da sua alma e será como a brasa que mantém viva a chama que queima o seu coração por alguém, esse é o amor que eu quero sentir por você. — suspiro e olho pra ela.
Hope parece petrificada, seus lábios estão levemente abertos e sorrio ao perceber que assim ela parece um coelhinho.
— Se um dia você precisar ir... — ergo minha mão até seu maxilar. — Eu vou continuar a te amar como se não tivesse partido. — aliso sua pele
O amor dos meus pais até hoje me fascina, minha mãe era uma sanguínea quando conheceu meu pai, ele se apaixonou enquanto ela quase o matou, mas no fim acabaram ficando juntos.
Eles me inspiravam, mas durante meus anos de existência nunca encontrei alguém que pudesse amar como meu pai amava minha mãe e isso me frustrava, porém dentro de mim sempre existiu a esperança de que um dia eu viveria o amor companheiro, o amor construtivo, o amor saudável, o amor revigorante, um amor que valesse a pena.
Agora, aqui com Hope, eu sinto meu peito queimar como nunca antes e essa sensação permanece comigo desde a primeira vez que conversamos, foi pouco, mas suficiente para eu lembrar das palavras de meu pai em uma conversa a toa.
Flashback ON
— Sabe filho, quando seus olhos se cruzarem com os dela não existirá mais dúvidas, suas almas se despertarão para o amor já predito e mesmo que não queiram, se amarão.
Flashback OFF
— O que disse? — a voz dela me desperta e olho em sua direção atordoado, Hope tem um sorriso divertido nos lábios.
— O que? — pisco algumas vezes sem entender.
— Você estava sussurrando, eu queria entender, pode repetir? — sorrindo ergo minha mão até seu rosto e acaricio.
Hope fecha os olhos e eu respiro fundo, respiro seu cheiro.
— Eu gosto muito de você. — me ouço dizer e ela sorri grande sem abrir os olhos.
— E o que faremos sobre isso? — sua voz está branda, mas consigo escutar seu coração veloz bater contra as paredes do seu peito.
Me sinto elétrico, satisfeito.
— Me diga você. — me inclino para ela e me aproximo de seu rosto, nossos narizes quase se tocam e eu sugo o ar dela pelos lábios entreabertos.
No segundo seguinte os olhos dela estão abertos e minhas costas batendo contra o sofá, eu rio baixo e então recebo os lábios dela nos meus.
Hope está em cima de mim agora, uma perna de cada lado, minhas mãos tocam seus joelhos e sobem pelas suas pernas desnudas.
— Eu acho... — ofega, coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha enquanto a outra mão está sobre a base do meu pescoço. — Que também gosto de você, Mollin.
Não sei, não sei, eu não sei dizer como eu me sinto ou o que eu sinto, eu só sinto.
Sinto os lábios dela nos meus de uma forma urgente, necessitada, sinto as mãos dela acariciar meu maxilar e a outra puxar levemente meu cabelo, sinto minhas mãos vibrarem em sua cintura, sinto seu sangue correndo pelas suas veias, sinto o cheiro dele, posso deduzir qual é o seu gost...
— Aah... — quase grito afastando-me depressa.
Estou ofegante, de olhos fechados e tento pôr em ordem meus pensamentos, tento conter meu instinto.
Ela é uma humana, uma humana, mas isso nunca havia acontecido, eu nunca me descontrolei dessa forma.
— Daio, está tudo bem? — abro meus olhos e analiso seu rosto.
— Eu te machuquei? — estou aflito, não quero pensar que seria capaz de...
Ela me olha sem nada entender e sinto meu peito afundar mais uma vez dentro do peito, as emoções que vacilam estão acabando comigo.
— Eu estou bem, o que aconteceu? — ergue meu rosto para o dela e eu sinto meu coração borbulhar de medo.
Medo de perdê-la, corro esse risco, eu sei, estamos mandando ela em direção à Michel, mas como pude ver agora, ela também corre risco comigo.
Não condeno o que eu sou, eu gosto da minha imortalidade, eu gosto do meu dom, eu gosto de ser eu, mas não gosto da possibilidade que invade meu conhecimento de que eu posso machucá-la, eu posso matá-la.
Puxo Hope para mim e a abraço, seus braços estão ao redor do meu pescoço, seu coração está mais calmo, bate normalmente, o sinal da vida, da mortalidade, ele bate mais rápido que o meu.
Cheiro seu pescoço e deposito um beijo ali.
— Por que você me machucaria? — ouço o carinho em sua voz, mas sei que ela está confusa.
Eu me mantenho calado, sinto sua mão acariciar minha nuca enquanto tudo dentro de mim parece voltar ao normal.
— Se um dia eu passar dos limites e te ferir, por favor Hope... — a afasto de mim para olhar em seus olhos. — Por favor, me soque, me xingue, mas não me deixe feri-la.
— Daio, para de ser surtado. — Hope solta um riso baixo, mas eu quero chorar.
Ela sorri e com um semblante leve se afasta um pouco.
— Você é um fofo. — sorrio, observo seu rosto ao natural, coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha e beijo seus lábios de leve.
— Fofo não é bem uma palavra que costuma ser empregada à mim. — sussurro.
Ela joga sua cabeça para trás e gargalha, observo suas reações com um sorriso divertido nos lábios, quando Hope volta é pra me beijar.
Respiro fundo e esfrego a mão no rosto tentando tirar o que me causa cócegas.
— Hum... — murmuro ficando irritado e então sinto algo se mexer.
Paraliso, uma mão sobe para meu peito e eu sorrio reconhecendo o cheiro dela.
— Bom dia, sunshine. — a voz rouca de Hope soa bem próxima ao meu ouvido e eu rio levemente pelo apelido.
Ela beija o ponto abaixo da minha orelha e eu abro os olhos.
— Bom dia, ahh. — espreguiço meus braços e passo o esquerdo pelos ombros dela.
Hope solta um gritinho quando eu a agarro e giro na cama ficando em cima dela.
— Sai de cima de mim, seu ogro. — esmurra meu peito desnudo e rio.
— Você me chamou do quê? — aproximo nossos rostos e ela sorri. — Eu vou te mostrar o ogro. — solto meu peso sobre ela que ri ainda mais.
— Daio, eu preciso respirar. — o ar cortado me faz rir, amparo meu peso com as mãos, uma em cada lado do corpo dela, aproximo nossos rostos e as nossas bocas.
Ela me encara com expectativa, mas eu sorrio, durante o meu longo período de existência eu assisti muitos casais se apaixonarem, confesso que sempre franzia o cenho e me perguntava por que diabos faziam coisas tão esquisitas, não sei se entendo agora, mas sinto a necessidade de fazer com Hope as coisas fofas, bregas e bestas que eu assisti os casais fazerem.
Mal posso esperar para compartilharmos as fofocas também.
— Daio... — empurra meus ombros enquanto eu gargalho. — Que nojo, seu seboso. — Hope limpa com uma as mãos a bochecha aonde eu lambi. — Sai de cima de mim, vai, vai. — se faz de brava.
Obviamente não obedeço, ao contrário disso abaixo-me de novo mesmo com seu empenho em me afastar e beijo a ponta do seu nariz.
— Não faz isso... — ela choraminga e esconde o rosto com uma almofada.
— Por que? — rio baixo ainda sobre ela, apoiando o peso do corpo nos braços.
Ela não responde, cedo e me deito ao seu lado para destampar seu rosto.
— Por que? — insisto na pergunta, mas ela apenas sorri, se aproxima e antes de me abraçar beija meu peito, logo acima do meu coração.
— Não sei se é seguro eu me apaixonar por você. — sua voz sai abafada, mas eu entendo e compreendo bem o seu medo. — Eu já fui quebrada, e por mais que você não seja ele e que não faça necessariamente comigo o que ele fez, eu...
— Tudo bem... — a calo e a puxo para mim pra beijar seu cabelo cheiroso. — Eu entendo o seu medo, não precisa se explicar. — seus braços me apertam e respiro fundo. — Eu também tenho medo, sinceramente, não queria te mandar nessa missão, tenho medo de perdermos essa guerra, tenho medo de te machucar, tenho medo de te perder, tenho medo de Alicie morrer, tenho medo de como Cristian vai lidar. Eu... também sinto medo, Hope. — a afasto para olhá-la no rosto. — Porém eu quero me arriscar a amar você, pode me chamar de brega, mas o que eu sinto nunca senti por ninguém e talvez não estejamos prontos, mas nunca vamos saber se não tentarmos. — minha cabeça está em cima da dela e sinto quando se abaixa e beija de novo meu peito, acima do coração.
— Posso te pedir uma coisa? — olho em seus olhos repletos de sentimentos, assinto e ela sorri. — Deixa eu morar aí? — toca meu peito e eu sorrio.
Hope sorri, mas não mais que eu, roubo-lhe um beijo, ela me encara, mas por algum motivo joga a cabeça pra trás e ri.
— Do que está rindo? — franzo o cenho um pouco desconcertado.
Ela não fala nada, mas me beija rapidamente, de novo e de novo, eu me levanto e me ponho em cima dela que segura meu pescoço, subo minhas mãos para sua cintura, ergo minhas costas me sentando em cima das pernas dobradas e a trago comigo, continuamos o beijo agora com Hope sentada em meu colo.
— Tá, isso sim é começar o dia bem. — brinco quando nos separamos e ela ri, mas se cala arregalando os olhos quando alguém bate a porta.
Ela se levanta, com a roupa de ontem pede pra que eu faça o mesmo.
— O que foi, por que está assim? — eu sei a resposta, mas eu simplesmente não ligo.
Estou pouco me f****** se Jace nos ver assim, quer dizer, me ver assim, ele sempre soube que eu e Hope ficaríamos juntos, se apaixonar por ela foi um erro que ele cometeu.
— Daio, levante logo dessa cama. — a mulher que já se levantou coloca a mão na cintura e eu rio baixo. — Só um instante. — pede pra pessoa que está na porta.
— Por que não atende, talvez nem seja Jace. — ela franze o cenho, enquanto eu cruzo meus braços embaixo da cabeça, o tronco desnudo, uso apenas a calça moletom com a qual vim ontem.
— Cinco segundos pra você estar no banheiro antes que te soque a cara. — ela grunhe com os dentes trincados e eu rio.
Me levanto a contra gosto, caminho até ela sobre seu olhar mortal.
— Você fica tão sequissi quando tá braba. — faço biquinho e ela desmancha a cara amarrada em um riso divertido.
Roubo-lhe um beijo e meu coração borbulha em euforia.
— Vai logo. — sussurra me dando um tapa no ombro.
Me fecho no banheiro e é inevitável não olhar para o espelho, me vejo com um sorriso bobo e suspiro.
— Você está tão idiota, Daio. — murmuro e solto um riso descrente.
A noite passada foi incrível, Hope é incrível, ela deveria ser o tipo proibido de se nascer e agora...agora eu tô ferrado.
— Não precisa ficar constrangida, Hopezinha. — ouça a voz de um dos suditos de Jace do lado de fora e meu sorriso some dando lugar a curiosidade.
Me aproximo da porta e colo minha orelha nela.
— Vai cagar, Zion. — reclama minha garota e o outro ri.
— Eu estou falando sério, nós sabemos que Daio esteve aqui. — há um minuto de silêncio e eu me agonio de curiosidade. — Aí, égua! — ouço depois de um estalo e então o homem gargalha. — Hope, não era pra você estar mais feliz hoje já que...aí, aí, tá legal. — ouço mais risos dele e mais tapas vindos dela. — Eu já parei.
— O que você veio fazer aqui além de me atazanar, Zion?
— Vocês beberam a garrafa toda de vinho? — reviro meus olhos ficando impaciente com a intimidade daquele indivíduo, ouço ele rir, mas logo para. — Enfim, ele pediu pra avisar que seu carro foi pra revisão e você irá com o Mercedes azul.
— Mais alguma coisa? — o silêncio nunca me incomodou tanto.
— Vocês usaram ca...? — Hope o estapeia de novo e ele ri. — Ei, ei, você perguntou se tinha mais coisa...
— Mas o que isso tem a ver?
— Ora bolas, se não usaram quero ser eu a dar a notícia sobre o novo membro do clã. — que merda esse cara tá falando?
— Zion, dá o fora antes que eu mesma o ponha. — me desencosto da porta com um sorriso nos lábios.
Hope nunca mostrou ser uma moça tímida, mas eu sinto que seu rosto está vermelho.
Agarro as bordas da pia e abaixo minha cabeça, o rosto dela está gravado na minha memória e eu me sinto satisfeito.
Ontem, depois daquele pequeno deslize tratei de parar de respirar, não queria pô-la em risco novamente.
Lembro-me da última vez que me desequilibrei e deixei meu extinto me controlar, eu matei uma pessoa naquele dia, não deu tempo de ajudá-la.
Lembrar disso me causa sensações ruins, eu não sou um monstro, eu sei, foi um acidente, mas mesmo depois de anos eu me sinto atormentado com as memórias daquele dia.
— Está tudo bem? — sorrio quando sinto as mãos dela subir pelas minhas costas e voltar a descer, ela beija meu ombro e eu viro-me para ela.
Pensar nisso me tirou de órbita, nem percebi quando ele se foi e ela abriu a porta do banheiro.
— Está. — beijo sua testa abraçando-a. — Quem era? — eu que não vou deixar na cara que estava ouvindo atrás da porta, né?
— Zion, veio me entregar a chave do carro. — apoia o queixo em meu peito e olha pra cima. — O meu estava dando problema na roda.
Hope não é muito baixa, talvez eu seja muito alto, nos encaixamos bem o suficiente pra ela não precisar ficar nas pontas dos pés para me beijar.
— Eu vou tomar uma ducha, você vem? — ela sorri, mas nega.
— Um passo de cada vez, sunshine. — usa mais uma vez o apelido e eu sorrio, Hope me beija rapidamente os lábios e se afasta a meu contragosto.
Sorrio-lhe com os olhos cemicerrados e ela fecha a porta atrás de si, me deixando sozinho no banheiro.
Que perigo pra minha sanidade meus amigos, que perigo.
Olho pra ela que respira de modo alarmante, sei que algo está a incomodando, Hope dorme, mas tem suor em seu rosto, ela franze as sobrancelhas como se não entendesse o que está acontecendo e eu tento me conectar à ela pra que pudesse ver o que ela vê, mas não consigo.
Hope resmunga algo incompreensível e quando ergo minha mão em direção ao seu rosto ela acorda com um sobressalto.
— Ei, babe — aliso suas costas cobertas por uma t-shirt com a escrita Beatles — Está tudo bem? — ela me olha, agora está sentada, seus olhos arregalados, a respiração ofegante.
— Eu... — nega respirando fundo. — Foi só um sonho. — sorri simples e então olha pro celular em cima da mesa de cabeceira.
— Quer conversar sobre? — a acolho em meus braços quando ela volta a deitar.
São cinco da manhã ainda.
— Bem, não é nada claro e eu acho que a incerteza da imagem é a pior coisa. — suspira e alisa meu peito desnudo e eu seu cabelo. — Há alguns dias venho tendo esse mesmo sonho. — sua voz sai baixa, o vento que vem da janela deixa o quarto aconchegante, ainda está escuro lá fora. — Uma pessoa aparece pra mim, não sei dizer se é homem ou mulher, não consigo identificar nem sua voz direito nem sua imagem, mas sei que ela me chama, me chama três vezes... — ela respira fundo.
Aproximo meu nariz da sua cabeça e cheiro seus fios de cabelo antes de beijá-los.
— Você é tão quentinho. — resmunga com um sorriso fofo mudando de assunto.
— É que eu sou feito de fogo. — murmuro e Hope gargalha e eu juro, daria tudo pra ela rir assim mais vezes e pra sempre pra mim.
— Claro, senhor lava. — zomba saindo de perto de mim, rindo eu a puxo pela cintura e prendo meus braços e minhas pernas ao redor do corpo dela. — Me solta, Mollin. — tenta soltar o laços dos meus dedos. — Eu preciso me arrumar pro trabalho. — choraminga e eu beijo sua nuca.
— Não são nem seis horas ainda, gracinha. — murmuro no pé do seu ouvido, a ouço rir e se arrepiar. — Fica aqui mais um pouquinho.
— Não quero me atrasar, de novo. — explica, mas se aconchega mais em mim.
Eu sorrio e afundo meu nariz no cabelo com cheiro de mel, é muito bom as sensações que ter ela por perto transmite.
Flashback ON
— Guarde seu coração pra pessoa que fazê-lo bater mais rápido quando fizerem pequenas coisas, os gestos mais insignificantes, ao apenas sorrir.
Flashback OFF
Aliso o ombro de Hope enquanto a voz da minha mãe ressuscita na minha mente, eu sinto tanto a falta dela, sinto tanta saudade dos seus conselhos, dos seus abraços, queria tê-la aqui.
Respiro fundo e beijo a cabeça de Hope que permanece deitada sobre meu peito e que adormecera novamente sobre minhas carícias.
Na sexta feira não pude vir até Hope, conversamos por mensagem, mas fiquei na empresa até mais tarde, apesar de nos últimos dias estar mais focado na missão de Alicie, eu ainda tenho deveres a cumprir como CEO da joalheria.
Durante esses dias que fiquei afastado e quem cuidou de tudo foi Kaleb, conversei com ele no mesmo dia que descobri sobre o sumiço de Cristian e ele concordou em me cobrir.
Hoje de manhã, nem se eu quisesse, poderia ter ido até a doutora, já sinto falta dela, do toque dela, mas eu sei o quão arriscado é o que vamos fazer, então quanto mais cuidado tomarmos, melhor.
Conforme o dia foi passando eu não fiquei menos preocupado, muito pelo contrário, eu fiquei pensativo, apesar do plano parecer bem promissor, nunca sabemos o que esperar de Michel.
As buscas por Alicie cessaram já que sabemos onde ela está e que não conseguiremos resgatá-la indo até Lódrion, seria como assinar sentença de morte para nós e para a pequena garota, é por ter ciência disso que não jogo tudo pro ar e tiro Hope do meio dessa loucura.
Cristian também tem sido uma preocupação constante, o português não tem se alimentado direito, mal conversa e seu humor anda péssimo, sei que nunca conseguirei medir a dor dele, porém sei que talvez não poderemos contar com ele caso precisemos.
Em qual restaurante eles vão se encontrar?
Pergunto com o celular pendurado no suporte preso ao painel do carro enquanto sigo o veículo onde estão Ramires e Hope, estão a uma distância segura de nós, não que fosse um problema nos verem, mas sei que existem vários olhos de Michel por aqui.
Shalle'ly.
Espremo os olhos rapidamente, lembro-me de Hope ter dito algo sobre, mas agora pareço raciocinar que o Shalle'ly é o restaurante de Michel.
Mas que droga, ele está em seu território, se precisarmos acudir Ramires e Hope nos renderá bastante esforço, talvez vidas.
Mas que merda, não tinha outro restaurante, não?
Está tudo sobre controle, Mollin.
Ouço seu suspiro impaciente e reviro os olhos sem me conter.
Você já chegou aí pelo menos?
Sim, os meninos e eu já estamos apostos, algo mais?
Michel?
Chegou faz alguns minutos, vimos ele entregar o carro ao chofer.
Jace, sei que você tem os paranaues de ligação com a Hope, mas se eles entrarem no escritório...
Consigo senti-la e me comunicar aonde quer que eu esteja.
Eu só quero que ela fique bem e segura durante o tempo em que estiver lá.
Tudo bem.
Me dou por vencido, Jace e eu temos nossas diferenças, mas não cabe a mim fazer mais nada além de confiar nele.
Não deixo de ficar apreensivo, sei dos riscos e isso me angustia, o nosso relacionamento nem se iniciou direito e agora é ainda mais insuportável a ideia de perdê-la.
Estou preocupado pra caramba com ela, se não fosse por Alicie eu já tinha a tirado dessa, mas estamos sem saída.
— Droga, que inferno. — pensar em Michel é como pensar no pai, não há muita diferença na mentalidade, me surpreende o fato do cara ainda estar vivo com um pai daquele.
Ultrapasso um dos carros que entra na minha frente e estou de novo com os olhos no Sedan preto que segue com a minha garota dentro.
Suspiro quando passo pela entrada de EastVille e olho pro celular.
Ainda tá aí?
Sim, quando chegar estacione nos fundos do restaurante.
Tá legal, eu vou desligar.
Toco na bolinha vermelha e me apresso em trocar a marcha, acelero deixando o Sedan pra trás, eles viram uma rua antes e agora viro uma a frente.
A rua na parte de trás está vazia com exceção de alguns seguranças de Jace e ele próprio.
Estaciono, desligo o carro e abro a porta jogando meu corpo pra fora.
— Estava esperando você chegar, vou colocar alguns dos meus lá dentro, não posso ir, Michel me conhece. — vem ao meu encontro ele e mais um dos seus homens, tem um rádio intra auricular na mão.
— Vai ficar por aqui? — questiono enquanto aceno em agradecimento pro moreno que me entrega o rádio, porém ele não retribui.
— Não, vou ficar lá na frente, prometi pra ela. — ergo meus olhos do aparelho que já instalo pra fitar a cara de pau dele.
Me sinto incomodado com a proximidade dos dois, mas não quero que isso transpareça, Hope o considera e eu respeito isso.
— Ramires e Hope estão com rádios? — volto minha atenção para o que fazia antes, o tanto que eu tô me esforçando para conversar com esse humano não está escrito.
— Você conhece Michel melhor que eu, Daio. — solta um riso sarcástico. — Sabe que ele notaria, sabe que isso colocaria em risco Hope, Ramires e o plano.
— E por que isto se não poderei ouvir a conversa lá dentro?
— Pra nossa comunicação. — parece tão irritado quanto eu pela conversa — Eu estarei lá na frente, mas se precisar de ajuda poderei chamá-los.
— Nem ferrando que eu vou ficar aqui atrás com esses... — olho em volta — Benzidos. — não escondo o descaso no tom da voz, mas Jace apenas sorri ladino, debochado.
— Você fala como se fosse melhor que nós. — resmunga irônico. — Tanto faz, desde que não encha a minha paciência você decide se fica ou se vai.
Ele chama Otelo, com ele vem o ruivo, o moreno e o tal do Zion, esse último não está com uma cara nada legal e eu presumo que seja a preocupação com Hope, mais um pra lista.
Dou as costas pra eles, quero vê-la antes que suma pelas portas do futuro, quero que ela saiba que estou aqui e que farei qualquer coisa se salvá-la for preciso.
Me infiltro nas sombras e com cautela e velocidade percorro o quarteirão, cruzo meus braços e observo atentamente as pessoas que entram no restaurante.
Semicerro os olhos quando localizo Hope, que em um vestido vinho escuro, caminha em direção a entrada. Ela está sobre um salto alto preto, os ombros desnudos e o cabelo solto totalmente liso.
— Hum... — ouço ao meu lado, sei de quem se trata, mas não faço questão de olhá-lo, não preciso disso para reconhecê-lo. . — Estou me perguntando, ela vai jantar ou ser o jantar? — a gargalhada do homem vem logo após eu olhá-lo.
Ultimamente os benzidos tem ficado ainda mais abusados.
Zion sorri ladino para mim e ajeita o smoking com lantejoulas, se o plano era ser discreto ele acabou de feder com tudo.
— Hasta luego, vampire. — fala próximo ao meu rosto e não consigo evitar o som que vem do fundo da minha alma.
Uma mecha do cabelo dele cai sobre seu olho e o vejo sorrir vitorioso, Zion me dá as costas e anda até a rua, assisto com os nervos a flor da pele ele parar próximo a um carro e abrir a porta, dele sai uma mulher com o cabelo longo e preto preso em um rabo de cavalo, o vestido prata, mas sem lantejolas.
Solto um riso desacreditado e respiro fundo olhando pro céu, Zion fez-me perder a atenção de Hope e nem pude vê-la entrar.
Benedetto di merda!
— O que faremos agora? — pergunto pra Jace que permanece nas sombras, não está sozinho.
— Esperamos. — diz o óbvio e eu respiro fundo.
Paciência nunca fora meu forte.
ᴍᴀɪs ᴜᴍ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ɢᴀʟᴇʀᴀ,
ᴠᴏᴛᴇᴍ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ!
ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʟᴏᴠᴇ ɪs ᴀ ʙɪᴛᴄʜ - ᴛᴡᴏ ғᴇᴇᴛ
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ sᴇɢᴜɴᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
ᴅᴇsᴇᴊᴀᴍᴏs ᴄᴀʟᴍᴀ ᴀᴏ ɴᴏssᴏ ᴄᴇᴏ ʙᴇɴᴅɪᴛᴏ ᴇ ɪᴍᴘᴀᴄɪᴇɴᴛᴇ. ᴄᴀʟᴍᴀ ʜᴏᴍᴇ!
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