ᴛʀɪɴᴛᴀ ᴍɪɴᴜᴛᴏs
Acordo com uma fincada na cabeça, abro meus olhos e pisco seguidas vezes, só então foco o teto do quarto, franzo o cenho, não é o do meu quarto.
Mexo o pescoço e sinto o músculo repuxar, que droga.
— Aarg... — gemo dolorida quando firmo minhas mãos nos braços da poltrona e tento me ajeitar.
— Deves estar dolorida mesmo, estavas toda torta. — surpresa prendo a respiração quando ouço a voz branda e rouca que automaticamente me faz sentar.
Com os olhos arregalados encaro o homem que também está sentando, seus pés descalços tocam o chão, ele me analisa com curiosidade.
— Você... — me calo quando outra pontada me tira o ar. — Aii... — seguro um dos lados da cabeça sentindo a dor sumir aos poucos.
— Cuidado, se levantares corres o risco de desmaiar. — me sinto incomodada por estar sob seu olhar, ele tem sotaque, mas pelo menos agora consigo entendê-lo.
Giro meu pescoço no ar tentando diminuir o incômodo maior que a dor causa.
Em silêncio olho para meu corpo, tenho uma manta nas pernas, desencosto minhas costas da poltrona e respiro fundo.
Bom dia, Hope.
— Como você está? — ele dá de ombros e o analiso sem me envergonhar, seus olhos não estão como antes, ainda tem uma bela tonalidade azul, mas a cor e a pupilas estão normais.
— Bem, vivo, pelo que parece-me. — olha pra si mesmo e então ergue o rosto com um sorriso pequeno.
Pra quem quase morreu ontem ele realmente parece bem.
— Onde estão minhas roupas? — tenta se levantar e no mesmo instante eu me ponho em pé o impedindo, o homem franze o cenho, mas não recua. — Preciso encontrar minha filha. — sua voz soa séria, como um alerta, mas não me intimido.
— Fique bem sentadinho aí. — me coloco a sua frente, à apenas alguns centímetros de distância.
— Estás a brincar? era pra estar desmaiado e dormir por três dias seguidos, mas o universo decidiu colaborar, por isto não posso perder tempo. — sinto vontade rir dele, mas não cedo e seu corpo cai sentado na cama de novo e eu franzo o cenho confusa.
— Por que ficaria três dias apagado? — cruzo os braços e sigo o olhar dele que vai em direção a bolsa de sangue vazia ainda no suporte, seus olhos se semicerram e escurecem quando ele respira fundo. — Não... — minha cabeça se remexe em negação. — Eu fiz a tipagem, seu sangue é O positivo, não haveria como errar e nem como dar complicações. — suas sobrancelha se erguem levemente enquanto eu falo e então me sinto afrontada.
Que bastardo, mal agradecido.
— Eu sou biomédica. — o homem sorri e assente.
— Sei quem és, doutora. — sua voz soa convencida, ele me encara por alguns instantes, o brilho de divertimento some aos poucos de seus olhos e o veio olhar pra baixo, para o ombro. — Então, nenhum perigo de coagulação? — cutuca o curativo e eu sinto vontade bater em sua mão para que pare.
— Nenhum. — ele suspira e então me olha.
— Certo, preciso ir. — mais uma vez ele tenta se levantar e de novo eu o detenho.
— Você vai ficar bem aí. — estendo minhas mãos e toco seu peito, empurro devagar e ele se senta a contra gosto.
— Gajo. — resmunga na língua que eu não entendo e então me olha — Entendo que ficastes preocupada comigo, dormistes ali, fizestes tipagem e blá, blá, blá... — franzo o venho — E agradeço-lhe por isto. — suas sobrancelhas estão erguidas e a cor de seus olhos fria. — Mas preciso ir atrás da minha filha. — insiste, mas eu nego.
— Aonde está Meg? — sussurro começando a ficar irritada com o homem.
— Tens uma camiseta pra emprestar-me? — vou até a porta e olho para fora, a luz da manhã entra pela janela que ilumina o corredor, mas não vejo ninguém. — Eu juro que já estou legal, doutora.
— Hope, me chame de Hope. — volto para perto dele nervosa, estou apertada pra fazer xixi, mas não posso deixá-lo sozinho aqui, já pensou se fugir? — E eu não posso te deixar ir, tem noção? não faz doze horas que você quase morreu, deve estar fraco e com dor. — pego meu celular no bolso, bateria fraca.
Mando mensagem para Jace, mas não vejo ela chegar.
— Eu juro que estou legal, me emprestas uma camisa e vinte pratas que já estou indo. — eu respiro fundo com os olhos fechados, por isso não me formei em medicina, lidar com gente já é difícil, agora lidar com gente teimosa é pior ainda.
— Olha só cara, eu não sei o que você tem na cabeça, mas eu tenho cérebro na minha. — me ponho na frente dele — E eu não vou te deixar sair daqui enquanto um médico não te examinar.
Ele suspira e olha diretamente nos meus olhos, ele então pega impulso e se levanta, conforme ele se ergue o meu rosto tambem e eu me sinto pequenina de novo.
O cara é realmente alto, o cabelo loiro está uma bagunça, e eu ainda tento entender como é que ele pode estar tão ativo depois de tudo.
— Era pra me intimidar? — aperto meus braços a minha frente e em volta de mim.
— Ora, levantei-me apenas, és tu que estás muito perto. — seus ombros se mexem e em seguida ele arfa.
— Mas que merda, viu? — ele permanece sem expressão, mas quando me olha seus olhos parecem divertidos.
Qual é a desse cara?
— Me chamo Cristian. — eu rio desacreditada.
— Você deve ter batido com a cabeça. — vou até a porta, olho mais uma vez para fora, mas ainda não tem ninguém. — O que está fazendo? — o vejo aos pés da janela olhando pra baixo, talvez calculando a intensidade da dor da queda. — Olha, eu sei que está preocupada com a sua filha. — volto me aproximar e ganho a total atenção dele. — Mas não tem como ir atrás dela do jeito que está, fique mais um pouco, tome café da manhã, descanse. — peço segurando seu braço e o levando de volta pra cama. — Conversei ontem com a equipe do meu segurança, já temos homens atrás da sua filha. — ele permanece em silêncio, me sento ao seu lado na cama e me lembro do rosto da menina.
Quero perguntar, mas não arrisco, homens são confusos e complicados, agora que ele sossegou não quero arriscar.
— Vou atrás de Meg pra dar uma olhada no seu ombro e trocar o curativo. — ele não me olha e nem ao menos concorda, eu suspiro e vou até a janela para a fechar, está batendo um vento frio.
— Não, deixe aberta, por favor. — me impede ao pedir. — O cheiro do sangue está a me enjoar. — aponta com a cabeça pra bolsa vazia depois fita o chão.
Eu assinto, vou até o suporte e tiro a bolsa dali, junto com essa a outra que estava em cima da mesa de cabeceira, Cristian nem olha pra mim e entendo sua resistência ao sangue.
É realmente ruim.
— Vou trazer uma camiseta. — ele assente brincando com os dedos das mãos.
Deixo o quarto e vou direção ao meu quarto, estou muito apertada pra fazer xixi, minha cama permanece arrumada e eu passo por ela como um jato, inovado meu banheiro e abaixo a calça moletom sem nem ao menos fecha a porta.
— Aaah... — gemo aliviada enquanto o líquido cai dentro do vaso.
Depois de aliviada e vestida, dou descarga, lavo a mão e escovo os dentes. De frente para o espelho consigo ver o tamanho das minhas olheiras.
— Cristo!!! — abro a primeira gaveta e pego uma xuxinha, junto os fios do meu cabelo e prendo em um rabo de cavalo.
Saio do banheiro em direção ao closet, os pensamentos a mil, procuro no armário uma calça jeans e a visto com a mente em no homem no quarto ao lado.
Flashs da noite anterior invadem a minha mente e eu suspiro, o sangue, os gemidos de dor, a filha...
A pele pálida e fria como o mármore, os lábios sem cor, como pode uma melhora tão rápida?
Ontem, depois da transfusão passei algumas horas o observando, permanecia imóvel, como um morto enquanto eu pensava na filha, na imagem dela diante dos meus olhos.
Os homens de Jace conseguiram uma gravação de uma câmera de segurança da entrada e saída de EastVille, temos placa de um carro, o carro que usaram pra abandonar Cristian na estrada que liga a cidade mãe e Longcity, eles estão agora atrás do veículo.
— Achei... — puxo a camiseta do fundo da pratileira e a estendo no ar.
Ainda está com o cheiro dele, depois de meses, foi a única coisa que guardei de Sebastian, eu costumava usar essa camiseta, era a preferida dele.
Com uma camisa de frio e de banda, jeans, chinelos e meias nos pés eu saio do closet e do quarto.
— Ah, bom dia. — sorrio ao encontrar Meg no corredor.
Ela está com uma bandeja na mãos, em cima há dois pratos com panquecas e atrás dela Rael com dois copos com, o que parece ser, suco de acerola na mão.
— Como você está? — o ruivo parece me analisar com atenção antes de virar seu olhar pra escadaria, se aproxima do guarda corpo e olha pra baixo.
— Estou bem, acordei com meu pescoço danificado, mas estou bem. — volto meu olhar pra minha amiga que assente — E você?
— Tô legal, vou levar o café pro nosso paciente particular e misterioso, ver como está o ferimento, refazer o curativo e depois vou embora. — olha pro ruivo que volta a se aproximar. — Prometi à Mark que estaria pro café da manhã, hoje é meu dia de deixar Otávia na escola.
— Que horas são? — franzo o cenho procurando relógio no pulso, mas não tenho.
— Sete pr'as sete horas. — Rael confere.
— Certo, eu trouxe pra você. — me estende a bandeja com os pratos.
— Eu estou um pouco enjoada, vou beber apenas o suco, tudo bem? — ela ri da minha careta e assente.
— Tudo bem, Hop.
— Faz tempo que ele acordou? — começamos a ir em direção ao quarto.
— Umas três horas, mais ou menos, queria ir atrás da filha. — empurra a porta com o cotovelo. — Gosta de panquecas? — o homem franze o cenho olhando para nós e eu me sinto aliviada por ainda vê-lo.
Ele caminha até nós e olha pra mim, sorri e depois olha pra Rael.
— Demorastes. — volta a olhar pra enfermeira. — Obrigado. — manda um beijinho no ar pra ela que nega.
— Eu achei uma camisa, vista só depois que trocar o curativo. — coloco a blusa em cima da cama e ele franze o cenho.
— Namoras? — olha pra mim confuso e Rael segura o riso enquanto Meg não se importa de gargalhar na minha cara.
Eu semicerro os olhos e coloco as mãos na cintura.
— Eu não sei o que é pior, a pergunta ou vocês rindo. — olho pros meus amigos.
— Ele foi mais rápido que os meninos. — o ruivo resmunga e Cristian o olha com as sobrancelhas erguidas.
— Nada, faz tanto tempo que ela está encalhada que isso tá até escrito na testa dela. — Meg coloca a bandeja sobre a cama e eu suspiro.
— Vocês são péssimos. — pego um dos copos da mão de Rael e dou as costas para eles.
Saio do quarto deixando os três pra trás, mas ainda consigo ouvir o que eles falam.
— Não compreendi, aquela rapariga namora? — rio baixo parando no corredor
— Não. — Meg responde rindo e eu prendo com os dentes a borda do copo de vidro após beber um gole.
— Ainda, meu amigo tá de olho nela, então sugiro que você tire o seu. — eu quase cuspo o suco na parede e tapo a boca com a mão com os olhos arregalados após ouvir Rael.
Zion está mesmo afim de mim?
— Não estou de olho nela. — faz-se silêncio no quarto. — Apesar de que ela é bem interessante... — Rael ri e Meg murmura um: homens — Mas também tenho um amigo que está de olho na doutora. — a graça some totalmente do meu corpo e eu franzo o cenho.
— Ouvindo atrás da porta, Hope? — reprimo um grito tapando a boca e meus olhos correm em direção à Jace que sobe as escadas.
— Jace! — reclamo em sussurros, não quero ser flagrada por mais ninguém.
Caminho até ele e o agarro pelo pulso.
— Está com pressa? — zomba de mim, mas não dou bola. — Bom dia pra você também. — eu murmuro o comprimento e o ouço rir de novo.
Seguimos até o primeiro andar e sigo pra cozinha, ele atrás de mim.
— Quem é ele? — pergunto espalmando as mãos no balcão e ele se senta no banco do outro lado.
— Cristian Barroso. — suspira e junta as mãos em cima da pedra gelada. — Empresário. — me olha — Pai da garota, Alicie o nome dela. — vou até o armário e o abro, pego de lá minha caixa de sucrilios preferido, o nome me soa familiar. — Ele é viúvo também. — dá de ombros. — Que mais quer saber?
Com uma tigela de porcelana na mão procuro uma colher, pego o leite na geladeira e com um suspiro me sento de frente pra Jace.
— Ele é estranho. — o vejo franzir o cenho. — Sei lá, ontem, por duas vezes ele abriu os olhos e estavam como os de um gato, Jace. — falo baixo, quase como um sussurro.
— Talvez fosse sua mente agitada. — paro a primeira colher de sucrilios com leite no ar e o olhei sério.
— Tá dizendo que eu vi coisas? — ele me olha por alguns segundos antes de assentir, volto a colher pra tigela e solto um riso amargo. — Vai dizer que a imagem da menina diante dos meus olhos também foi? — Jace dá de ombros e eu nego. — Para, eu sei que você também viu.
— Eu nunca te disse que vi. — rebate e eu o encaro com cara de cocô.
— Olha, eu posso ser de tudo, menos louca. — enfio na boca uma colherada — E eu vi o jeito que você saiu daqui. — tapo minha boca enquanto falo.
— Hope, eu só recebi uma ligação. — eu nego mastigando.
— Não acredito em você. — ele solta um riso divertido e cruza os braços encostando as costas na cadeira.
— Eu que não deveria acreditar em você. — reviro os olhos no mesmo instante que Meg alcança a escadaria.
— Já vai? — volto a tapar a boca.
— Ahan, Mark já até me ligou. — se aproxima a passos calmos. — Fiquem de olho nele, tá namorando aquela janela demais pro meu gosto. — eu rio enquanto devolvo o beijo na bochecha de despedida.
— Manda um beijo pra Otávia, diz pra ela que a tia Hop vai combinar um dia pra levar ela pra brincar com a Tessa. — Meg assente e se despede de Jace.
— Bom dia pra vocês. — ela acena enquanto segue até a porta.
— Eu tenho que trabalhar... — comento fingindo desolação e Jafe ri. — Queria folga, férias. — mumuro com exagero, mas me calo encarando Jace.
— O que foi?
— Vocês não tem folga?
— Temos. — assente — Seguimos um cronograma fixo, para todos os dias da semana e para todos os dias do mês, todos os meus homens tem uma duas folhas por semana, normalmente uma é diurna e a outra noturna. — explica enquanto como — Já eu prefiro estar sempre aqui, folgo uma vez por mês.
— Por que? e sua família? — ele sorri e coça a barba.
— Eu sou solteiro, Hope. — dá de ombros. — Normalmente não tem ninguém me esperando em casa. — franzo o cenho.
Que depressivo, parece comigo.
— Meus únicos familiares estão em Washington, minha mãe e meu irmão caçula. — seus olhos vão de encontro a porta dos fundos, mas eu não me viro pra ver pro que ele olha. — Eu amo estar em movimento, amo o que faço, então... — abaixa uma das mãos para pegar algo no bolso.
— Eu acho que você é jovem demais pra ficar preso assim ao trabalho, poderia sair pra festas, encontrar alguns amigos ou amigas. — me calo depois de trazer mais uma colher a boca.
Jace ri baixo ainda com os olhos no celular e eu franzo o cenho.
— Eu também acho que você é jovem demais pra ficar presa ao trabalho, poderia sair pra uma festa, encontrar algumas amigas ou amigos. — repete com o tom carregado de ironia e eu rio.
— Justo. — o vejo sorrir — Mas eu saio vou à festas, faço amigos... - ele me interrompe enquanto estende o celular pra mim.
— Confraternizações, concertos beneficentes, reuniões do conselho de biomedicine e jantar em família não valem. — sua voz está divertida e eu também, no celular vejo a foto de um pequeno garoto de cabelos cacheados — É meu irmão, Drack é seu nome.
— Credo, como ele é bonito. — faço careta e Jace ri.
— A namoradinha dele também acha. — recolhe o aparelho enquanto minhas sobrancelhas vão de encontro ao meu coro cabeludo.
— Quantos anos ele tem?
— Treze. — guarda o celular de volta no bolso.
— Que absurdo. — nego virando a tijela na boca para beber o leite que restara no fundo. — Com treze anos eu ainda brincava de amarelinha, lutava pra continuar pulando corda quando chegava a hora do fogão e ficava sonhando com o nome do meu futuro namorado depois de tropeçar na corda e ficar com uma letra do alfabeto. — Jace ri e eu sorrio me levantando.
Coloco a tijela na pia.
— Eu vou subir, tenho que me arrumar.
— Vou estar esperando lá fora, Rael e Chaucer ficarão de olho nele. — eu concordo deixando a cozinha e passando por Jafe que agora está de pé.
— Sabe se Cristian tem família aqui? — paro e me viro pro moreno apoiando minha mão no corrimão da escada.
— Não tem, por que?
— Dariam falta deles. — ele assente e eu assinto de volta, o silêncio que vem a seguir é incomum e talvez um pouco constrangedor, mas permanecemos nele, um olhando pro outro.
Eu não sei explicar bem o que acontece, mas sinto os olhos dele como um ímã, então ele sorri e o encanto parece quebrar.
— Te espero lá fora. — me dá as costas e o vejo se afastar sem entender o que aconteceu.
Giro sob meus calcanhares e subo as escadas calmamente, caminho pelo corredor e paro quando chego a porta do quarto de hóspedes.
Está aberta, Rael e Cristian conversam, bato levemente na porta e os dois me olham.
— Oi. — cruzo os braços na reta do peito. — Vim ver como está. — o loiro me sorri. — Que bom que a camiseta serviu.
— Obrigado por isso, não estou na minha melhor forma pra ficar sem uma. — fala em tom de brincadeira e eu sorrio ao concordar.
Imagina se não tivesse.
— E eu estou melhor, obrigado por isso também. — assinto após suspirar.
— Beleza, eu vou trabalhar, mas se tentar fugir tem cães de guarda pra te morder — brinco e ele sorri. — Pode ficar a vontade... — franzo o cenho pensando melhor — Mas nem tanto. — concluo e eles riem. — Fica de olho em Rael, se algum vaso meu quebrar desconto do seu salário. — ele concorda e eu deixo o quarto.
— Por que você está com essa cara? — Jace me pergunta divertido.
Nem parece que estava me atiçando até agora pouco, logo eu que já não estava num bom humor, agora então piorou.
— Você quieto é tão poético. — olho pela janela e suspiro.
Vai chegar o dia que eu vou fechar a mão na cara daquele segurança metido a garanhão, o efeito do aviso da última vez durou pouco.
— Eu consigo sentir sua raiva daqui, quer conversar? — respiro fundo, não estou afim de falar sobre isso, mas não quero agir com descaso com Jace.
— Eu quero conversar, mas não sobre isso. — me remexo no banco enquanto seguimos em direção ao meu bairro.
— Temos atualizações sobre o caso do português não mais misterioso. — olha pelo retrovisor.
Meu interesse é despertado numa fração de segundo e eu já nem me lembro mais quem é William.
— Me conte. — peço enquanto Jace aumenta a velocidade.
— O carro que ele estava com a filha na noite do sequestro foi encontrado no estacionamento de uma fábrica abandonada no limite de EastVille. — semicerro os olhos e mordo a língua, Jace Daz uma curva fechada e eu franzo o cenho, mas não falo nada.
— Então eles atravessaram a fronteira?
— Talvez, não temos como ter certeza, ainda. — dá de ombros tranquilo.
— É o mesmo carro que usaram pra desovar Cristian? — meus pensamentos se voltam pro momento em que o encontramos e eu franzo o cenho.
— Não, ele foi baleado no estacionamento da fábrica. — seus olhos mais uma vez vão para o retrovisor. — Hook, Leonel, Enon e Phill foram até o local e me mandaram as fotos, tinha sangue nos vidros da lateral esquerda e no chão. — suspira — Cristian deve ter caído e eles o arrastaram até outro carro. — olho pra fora da janela pro vidro do retrovisor. — Ele se arrastou bastante pra chegar na beira da estrada, encontramos o lugar exato em que ele foi deixado.
Continua contando, mas meus pensamentos está no carro de trás que dá sinal de luz.
— Ahan... — concordo com algo que ele fala que eu nem sei o que é. — Jace... — chamo com uma sensação ruim repercutindo pelo corpo. — Por que eles estão dando sinal de luz? — viro meu rosto pra ele.
— Porque estamos sendo seguidos. — arregalo meus olhos.
— Seguidos? — repito olhando pra fora de novo. — E você está assim? tranquilo? como se nada estivesse acontecendo? — meu coração agora salta dentro do peito.
— E o que adiantaria eu surtar se você faria isso assim que descobrisse? — enterro meu corpo no banco e engulo em seco entendendo agora o porquê da velocidade rápida.
O silêncio das nossas vozes, mas o som das rodas que rodam rápido sobre o asfalto é tudo o que nos rodeia, Jace ultrapassa alguns carros pela pista e xinga quando tem que reduzir a velocidade.
— Deixem o portão aberto, estamos chegando. — sua voz soa grossa de repente e me assusta. — Todos a postos, não sei se estão armados, mas se atirarem não revidem, é uma área residencial.
— Jace... — chamo quase chorando.
— Ei, ei. — alcança minha mão e a aperta na dele. — Tudo vai dar certo. — garante e eu respiro fundo, ele só solta minha mão para trocar as marchas e depois volta a segurá-la.
O carro para com violência no estacionamento, o portão é fechado no mesmo instante e no outro minha porta é aberta por um dos seguranças que eu não me lembro o nome.
— Rápido, Hope. — chama Jace e me abraça assim que encontro com ele na frente do carro.
Somos escoltados até a porta de casa e quando eu entro dou de topo com os vermelhos olhos de Zion.
— Leve ela lá pra cima. — ordena o moreno e antes que eu pudesse perguntar algo a porta se fecha e Jace fica pra fora.
— Vamos! — o albino coloca uma de suas mãos na minhas costas e me guia em direção as escadas.
— O que está acontecendo? — pergunto com um enorme nó no pé da barriga e com lágrimas ameaçando encharcar meu rosto.
— Não sabemos ainda, mas você está segura. — assunto enquanto seguimos pelo corredor.
Colocaram-me um microchip.
Não pude deixar de ouvir a frase quando passo pelo quarto e eu paraliso.
Não, eu não sabia.
Achas que se soubesse teria deixado por tanto tempo?
Eles já deve saber onde estou, com certeza virão atrás de mim.
Olho pra Zion que me encara sem nenhum semblante no rosto, seus olhos nunca foram tão assustadores.
— Não sabe, não é? — minha voz sai amarga.
Jace está a buscá-la, tu sabes que eu confio nele.
Permaneço ali parada ouvindo a conversa de Cristian com alguém.
Ora, teu problema com ele é pessoal, não queiras me envolver nisso.
Zion suspira e eu o olho, ele parece impaciente, um pouco nervoso.
Sabes que se não fosse por ele e pela rapariga eu não estaria vivo agora.
Há um minuto de silêncio e então ouço ele estalar a língua.
Não, não posso ir pra sua casa, quem tu achas que ele quer, Daio?
Minhas sobrancelhas se levantam quando ouço o nome, meu peito bate rápido e forte no peito, à minha mente vem a voz de Jace me alertando sobre as pessoas que estavam envolvidas nisso e agora eu estou com o dobro de medo, tanto que não consigo sair do lugar.
Não venhas, não sejas burro.
Daio? Estou, Daio?
— Droga! — resmunga dentro do quarto e eu engulo em seco.
Sem perder tempo eu ergo a minha mão e bato três vezes na porta antes de entrar.
Cristian está em pé, andava de um lado pro outro antes de parar para me encarar, sua mandíbula trava assim que seus olhos leem minha expressão.
— Dá pra explicar. — ergue as mãos, uma delas segura o celular.
— Ah, então eu acho bom que você comece... — cruzo meus braços na frente do peito e ele suspira.
Cristian abre a boca, mas nesse mesmo instante Zion entra no quarto.
— Abaixem-se. — grita antes da janela ser estourada.
Involuntariamente eu grito escondendo minha cabeça com as mãos, lágrimas escapam dos meus olhos e instantaneamente começo a tremer.
— Vem, vem, vem... — Zion agarra meu pulso e me ergue no mesmo tempo em que Rael entra no quarto, duas mãos seguram a soleira da janela, mas é puxado pra baixo e o que ouço é um som abafado de quem cai no chão. — Hope, vamos. — ele me puxa e eu o sigo tropeçando em meus próprios pés.
Não consigo raciocinar direito, Cristian desce as escadas logo atrás da gente.
— Pra onde vamos? — minha voz sai fraca.
— Pro porão. — responde o albino. — Lá não tem janelas e só há uma entrada. — olho pras portas e em cada uma tem três homens, um arrepio corre pelo meu corpo e engulo em seco.
Quando chegamos Zion pede pra que eu coloque a senha, mas o problema é que eu não consigo me concentrar e tudo piora quando uma das portas começa a ser esmurrada.
— Se concentra, Hope. — pede Zion tirando algo da cintura, meus olhos seguem sua mão e o vejo passar uma pistola pra Cristian.
— Zion... — lágrimas enchem meus olhos.
— Se concentra. — pede olhando em meus olhos.
Olho para os números e tento de novo, erro, tento de novo e erro mais uma vez, a cada solavanco que a porta leva era um sobressalto que eu tenho.
Quando ouvimos o clic da porta destravando a outra é arrombada.
— Entra. — me empurra pra dentro e depois vem Cristian.
Sem que eu possa protestar ele fecha e então sou só eu e o loiro no porão escuro.
— Por que eles querem te matar? — me afasto dele assim que a luz é acesa.
Meus pensamentos estão uma bagunça, meus sentidos ainda mais.
— Por que eles querem o Daio? — o vejo franzir o cenho. — Por que? — continuo me afastando mesmo quando Cristian se mantém parado. — Responde, merda! — grito a todo pulmões, o sangue corre rápido pelas minhas veias.
— Porque essa é a forma que eles tem pra tentar parar o certo. — suas palavras saem secas antes dele virar as costas pra mim. — Desculpa meter-te nisto, nunca foi minha intenção colocar sua vida em risco.
Engulo em seco tomando a cada minuto mais consciência.
— Quem são eles? — limpo meu rosto me sentando na cadeira da escrivaninha.
— Pessoas ruins, Hope. — seus olhos não me encaram.
— Quem são eles? — insisto. — Não me trate como uma criança, eu quero saber a verdade. — exigo e ele suspira.
— Eu não posso contar muito, te colocaria em um risco ainda maior. — nega.
A porta se abre e nós dois olhamos pra cima.
— Cristian! — Daio desce as escadas numa velocidade alta, seu corpo encontra o do outro com uma violência bruta e os dois se abraçam. — Seu filho da... — soca o ombro bom do outro após se afastar, mas é interrompido antes de terminar a frase.
— Daio... — Cristian chama entre um gemido de dor e um sorriso, aponta pra mim com a cabeça e o moreno me olha
— Hope? — não vejo surpresa nos seus olhos, mas em sua voz sim, ele olha desacreditado pro amigo. — Por que não tiraram ela daqui antes?
— Não deu tempo. — responde somente e eu me enconlho.
— Eu não vou a lugar nenhu...
— Hope! — Jace chama do início da escadaria e eu o olho. — Precisa ir pegar suas coisas. — desce as escadas com pressa.
Eu perco a voz, perco também o meu chão, mil coisas se passam na minha cabeça e desperto quando ouço um grande estrondo.
— Vamos! — Jace abraça minha cintura e me guia escada acima.
— Roupas pra muitos dias? — crispo os lábios quando o vejo concordar.
— Eu vou na frente. — a voz do CEO soa grave, um pouco raivosa.
Ele passa pela porta sem nem hesitar e eu bufo ao perceber que eles invadiram meu sistema de segurança, até isso.
— Tudo limpo. — permite nossa saída.
Jace e Daio nem se olham e isso não passa dispercebido por mim, olha ao redor e arfo quando vejo o estrago que fizeram na porta dos fundos, no chão tem vidro e um rastro vermelho escarlate no chão, sangue.
— Eu subo com ela. — ouço dizerem, mas meus olhos permanecem no chão, no sangue.
Algo ruim dentro de mim se instala.
— Ei, Valente! — meus olhos voam em direção à Daio, mas não consigo entender o que ele fala já que parece ter mil vozes na minha cabeça.
Começo a andar e de repente me vejo correr, lá fora está escuro e nunca esteve tão perigoso como hoje.
Empurro a porta do meu quarto que bate contra a parede branca e vou em direção ao meu closet, sei que um deles vem atrás de mim, ouvi a arma destravar.
A tensão está quase palpável e eu tento manter a calma para me concentrar no que eu faço.
Alcanço minha mala média na maior prateleira do armário, dentro coloco peças de roupa sem conseguir me preocupar em combiná-las.
Peças íntimas, moletons, calças jeans, leggings, de alfaiataria, também entram, coloco camisetas de banda, camisetas lisas, várias de modelos diferentes, pego alguns tênis e uma sandália.
Sem me preocupar em organizar fecho a mala e pego a pequena,
— Hope? — ouço a voz de Jace vir do quarto. — Precisa de ajuda? — ele entra no closet.
— Desce pra mim, por favor? — aponto pra mala saindo do cômodo — Preciso pegar algumas coisas no banheiro. — ele vem atrás de mim carregando a mala, os olhos atentos, a face séria.
— Vá rápido, Daio está do lado de fora de precisar de algo. — entro no banheiro e ele sai do quarto.
Abro meu armário e pego escova de dente, creme dental, meu kit dermatológico, creme e óleo de cabelo, abro a gaveta e pego minha embalagem de always, vou até o box e pego shampoo e condicionador, desodorante e perfume.
— Daio! — chamo alto e me assusto quando, pelo espelho, o vejo entrar no minuto seguinte.
— Estava na porta. - explica a pergunta implícita e eu assinto.
— Preciso do meu notebook que está porão, pode pegar pra mim? — ele concorda.
— Algo mais? — olho pra ele pelo reflexo do espelho e nego.
Assim que ele sai eu também saio, vou até a mesa de cabeceira e abro a gaveta, pego meu iPad e meu Macbook e carregadores, deixo tudo em cima da cama pra volta ao closet.
Caminho rápido até a penteadeira e abro a gaveta para pegar o colar que meu pai me deu, eu o abro e respiro fundo olhando pra foto.
— Hope? podemos ir? — olho pra Jace e assinto.
Caminho até ele que me dá passagem, pego o Mac e o iPad na cama e ele se encarrega de descer a mala menor.
— Pra onde estamos indo? — caminhamos pelo corredor lado a lado, vejo quando Daio sai do porão e fecha a porta atrás dele.
— Pra casa dele. — aponta pro moreno e eu aperto meus lábios em uma linha reta. — Eu também não estou feliz com isso, mas é o lugar mais seguro pra se estar agora. — dá de ombros e passamos a descer as escadas.
Otelo nos encontra no caminho e pega a mala da mão de Jace, ele sai primeiro e nós dois logo depois, aqui fora tem mais de cinco carros na minha garagem, um deles está com o parabrisa todo trincado.
— Não vamos no meu carro? — sou guiada por Jace na direção do azul que tem o porta mala e a porta de trás abertos.
— Precisamos que seja blindado, pra sua segurança. — abre a porta do passageiro pra mim enquanto Otelo fecha o porta malas e Daio a de trás.
Antes de sentar vejo Zion, Rael entrar no outro e o carro é ligado quando Otelo entra atrás.
Cristian está dentro de uma Mercedes e é nela que Mollin entra. A minha porta é fechada assim que eu entro e a de trás se abre e Baruc senta atrás do banco de Jace, uma arma na mão.
— Você está legal? — nego, a garganta seca, o coração disparado. — Está pálida. — comenta antes de Jace entrar.
O carro aonde estão Mollin e Cristian sai primeiro, Jace dá ré e o segue, logo depois o dos meninos.
A Mercedes para na estrada com brutalidade, o nosso carro também é freado e ouço pneus cantarem e logo após Jace gritando pra eu abaixar.
O que vem a seguir são tiros, pra todo lado um deles atinge o nosso parabrisa e eu grito. Ergo meus olhos pra Jace e o vejo com metade do corpo em pé pra fora do carro aberto, Baruc escorregou para o banco atrás de mim e também está para fora.
Eu só consigo pensar nos meus vizinhos velhos que nesse momento devem estar aos surtos, menos seu Smith que deve estar colaborando com os meninos da sacada de seu quarto.
— Vamos. — ouço o grito vir de fora e afastado de nós, portas batem e eu permaneço encolhida no chão do veículo.
As respirações estão desreguladas, mas Baruc solta um grito eufórico, olho pra Jace que se mantém quieto, seus olhos estão escuros e o semblante sombrio, novamente não se parece com o meu Jace.
— Pode se sentar, Hope. — Baruc se enfia no meio dos bancos me olhando com um olhar satisfeito e com um sorriso no rosto.
Olho pra Jace buscando sua confirmação, mas gelo quando sinto o carro passar por cima de algo, arregalo meus olhos e engulo em seco.
— Jace... — meu sussurro aflito o faz me olhar, mas ele só respira fundo e volta seus olhos pra estrada.
Quase sem força eu me ergo e me sento completamente estarrecida ao seu lado.
Wester, liga pra polícia, diga que foi um assalto, limpe o sangue da cozinha, revire a sala e quebre alguns vasos.
As ordens vem de Jace à algum segurança, suas palavras entram por um ouvido e sai pelo outro, a ideia de quebrar meus vasos parece absurda, mas eu não tenho forças pra rebater.
Ele atropelou uma pessoa.
ʜᴜᴍᴀɴᴏᴏᴏᴏs, ᴍᴀɪs ᴜᴍ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ. ᴏ ǫᴜᴇ ᴀᴄʜᴀʀᴀᴍ?
ᴄʀɪsᴛɪᴀɴ sɪᴍ ᴏᴜ ɴãᴏ?
ᴠᴇᴍ ᴄᴏɪsᴀ ᴅᴏɪᴅᴀ ᴘᴏʀ ᴀɪɪɪɪ, ғɪǫᴜᴇᴍ ʟɪɢᴀᴅᴏs. ᴘᴀʀᴀᴅɪsᴇ ᴠᴀɪ ᴇxᴘʟᴏᴅɪʀ.
ɴãᴏ ᴇsǫᴜᴇçᴀᴍ ᴅᴇ ᴀᴘᴇʀᴛᴀʀ ɴᴀ ᴇsᴛʀᴇʟɪɴʜᴀ ᴇ ᴀᴛé ʟᴏɢᴏ.
ᴠᴀʟᴇᴜ ɢᴀʟᴇʀᴀ.
ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ɪɴғɪɴɪᴛʏ - ᴊᴀʏᴍᴇs ʏᴏᴜɴɢ
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
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