ᴜᴍ ᴛʀᴀɪᴅᴏʀ
Cheguei por último na casa de Fred, eu me sentia um trapo, parei no meio do caminho pra limpar meu rosto de novo, porém de nada adiantou, as lágrimas vinham sem freios.
Eu avistei meu amigo parado sob as sombras na qual estava afundada sua varanda, caminhei até ele e o encarei sem vergonha pela minha condição, eu até poderia ser uma híbrida super poderosa e blá, blá, blá, mas isso não me isentava de pensamentos, sentimentos e tormentos.
Ele se desencostou da parede se aproximando e me tomando nos braços, afundei meu rosto em seu peito e ali chorei.
· E se ele não sobreviver? ·
A fala de Denver permanecia e se repetia na minha mente, doía como uma estaca que era fincada no meu peito, rasgava minha alma, torturava meu ser, doloria meu âmago.
— Eu achei que seria fácil. — sussurro ao meu afastar e olho pro rosto dele. — Eu achei que poderia protegê-los, mas tudo o que eu fiz foi expor Daio.
No fim das contas todos parecem estar perdendo algo.
Eles estão com Alicie, com Anastácia, com Sara e agora Daio.
— Não chore, Hop. — pede ele acariciando meu cabelo e o beijando em seguida.
— Eles usaram a figura do meu irmão, isso quer dizer que eles puderam tocá-lo — arfo
E se eles puderam tocá-lo quer dizer que...
— Nós vamos libertá-lo, Daio irá se recuperar, não se desespere, tudo dará certo. — diz calmo — Também estou angustiado pelas meninas estarem nas mãos deles, mas uma coisa que eu aprendi em anos sendo como sou... — ergue meu rosto para olhá-lo nos olhos. — O bem sempre vence. — afirma e eu assinto ainda com o rosto entre suas mãos. — Mesmo se o bem for ferido pelo mal.
Fred sorri sem mostrar os dentes e então volta a me abraçar.
— Sanguíneo, onde tem banhei...? — Cristian abre a porta da frente sem rodeios nos encontrado abraçados, sua voz morreu com seus olhos em nós. — Uhh. — murmura parecendo compreender — Desculpa atrapalhar.
— Segundo andar, terceira porta do corredor a direita. — diz Fred rápido.
— O que? — o outro vampiro franze o cenho sem entender, mas então suspende as sobrancelhas rindo em seguida. — Entendi, entendi, valeu. — fecha a porta em seguida, para abri-la de novo. — Hope... — me chama e eu o olho — Não se preocupe, Daio é forte... — ele abre a boca, mas a fecha.
Vejo quando um sorriso se forma no canto de seus lábios.
— Mas se for pra acordá-lo mais rápido, continue assim... — e fecha a porta com rapidez e forte demais. — Desculpa!!! — grita já dentro da casa.
— Esse cara é doido. — pelo de Fred ele conseguiu arrancar um riso.
— Você acha? — ouço um pigarreio.
— Eu tô ouvindo ainda gente, disfarcem pelo menos. — ouvimos Cristian por detrás da porta e dessa vez eu sorrio também.
— Eu tenho certeza que ele é. — afirmo e Fred ri baixo.
— Tá com fome?
— Bastante. — franzo o cenho me dando conta disso agora e nem fazia muito tempo que havia me alimentado, talvez meu lado semideus também pedisse por alguma comida específica que eu não sabia o que era. — Eu sei que recém transformados e amadurecidos se alimentam com mais frequência, mas eu me alimento sem parar, pareço grávida. — meu amigo afaga meus ombros com um sorriso brilhante nos lábios.
— Isso é normal, não se preocupe. — seu sorriso é terno — A alimentação no início da vida de um vampiro é crucial para o desenvolvimento e fortalecimento dele, mas admito que adoraria ser tio. — eu arregalo os olhos.
— Tá doido? não tô sabendo cuidar nem de mim, só nessa semana quase morri um monte de vezes, coitado do bebê. — murmuro sorrindo observando ele jogar a cabeça pra trás e rir alto.
Mas não seria nada mal carregar uma parte dele em mim.
— Você é fenomenal. — Fred é uma das partes boa da minha vida, ele me fazia rir mesmo em momentos difíceis. — Temos comida na geladeira.
Meu amigo fita meus olhos e então sorri ladino sem mostrar os dentes, se aproxima beija minha testa, logo em seguida toma minha mão e me conduz até a porta.
Ele me guia para dentro da casa e eu não paro pra falar com nenhum dos que estavam sentados nos sofás e poltronas.
Meu olhar recai para o local aonde ficou o corpo do primeiro vampiro que matei, um arrepio subiu por meu corpo e uma sensação ruim tomou meus sentidos, balanguei minha cabeça pra que as imagens e a sensação sumissem da minha mente e do meu corpo.
— Sobe depois pra tomar um banho, pode ficar com o meu quarto. — tomo impulso pra me sentar no balcão vendo ele tirar a garrafa de vidro azul da geladeira, ele coloca uma quantidade generosa em um copo vidro e depois leva ao micro-ondas.
— Estou preocupada com a Alicie, como ela deve estar?
Me preocupava com o bem estar dela e com a alimentação, ela, apesar de tudo, ainda era uma criança e estava passando por tanto, eu só queria e rogava pra que ela ficassem bem assim como Anastácia.
— Eu espero que bem. — murmura ele — Tente não pensar tanto, se nem o pai dela está queimando os neurônios... — eu olho pro chão.
— Ele já queimou todos possíveis — afirmo me lembrando do nosso reencontro.
Eu respiro fundo, mas quando solto o ar sinto uma pontada na cabeça e logo em seguida uma sensação ruim, essa foi diferente da que a recordação do psicopata causou.
Ouvimos o apito do eletrodoméstico avisando que estava pronto, Fred tira o copo e o trás para mim.
— Tá muito quente? — pergunto calma antes de pegar.
Eu não era imune a dor como ele, mas conseguia aguentar até um certo ponto.
— Não, está morninho como o sangue diretamente do humano. — fala cuidadoso.
— Trinta e sete graus... — murmuro pegando o copo nas mãos e fazendo uma careta ao relacionar sangue com sopa. — Obrigada, Fred. — sorrio pra ele. — Tem maneiras de fazer pratos com sangue humano? — pergunto curiosa após beber um gole.
— Bom, eu já provei sorvete de sangue. — eu rio.
— Sério? — se você pensar bem, é nojento.
— Sim, meus pais eram do alto escalão de Lórion, então sempre íamos a banquetes, casamentos, bailes de anciãos bem conceituados. — conta — Tinha o menu completo com os vários pratos que eles faziam com sangue, não mudava nada no gosto, mas a consistência e a aparência sim. — dá de ombros — Eu me sentia humano de novo. — fala e sorri.
— Quando foi a última vez que foi a uma reunião assim? sem ser a posse de Michel que, inclusive, não teve nada disso.
— Acho que... — faz careta ao pensar enquanto eu bebia mais — Acho que a trezentos anos. — eu quase engasgo ao rir.
A contagem de anos ainda era absurda pra mim e eles falavam de uma forma tão comum que chegava ser cômico.
— Pouco tempo, não? — zombo e ele me mostra a língua, estar com ele assim me faz esquecer mesmo que seja por milésimos de segundos o pesadelo que estou vivendo — Por que parou de ir?
— Recusei herdar a cadeira do meu pai como ancião de Lórion. — somente o olho. — Isso pra ele foi como se eu fosse me converter, cortou nossos e não nos falamos a mais de três séculos, mantemos uma boa distância, ele vive com minha mãe na Itália.
Se for para pra pensar três séculos são 300 anos, é...faz um tempo que eles não se falam.
— Vampiros gostam de lá, não? — murmuro não sabendo mais o que dizer.
— Por causa da facilidade de abertura de portais, a barreira entre os mundos é mais fina naquele território, o que facilita a travessia. — explica.
— Eu sinto muito pelos seus pais. — ele apenas sorri carinhoso, pois no instante seguinte a cozinha é ocupa por Clóvis que traz consigo Jason, Vitor, Cristian e Marceline.
— Precisamos conversar. — é o ancião quem diz.
— Pode falar. — assente o moreno em pé ao meu lado, seus pés estavam cruzados e seu corpo apoiado pela mão que ele deixava na ilha e eu apenas bebo meu sangue olhando pra eles.
— Precisamos montar uma estratégia de ataque. — fala Vitor e o olho.
— Sabemos que em Lórion existem passagem subterrâneas e que que debaixo da terra nossa identificação fica mais difícil de ser captada. — fala Clóvis e permaneço prestando atenção, o copo nas mãos e os olhos nele.
Fred concorda, pareceu não ter pensado nisso antes.
— Podemos usar essas passagens pra invadirmos o subsolo do clã. — fala Marceline e eu nego rapidamente.
— Isso é loucura, todos os Obumbratios¹ dormem lá durante o dia. — é inevitável não me lembrar dos olhos de Erick e serntir um arrepio subir por minha espinha.
— Eles estarão quase hibernando enquanto o sol estiver despontado no céu, estarão desprotegidos, desprevenidos, será fácil matá-los. — diz Clóvis e eu sorrio descrente.
— Você está os subestimando, em Órion tem essa raça? Por que você não sabe do que está falando. — retruco e ele fecha o semblante.
— Eu vivi mais de três mil anos, o que quer discutir? — é grosseiro.
— Não quero descutir e não me importa quanto tempo você viveu. — franzo o cenho e o olho de cima a baixo, vampiro chato — Aliás é por isso mesmo que deveria saber que são capazes de se readaptar conforme as gerações. — ele ri.
— Isso é um absurdo. — eu ergo as sobrancelhas.
— Experimente entrar lá então, se assustará quando todos eles abrirem os olhos em sincronia e vierem pra cima de você. — Clóvis apenas abre um sorriso ladino. — Vampiro suicida de merda. — murmuro bebericando mais um gole do sangue.
Ouço seu grunhido, mas o que eu posso fazer? Já estamos em estado crítico, não podemos arriscar ferir ou perder mais alguém.
— Certo, então se não vamos invadir o dormitório dos Obumbratios, — diz Denver com um suspiro, parecia cansado. — Vamos entrar por onde?
Olho pra Fred que me olha, voltamos nossos olhos para o grupo, porque ficar dando voltas se podíamos ir direto a fonte?
— Sala vermelha. — falamos juntos.
— Vocês estão loucos? — pergunta Cristian com um sorriso — Aquilo lá deve estar sendo vigiado dos pés a cabeça. — murmura e Marceline continua com seu olhar de tédio enquanto todos parecem concordar com o loiro.
Eu não admirei eles saberem, pois tinham infiltrados em toda Lórion, era com as informações de vampiros aliados que eles montavam as estratégias de guerra.
— Pode até estar sendo vigiado, mas é o único lugar menos perigoso por onde conseguiremos entrar. — concorda Fred. — O número de vampiros é previsível e dificilmente teremos surpresas. — conclui.
— Sem contar que temos uma amiga lá que precisamos ajudar, ela vai poder nos ajudar na busca pelas meninas e pela minha mãe... — digo e sinto mais uma vez algo estranho em meu corpo, me remexo incomodada.
— E a lista de resgate só aumenta. — fala Cristian. — Acho que vou montar uma equipe em Órion só pra isso. — seu comentário não foi ácido, mas verdadeiro.
Eu sorrio, era engraçado como ele, apesar de fazer sentido agora, comentava coisas nada a ver com o assunto, parecia fazer de propósito, mas soava natural e espontâneo.
— Não vamos nos colocar em risco pra salvar seus amiguinhos. — murmura Marceline, não esbanjei reação, pois, antes que pudesse, meu olhar fincou-se na parede e então eu passei a somente ouvir, mas era como se eu estivesse em outro lugar, mas com as vozes deles ainda ao fundo.
Por que isso só acontece em momentos inoportunos?
— Não me venha com essa, se fosse seu irmão você iria calada. — retruca Fred irritado.
Senti meus músculos tencionando dentro de mim conforme a sensação ia se alastrando por meu interior, era estranho e um apavorante.
— Quem é você pra falar de irmandade sanguíneo? — ela pergunta desdenhosa.
— Sara é minha irmã e nada do que você disser vai nos fazer sair daqui sem ela. — ouço a voz dele soar forte nos meus ouvidos, como uma música de rock no volume máximo no fone de ouvido.
Meu corpo inteiro se arrepia, mas não por completa influência da voz de Fred, mas pela sensação de que estava sendo teletransportada para outro lugar.
— Fale por si só! — rebate.
— Não pedimos pra vocês fazerem uma entrada triunfal, não pedimos sua ajuda. — retruca ele irado.
— Vocês não iriam conseguir sem nós. — afirma convencida.
— Sem você nós conseguimos matar mais de cem benzidos, vampiros robôs, híbridos e Erick Lee. — diz Fred com razão, mas não foi capaz de calar Marceline.
— Então... — ela é interrompida de repente e recua rápido e a tempo de não ser atingida pelo sangue que espirra do copo que caiu da minha mão.
Eu perdi totalmente meus sentidos e não senti quando ele foi ao chão estilhaçando em pequenos pedaços, esparramando o líquido pelo piso, espirrando nos móveis e em quem estava mais próximo, arfei quando minha visão tornou-se branca.
— CLÓVIS NÃOO!!! — ouvi gritarem antes de sentir uma fina dor no meu pulso.
Mesmo assim não consegui sair do transe, ao contrário disso eu vi tudo tomar forma, caminhava por um corredor, não sabia dizer se era longo, mas escuro era.
Eu sabia que via pelos olhos de uma outra pessoa, uma mulher, não a conhecia, mas sentia seu nervosismo, a todo instante ela olhava para o breu que a seguia.
Não havia nenhum tipo de iluminação, e eu sentia como se existisse uma pressão sobre nossas cabeças, ela caminhava a passos largo, parecia fugir ou algo do tipo.
Ela aumentou ainda mais o ritmo dos passos quando viu uma luz, estava um pouco distante, mas era muito brilhosa, nunca vi luz tão radiante em toda Lórion.
Senti como se fôssemos atravessar um portal para o céu, conclui que era algo relacionado quando passamos por ela.
Foi como se atravessasse um portal, e então estávamos de frente a uma grande casa rodeada de muros que aos meus olhos pareceram impossíveis de escalar.
Lá dentro eu pude ver que tinha um jardim e uma estátua linda de um casal que parecia de algum filme de época, me aproximo pela moça do portão inteligente.
A mulher digitou rapidamente cinco números, lembro a sequência, e logo depois se aproximou fazendo leitura de sua íris, o aparelho fez um barulho após conceder o acesso e entramos assim que o portão se abriu.
A mulher caminhou até a porta, mas antes que pudesse repetir o procedimento eu ouvi um grito que doeu a minha alma, eu perdi meu fôlego, fechei meus olhos com força e tapei meus ouvidos.
Quando voltei a abri-los encontrei com os olhos de Clóvis, eles estavam próximos, arregalados, os lábios em um semicírculo, escorria uma gota fina de sangue pelo canto de sua boca e ele ainda segurava meu pulso que cicatrizada, soube então que havia voltado.
— Maldição... — foi a única coisa que ouvi ele dizer antes de desfalecer.
— Como você é ridícula, Valente... — ouço ao longe uma voz grossa dizer indignada.
— Ridícula? Pelo amor de Deus, você não se enxerga, não? — rebate outra voz, só que essa era feminina e estava detida de imensa irritação. — Tá sempre pra lá e pra cá com essa frauda do século dos meus octacontavós, ou mais ainda, falta só o alfinete pra ser o bebê que as cegonhas carregam. — esbraveja ela e ouço um riso.
— Achei que você fosse mais adulta que isso, quer discutir comigo com esses argumentos e analogias baratas? — resmunga — Logo comigo, um deus?
Ao ouvir essa palavra arregalei meus olhos e fitei o teto do quarto, me sentei sem esperar e ainda sem entender muita coisa enxerguei dois corpos um pouco afastados da cama aonde eu estava.
Eu apenas os encarava enquanto ambos pareciam travar uma briga feroz como velhos conhecidos que não se davam bem.
— Eu estou aqui pra guiar ela. — é minha tia quem diz e Apolo ri.
— Guiar? — pergunta com desdém —Aonde estava você pra guiá-la antes de tudo isso? — a voz ácida
Permaneci em silêncio, queria ver no que aquilo daria.
— Eu estive todos os instantes ao lado dela, eu a vi chorar várias vezes olhando pra uma carta que a qualquer momento se desfaria nas mãos dela. — diz parecendo furioso. — E aonde estava você?
Amélia trinca o maxilar e então o fita com os olhos semicerrados.
— Você sabe bem aonde eu estava seu histrião². — eu franzo o cenho.
Isso era algum tipo de xingamento?
— Eu escolhi mantê-la segura, privei ela de conhecer a família pra mantê-la viva, por que acha que Hope sobreviveu por tanto tempo? — estou sem palavras. — Não me venha dizer que foi mais importante na vida dela, não venha me dizer que foi o único glorioso que se importou. — diz exasperada chacoalhando as mãos no ar para depois se aproximar do deus com o rosto envolto a raiva — Ela é meu sangue assim como é o seu, ela foi a única parte que me restou da minha irmã e se fosse necessário deixá-la envelhecer sem que soubesse de nós, eu faria. — afirma baixo.
Eu estava sem fala, não sabia nem o que pensar, eu queria sentar ao lado dela e pedir pra que me contasse toda a história, ou melhor, me mostrasse ela.
Mas antes que pudesse dizer algo ou amadurecer a ideia ouvi dentro da minha mente um chamado dolorido, quase que um sussurro, olhei pra janela e vi que ainda era noite.
Eu não soube identificar, mas eu soube que precisava ir.
Me levantei em um salto chamando a atenção dos dois que ainda discutiam.
— Beleza família, já chega de DR histórica pra ver quem foi o mais presente pra mim. — chamo a atenção dos dois que parecem surpresos — Eu tenho a resposta, nenhum dos dois. — afirmo — Você até podia estar lá, mas não fez diferença porque eu não te via. — resmungo olhando ao redor.
Avisto uma troca de roupas em cima da poltrona marrom do quarto de Fred e caminho até ela.
— Estão quites. — sorrio para os dois já tirando minha blusa.
– Está louca? — pergunta Apolo cobrindo os olhos com o antebraço.
— Pelo amor de Deus, são só peitos dentro de um sutiã. — murmuro após revirar os olhos. — E se você estivesse mesmo presente durante meus anos de vida deve ter visto eu fazer isso milhares de vezes. — ele ri.
— Eu sou seu avô e Deus...não um tarado, Hope. — eu sorrio.
— Não disse isso, mas eu já usei bastante biquíni na vida. — explico calma abaixando o zíper da calça e depois o jeans, coloco outra de tecido resistente como couro, mais flexível como elastano, costumava usar nos treinos.
Visto uma t-shirt esportiva e depois uma jaqueta a arrumando em seguida nos ombros, prendo meu cabelo com o xuxin que tinha no pulso esquerdo.
— Pode olhar, vovô. — digo com sarro na voz.
Ele me olha, mas seu olhar não era nada legal.
— Não gosto da sua ironia. — avisa e eu sorrio apenas.
Sento-me na beirada da cama para colocar o coturno, que era de Sara, emprestado.
— Então não gosta de mim. — afirmo e o vejo suspirar desgostoso. — Afinal de contas, o que vocês estão fazendo aqui?
— Você me pediu pra encontrá-la aqui. - Amélia diz e eu assinto me lembrando.
— Verdade. — franzo o cenho olhando pra Apolo.
— Eu te disse, sempre estou por perto. — ele dá de ombros.
— Podia aparecer mais vezes então, né? Principalmente quando eu necessito de você. — vou até a janela e a abrindo.
Me debruço minimamente sobre ela e analiso a queda, o pulo ia ser alto, volto meu corpo para dentro do quarto e fecho a jaqueta de zíper e botões.
— O que você vai fazer? — pergunta o homem e eu o olho.
Pra um deus ele realmente parecia ridículo com aquele trem na cintura, não cobria nem as coxas direito.
— Se for pra ir comigo você vai por uma roupa descente. — vou até o guarda roupa de Fred.
Pego uma calça preta e uma camisa da mesma cor, não tinha muita variação, só pretos mais novos e pretos mais desbotados, dava pra escolher entre os tons de desbotados.
Enfim...
— Aqui. — jogo pra ele a roupa que pega no ar.
— Eu não vou vestir isso. — consigo sentir o desgosto e nojo na voz.
— Ah, vai sim. — afirmo assentindo sob o olhar de Amélia
— Eu costumava estar nu o tempo inteiro, qual o problema? essa é a nossa essência. — parece realmente afetado.
— O problema é que a humanidade evoluiu, estar nu pode ser considerado até um crime, então trate de botar essas roupas logo. — ele apenas me encara.
Me afasto do deus olhando pra Amélia que mantinha uma expressão neutra.
— Eu estou indo, me encontre no caminho. — digo sem me virar. — E eu ouvi alguém chamar por você, acho que foi minha mãe. — digo a ela que franze o cenho.
Sentindo fazia, Sara, Anastácia ou Alicie não chamariam por Amélia, ou chamariam?
— Precisamos ir, posso senti-la, uma conexão fraca, mas sinto. — minha tia diz.
— Vamos. — diz Apolo e quando olho pra ele o vejo vestido.
O pano que antes cobria suas genitálias agora estava amarrado a passadeira do cinto da calça.
— Você fica mais real vestido normalmente. — ele sorri inconformado.
— Me sinto desconfortável.
— Isso passa. — volto a olhar pra janela. — Pra conquistar a minha vó aposto que fez um esforço.
Ouço seu resmungo estarrecido, mas escolho me concentrar.
Lembro-me da vez que assisti um filme, a garota era uma vampira, ela pulou como um nadador, os braços abertos, as pernas retas, ela deu um giro no ar e caiu com o punho no chão e os joelhos flexionados, algo lindo de se ver, impossível de fazer.
Se eu vou conseguir fazer isso, não sei, só sei que vou tentar.
Corro sem esperar mais em direção a janela grande, pulo quando estou perto o suficiente, abro os braços e me sinto cair, estava mesmo como na cena, mas eu não soube dar o giro então quando cai no solo dei uma cambalhota usando as pernas para ficar em pé.
— É, não foi do jeito que eu pensei, mas foi legal. — Apolo diz de frente para mim enquanto limpo minha calça.
— Aonde pensa que vai? — ouço alguém atrás de mim e não preciso me virar para saber de quem se tratava, mas Apolo já não estava mais ali.
— Aonde eu vou não é da sua conta. — afirmo me virando pra ele e vendo Apolo e Amira atrás de Clóvis.
— Quer bancar a heroína, Valente? — sinto seu deboche e eu reviro os olhos.
— Nunca fui, não sou e nunca serei. — digo. — Você me mordeu mais cedo. — acuso o fazendo suspirar — Por que fez aquilo?
— Consigo ver pensamentos e coisas do tipo quando em contato com o sangue da pessoa. — explica sem me olhar.
— Você sabe o que significa aquilo? Sabe aonde é? — ele respira fundo.
Parecia incomodado.
— Aquela é a mansão dos Molin's, aonde as crias de Daio e os anciãos residem. — eu apenas o encaro. — Temos um traidor em Órion. — anuncia e arregalo os olhos.
Não pode, minha família está lá, Daio está lá...
— Não se preocupe, contatei outros anciãos, eles estão atrás de quem seja. — me acalma parecendo ler meus olhos. — Cuidaram da sua família e do nosso líder.
— Eu vi uma mulher. — digo convicta.
— Estamos apostando nos dois, não podemos focar em um único alvo, temos vampiros em Órion que podem se transfigurar.
— Como está Daio? — murmuro e ele suspira.
— Não houve melhora. — eu sinto meu coração afundar no peito.
Mas antes que pudesse dizer algo mais eu o vejo mudar sua expressão, deita a cabeça ligeiramente no ar e de repente semicerra os olhos, dando as costas para mim e encarando o deus e a vampira que ainda estavam atrás dele.
Demorou até.
— Quem merda é você? — está olhando para o homem branco e loiro e então olha pra Amélia. — E o que está fazendo aqui sanguínea?
Eu ainda digeria mais essa nova informação, eram muitas coisas acontecendo simultaneamente, eu quase não conseguia mais raciocinar, mas me senti mais aliviada pelo fato dele já ter anunciado a má notícia pra Daio e os outros não serem pegos de surpresa.
— Tecnicamente era pra eu estar te fazendo essa pergunta, mas vou aceitá-la já que não sou mais adepta a esse modo de vida. — responde simples olhando pra mim com atenção.
Ela conhecia Clóvis, parecia me avisar que enfrentá-lo não era uma boa, mas eu não ligava mais para isso.
— E você? — pergunta ele ao homem.
Eu o vi abrir a boca, mas não ouvi sua resposta, pois nesse mesmo instante meu corpo foi tomado por um arrepio forte que o fez formigar logo em seguida, fechei meus olhos aceitando o que viria a seguir, mas o que eu vi fez minha fúria aumentar em mil por cento.
Michel tinha planos pra sacrificar uma pessoa, uma mulher, ele o faria como parte do ritual de posse dos poderes.
No mesmo instante eu abro os olhos, Fred como um raio me alcança, ele encara meus olhos com um misto de fúria e preocupação.
Eu já sabia o que ele iria falar, mas não estava em condição de discutir, eu estava alterada, a cor dos meus olhos denunciavam.
Ele se aproxima e então toca meu rosto.
— Por que ia sozinha? — prende minha visão e a minha atenção.
— Eu não ia. — me referindo a minha tia e ao meu avô.
— Você entendeu a quem me referia Hope. — sua voz está baixa, nunca o vi tão sério.
— Eu não queria expor mais ninguém importante pra mim, além do mais eu nem sei pra onde serei conduzida. — confesso após alguns minutos em silêncio.
O barraco estava armado, tínhamos a plateia completa, além do branquinho ancião, as crias de Daio, Jason e Cristian haviam se juntado a nós.
— Você não deveria pensar assim.
— Mas é assim, e assim o faria se fosse pra te manter seguro. — ele franze o cenho.
— Eu tenho seiscentos anos, sou vivido o bastante pra me proteger. — parece ofendido, mas eu nego sorrindo e recuando um passo, deixando sua mão no ar que volta a ser abaixada por ele.
— Pois é, Daio tem o triplo da sua idade e está entre a vida e a morte nesse exato momento. — não vejo surpresa nele.
— Iih, nessa ela te pegou. — ri Cristian, dando fora como sempre.
Fred o olha furioso por cima do ombro e o vampiro ergue as mãos em forma de desculpas.
— Qual de vocês contou pra ela? — Marceline pergunta irritada aos companheiros.
— E que diferença isso faz agora? — Fred nega.
— Nem que eu quisesse ficar de fo... — ele é interrompido pela minha mente que desliga do plano em que estava e me leva a outro.
Vejo minha mãe encolhida, não consegui enxergar onde ela estava, mas havia pouca luz e um cheiro forte de sangue, eles a estavam torturando novamente.
Quando volto a meu corpo e abro os olhos vejo tudo estranhamente lilás, dou as costas para os vampiros que me encaravam e começo a correr.
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¹ ᴠᴀᴍᴘɪʀᴏs ᴅᴇsᴄᴇɴᴅᴇɴᴛᴇs ᴅᴀ ᴍᴜᴛᴀçãᴏ ᴅᴏs ᴠᴀᴍᴘʏʀᴜᴍ sᴘᴇᴄᴛʀᴜᴍ. ² ɴᴏ ᴀɴᴛɪɢᴏ ᴛᴇᴀᴛʀᴏ ʀᴏᴍᴀɴᴏ, ᴏ ʜɪsᴛʀɪᴏɴᴇ ᴇʀᴀ ᴏ ᴄᴏᴍᴇᴅɪᴀɴᴛᴇ ǫᴜᴇ ʀᴇᴘʀᴇsᴇɴᴛᴀᴠᴀ ғᴀʀsᴀs, ᴅᴇsɪɢɴᴀ ᴏ sᴜᴊᴇɪᴛᴏ ʀɪᴅíᴄᴜʟᴏ, ғᴀʀsᴀɴᴛᴇ, ᴘᴀʟʜᴀçᴏ ᴏᴜ ᴄʜᴀʀʟᴀᴛãᴏ.
ᴏᴏɪ ɢᴇɴᴛᴇ,
ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ ᴏ ǫᴜᴇ ᴠᴏᴄês ᴇsᴛãᴏ ᴀᴄʜᴀɴᴅᴏ ᴅᴀ ʜɪsᴛóʀɪᴀ, ᴅᴇɪxᴇᴍ ᴇsᴛʀᴇʟɪɴʜᴀs ᴇ é ɪssᴏ.
ᴠᴀʟᴇᴇᴜ ʜᴜᴍᴀɴᴏs.
ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʙᴀᴅ ʟɪᴀʀ - ɪᴍᴀɢɪɴᴇ ᴅʀᴀɢᴏɴs
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
ᴀᴘᴏʟɪɴʜᴏ ᴀí ᴘʀᴏ ᴄêɪs.
ᴀí ɢᴇɴᴛᴇ, ᴘᴏʀ ғᴀᴠᴏʀ, ᴇsᴘᴇʀᴏ ǫᴜᴇ ɴãᴏ sᴇᴊᴀ ʜᴇʀᴇsɪᴀ ʀᴇᴍᴏᴅᴇʟᴀʀ ᴀᴏ ᴍᴇᴜ ɢᴏsᴛᴏ ᴅᴇᴜsᴇs ᴅᴀ ᴍɪᴛᴏʟᴏɢɪᴀ ɢʀᴇɢᴀ.
sᴇ ᴀʟɢᴜéᴍ ʀᴇᴄʟᴀᴍᴀʀ ᴛᴀᴄᴏ ᴍɪɴʜᴀ ʟɪᴄᴇɴçᴀ ᴘᴏéᴛɪᴄᴀ ɴᴀ ᴄᴀʀᴀ ᴅᴀ ᴘᴇssᴏᴀ ᴋᴋᴋᴋᴋᴋᴋᴋᴋᴋ
É ᴢᴏᴇɪʀᴀ ᴘᴏᴠᴏ,
ᴍᴀs ᴏ ᴘᴀᴘᴏ ᴅᴇ ʟɪᴄᴇɴçᴀ ᴘᴏéᴛɪᴄᴀ é séʀɪᴏ.
ᴇ ᴘʀᴀ ǫᴜᴇᴍ ɴãᴏ sᴀʙᴇ ᴏ ǫᴜᴇ é ɪssᴏ,
ᴛɪᴀ ʟᴜɴᴀ ᴇxᴘʟɪᴄᴀ: ʟɪᴄᴇɴçᴀ ᴘᴏéᴛɪᴄᴀ ᴘᴏᴅᴇ sᴇʀ ᴄᴏᴍᴘʀᴇᴇɴᴅɪᴅᴀ ᴄᴏᴍᴏ ᴀ ʟɪʙᴇʀᴅᴀᴅᴇ ǫᴜᴇ ᴏ ᴇsᴄʀɪᴛᴏʀ ᴛᴇᴍ ᴅᴇ ᴜsᴀʀ ᴄᴏɴsᴛʀᴜçõᴇs, ᴘʀᴏsóᴅɪᴀs, ᴏʀᴛᴏɢʀᴀғɪᴀs, sɪɴᴛᴀᴛɪᴄᴀs ǫᴜᴇ ғᴏɢᴇᴍ às ʀᴇɢʀᴀs/ᴀᴏ ᴜsᴏ ʜᴀʙɪᴛᴜᴀʟ ᴘᴀʀᴀ ᴀᴛɪɴɢɪʀ sᴇᴜs ᴏʙᴊᴇᴛɪᴠᴏs ᴅᴇ ᴇxᴘʀᴇssãᴏ ɴᴀ ᴏʙʀᴀ, ᴛᴇɴᴅᴇʀᴀᴍ?
ᴇsᴘᴇʀᴏ ǫᴜᴇ sɪᴍ, ᴇ ᴇᴜ ᴛᴀᴍʙéᴍ ᴇsᴘᴇʀᴏ ǫᴜᴇ ᴇsᴛᴇᴊᴀᴍ ɢᴏsᴛᴀɴᴅᴏ.
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