ᴏ ᴄᴏɴᴛʀᴀᴛᴏ

   Não vou mentir e dizer que não
estava nervosa, Daio havia mudado de forma na minha frente e quanto mais ele falava sobre a comversa que teriamos depois mais eu ficava ansiosa.
    
     Naquela hora, dentro do carro, com a minha cabeça no peito dele pensava a respeito e me perguntava o que ele escondeu e o que queria pra me contar.

     Não podia deixar de pensar nas palavras de Michel, elas continuavam a voltar a minha mente sem que eu permitisse.

     E agora, trancasa no banheiro do hotel, tento manter minha respiração normalizada.

— Hope, me deixa entrar. — eu segurava minha cabeça sentada na tampa do vaso sanitário.

     Talvez o que eu esteja fazendo seja infantil demais, talvez eu bebi demais ou talvez tudo isso seja demais pra mim.

     A poucos dias descobri sobre a minha mãe e agora descubro que talvez ela esteja viva, encontro um cara legal e de quem eu realmente gosto, mas de repente seu nome está na boca do cara que falou tão maldosamente da minha mãe, que sequestrou uma criança e que tentou matar um homem. De repente ele muda de forma em frente aos meus olhos e agora...

      Agora eu me pergunto: quem está ao meu lado?

— Babe, estou preocupado com você... — dizia e sua voz estava pesada.

    Olho pra porta e fungo mais uma vez, meu coração está despedaçado.

     A primeira coisa que perguntei quando ele se sentou ao meu lado após me oferecer água foi:"Você sabe algo sobre a minha mãe?"

     Agora eu não sei o que eu faço, ele disse que não, mas Michel...

— Que inferno! — me levanto me sentindo levemente tonta.

     Por que tudo isso de repente? Eu estava ansiosa por esse momento, agora nao quero mais saber sobre nada e ao mesmo tempo isso parece inevitável.
       Escoro minhas mãos na pedra da bia do banheiro, minhas mãos tremem e meus olhos estão um pouco inchados.

— Eu não sei nada sobre a sua mãe, eu não sei se ela está viva, não sei se o que Michel falou é verdade, mas eu posso investigar isso pra você. — olho pra porta enquanto ouço sua voz cansada, consigo o imaginar com a testa contra a madeira, os olhos fechados. — Só por favor, escuta o que eu tenho a te falar.

     Com o coração na mão eu me desprendo da pia e caminho até a porta, giro a chave e não sou eu que giro a maçaneta.
     Daio entra e com o impacto do seu corpo contra o meu dou alguns passos em desequilíbrio para trás.

— Por favor, não minta para mim. — peço em um sussurro sentindo mais lágrimas surgirem em meus olhos fechados.

     Os braços dele me puxam para ainda mais perto e eu seguro sua camisa entre os dedos, eu não quero ter que deixá-lo.

— Durante toda a minha vida eu estive esperando por você, eu não faria nada que pudesse te tirar de mim. — eu consigo ouvir o sofrimento em sua voz.

— Me diga, o que você é? — ainda estou abraçada a ele, sinto seu calor embalar meu corpo.

    Afasto-me dele que parece relutante, olho pro seu rosto e vejo seus olhos preocupados, ele está tenso e isso me preocupa.

— Eu... — Daio não consegue manter seus olhos nos meus. — Eu não sou um hu...

     No quarto ouço um barulho conhecido, abafado, mas ainda assim conhecido. Olho pra ele que voltou analisar meu rosto com cuidado.
     Deixo Daio no banheiro e caminho de volta pro quarto, com pressa corro até a poltrona aonde deixei minhas coisas, inclusive meu celular.
     Péssimo momento.

"Margot" — atendo de costas para Daio que me seguiu para o quarto novamente.

     Donde estou consigo ver pela janela a bela vista da cidade, estamos em um andar elevado.

"Hope, de quem era o sangue que tinha um ponto de interrogação na etiqueta de identificação?" — pergunta rápido sem me dar tempo para pensar muito.

     Franzo o cenho, havia até me esquecido disso, mas sei de quem é o sangue.

"Por que?" — sinto meu corpo adormecer e minha nuca formigar.

     O que virá a seguir mudará o contexto de toda a situação eu sinto isso, pois da onde estou consigo sentir a tensão e o nervosismo de Daio também.

"Ele clareou imediatamente quando apliquei a verbena Hope." — existe entusiasmo em sua voz, mas tudo em mim estremece.

   Margot continua falando ao meu ouvido, mas eu já não ouço mais. Me viro devagar na direção de Daio, eu sei o que significa isso. Eu estava lá pra ouvir os resumos da cientista, sei o que esse resultado representa para ela e ele também é a minha resposta.


"Você tem certeza?" — eu não precisava fazer essa pergunta, pois eu já tinha a confirmação nos olhos de Daio.

"Absoluta, ele clareou ao ponto de ficar transparente e líquido, parecendo água só que com um cheiro péssimo!"

     Abaixo o celular devagar, meus olhos nos de Daio. Me lembro dos olhos de Cristian naquela noite, como reagiu com pouco caso da cirurgia, como tirou sarro da tipagem, sobre os três dias apagado.
     Então o tempo todo eu estava lidando com seres que eu jurava não existir?
     Margot me chama, mas eu apenas desligo o telefone ainda olhando pra ele.

— Hope eu...

— Não me contou porque eu não iria acreditar em você? — não vou ser egoísta e pensar só no fato dele não ter me contado, eu realmente não iria acreditar se ele fizesse isso, mas não posso negar que não esteja em estado de choque e negação.

— Você está destinada a mim, mas eu tive medo de te contar a verdade e receber sua rejeição. — eu consigo sentir a sinceridade em sua resposta.

     Eu vejo em seus olhos.

— Cristian é um vampiro? — eu sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

     Não me sinto traída por ele, eu consigo entender seus motivos.

— E você, o que é? — insisto após ele confirmar a história de minha amiga,  minha respiração está desregulada.

— Eu sou um...também. — minhas pernas falham e eu me desequilibro.

     Grito de susto e me esquivo quando em um piscar de olhos ele está em cima de mim me amparando para não cair, mas antes que pudesse tocar em mim Daio congela com a minha reação.

— Você está...com medo de mim agora? — pisco, pisco, pisco e então arrumo minha postura.

     Estava toda encolhida.

— Não estou com medo de você, mas isso foi muito rápido. — ainda permaneço distante e sob a observação dele.

     Começo ver a decepção nos olhos dele.

— Eu não... — suspiro, não quero chatea-lo por que independente do que Daio seja meus sentimentos por ele não deixaram de existir. — Eu acabei de descobrir algo que significa muita coisa, eu só não estou...acostumada com isso. — sou sincera.

     Ele não fala nada, mas meu cérebro funciona como um raio. Penso em Jace e nos meninos, e naqueles amigos esquisitos que estavam na casa de Daio aquele dia da reunião, me lembro do jeito que eles me olharam.

— Seus amigos...aqueles branquelos...? — ele solta um riso rápido e concorda.

     Eu era a humana no meio de um monte de...

— Eles são vampiros também.

— Jace... — busco seus olhos, mas Daio nega.

— Jace é uma mistura que eu não sei explicar sem provocar fúria nele. — ele está sério de novo — Mas é um humano...benzido. — franzo o cenho.

     Pretendia perguntar o que era ser um humano benzido, mas meu cérebro se lembra de Michel e eu me arrepio.

— Michel? — Daio suspira, e aqui está a tensão novamente, mais intensa dessa vez.

— Ele é um vampiro, dos que matam humanos.

     E eu estive frente a frente com ele? Me lembro de Ramires pedindo pra ser cuidadosa, me lembro de como ele estava branco feito vela quando me viu discutir com o homem, então eu quase morri essa noite? De verdade?

— Daio, o que ele falou da minha mãe...

— Eu não sei se é verdade, eu não sei muito sobre os Valentes desde que seu avô se mudou para Lórion.

     Lórion

— O que é Lórion?

— É onde eles moram. — permaneço olhando pra ele assimilando as novas informações.  — Vampiros sanguinários, que se alimentam dos humanos e os matam por diversão vivem em Lórion.

     É muita informação.

— Quem é Leopoldo? — olhando fixamente pro chão enquanto a conversa que Michel teve pelo celular repassa pelo meu cérebro.

— É um dos anciãos de Lórion.

— E o que isso significa?

— Ele é um dos vampiros mais velhos, poderoso e que compõe o conselho governamental de Lórion.

— Ele tem alguma relação com a minha mãe? — olho pra ele quando sua resposta demora a chegar.

— Ele era noivo de Aurora. — arregalo meus olhos.

     O que isso quer dizer? Pode significar que minha mãe está viva? Foi isso que Michel perguntou a ele, não foi?
     E ele disse que sim.

— Hope...? — olho pra Daio que agora parece receoso.

— Minha mãe pode estar viva? — ele dá passos na minha direção parecendo temer pelo que virá.

     Subo minha mão até o colar, aperto o círculo com a nossa foto e engulo em seco.

— Daio, minha mãe pode estar viva?

— Eu não sei, fazem 25 anos desde que eu ouvi falar no nome dela pela última vez. — ele toca meus ombros e deixo meus olhos cair no chão. — Hope...?

— Eu preciso descobrir isso.

— Tudo bem, eu posso enviar mais homens para se infiltrar entre os de Michel e...

— Não... — nego olhando fixamente pra ele. — Eu mesma vou.

— Hope. — seus olhos estão horrorizados. — Hope, como assim?

— Eu preciso encontrar minha mãe, Daio.

— Michel não é o tipo em que se pode confiar. — ele parece desesperado — Hope, por favor.

— É a minha mãe, eu não posso focar aqui sabendo que talvez, talvez ela ainda esteja viva.

— Isso é pouco provável.

— Mais ainda é provável, e mesmo que a porcentagem dela estar viva seja pequena...eu vou

— Hope, não faça isso.

— Como pode me pedir algo assim? — lágrimas rolam pelo seu rosto também. — Eu vivi o início da minha vida inteira sem saber, e agora eu tenho essa chance. — me afasto. — Eu posso tentar salva-la.

— Como você fará isso? — seu tom se eleva, mas eu não me intimido — Você é só uma humana.

— Sendo só uma humana você concordou em me ter como isca para ajudar salvar Alicie, por que não posso tentar salvar minha mãe?

     Dessa vez é ele quem hesita e recua alguns passos.

— Hope...

— Ela é o pedaço que faltou em mim por 25 anos, não posso deixar assim agora. — eu estou decidida e por mais que doa em mim deixa-lo assim, eu deixarei.

— Não vá, Hope.

— Não me peça isso. — mais lágrimas rolam pelo meu rosto.

— Eu não posso perder você. — e de repente eu sou embalada pelos braços dele.

— Eu prometo voltar pra você. — choro com ele.

     Não sei realmente se isso vai ser possível, mas não temo a morte agora que a vi de perto. Na verdade, ela pareceu interessada em mim e por isso estou pensando em jogar seu jogo.

— Vou ligar pra Ramires, ele te levará até Michel. — sorrio com meu coração cheio de dor, mas também de agradecimento por ele não me impedir de tentar.

     Não importa o que aconteça, eu vou lutar pra voltar pra ele.

— Por favor, Hope... — Daio me afasta de si e segura meu rosto nas mãos. — Não me deixe ficar sem você. — pede e eu concordo.

     Nesses poucos dias em que passamos juntos eu posso entender o que ele me disse a poucos minutos, estamos destinados. Talvez seja por isso que eu me sinto tão presa a ele agora.
    
— Se você é meu destino, não importa aonde eu estiver, eu sempre voltarei para você. — digo assistindo lágrimas saírem dos seus olhos.

     Daio se curva sobre mim e me beija, eu posso dizer que assisti muitos filmes e séries as quais marquei em um cardeninho os beijos mais doloridos, mas agora, tendo o meu próprio, posso dizer que esse sim é o TOP 1 dos beijos mais doloridos.

     Eu deixei Daio e o silêncio no quarto durou até o meu quarto passo e então tudo o que eu ouvi nos próximos foram coisas sendo jogada ao chão, coisas quebrando e os gritos de Daio enquanto expunha sua dor, tristeza, angústia e raiva com a violência.

     Pedi o elevador com lágrimas aflitas, Ramires está me esperando lá embaixo o destino nós já temos, encontrar com o futuro.
    Tentei me recompor enquanto descia os quinze andares, se vou me encontrar com o cara não posso demonstrar minha tristeza, meu medo e angústia.
     A maquiagem está no seu estado mais fraco antes do desaparecimento completo, mas não está borrada, abano meus olhos para que sequem e comecem a desinchar, mas quando foco a atenção em meus olhos e vejo minha dor volto a chorar.

— Seja forte, Hope. — digo a mim mesma dando as costas para o espelho e agarrando o colar.

     O barulhinho já conhecido por prever a abertura das portas me faz voltar a abanar o rosto.
     Assim que dou o primeiro passo para fora do elevador vejo Ramires parado em frente ao balcão da recepção esperando por mim, ainda está de terno e seu semblante é o mesmo de antes.
     Daio me disse que ele também é um vampiro...

     O que eu estou fazendo com a minha vida?

     Quando estava próxima o suficiente ele se colocou ao meu lado, sem nenhuma pergunta ou comentário me acompanhou até o carro já conhecido, abriu a porta do passageiro para mim e eu entrei.
     Ramires estava muito calmo, o que me leva a pensar que ele recebeu um treinamento eficiente pra ser um infiltrado no clã inimigo, se é que eu posso dizer assim.

— Eu... — ele me cala só com o olhar.

    Vira o rosto de lado de uma forma que eu consigo ver o fone de comunicação em seu ouvido.
     Entendi, por isso está tão calado.

— Vamos nos encontrar com Sr. Platon em um pub na saída da cidade.

     Eu concordo sem intenção de fazer nenhum comentário ou pergunta, não quero por em risco as nossas vidas.
      O papo de tratar Michel com respeito nunca será tão bem atendido por mim como agora.
     Preciso descobrir se minha mãe está viva, além do mais prometi a Cristian que salvaria sua filha.
     O local era mesmo na saída da cidade, mais alguns quilômetros e estaríamos na rodovia para LongCity, aqui também é bem rústico, uma pegada Texas e não parece estar tão movimentado. Na verdade, esse lugar parece prestes a falir.
     Um bom ponto de encontro para marginais e assassinos como Michel.
     Ramires entrou comigo, mas eu me sentei sozinha no balcão. Enquanto esperava pedi por uma bebida leve, mas comecei a ficar nervosa enquanto o tempo passava e Michel não aparecia, por isso pedi algo mais forte.
     Quando meus pelos se arrepiaram e alguém ocupou o lugar vago ao meu lado eu soube, ele chegou.

— Você é bem resistente, não é? — meu coração acelera e eu tento me concentrar, eu assisti Crepúsculo e talvez ele consiga sentir os meus sentimentos como Jasper. — Quero gim.


     Mesmo com o álcool correndo pelas veias não me sinto corajosa o suficiente para enfrentá-lo agora que eu sei que ele pode sugar meus cinco litros de sangue me menos de vinte minutos, mas mesmo assim não me deixo passar por fraca.

— Não viu nem a metade. — murmuro sem olhá-lo, Michel não é feio, é assustador — Vamos por as cartas na mesa Michel. — me viro em sua direção e ele faz a mesma coisa.

     Estar tão perto dele assim é estranho, Michel transpira perversidade.

— Claro, por onde quer começar? - eu bebo mais um gole do meu rum ainda olhando pra um ponto inexistente a minha frente.

— Eu aceito a sua proposta. — seus olhos brilham e Michel lambe os lábios, me sinto enjoada. — Desde que, eu possa encontrar minha mãe e ter a criança.

     Michel encara meus olhos e seu sorriso aumenta.

— Por que quer a criança?

— Ela é o ponto fraco de Cristian, e esse, por sua vez, é irmão de consideração de Daio, se eu tiver a criança terei os dois nas minhas mãos.

— E porque eu acreditaria nisso?

— Eu vivi 25 anos da minha vida buscando por ela, Daio sabia sobre minha mãe e não foi capaz de me dizer isso, ele me traiu. — a cada palavra sinto meu coração se apertar, mas sei que é necessário que eu minta para encontrar minha mãe e a garota.

— O que eu ganho com isso? — seus olhos me olham de cima a baixo.

— Além de se casar comigo? — vejo um sorriso sádico se formar em seus lábios, me seguro para não engolir em seco. — Meu sangue. — apesar do medo que sinto digo firme e vejo seu sorriso morrer.

     Acho que toquei no ponto fraco, pois quem engole em seco é ele.

— Vamos! — vira o copo de gim na boca de uma vez e no segundo seguinte está me puxando para fora do pub sem nem ao menos pagar pela sua bebida.

     Do lado de fora, Michel abre a porta do carro chique e entra logo depois de mim, não vi Ramires, mas espero que ele nos siga.
     Michel permanece em silêncio mesmo após o carro entrar em movimento e isso me perturba, não sei para onde estamos indo.

     Meu cérebro funciona em alta velocidade, penso em muitas coisas e uma delas é que provavelmente estamos deixando Paradise pelo trajeto que começamos a fazer, vamos cruzar a fronteira.

— Michel. — chamo após muito pensar sobre o pouco que Daio me contou. — Me apresente a todos como Evangeline Delano e me chame assim também. — peço e mesmo sem entender o homem parece concordar.

— Como minha futura esposa e futura primeira dama de Lórion, você precisará de treinamento. — presto atenção em suas palavras tentando imaginar como será viver cercadas por vampiros sanguinários que matam humanos.

— Preciso que resolva minhas pendencias aqui. — murmuro e ele se cala, não parecia ter pensado nisso até que eu disesse.

     Michel saca o celular do bolso e com uma velocidade fascinante parece mandar uma mensagem.

— Resolvido, amanhã isso estará resolvido. — concordo e volto a olhar pela janela.

     Paradise não é grande, o que significa que logo estaremos na fronteira com o Canadá.

— Arranjarei um bom treinador pra você, você irá morar comigo no clã. — suspira parecendo saber que terá problemas, isso é óbvio. — Será mais seguro. — O que pretende fazer com Leopoldo?

— Isso vai depender do estado em que minha mãe estiver. — ele concorda pensante.

— Você definitivamente vai precisar de treinamento...e de alguns encantos também. — franzo o cenho não sabendo como devo interpretar isso. — Posso conversar com Luanda.

— Sei manusear uma arma. — normalmente eu costumava me orgulhar disso, mas com o olhar debochado que Michel me dá o orgulho some em um instante

— Você vai precisar saber muito mais do que apenas manusear uma arma. — seu alerta me faz relembrar a magnitudo o que irei viver daqui pra frente, calma eu ainda não processei tudo — Você não sabe nem da metade de nada. — murmura irônico.

— Conte-me o que eu não sei.

— Leopoldo Lee é um de nós, membro do conselho de Lórion, se você quer matar um ancião terá que fazer o que eu estou falando. — dispara e eu congelo.

     Ele pressupor que irei matar Leopoldo Lee significa algo importante sobre o estado da minha mãe?
     Engulo em seco, mas recupero a pose.

— Tudo bem. — assinto e me repreendo por estar a cada hora concordando com uma loucura diferente, mas é por elas.

— Sua mãe também era uma vampira sanguínea. — me olha com um sorriso ladino. — Com exceção de você, todos os Valentes são. — a informação me revira o estômago.

     O que eu esperava? Se minha mãe estava envolvida com eles algo ela teria que ser. E porque de todos da família eu sou a humana?
     Penso em meu pai e me pergunto se ele conhece essa informação.

     Abri os olhos lentamente, olhei pra cima e não reconheci o teto, sem cortinas, apenas o branco.

     Cocei os olhos e então me sentei, a janela denunciava que ainda não havia amanhecido, tentava me lembrar de algo, mas não vinha nada, eu nem conseguia reconhecer o quarto, mas ainda vestia as roupas de ontem.
     Me levantei com cuidado, minha cabeça parecia que ia cair do corpo, e examinei o lugar, tinha um banheiro aonde eu entrei sem hesitar.
     Sentada no vaso, com as mãos segurando a cabeça e cotovelos apoiados no joelho lembro-me do que Michel disse ontem.

> Flashback on <

— Sua mãe também era uma vampira, com exceção a você todos os Valentes são.

> Flashback off <

     Após alguns minutos perdidos à toa, me levanto após me limpar e dei descarga, de frente para o espelho prendi meu cabelo em um rabo de cavalo com a chuchinha nova disponibilizada pelo hotel.
 

    E olhando-me no espelho me questiono sobre a minha origem, se minha mãe era vampira eu deveria ser também, não é? O que aconteceu comigo?
     Escoro minhas mãos na beira da bancada ainda me encarando, tudo era muito novo, muito impossível e duvidoso. 

     Num dia eu descubro a história da mulher que me deu a luz e que nunca pude conhecer, um pouco mais tarde encontro um homem quase morto, no outro dia minha casa é invadida e o bairro evacuado, então eu sai de casa fugida concordando com um plano doido, pra mais tarde descobrir que com quem eu lidava era tudo menos humanos e agora mais essa.

   Sinto um forte enjoo e com a mão no estômago gemo quando sinto uma pesada dor, me curvo para frente ainda apoiada na bancada.

— Aaah... — gemi me amparando no mármore bonito e sem poder mais conter coloco pra fora o que me agonia a por dentro.

    Eu sabia o que era isso, resultado da bebedeira de ontem, eu já não estava mais me aguentando em pé, fiz tanta força que estava fraca e mole, ver o rastro de sangue na pia junto com o vômito não me ajudou muito.
     Sem forças, e ainda muito enjoada caio sentada no chão sentindo tudo girar, lembro-me apenas de me deitar no banheiro e lá ficar.
     Sentia um gosto esquisito de metal na boca, parecia que eu havia chupado uma barra de ferro enferrujada e...
      Me sento rápido sentindo o chão duro em baixo de mim, pisquei algumas vezes recobrando a consciência devagar do que havia acontecido.
     Levanto-me lentamente pois ainda me sentia fraca, olho para pia e sinto meu estômago embrulhar de novo.
     Que merda.
     O vômito e o sangue que escorreu para o ralo estava seco, uma cena nojenta e um tanto bizarra.
     Não era nada anormal, não estava me tornando uma sobrenatural por vomitar quase as tripas, eu apenas forcei demais meu esófago, o feri.
     Lavo a pia completamente avoada, não queria mais pensar, por que fazer isso doía, doía lembrar dele.
     Eu prometi que ficaria bem, mas não sei se isso será verdade.
     Concordei em me casar com Michel, com certeza Daio ficará ferido quando descobrir isso.
     Escovo meus dentes com a escova que antes estava lacrada e era disposta no banheiro e então saio do cômodo.
    A luz que entrava pelas janelas me deram bom dia, mas meu humor dizia que de bom não teria nada.
     Caminhei até a janela e olhei para o horizonte, sim, estamos no Canadá.
     Dou as costas para o vidro e vejo em cima de uma cômoda algumas sacolas com o nome da marca, vou até elas tiro de dentro algumas peças de roupa e um bilhete.

'Evangeline, bom dia, pedi para minha secretária arrumar algumas roupas para você, ai estão elas, te aguardo no restaurante do hotel'

                                  Michel.

     A tal da secretária veio ao quarto e não me viu caída no chão? A porta estava aberta.
 

  Tirei as roupas e as analisei, normalmente eu não vestiria aquilo, mas combinavam perfeitamente com meu mal humor de hoje, um bem vindo bem receptivo para Evangeline Delano.
     Decidi tomar um banho para tirar a sensação de estar fedendo a vômito e aproveitei pra lavar meu cabelo que estava sem dúvida cheirando álcool e melancolia.
     Já embaixo do chuveiro esfrego meu corpo por inteiro e acho agradável o cheiro dos produtos disponibilizados pelo hotel. Não me demoro muito já que quando entrei se aproximava das nove, saio com a toalha em volta do meu corpo, me seco com preguiça e então visto a calça de couro, a blusa lisa branca e então calço o coturno baixo que havia dentro de uma caixa.
     Estilo gótico.
     Penteei meu cabelo e sequei com o secador que tinha disposto no banheiro.
     Depois de pronta eu visto a jaqueta que combinava com a calça, também era preta, e coloco minha troca antiga dentro das sacolas as quais pego junto com minha bolsa e saio do quarto fechando a porta em seguida.
     Pedi o elevador e esperei pacientemente, não me sentia animada, não era como se fosse encontrar Nicholas Hoult me esperando pra tomarmos café da manhã juntos, meu coração ainda doía pela despedida.
     Enquanto esperava as portas se abrirem levo minha mão até meu pescoço e seguro firme o pingente com a foto dela.
     Eu encontrarei minha mãe, mesmo que esteja morta e salvarem Alice.
     Assim que saio no saguão vou até o funcionário mais próximo que me diz a direção do restaurante, eu não estava legal e disso eu sabia, mas minha cara devia estar menos ainda por que os olhos estreitos daquele homem...
     Avistei Michel, que não é muito difícil de se reconhecer parecendo um quadrinhos do jeito que é, e um outro homem sentados em uma mesa mais reservada, ali haviam pratos e copos, mas eles estavam vazios e limpos, nem pra disfarçar.
     Com esse pensamento sinto mais uma vez a ansea me atingir com tudo, mas eu tinha quatro olhos cravados em mim e também tinha algumas pessoas comendo pelo restaurante, não queria estragar o apetite de ninguém. Franzo meus lábios em uma linha reta chegando a mesa, Michel se levantou para me cumprimentar enquanto eu não fiz questão.

— Evangeline, bom dia. — humm, educado.

     Tal gesto não condizia com a perversidade que morava em seus olhos.
     Eu sorrio ladino sentando-me a mesa, vampiros saem no sol?
     O vampiro a minha frente esbanjava maldade no olhar e por mais que tentasse ser gentil, e até conseguia, eu sabia que sua alma era escura e que em suas veias corria a maldade.

— Oh, bom dia.

— Esse é Rick, meu braço direito e advogado. — apresenta o homem gorducho que usava um óculos antigo, fundo de garrafa, e tinha uma longa barba acizentada.

— Muito bom conhece-lo. — digo para ele que não me estende a mão e não diz uma única palavra, o homem apenas maneia a cabeça e torna se sentar.

     Talvez não sentiu a necessidade de mostrar simpatia e provavelmente esse é seu jeito vampire de ser, não vou dizer que não me amedrontei.
     Michel me incentivou a me servir e quando voltei com meu prato cheio Rick soltou um riso debochado.

— Como humanos comem... — no mesmo instante eu parei de mastigar o woofer com chocolate que havia pego.

     Pisquei sem acreditar em seu comentário desnecessário e mesquinho, descansei os talheres educadamente ao lado do meu prato e terminei de mastigar a comida.
     Tanto Michel quanto o tal Rick mantinham os olhos atentos em mim e pareciam esperar por algo.

— Imagino que você também. — digo confiante, nunca fui de levar desaforo pra casa e desde que eu não enfureço Michel diretamente acredito que terei sua proteção. — Gordura não se tem de capricho, precisa comer bastante para ter essa sua pança rechunchuda, o que me leva a crer que anda bebendo demais... — me curvo um pouco por sobre da mesa — Se é que me entende. — um som rouco e ameaçador sai de dentro dele ao mesmo tempo em que o vejo e ouço socar a mesa.

     Michel sorria e quando Rick fez menção em se levantar ele segurou seu braço e eu soltei um sorriso vitorioso voltando a comer.

— Servidos? — ofereço macarons de chocolate para ambos e os vejo negar em sincronia.

     Tento focar em minha comida, mas é estranho comer com eles me encarando, porém eu não demorei pra me perder dentro da minha própria mente.
     Olho pra eles novamente quando Rick pigarreia.

— Srt. Delano, temos que formalizar a proposta que fez ao Sr. Michel ontem e por isso, trouxe comigo, um contrato.  — desliza por sobre a mesa uma pasta de papel branca.

     Limpo minhas mãos enquanto mastigo, bebo um gole do suco de laranja e abro a pasta.

— Certo. — passo meus olhos pelas primeiras linhas — Eu assino depois de ler e se eu concordar com todos os termos. — volto a fechar a pasta e encaro os dois que parecem contrariados — Isso daqui não é uma relação de submissão e sim uma parceria, eu irei ajudar se ele me ajudar, foi isso que conversamos.

     Afirmo e vejo os olhos do tatuado brilharem de insatisfação, gente eu não sou idiota.
     Afasto o prato de mim e trago para perto o contrato, eu abro a pasta novamente e passo a ler com calma, com a caneta que pedi a Rick risco os números dos quais não concordo.

— Bom, eu não irei trabalhar solo então imagino que essas condições tem que dizer respeito a você também. — observo calma enquanto bebo mais um gole do suco.

— Quais seriam? — o advogado questiona cruzando as mãos em cima da mesa.

— Eu não irei oferecer mais a Michel do que meu sangue até nos casarmos. — aponto olhando na direção dele — Então corta esse papo que diz que eu tenho que satisfazer todos os desejos dele — rabisco mais uma vez esse parágrafo.

— E o que mais?

—  Vocês afirmam minha segurança aqui. — os olhos — Quero que seja estendida a minha família também. — concluo completando a frase na própria folha. —  Me diga uma coisa, onde é Lórion? .

— Em um outro plano, cidade dos anjos da noite.

     O quão louca eu estou de concordar em participar de tudo isso?

— Outra coisa que eu quero adicionar nesse contrato, eu não vou ser transformada em uma de vocês, compreenderam? — digo com firmeza.

     Essa é umas das exigências mais importante pra mim depois da segurança da minha família, pois mesmo agora sabendo que sou filha de uma vampira ainda sou uma humana e não quero que isso mude.
 

   Rick permaneceu estilo estátua, parecia se segurar para não me matar ali mesmo, era divertido ver a ânsia por isso em seus olhos, mas a decepção em todo o resto do seu corpo por saber que não poderia é satisfatória pra mim.
     Leio o resto do contrato e faço algumas mudanças, não seria escrava de sangue e muito objeto sexual.
     Iria morar dentro do clã de Michel, o que significava estar cercada pela morte, não haviam humanos vivos em Lórion e isso é assustador.

     Pensar que terei segurancas particulares pra nao ser morta enquanto durmo não é nada reconfortante, francamente isso é até irônico, vampiros me protegendo de vampiros.

   No contrato também tinha a condição de treinar intensivamente para ter condições físicas boas se caso precisasse me defender.
     E eu achando que já havia levado todas as bombas possíveis senti meus ombros caírem quando Rick contou que meu avô e meu bisavô faziam parte do conselho como anciãos e que estariam lá nas reuniões e nos eventos.

— Como você sabe, todos Valente são como nós e você querendo ou não tem o sangue deles, sem contar que é muito parecida com Aurora, então sugiro que pinte o cabelo, coloque lentes ou faça algo que te disfarce, se é que não quer ser reconhecida diretamente.

     É um pouco estranho para mim, que até agora não tive a família materna por perto, de repente estar cercada por ela.

— A família Valente sempre fora a mais influente dentro do conselho, seu avô e seu bisavô são dois dos anciãos mais velhos que temos, Zenon é um dos primeiros vampiros e apesar de dar origem a uma espécie considerada comum, ele e todos seus descendentes são munidos de um dom, ou poder se preferir, impressionante e que  normalmente não temos no nosso mundo. — eu o ouço com cuidado — E... 

     O que pode ter mais?

— Existem muitas coisas que você não sabe sobre sua família, sobre você mesma e sobre nós, vamos começar pela parte de que não estamos mortos. — cruza as mãos em cima da mesa — Nosso coração bate e nas veias o sangue corre. — diz e eu apenas o encaro, Edward Cullen disse que estava morto em Crepúsculo — E com o olfato bom que temos consiguimos sentir tudo com muita precisão. — olha pro meu pescoço e, relutante, pro meu rosto de novo. — Por ser uma descendente seu sangue cheira bem como o deles, então seria fácil te identificar, será fácil também deles te reconhecerem.

— Existe problema nisso? — jogo minhas costas no encosto.

— Se você enxergar problema nisso, te darei meu sangue.

— Não. — nego sorrindo — De jeito nenhum!

— Essa é a única forma de camuflar o cheiro do seu sangue, humana. — Rick se pronúncia parecendo sem paciência.


— Mas eu não...

— Ele tem razão, mas só faremos isso se existir necessidade.

— Por que existiria?

— Tirando o fato d'eu estar planejando trair um dos membros do meu clã que também é um ancião do meu conselho para entregá-lo para a vingança de uma humana que será a primeira dama de Lórion em vingança a sua mãe, acho que nenhum. — ouço a ironia em sua voz, mas existe também a sinceridade — Eu posso ser o herdeiro, mas traição é traição e a consequência é a morte.

     Estou sob a responsabilidade de Michel, se ele morrer eu automaticamente estarei morta também, não quero isso.

— Tudo bem, concordo com isso se puder saber mais sobre a minha mãe.

— Somos contadores de histórias agora? — Rick debocha de mim, mas continuo olhando pra Michel.

     Ele suspira, repousa suas costas no encosto da cadeira e cruza as pernas.

— Não tem muito a ser dito, Aurora era uma original, não morava em nosso reino por que era humanizada demais para Lórion. — sorri com desdém — Foi numa dessas que ela conheceu seu pai e ferrou com a vida dela, ela era prometida a Lee, sabia disso, mas mesmo assim ela se envolveu com o humano. — consigo ver a desaprovação em suas expressões — Sabe, o erro dos sobrenaturais é eles acharem que poderão ser quem eles foram no passado ou que podem se moldar ao mundo dos humanos e as condições que ele impõe sobre nós. — cruza as mãos em cima do joelho —  São apenas desculpas pra tentar ser algo que nunca poderão ser, por esse motivo existe uma lei que restringe toda e qualquer maneira de nos revelamos, de convivermos com eles, nós somos como água e óleo, não podemos nos misturar.

— Mas pra alguns de nós isso é difícil de entender e obedecer, principalmente pra quem já foi humano. — Rick diz com os olhos vidrados em mim. — Independente de estarmos vivos ou não já não temos o mesmo instinto que um humano comum tem, vocês são o nosso jantar, essa é a ordem das coisas. — seu sorriso é macabro — E não vai mudar.

     Para mim, sua fala soa como uma ameaça e eu nego.

— Eu não sou e nem serei seu jantar vampiro.

— Sabe Hope, me intriga o fato de você não ter se transformado ainda, mesmo sendo mestiça o gene da sua mãe deveria ter despertado e amadurecido à alguns anos. — comenta e eu rio após encará-lo por alguns minutos.

— Como é que é?

— Precisamos ir. — se coloca em pé, abotoando o botão do paletó.

     Um arrepio sobe pela minha espinha quando eu penso que estou realmente indo com esses dois loucos.
     Me levanto sem dizer uma única palavra, olho em volta e penso que talvez essa seja a última vez que veja pessoas humanas por muito tempo e isso aumenta ainda mais a tensão do meu corpo e faz surgir no meu coração um sentimento de melancolia.
 

   Eu não estou levando bagagens, só tenho comigo meu celular e meu documento de identificação da clínica, mesmo assim sou conduzida para uma BMW preta.
     Porque é sempre em carros assim que pessoas ricas e poderosas costumam andar?

— Ansiosa? — ele questiona depois que entramos.

     Rick foi conduzido ao seu próprio carro que está atrás de nós.
     Olho pra ele quando começamos a nos mover e nego.

— Eu não costumo ser uma pessoa ansiosa, gosto de esperar as coisas acontecerem para só então me permitir sentir. — confesso enquanto assisto pessoas passarem por nós e ficarem para trás.

    Respiro fundo e olho pra ele.

— Mas quero me encontrar com Leonardo Lee depois que achar minha mãe. — ele ri do meu erro proposital, mas fica sério em seguida.

— É bom que cumpra sua parte do trato, não quero o sangue de uma Valente em minhas mãos.

     Vejo o temor em seus olhos e me sinto um pouco mais aliviada em saber que se ele não me guardar, meu nome irá.
    Talvez eles saberem que eu estarei em Lórion em breve não seja tão ruim assim afinal de contas.

ᴄᴏᴍᴇçᴏᴜ ᴀ ɴᴏᴠᴀ ғᴀsᴇ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ, ʜᴏᴘᴇ ᴄᴏᴍᴏ ᴍᴇᴍʙʀᴏ ᴏᴜᴛʀᴏ ᴛɪᴍᴇ. 
ɴᴏ ǫᴜᴇ sᴇʀá ǫᴜᴇ ɪssᴏ ᴠᴀɪ ᴅᴀʀ, ᴇᴍ?  ᴀʟɪás, ᴠᴀɪ ᴅᴀʀ ʙᴏᴍ ᴏᴜ ʀᴜɪᴍ? 
ᴍɪᴄʜᴇʟ é ᴜᴍᴀ ᴘᴇssᴏᴀ ᴄᴏɴғɪáᴠᴇʟ?

"ᴄᴇɴᴀs ᴅᴏs ᴘʀóxɪᴍᴏs ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏs" 
ᴠᴏᴛᴇᴍ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ. 
ᴠᴀʟᴇᴜ ɢᴀʟᴇʀᴀ!

ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʙᴇғᴏʀᴇ ᴛʜᴇ ᴅᴏwɴ  - ᴘ1ʜᴀʀᴍᴏɴʏ

ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.

ᴍɪᴄʜᴇʟ ᴇᴍ ᴛᴏᴅᴏ sᴇᴜ ʀᴇsᴘʟᴇɴᴅᴏʀ ᴅᴇ ᴍᴀʟᴅᴀᴅᴇ

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