ᴘós-ᴘᴏssᴇ

Todos aplaudiam Michel que estava em cima de uma tribuna, em frente ao trono dourado que fora de seu pai e agora lhe pertencia. Além de sua cadeira haviam mais uma a sua direita e outra a sua esquerda, de camurça vermelho escarlate, menores e menos chamativas que a do herdeiro de Lórion, mas ainda muito bonitas. Atrás delas haviam mais poltronas, essas de estofado camurça preta como a noite, assim como a madeira dos braços e das pernas, elas pertenciam respectivamente ao braço direito e esquerdo de Michel e aos anciãos do reino, o único problema era, Michel não confiava em ninguém e por esse motivo as cadeiras vermelhas permaneceriam vazias.  

Volto minha atenção ao que acontecia ao meu arredor quando alguém tromba em mim, força demais, tanta que me faz sentir dor imediatamente, olho para os lados, mas ningué parece estar circulando, todos olham para Michel que agora tem uma coroa negra com pedras brilhantes sobre o cabelo também escuro.
Ele tem um grande sorriso no rosto, e isso não parece assustar e preocupar os outros como a mim, não vou mentir e dizer que ele não era atraente, mas eu o conheci de perto demais para me deixar levar pela sua face bonita. 
Eu ainda me sentia mal, por um momento pensei que fosse passar, mas comecei a suar seco e meu estomago não parou um minuto sequer de se revirar dentro de mim. 

Talvez fosse por conta de Leopoldo, pensando bem tudo o que aconteceu foi demais pra minha consciência, mesmo que eu mesma tenha feito aquilo. Na verdade, sinto como se outra pessoa o tivesse feito e não eu, mas não posso negar que a justiça não foi feita. 

- Que merda - suspiro outra onda de enjoo me fazer encolher, meu corpo inteiro se arrepia.

Abaixo minha cabeça e sinto tudo girar, um gosto estranho tomando conta da minha boca, como se já não tivesse sido suficiente tomar aquela coisa e depois beijar Mich...talvez tenha sido isso, a boca dele tinha o mesmo gosto da taça de mais cedo.

Pois bem, não tiro a razão do meu corpo estar enjoado. 

— Eve? — eu conhecia aquela voz, mas estava chateada com ele por ter me deixado sozinha no meio de um monte de vampiro macabros e assassinos. - Desculpa, eu não pude me aproximar mais cedo. - olho pra ele quando sua mão toca meu cotovelo, sabe que estou chateada. - Você está bem? - seu rosto se contorce em preocupação, mas não quero que sinta isso por mim agora.

— Pareço bem? — tento manter meus pés firmes no chão, mas eu realmente sinto que a qualquer momento eu vou cair. - Minha cabeça dói, minha garganta arde e meu corpo está dormente, acho que não consigo dar um passo. - arfo sentindo-me cada vez mais doentia.

É só então que percebo o olhar de um dos "homens" que estava ao meu lado assistindo ao ritual de posse, me sobressalto quando vejo seus olhos em mim, meu coração acelera e o vejo sorrir. É macabro, mas ele parece se divertir. 

— Vem, vamos. — passa o braço em volta dos meus ombros, não sei se por me ver quase desfalecendo ou pelo vampiro que parecia querer me atacar a qualquer momento. 

Fred disse alguma coisa sobre irmos ao meu quarto, mas eu não escutava muita coisa além de um misto de vozes incompreensíveis e um zumbido que parecia aumentar a cada instante, era como meus antigos ataques de enxaqueca, só que mil vezes pior. 

Tropeço em meus próprios pés sentindo a visão turva, quando foi que eu comecei a me encolher? Mas de repente eu não conseguia me mexer mais. Sentia leves puxões, mas também não conseguia abrir meus olhos ou corresponder. O grito de agonia estava preso na garganta, mas também estava impossibilitado de sair. 

O zumbido aumenta de uma forma que eu acho que meus tímpanos vão estourar, a pressão na minha cabeça é tanta que talvez eu morra agora mesmo, meu coração bate tão rápido que estranho não ter me dado um infarto ainda. Como sentir tanta dor assim é possível? 

Hope...

A voz é como uma brisa gelada que passa por mim, mas ao mesmo tempo macia como uma camisola de seda. É só quando a ouço que percebo, eu perdi todos os meus sentidos, não enxergo mais, não ouço mais as vozes dos convidados ou do meu amigo, não sinto mais o chão, nem ao menos meu próprio corpo. Será que eu morri? 

Hope...

Tento achar uma direção, mas tudo ainda é apenas um vazio, não tem cor, não tem forma, não é nada. 

Hope...

É um sussurro, mas é forte, faz as paredes do meu ser estremecerem e então eu me sinto de volta, a visão turva, sinto de novo meu corpo, estou no chão, as duas mãos espalmadas no mármore da mansão, o vestido espalhado como o sangue de um assassinato, as vozes fortes e confusas, o que está acontecendo? 

Hope...

Olho ao redor buscando a direção, mas eu não encontro nada que me explicasse de onde vem e porque. Por acaso alguém descobriu o meu pecado e veio vingar-se, mas quem em sã consciência vingaria uma criatura tão cruel?

Sinto quando sou erguida do chão que mais parecia uma pedra de gelo embaixo de mim, ainda estou confusa, mas tenho uma ideia de quem me carrega nos braços, apesar de não ter certeza sei que subimos as escadas, ele havia dito que me levaria ao meu quarto certo? Mas por que? 

Michel havia me falado que não poderia deixar a festa até que o último convidado se despedisse de nós, o que houve? Ele sabe sobre isso? Fred poderá se envolver em confusão por me tirar do primeiro andar dessa forma? Sua alta proximidade poderia gerar um burburinho contra ele? 

- Arg... - gemo sentindo a forte fisgada na cabeça que me faz perder o resto de forças que eu tinha.

Minha cabeça cai sobre o ombro de Fred, eu reconheci seu perfume, e é quando meus olhos encontram os olhos mais verdes que eu já vi na minha vida. Ela olhava diretamente para mim lá de baixo, seu rosto não tinha nenhuma expressão, sua pele branca deixava a mostra as veias de suas bochechas, ela estava de preto, os cabelos loiros cumpridos caiam como ondas sonoras por seus ombros.

Eu não conseguia ver nada com clareza, mas eu vi ela. 

— Quem...é ela? — consigo perguntar, mas antes que eu pudesse ouvir a resposta e meu amigo entender minha pergunta, eu desmaiei. 

     Meu amigo encontra quem eu me referi e então murmura algo que não entendi, logo depois solta uma lufada de ar sufocada

Viro-me na cama sentindo meu corpo quente e dolorido, gemo quando mexo minha cabeça e a sinto latejar, aos poucos tento me recordar o que foi que aconteceu e porque estou deitada. 

Reconheço minha cama pelo meu cheiro na fronha, mas meu quarto está mais escuro do que o habitual. Sento-me de vagar e me permito buscar pelas memórias, lembro-me de tudo e lembro-me também do rosto dela.

Quem poderia ser aquela mulher?

— Evangeline. — me ponho em alerta quando ouço a voz soar de algum canto do quarto, não sei de onde vem porque parecia vir de todas as direções. 

Eu também não reconheço o tom grave e claramente ameaçador, eu não deveria estar com medo não é? Mas porque meu coração bate como louco agora?

Busco por uma sombra ou pela direção da onde vem a voz, mas está tudo em silêncio novamente, como se tivesse sido coisa da minha cabeça. O nome disse é tortura psicologica, é tudo o que eles sabem e gostam de fazer. 

Respiro fundo tentando engolir o medo e enfrentar a escuridão, enquanto eu tiver uma aliança na mão estarei segura, eu acho. 

Levanto-me devagar, procuro pela mesa de cabeceira e é por ela que eu me direciono a porta e também ao interruptor. 

- Se você quer conversar, não acha que deveria ser mais educado e me esperar do lado de fora? - o silêncio quase me ensurdece e eu me lembro da dor novamente - Não ligo pra quem você seja, mas sua atitude é inadmissível! - e então a luz ascende, mas não vejo ninguém a minha frente.

- Você deveria sim se importar com quem eu sou - ele está atrás de mim

Certo, como um filme de terror. Seria cômico se não fosse trágico.

Eu sorrio, mas sentir sua áurea pesada está me exigindo muito, sinto que ele pode me matar e estar com o anel dele no meu anelar não parece poder impedi-lo se assim o quiser.

- Você deveria se apresentar então. - viro-me devagar e descubro, são dois. 

Eles estão vestido com roupas brancas e bordadas a ouro, ou seja, são membros importantes do clã de Michel, um deles está um passo a frente do outro, deduzo ser o mais velho apesar de não parecerem nenhum pouquinho senhores. Ambos são loiros e tem cabelos cumpridos, um prende seus fios em um coque e o outro os deixa cair em ondas por seus ombros.

"Quem...é ela?" 

A lembrança nem um pouco desejada e esperada dos olhos daquela mulher me faz recuar, não por medo, mas por um sentimento que não tenho certeza se sou capaz de explicar. 

Os olhos desses dois vampiros são verdes como os dela e por um segundo me questiono se não poderia ter sido um deles. Não, ela vestia preto e eu a enxerguei na minha cegueira. 

O que está na frente dá alguns passos na minha direção, talvez ele pensou que eu fosse recuar, mas nem se eu quisesse já que meus pés cravaram no chão feito garra de gato prestes a tomar banho.

- Meu nome é Zenon Valente. - poderia dizer que que não tive nenhuma reação, mas eu mesma senti quando meus olhos brilharam com a informação, mas não de uma forma boa. - Esse é meu filho, Darien Valente. - o homem fica ao lado dele, e em nada se defere do pai.

Inclusive, nem a maldade nos olhos. 

- E aquela que você viu mais cedo é Amélia Valente, minha neta e filha de Darien - eu jurei que sentiria alguma coisa quando fosse finalmente conhecer minha família por parte de mãe, mas nunca imaginei que sentiria o que estou sentindo agora. 

Um misto de nojo, revolta e raiva, eles deram minha mãe para morrer e se eu estivesse com ela meu destino não seria diferente. Eles esperam o que agora? Que eu fico ao lado deles culminando com suas atrocidades familiares e sociais? 

Inacreditável. 

- Seria um grande prazer conhecê-los e conversar com vocês. - sem que ao menos me desse conta solto um riso que eu acho que não foi bem interpretado pelo "vovô" já que ele fechou a cara. - Se vocês não tivessem invadido meu quarto e feito toda essa ceninha, nem teve fumaça, seus olhos nem mudaram de cor...

- Não estamos aqui para brincar e muito menos fazer piadas. - meu semblante se fecha também e eu não perco tempo com respirar fundo e pensar com cuidado no que dizer, não vou levar desafora desses dois egoístas. 

- Eu não estou aqui para ser confrontada por vocês. - e sem que eu perceba a coragem que a Hope humana não teria a Hopeve está tendo.

Com os últimos acontecimentos, eu já não sei se isso é uma benção ou se é uma maldição. 

Claro que ele não se preocuparia com uma mera humana só porque ela é noiva do soberano do clã, por isso não me surpreendo quando o vejo permanecer em seu lugar original, só que não irei temê-lo. O que eles fizeram com a minha mãe é o suficiente para eu querer fazer com eles o que fiz com Leopoldo. 

Zenon por fim abre um enorme sorriso, nada simpático diga-se de passagem, mas Darien parece incomodado com a minha afronta.

- Ser noiva de Michel não te dá o direito de erguer a voz para mim nesse nível, você me deve respeito. 

Um absurdo tão absurdo que eu não tenho reação, como eu deveria responder isso? Rindo só pode. 

- Não, você está enganado. - nego com um acenar de cabeça, sinto a mesma confiança de quando enfrentei Michel e Leopoldo - Eu sou Evangeline Delano, não te devo nada. - eu não estava a fim de discutir, ainda me sentia debilitada.

Estava decidida, já que eu claramente não teria paz no meu quarto iria pro de Michel. 

Sem me despedir dou as costas e toco a maçaneta da porta.

- Você é uma Valente, não minta para si mesma. - aperto a maçaneta em meus dedos quando sinto o nojo em sua voz.

Por que se os seres repugnantes desse cômodo é ele e seu filho?

- Eu sei o quem eu sou e se for preciso nascer de novo para não carregar seu nome no meu, eu o faria. - não me preocupo em olhar para ele, assim que termino deixo o quarto no mesmo instante em que Frederik aparece na minha frente.

- Você é louca ou o que Hope? - segura meus ombros me virando pra lá e pra cá checando todo o meu rosto, meu pescoço, meu colo, meus braços.

Eu me solto de suas mãos.

Olho pro corredor, daqui é possível ouvir o som de vozes, risos e música. Se não soubesse, poderia facilmente dizer que é uma festa social normal.

- Porque deixou que eles entrassem? - volto meu olhar para meu amigo - Vai me dizer que não sabia quem eram?

- Justamente por isso que eu não pude negar. - ele segura meus punhos quando tento me afastar - Será que pode me ouvir, eu jamais poderia contradizê-los, eles são os Valentes. 

- E daí quem eles são ou deixam de ser, se isso acontecer novamente você obedece a mim e somente a mim. - talvez eu tenha me expressado de uma forma errada e eu vejo quando a feição dele murcha. - Desculpa... - murmura no segundo seguinte arrependida.

- Eu só estou preocupado com a sua segurança, se eu negasse...

- Desde quando eu tenho segurança aqui, Fred? - olho em seus olhos e sei que ele concorda, seus olhos sobem para minha cabeça e sei que ele se lembrou da mesma coisa que eu - Meu noivado com Michel não vale muito coisa pelo visto e ele mesmo quase me matou várias vezes - eu não estou triste, ou sendo melodramática, estou apenas sendo realista e tentando mostrar pro meu amigo que aqui eu vou precisar me defender só se quiser sobreviver.

Ele parecia pensar no que eu falei, até arregalar os olhos parecendo se lembrar de algo importante.

- Você tomou alguma coisa lá embaixo? - e lá está de novo sua careta de preocupação.

Olho por cima do ombro, não queria conversar com ele com aqueles dois...

- Eles já foram. - corta minha linha de pensamento e volto a encará-lo. - Anda, preciso que me respond...

- Não. - ele ergue uma sobrancelha e eu suspiro derrotada - Tá, eu virei uma taça, mas não bebi, eu vomitei em dois tempos aquilo. - me desvencilho dele e empurro a porta do meu quarto voltando a entrar, ainda sinto a áurea pesada, mas não sinto mais a presença daqueles dois.

- Por que raios você virou uma taça de sangue? - ele vem atrás de mim fechando a porta atrás de si.

Ora bolas, até parece que eu bebi porque quis, logo eu, humana como as pessoas donas do sangue.

Sibém que isso deve dar um trabalham pra organizar, pessoas tipo A prum lado, tipo B pro outro, tipo AB e o O, deve ser uma loucura.

Lembro-me do dia em que esse evento estava sendo planejado e Michel comentou que teria o bar, onde bebidas eram manipuladas, como os driks humanos, só que com dois ou mais tipos sanguíneos e álcool. Michel falou que é bom, mas que cada vampiro só pode beber um pouco visto a ingestão de uma grande quantidade pode deixar o vampiro loucão ou matá-lo já que cada vampiro é compatível com apenas um tipo.

Eles sofrem algo parecido com a intoxicação alimentar, cômico.

- Hope, você está me ouvindo? - Fred me chacoalha e eu me afasto sentido enjoo.

- Eu não pensei, tá? - me sento na beirada da cama - Eu só...eu só estava longe e me esqueci que vocês não bebem vinho normal. - estou envergonhada porque também me lembrei do loiro. - O que foi? - franzo o cenho vendo me estudar.

- O que é isso? - aponta pro vestido que ainda uso.

- Sangue. - falo sem hesitar.

Fred se põe a minha frente feito jato e vira meu pescoço, ele já não tinha me vasculhado o suficiente?

- Não doido. - me desvencilho de seu toque - Ninguém me mordeu.

Frederik encara meus olhos e então ergue as sobrancelhas.

- Você...? - eu apenas o olho, mas isso parece ser suficiente.

Frederik cambaleia alguns passos para trás, me dá as costas enquanto desce as mãos pelo rosto, isso me deixa apreensiva.

- O que foi? - me levanto e vou até ele pegando em seu braço e o virando pra mim. - O que aconteceu?

- Você só pode estar louca, você sabe quantos vampiros tem nesse lugar? - ele me encara, foram poucas as vezes que o vi bravo e nunca foi comigo. - Por isso vocês vão passar a noite fora... - murmura baixo, tão baixo que quase não entendo.

- Pra onde vamos? - busco por seus olhos, mas ele me evita.

- Ele disse pra que eu subisse com você pra que se trocasse, viria te buscar assim que a cerimônia de posse acabasse. - enfim me olha - Você poderia ter sido descoberta e nem Michel poderia te salvar, porque fez isso hoje? - mas eu não estou preocupada.

- Eu não pude conter, ele me seguiu até o escritório de Michel, estávamos sozinhos e eu... - me calo olhando pro chão.

- E você o que? - maneia a cabeça pro lado e franze o cenho.

- Aconteceu de novo, dessa vez eu pude controlar melhor minhas ações e tudo depois que eu tomei aquela...coida. - conto me afastando. - Eu senti como se fossem arrancar meu estômago, e depois quando Michel me beijou eu senti a mesma coisa. 

Meu amigo não tinha nenhuma reação, estava sem expressão e isso não me ajudava em nada.

- Hope... - ouvi sua voz hesitante.

- Eu sei. - sinto meu estômago fundo, eu realmente tenho uma noção do que está acontecendo - Eu sei, eu sei, mas estou bem, juro pra você. - digo voltando a me aproximar e pego suas mãos. - Ele me disse que minha mãe está viva. - a felicidade em saber isso supera tudo o que eu poderia temer, eu ainda posso encontrá-la.

Fred me abraça forte e eu devolvo na mesma intensidade.

- Eu irei atrás dela, está em Varsóvia na casa da família. - ir atrás dela era uma promessa, tanto quanto foi me vingar de Leopoldo. - Varsóvia é na Itália, né?

Ele se afasta, me encara por alguns segundos e então ri, o clima tenso indo embora como espuma pelo ralo.

- Não é? - franzo o cenho com um sorriso divertido nos lábios.

- Na Polônia, Hope. - corrige e eu assenti com as sobrancelhas altas e então gargalo junto com ele.

- Desculpa, eu nunca fui boa em geografia. - murmuro em risos o fazendo rir ainda mais.

- Meu Deus... - resmunga esfregando os olhos com os dedos.

- Desculpa... - rio junto a ele que volta a me abraçar.

- Eu estou feliz por sua mãe estar viva, eu estou feliz por você. - fala mais calmo e beija minha cabeça.

Eu sorrio calma em seu peito, eu me sentia confortável com ele.

- Eu poderei vê-la Fred, abraçá-la. - me afasto pra ver seu rosto. - Ela salvou minha vida, agora eu tenho que retribuir.

- Estarei ao seu lado. - afirma e eu assinto beijando seu rosto.

- Me transformar poderá ser de serventia pra algo. - murmuro baixo, pensar nisso ainda não era fácil pra mim, mas se fosse necessário para salvá-la, eu faria - Eu só preciso ir com calma. - digo e ele sorri.

- Você precisa se alimentar pra concluir. - diz e o olho. - Seu gene foi despertado para o amadurecimento quando você tomou meu sangue. - diz e permaneço o encarando - E no decorrer dos dias você estava no processo de...

- Transformação - concluo e ele assente. - eu não estou feliz com isso, ainda mais depois da visita dos dois velhos - Já sou uma vampira então? - pergunto e ele se desvencilha de mim indo até a beirada da janela.

- Mais ou menos, você precisa se alimentar pra completar o ciclo. - eu paraliso - Por isso parece que seu estômago vai ser arrancado, é o seu lado vampira.

Meu corpo cai sentado na cama, pensar em se transformar e se transformar é totalmente diferente, mesmo assim, não vou voltar atrás da minha decisão.

- O sangue que você tomou hoje teve algum efeito, mas não foi suficiente pra concluir o processo. - ele parece mais pensante do que eu - Não se preocupe,  se você não quiser saiba que não vai morrer por isso, seu lado imortal ainda é muito fraco e novo pra ter total controle sobre sua humanidade, isso porque você é híbrida. - se aproxima - Quando se alimentar você será tipo duas em um, não vai mudar muita coisa além de sentir a necessidade de se alimentar de sangue uma vez ou outra, mas isso não precisa ser anormal, você pode ser uma pure.

- Virei uma taça de sangue humano hoje Fred, acho que essa opção não está mais disponível pra mim. - murmuro me sentando na cama, agora me sinto realmente culpada.

- Não foi de propósito. - se ajoelha a minha frente.

- É, mas quando senti o gosto do sangue na boca de Michel... - hesito - Eu gostei Fred, merda, que inferno. - a consciência pesada.

- Isso não faz de você uma assassina. - murmura me abraçando quando escondo o rosto nas mãos. - Tudo vai ficar bem Hope, se acalme, não precisa fazer isso agora. - me afasta para me olhar.

- Obrigada pelo seu apoio.

- Eu sempre vou estar aqui por você, Hop. - sorri beijando minha testa - Agora me diga, quem era o cara com quem você dançou lá embaixo? - pergunta se levantando e cruzando os braços.

O encaro por alguns segundos antes de rir da sua atitude.

- Tá fazendo o papel de ciumento por Michel? - zombo deitando minha cabeça pro lado direito para tirar os brincos que pesavam nos meus lóbulos.

- Tô falando sério Hope, eu nunca o tinha visto em Lórion. - confessa ganhando toda minha atenção.

- Como assim não? - agora estou curiosa porque também nunca o tinha visto por aqui e ele estava vestido como um da família dos anciãos.

- Foi o que eu acabei de falar.

- Mas Fred ele estava vestido como... - paraliso.

- Isso não quer dizer que ele seja um nobre. - e sua fala me leva diretamente à ele, a quem não via a muito tempo, mas que nunca deixava meus pensamentos e sonhos.

Podia ser?
Não sei, talvez sim, ele já fez isso antes.
Não, não.
Não viaja, Hope.

Mas aquele sorriso, a sensação de estar com ele, seus olhos, seus lábios.

- Hope? - ouço Fred.- Hope? - chama de novo e o olho. - O que foi?

- Nada. - nego com a estranha sensação - Eu só estava pensando. - justifico me pondo sobre meus pés, ele assente desconfiado e após lhe oferecer um pequeno sorriso caminho para o closet.

Qual a possibilidade de ser realmente quem eu estou pensando ser? Quase nenhuma, como ele teria entrado? O portal é no meio da floresta que está repleta de lobisomens sanguinários.

Suspirei afobada pelo número de pensamentos na mente e olhei pro puff, lá tinha uma caixa vinho, com certeza são mais presentes que irião me custar a vida.

Encaro a caixa por alguns minutos e então a abro devagar, vejo um vestido preto, não era cumprido, mas também não era indecente, as mangas tinham um corte diferenciado, eu o ergo sorrindo.

Pelo menos tem bom gosto.

· Hope? · - ouço a voz em minha cabeça e hesito.

- Fred, você me chamou? - pergunto indo até a porta e colocando a cabeça pra fora.

- Não - negou sem olhar pra mim, ele encarava o céu pela janela.

Franzo o cenho, mas não insisto.

- Tudo bem. - sussurro e volto para o interior do cômodo, mas chamo-o de volta após depositar a peça na caixa.

Em menos de um minuto o vejo pelo reflexo do espelho.

Sorrio, era incrível como eles podiam ser velozes.

- Pode abaixar aqui pra mim, por favor? - peço de costas pra ele.

Fred se aproxima e desliza o zíper como pedi após colocar meu cabelo de lado, agradeço e ele assente saindo do closet.

Tiro o vestido e do meio do bojo cai o anel prateado.

· Hope? · - ouço mais uma vez ao mesmo tempo em que encarava o anel.

Meu corpo inteiro se arrepia, minha mão treme e por um segundo permaneço paralisada no closet com os olhos no anel e segurando o vestido vermelho.

Não.....

Inferno.

Era ele, era Jace, meu Deus.

Não, não, ele não podia.

· Hope? ·

Me apresso em pegar o anel do chão e e colocá-lo, maldita hora que eu o tirei.

Minha vontade ao ouvir a voz dele era de chorar, me forçando a não fazer isso penduro a veste vermelha no cabide e visto o que estava na caixa.

Michel estava querendo me expor com certeza, não me incomodava o fato de vestir algo ousado, mas me deixava desconfortável a sensação de querer ser exibida como troféu.

"A minha noiva humana com o sangue divino e um belo corpo."

A cara daquele idiota.

O vestido tinha gola rolê, as mangas cumpridas eram abertas e o tecido brilhava quando na luz, sento-me no puff para pôr a bota de cano médio e salto grosso.

Tiro o colar que Michel havia me dado e substituo pela corrente da minha mãe, permaneço somente com a aliança de noivado e com o anel prata.

Assim que termino me olho no espelho e, séria, aliso o tecido.

Olho pro meu cabelo e uma ideia me surge na cabeça, não sei pra onde eu ia agora, mas não usaria o mesmo penteado.

Sara ia me matar? Talvez, mas eu faria mesmo assim.

Solto o lado preso e desfaço a trança, tiro os grampos e então balanço os fios.

Pronto, estava perfeito.

Vou até a penteadeira que ficava ali dentro e esborrifo o perfume que estava sobre ela, pego um sobretudo no armário e saio do closet.

- Pra onde eu... - minhas palavras somem quando no quarto encontro Michel.

A ausência de Fred me deixou com o coração temeroso.

Queria contar pra ele sobre...sobre Jace.

Sinto Michel me analisar e um grande sorriso surge em seus lábios.

- Oi. - murmuro.

- Olá, minha humana assassina. - se aproxima com as mãos nas costas. - Como se sente? - acaricia meu rosto.

- Bem. - sou verdadeira.

Vampiros para mim eram sensitivos, mas Michel era muito desatento a mim, talvez por me achar humana demais pra algo grande, mas se esquece que apesar de tudo eu sou uma Valente.

- Fiquei sabendo que conheceu seus avôs. - eu respiro fundo sentindo descontentamento em falar sobre eles.

- Insignificantes - ele gargalha alto.

- Por que diz isso? - questiona colocando meu cabelo atrás da orelha e dou de ombros.

- Primeira impressão. - descanso minhas mãos em seus ombros.

Ele estava próximo.

- Pra onde vamos? - pergunto notando que também havia mudado de roupa, agora vestia um smoking formal e normal.

- Nova York. - responde me pegando de surpresa. - Vamos a um restaurante pra comemorar essa noite magnífica. 

- Tá falando sério? - fingir estava sendo minha maior arma.

- Eu nunca brinco, Hope. - está sério olhando em meus olhos.

Era a primeira vez depois de muito tempo que ele me chamava pelo meu verdadeiro nome.

- Mas tem mais um motivo pra sairmos daqui. - se afasta e minhas mãos caem ao lado do meu corpo, eu já sei. - Precisamos estar fora de Lórion quando eles encontrarem o corpo de Leopoldo Lee. - diz e olha para mim. - Estão até demorando.

- Vamos ficar por quanto tempo? - a pergunta soa desinterante da minha parte, como eu disse fingir tem sido uma das minhas melhores habilidades.

Agora que eu descobrir a fórmula da imortalidade posso me tornar atriz quando terminar minha missão nesse submundo.

- Retornaremos pela manhã. - respira fundo - Você fez uma bagunça. - eu sorrio, eu fiz mesmo e não me arrependo.

- Ele que era um louco e me jogou contra a parede. - dou de ombros.

- Aconteceu de novo?

- Acho que foi por causa do seu sangue. - minto, o olhando sem hesitar.

- Não duvido, meu sangue é poderoso. - fala e eu rio. - Não ria, estou falando sério. - fecha a cara.

- Eu sei, me desculpe por isso. - beijo rápido seus lábios.

- Partiremos em breve, aconselho pegar uma troca de roupa e... - me olha de cima abaixo com semblante sério. - Você está magnífica. - ele alisa meu rosto e toma meus lábios em mais um rápido beijo.

Não tenho tempo de lhe agradecer porque logo Michel se retira.

Nova York, iria a uma cidade normal depois de muitos dias aqui, e era uma das que eu sempre quis ir.

Arrumo uma mala média com uma troca de roupa e um sapato baixo, coloco alguns produtos de higiene e itens básico de maquiagem.

Com o celular que estava na minha bolsa de mão ligo para Ane.

Aviso que passaria a noite fora e quando digo que iria sair de Lórion ela surta, pede pra eu trazer um travesseiro e absorventes, perfume e mais roupas.

Concordei lembrando que os meus também estavam acabando, era Sara que sempre fazia as compras dos meus itens higiênicos já que ela também comprava pra si.

Falo com Alicie e prometo lhe trazer uma boneca quando voltasse, a menina recusou em lágrimas de primeira dizendo que ela queria a mim e não um brinquedo, quase me fez chorar também, no entanto acabou por ceder.

- Está pronta pra descer? - pergunta Fred depois que desligo o celular.

Olho pra ele sobressaltada, meu amigo me oferece um sorriso divertido e eu reviro os olhos.

- Eu achei que o ser humano no trânsito era sem educação, mas vocês ultrapassam todos os limites. - brinco e ele ri pegando a mala de cima da cama.

- Vamos lá futura senhora Platon. - zomba de mim e eu faço uma careta de agonia.

- Senhora uma ov...- sou interrompida tendo que engolir o resto da frase.

- Parabéns. - diz fechando a porta atrás de si me oferecendo o braço quando já estávamos fora do quarto.

- Pelo quê? - questiono confusa.

- Pela morte magnífica. - responde e eu assinto.

- Você foi lá? - pergunto angustiada. - Não era você que estava preocupado em descobrirem?

- Só dei uma espiada, se tivessem me visto daria meu show de atuação. - murmura. - Em 1340, quando eu tinha dezenove anos, comecei a fazer teatro, mas não deu tempo de terminar por causa da peste negra.

- Caramba Fred, quantos anos você tem? - pergunto curiosa, nunca havíamos conversado sobre isso.

- Seiscentos e oitenta e cinco. - rio surpresa.

Uau.

ᴇᴜ ᴀᴍᴏ ᴏ ғʀᴇᴅ ᴅᴜᴍ ᴛᴀɴᴛᴏᴏᴏ. 
ʜᴏᴘᴇ ᴇᴍ ᴘʀᴏᴄᴇssᴏ ᴅᴇ ᴛʀᴀɴsғᴏʀᴍᴀçãᴏ,
ᴇ ᴀɢᴏʀᴀ ᴇssᴀ ᴠɪᴀɢᴇᴍ... 
ᴏ ǫᴜᴇ ɴᴏs ᴇsᴘᴇʀᴀ?  

ɴãᴏ ᴇsǫᴜᴇçᴀᴍ ᴅᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ ᴇ ᴅᴇɪxᴀʀ sᴜᴀ ᴇsᴛʀᴇʟᴀ, ᴠᴀʟᴇᴜᴜ

ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʏᴏᴜ ᴅᴏɴ'ᴛ ᴏᴡɴ ᴍᴇ - sᴀʏɢʀᴀᴄᴇ & ɢ-ᴇᴀsʏ 

ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ. 

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