ᴏ ᴄʟᴏɴᴇ
Ramires me guia pelo restaurante sem ser recepcionado, o que me leva a pensar que ele conhece bem o lugar, o que é bom, mas não necessariamente me deixou mais calma.
Mantenho-me concentrada no percurso que fazemos, se eu precisar correr saberei voltar ao ponto inicial. Aqui dentro é grande e tem várias janelas que vão do chão ao teto, é bonito.
Minha atenção volta-se para as costas de Ramires quando nos aproximamos de uma escadaria, iremos para o segundo andar.
Franzo o venho quando vejo alguns quadros pendurados na parede, são fotografias de comidas além de ser para mim estranhamente familiares.
— Já esteve aqui? — só então, ao ouvir a voz de Ramires e voltar a consciência, percebo que parei no meio da escadaria.
— Não. — respondo sem rodeios, talvez eu tenha visto algo assim na televisão ou no Instagram, é comum comida aparecer no meu explorer. — Apenas gostei da foto, está no cardápio?
— Sim, está. — as mãos dele vão para dentro dos bolsos e no canto de seus lábios aparece um sorriso. — Todas essas fazem parte do menu, as receitas foram criadas pelo tataravô do pai de Michel.
Eu apenas assinto, não sabia o que falar sem ser um comentário irônico, Jace pediu pra que eu me contesse e sinceramente, prefiro engolir o sarcasmo do que perder a cabeça.
— Eu acho que já tenho meu pedido. — o sorriso no rosto dele se abre ainda mais e eu me pergunto se ele realmente está do nosso lado e é um ótimo ator ou se está nos enganando.
Se for a última opção eu estou lascada.
— Ótima escolha, é um prato muito bonito e gostoso também. — tira a mão direita do bolso e aponta para o restante dos degraus para que eu termine de subir.
— Obrigada. — sorrio em agradecimento a sua gentileza achando tudo muito esquisito dentro de mim.
Uma coisa é você estar em um lugar sem saber que corre perigo, outra coisa bem diferente é você estar em um lugar que sabe que corre perigo e por vontade própria, alguns seres humanos são mesmo irracionais.
Não demora pra que ele tome a liderança do caminho novamente, e eu agradeço pois não faço ideia qual dentre as trinta mesas é a nossa.
O lugar é amplo, o chão é de carpete carmesim, o que me deixa um pouco agoniada por me fazer lembrar do sangue de Cristian nas minhas mãos. As mesas são redondas e cobertas por toalhas douradas, na verdade tudo aqui é muito dourado, chega incomodar meus olhos.
— Por favor. — os passos de Ramires se findam, ele se coloca atrás de uma cadeira acolchoada e a puxa olhando na minha direção com um pequeno sorriso educado. — Sente-se.
Eu sorrio também, francamente, não existem muitos homens assim hoje.
— Obrigada. — levemente constrangida ajeito meu vestido antes de me sentar para não amassar.
Ele caminha calmamente até o outro lado e se senta com elegância. É, realmente não existem muitos homens assim hoje em dia, apesar de que algo nele me faz lembrar os meninos.
Ramires é muito bonito, isso eu notei no instante que meus olhos focaram nele, mas apesar de saber que ele está do nosso lado eu ainda não me sinto completamente confortável ao seu lado.
— Por que está me olhando assim? — recuou e franzo o cenho, devo ter feito alguma careta porque ele sorri ladino.
— Me desculpe, eu estava pensando e não percebi. — ele assente, mas não diz nada, eu também não me arrisco e depois de um suspiro deixo com que meus olhos naveguem por entre as outras mesas do lugar.
— Acredito que Michel já deva estar descendo. — retorna a falar e eu a olhá-lo. — Só quero pedir pra que, com ele, você tome cuidado com o que vai falar, por favor.
Não sei se o meu sorriso foi de nervosismo ou por achar graça, eu nunca fui uma pessoa desbocada por natureza, mas poderia me tornar fácil, fácil nessa situação. O problema é, esse cara provavelmente é um criminoso e pra ele me ameaçar e ameaçar a minha família não precisa nem de dois tempos, por isso eu concordo com o conselho.
— Quantos anos ele tem? — meus olhos escapam pro garçom que caminha graciosamente na nossa direção, seus olhos parecem estranhamente fincados em mim e o rosto fechado como o de um cão bravo.
Ramires segue meus olhos e vejo seu maxilar trincando.
— Vinicius, meu caro. — ele se põe de pé tão rápido que eu pisco seguidas vezes pela movimentação brusca. — Quanto tempo não te vejo por aqui. — se coloca entre mim e o homem que não parece querer dar-lhe atenção.
— Deve ser porque você nunca mais veio. — sua voz soa fria e seus olhos escapam rápido para os de Ramires. — Quem é ela? — aponta pra mim, identifico sua raiva e Ramires suspira.
— Meu nome é Hope Valente, muito prazer. — estendo minha mão que permanece atrás do grande corpo de Ramires.
Ele olha pra mim, pra minha mão, pra Ramires e então faz uma careta de nojo.
— Estamos trabalhando juntos, Vinicius... — se cala de repente e eu abaixo minha mão devagar finalmente me dando conta do que estava acontecendo.
O homem por sua vez não diz mais nada e eu torno a sentar me sentindo levemente uma idiota.
— Não posso conversar com você sobre isso nesse instante, estou a trabalho, então, por favor... — sua voz morre sobre o olhar impassível do outro.
Um, dois, três, quatro, foram longos segundos dos dois se encarando antes do uniformizado nos dar as costas e sair.
Abaixo minha cabeça enquanto Ramires se senta.
— Eu...me desculpa por isso. — a voz do homem sai um pouco fraca e o vejo olhando ao arredor, provavelmente procurando por olhos que poderiam o prejudicar.
Eu não estava me importando, poderia até achar engraçada a pequena cena entre eles, mas então me lembro que estamos a serviço em um território inimigo e que se Ramires tem um relacionamento com um deles pode ser que...
— Não pense demais, ok? — é clichê dizer que pensei que ele tivesse lido minha mente?
Pois foi exatamente isso o que eu pensei.
A mão dele estendeu-se para chamar a atenção de outro garçom enquanto eu permaneci calada imersa no meu choque e desconfiança.
E se...? Normalmente quando pessoas estão apaixonadas elas fazem de tudo pela outra, e se Ramires trair Daio? Eu também estarei entre as pessoas cujas cabeças rolarão.
— Está se precipitando, eu não sou assim. — franzo o cenho. — Eu não sou mago, não leio seus pensamentos, mas consigo ver que está me julgando pela cara que está fazendo.
— Não estou te julgando. — rebato desviando minha atenção para outro garçom que vem na nossa direção com passos tão estranhamente elegantes quanto o primeiro. — Tudo bem, talvez um pouco. — ele faz uma careta estranha e por isso me apresso em me justificar. — Mas pense bem, eu tenho razão em pensar que se vocês estiverem juntos e...
— Hope. — sua expressão é a mesma, não mudou nem mesmo a ponta da sobrancelha que permaneceu erguida desde que o tal Vinicius saiu, mas notei o alerta em sua voz de veludo. — Eu entendi o que você pensou, talvez tivesse mesmo razão se não fosse de min que estivéssemos falando.
Suas mãos se escondem em seu colo e sua cabeça se vira para o homem que em seguida sorri para nos de forma assombrosa.
— Boa noite, no que posso ajudá-los? — seus olhos se demoram em mim e, juro pra vocês, eles pareceram brilhar em fascínio.
— Traga-nos o melhor vinho, por favor. — olha pra mim. — Tinto? — eu assinto. — Seco ou suave?
— Suave. — respondo olhando pro garçom que assente e se vai. — Não vamos pedir o jantar?
— Esperaremos Michel. — se ajeita na cadeira.
Aceito sua resposta sem falar mais nada, não tenho o que falar, meus pensamentos o tempo todo foge para a possibilidade d'eu me dar muito mal no fim disso tudo.
Se ao menos eu conseguir salvar a menina...
— Vocês pensam demais. — o resmungo dele vem seguido de um suspiro e eu sorrio ladino.
— O que você quer dizer com "vocês"? Vocês homens também pensam, a diferença é que pensamos em coisas variadas, já vocês... — ele fica calado, pisca algumas vezes e então solta uma gargalhada relativamente alta demais.
Não entendo e por isso franzo o cenho, era uma crítica e não uma piada.
— Eu não estava me referindo as mulheres, Hope. — nega e seus olhos me transmite uma sensação esquisita, como se eu fosse apenas uma criança a sua frente. — Me referia aos humanos no geral.
Tudo bem, eu poderia ter pensado nisso, mas nada me faz querer confiar nele.
— E porque se referiu a nós como "vocês"? — ele tomba a cabeça com as sobrancelhas franzidas, encara a parede atrás de mim, mas então sorri fazendo sua expressão se aliviar.
— Eu tenho esse costume as vezes, algo da minha personalidade. — se ajeita na cadeira e eu pisco seguidas vezes ao me sentir afetada pela sua beleza.
É estranho, em toda a minha vida eu fui seletista, mas o que acontece com esses homens que todos parecem me atrair?
— Com licença. — eu sou a primeira a olhar na direção da pessoa, Ramires não espera muito para se pôr em pé. — Desculpa atrapalhar a conversa, pareciam entretidos. — não respondo e nem esboço reação, estou centrada demais na tarefa de me chocar com o tanto de tatuagem que esse cara tem.
O rosto está limpo tirando a parte superior de sua sobrancelha esquerda, ali tem algo que não sei bem se é um desenho ou uma frase, meus olhos descem pra seu pescoço que é todo fechado e eu me pergunto o quanto isso deve ter doido, só pode ser maníaco mesmo.
— Hope, por favor, conheça Michel Platon. — eu me levanto a voz de Ramires, mas dessa vez não estendo mão, não quero correr o risco de ficar no vácuo de novo.
— Muito prazer, senhor Platon.
— Oh, por favor, me chame apenas de Michel. — sorri e, misericórdia, que sorriso.
Michel tem uma vibe pesada, sinto seus poros exalarem um aroma de perigo, mas ao mesmo tempo isso parece atraente, excessivamente atraente.
— Por favor, vamos nos sentar. — ele dispensa a ajuda de Ramires e puxa ele mesmo a cadeira para si.
Olho para a mão grande de dedos longos e unhas curtas, a pele toda desenhada me faz questionar se é assim por todo seu corpo.
— Doutora? — pisco algumas vezes e então tomo consciência.
— Hum...perdão. — me sento e me recompondo rapidamente. — Não pude deixar de notar suas tatuagens, elas são um tanto quanto...
— Escandalosas? — ele, que agora também está sentado, solta um pequeno riso.
— Interessantes. — com o que digo atraio o seu olhar, permanece em mim por alguns segundos. — Sentiu muita dor ao fazê-las?
— Somente em alguns lugares específicos. -— olha rapidamente para Ramires. — As que eu fiz com uma ponta de fecha. — franzo meu cenho e ele abre um amplo sorriso ao ver minha reação. — Estou brincado, não teve a parte da flecha, mas eu sou um cara resistente a dor. Gostei do que disse sobre elas, minha mãe faria questão de descordar de você.
— Oh. — me ajeito na cadeira, chegava a conclusão de que era estranho estar sobre o olhar dele. — Sendo assim, eu não concordaria com suas tatuagens perto dela.
— Não, não precisa se preocupar, mortos não costumam se importar. — arregalo meus olhos com a frase que sai da boca dele tão naturalmente.
— Eu sinto muito pela sua mãe.
— Não sinta, eu mesmo a matei. — me engasgo, e tanto ele quanto Ramires riem.
Aonde foi que eu fui me meter?
— Ei, ei... — para imediatamente de rir. — Eu estou brincando, não leve tudo o que eu falar a sério, doutora.
— Não acho que essa seja...uma brincadeira saudável. — resmungo sem me atentar, Ramires pigarreia, mas Michel somente sorri.
— Eu me desculpo por isso, então. — seus olhos estão em mim e estão brilhando, me sinto estranha.
Michel me estende a mão, não entendo o que ele queria até apontar com a cabeça para a minha no meu colo, meus olhos correm rapidamente na direção de Ramires, mas não me sinto mais confortada quando o vejo encarando Michel com confusão nos olhos.
— Ora, vamos, não vou te morder. — a voz baixa, ela me leva a fazer o que ele pede.
Ergo a minha direita e a coloco na dele, o homem segura delicadamente minha mão na sua e eu me sinto esquisita ao ver a diferença entre a minha e a dele, me sinto pequena, frágil, impotente.
— Então... — a puxo de volta para o meu colo deixando Michel inclinado na minha direção, ele ia cheirá-la ou beijá-la? — Podemos ir para o motivo que nos traz aqui?
Michel abre a boca, mas é calado pelo garçom de alguns minutos que coloca sobre a mesa o vinho, o abre e começa a nos servir.
— Posso tirar o pedido, senhor? — seus olhos estão em Michel, como um submisso.
— O de sempre para nos dois. — aponta para si e para Ramires. — Risoto de camarão para a doutora.
— Eu sou alérgica à camarão. — minto me sentindo insultada pela sua arrogância. — Traga-me o cardápio, por favor. — olho diretamente para o homem de porte médio.
Ele parece assustado, olha de mim para o chefe diversas vezes e é somente quando o tatuado permite que ele assente em concordância para mim.
— Com licença. — faz uma leve reverência antes de sair e eu sorrio incrédula.
— Devo chamá-lo de sua majestade? — viro meu rosto na direção dele e ouço um suspiro surpreso de Ramires, estou quebrando minha promessa.
Consigo sentir meu pescoço arder.
— Se algum dia for à Lódrion, talvez. — leva sua taça aos lábios sem olhar para mim e ainda bem porque ao ouvir mais uma vez, ao ouvir esse nome, franzo o cenho em uma careta — Como eu posso acreditar que você não é uma infiltrada deles? — sua pergunta me pega de surpresa.
Sinto como se tivessem me perguntando quais são meus defeitos em uma entrevista de emprego.
— Pff... — rio. — Isso é o quê, CIA E GKR? — apoio meus cotovelos na beirada da mesa e cruzo minhas mãos. — Eu não sou uma boa atriz, você saberia se eu fosse infiltrada.
— Eu sei que seu segurança está lá fora.
— Eu também sei, eu sou quase uma celebridade nesse estado, pessoas me seguem, me ameaçam e eu ja fui atésequestrada. — franzo meu cenho. — O que mais tem pra colocar nos pratos?
Ele suspira e olha pra Ramires, não parece convencido e eu entendo e por isso começo a me preocupar.
— Eu tenho uma proposta. — me olha. — Casa-se comigo e então teremos um acordo. — eu rio e rio alto.
Assim, de repente? Nem jantamos ainda.
— Não viaja, não me casarei com você. — repudio de imediato.
— Tudo bem, dá-me uma prova concreta de que não está com eles que não precisaremos nos casar, caso contrário não temos nada feito. — sua voz está firme, seus olhos sérios e a expressão mortífera.
— Estou disposta a várias coisas, menos me casar. — me levanto, a algumas mesas a frente dois homens também se levantam e o segurança dá um passo a frente. — Não vai me deixar ir embora agora?
Sem se virar para trás Michel acena, os dois homens se sentam imediatamente e o segurança recua.
Ramires se põe de pé e eu dou o primeiro passo em direção as escadas.
— Aurora Valente... — ele diz mais coisas, mas eu paro de ouvir após o nome da minha mãe sair de seus lábios, meus passos congelam no mesmo instante.
Giro sob meus calcanhares e o encaro, seu rosto está sóbrio enquanto no meu reina a confusão.
— O que sabe sobre minha mãe? — meu coração no peito bate forte, chega dói enquanto o sorriso dele se abre.
— Muitas coisas. — se desvencilha da cadeira, arruma o terno e me encara. — Inclusive que ela está viva.
Maneio a cabeça para o lado apenas um pouco e pisco seguidas vezes, recuo um passo pela força da informação, sinto meu estômago vazio embrulhar e meus ouvidos zunirem.
Viva?
— Case-se comigo, me ajude a acabar com Daio, descubra a verdade e eu te darei o que quiser. — se aproxima devagar, parece um felino predador.
— Como pode saber que ela está viva? — questiono, meus olhos nos dele. — Por que deveria acreditar em você?
— Por que eu sei, todos sabem. — se põe a dois passos de mim. — Daio sabe... — sussurra aproximando seu rosto do meu. — Jace sabe. — sinto seu hálito quente no meu ouvido e arfo. — Mas somente eu estou tendo coragem para te contar.
Jace sabe? Como raios Jace sabe?
Me afasto mais uma vez e o encaro séria, meu pai me ensinou a nunca confiar em estranhos, Jace cuida de mim a alguns dias, não deixarei de acreditar nele pra dar crédito a esse...cara.
— Como pode dizer isso? Ao menos o conhece. — Michel solta um riso debochado.
Me sinto insultada ao mesmo tempo que me sinto confusa e com raiva também, por que ele tinha que meter minha mãe no meio disso? o chão abaixo dos meus pés parecem ondas instáveis, sinto que a qualquer momento eu irei cair.
— E você o conhece? — ele mesmo nega, eu recuo quando volta a se aproximar. — Você não conhece nem a seu irmão por completo. — franzo o cenho, como ele sabe sobre Kaleb?
Por que ele está usando minha família? Ele não deveria colocá-los no meio disso, é jogo baixo.
— Não envolva a minha família. — me altero e ele fecha o semblante.
Minha consciência pesa quando percebo que estou entregando meu ponto fraco, droga, eu não deveria demonstrar isso.
Mesmo com o sentimento de loucura beirando, me recomponho.
— Eu não vim aqui para lhe provar nada, eu não estaria me expondo ao risco se não quisesse Daio como a mistura do meu jantar. — minha voz sai grave, estou com raiva.
— Você sabe o que somos? Sabe quem eu sou?
— Eu sei o suficiente, mas não tente me comprar com mentiras baratas. — crispo e a cada minuto ele parece se irritar ainda mais. — Estou disposta a ajudar, tenho um plano, mas preciso que me dê um voto de confiança.
Pela forma com a qual ele foi descrito por todos eu tenho quase certeza que eu deveria estar morta, mas ainda me sinto perfeitamente inteira, por enquanto.
— Não ache que preciso de você pra alguma coisa. — seu nariz quase encosta no meu.
— Se é tão capaz e se consegue sozinho, porque eles ainda respiram? — consigo ver seus olhos brilharem de raiva, atrás dele Ramires enfia as mãos nos bolsos e sua cara me diz que sim, eu ferrei com tudo. — Se é tão bom por que recebi notícias que a ferida de Cristian está totalmente cicatrizada? — os olhos de Michel ganham um brilho diferente e se não fosse pelo giro que ele deu eu teria confirmado se sua íris havia mesmo ganhado outra cor.
Dou um passo para trás quando a mesa que estávamos é lançada ao chão.
— Quem você pensa que é para vir até mim e me desafiar dessa maneira? — se volta contra mim, o dedo apontado para meu rosto, me enfureço.
— Meu nome é Hope Valente, e normalmente não costumo me deixar ser pisada por homens como você. — bato no pulso da mão que ele apontava para mim a fazendo ser abaixada. — Mas também pode me chamar como a chave da porta que separa você e a tropa de Daio Mollin. — o encaro da mesma maneira que ele me encarava. — Sou eu que estou incluída no círculo deles, sou eu que tenho acesso a casa e a empresa dele, sou eu que tenho a confiança por salvar Cristian, sou eu que posso atraí-los até você. — cuspo, meu peito bate descontroladamente e espero que ele não possa ser ouvido.
O sangue nas minhas veias correm rápido e eu me sinto quente, não estava tão calor aqui dentro.
Todos ao redor parecem chocados, até o garçom que tinha pratos nas mãos estava congelado no meio do corredor.
— Eu tenho um plano. — digo por fim, mas tudo o que ele parece achar é graça.
— Um plano? — esnoba.
— Estou aqui para me oferecer para ajudá-lo por em prática, percebi a força dos seus homens quando invadiram a minha casa, achei que seria bom o suficiente para me ajudar, mas parece que não são tão valentes. — ele grunhe.
— Quanto a sua vida vale? — a pergunta dele me faz refletir, eu realmente me sinto prestes a morrer.
— A sua vitória sobre ele, mate-me e nunca os terá. — mais um grunhido e ele chuta uma cadeira.
Francamente, nem em mil anos eu vi alguém tão febril quanto esse cara.
— Mulher insolente. — rosna e me dá as costas, eu sorrio ao perceber que ele parece titubeiar.
Meus olhos correm até Ramires que está em pé ao lado de sua cadeira que ainda estava no mesmo lugar que antes, ele parece ainda mais branco do que antes, mas sua postura está como a de quando chegamos, branda.
— Casa-se comigo e eu aceito. — eu nego.
— Já lhe disse, não irei me casar. — ele me encara, dois minutos que me seguem ele não pisca, nenhuma vez.
Esse cara tem problema, será?
Michel gira sob seus calcanhares e olha para mim, em seus lábios um sorriso e seus olhos brilham quando ele parece ter uma ideia.
— Ramires. — o homem imediatamente se põe ao lado do chefe. — Ligue para Leopoldo. — eu observo sem dizer nada, não sei o que ele pretende com isso
Ele volta a me encara e, mesmo sem entender o que raios ele vai fazer, eu o encaro de volta.
— No viva-voz. — ordena com voz de trovão.
Quando a chamada é atendida o celular é passado pra ele que me sorri malignamente.
Michel, a que devo a honra?
A voz do outro lado soa confusa, mas elegante e me causa um calafrio estranho.
Não estou com tempo, responda d'uma vez: Aurora ainda está viva?
A arrogância de Michel me faz querer revirar os olhos, mas a pergunta que ele faz ao homem do outro lado da linha me causa tensão e quando a linha fica muda, percebo, não é só em mim.
Não achei que tinha interesse nesse assunto.
E pronto, eu soube, poderia ser verdade que minha mãe estava sim viva. Respiro fundo, ele ainda não respondeu, mas sinto que tudo está indo rápido demais pra quem até uma semana atrás só sabia de uma carta da mãe.
Meu coração acelera, mas que merda.
A resposta, Leopoldo.
Exige parecendo impaciente, eu não iria acreditar nele assim tão fáci...
Sim, ela está.
Ele desliga a chamada em seguida, há um sorriso vitorioso em seu rosto enquanto eu me sinto grudada a uma máquina de monitoração cardíaca, o som contínuo do bip invade meus ouvidos.
Não, ele joga sujo, isso pode muito bem ser uma mentira, um truque pra eu aceitar sua proposta insolente.
— O que você acha que vai conseguir com isso? — consigo dizer — Precisará de mais pra ter o meu sim. — ele assente, coloca as mãos atrás do tronco e caminha sorrindo na minha direção.
— Humana... — suspira. — Você sabe muito pouco sobre tudo, vinte cinco anos se passaram e você perde seu tempo fazendo pesquisas sobre algo que em nenhum humano achará. — murmura em voz branda e isso consegue ser mais assustador do que ele transtornado.
Me incomoda a maneira como que se direcionou a mim, a palavra soou como inferior, pequeno, sem valor, não foi como a usada por Ramires.
Michel passa por mim, consigo sentir ele atrás do meu corpo, seu rosto se aproxima da minha nuca e ele inspira.
Olho pra Ramires que permanece como estátua, mas seus olhos me passam segurança, são mornos e estáveis.
— Mas eu vou te contar algo. — termina seu passeio ao redor do meu corpo e se põe a minha frente. — Há vinte e cinco anos Aurora foi levada por Leopoldo após se entregar no lugar da sua vida. — seus expressões são sérias, eu tento me manter também.
Não quero acreditar nele, sei que pode estar inventando tudo isso, mas a cada segundo que se passa e a cada palavra que sai de sua boca eu sinto algo dentro de mim ser despertado, como fagulhas, faíscas que escapam de rochas que se chocam.
— Seu pai te trouxe pra América e Aurora foi levada ao cativeiro. — olha pro relógio no pulso, caro.
Cativeiro?
Há vários pensamentos que permeiam a minha mente enquanto ele sorri diabolicamente a minha frente. Meus olhos se perdem no vermelho do chão e eu me questiono se meu pai sabe disso tudo.
Não, não pode ser.
— Não estamos mais na época medieval, mas ela é tratada como as adúlteras daquele tempo.
— Cale-se! — grunho, as mãos fechadas em punho.
Nunca antes senti a raiva que borbulha em meu peito.
— Eu não me casarei com você e suas mentiras não me farão mudar de ideia. — as palavras voam da minha boca como adagas afiadas.
Ao olhar ao redor me senti uma atriz em um teatro, olhos estavam arregalados, o silêncio intenso me fazia pensar que meus batimentos poderiam sim ser escutados e antes que minha pressão decidisse desmaiar eu giro sobre meus calcanhares e me deixo ir.
Ninguém me impediu, nem mesmo Michel, ele não me disse uma única palavra e o som do meu sapato nas escadas chamaram a atenção dos clientes do primeiro andar.
O barulhão que veio de cima deveria tê-los assustado, não julgo, uma mesa voou contra a parede e uma cadeira foi estilhaçada.
Caminho por entre as mesas séria, meu vestido permanece impecável, assim como eu.
— Senhoras e senhores, queiram nos desculpar pelo tumultuo, estávamos gravando uma das cenas para uma série de streaming. — procuro desacreditada pela voz que soa por todo ambiente.
Olho pro palco onde há um piano, violão e um violão celo, além de um homem de smoking com uma gravata borboleta vermelha.
— Precisávamos que tudo fosse natural, inclusive a reação de vocês, por isso nada foi divulgado ou avisado, por favor saúdem a nossa atriz. — arregalo os quando ele aponta pra mim e todos me olham.
Quando foi que eu parei no meio do corredor?
Palmas altas ressoam pelo lugar assim como murmúrios de surpresa e reconhecimento a minha pessoa, isso não pode estar acontecendo.
— Apenas sorria e acena. — ouço a voz próxima, me sobressalto e o encaro irritada.
— E o nosso ator, juntos eles dão vida ao casal principal. — o homem apresenta Ramires que acena com um enorme sorriso e eu me seguro para não revirar os olhos.
— Vocês são inacreditáveis. — murmuro observando tudo incrédula, o homem no palco apresentava agora câmeras que surgiam de lugares específicos e eu me assombro.
— Você que é, jurava que nessa noite teríamos que enterrá-la como indigente. — ele aponta para a saída enquanto me provoca aos sussurros.
Palmas ainda ressoam pelo lugar e algumas pessoas nos filmam, eu sou obrigada a seguir seu conselho e meter um sorriso no rosto.
— Por favor, pedimos que antes de deixar o restaurante assinem um termo de permissão de uso de imagem, caso não queiram participar, deixem seus nomes e o número de suas mesas, por favor. — ainda posso ouvir as instruções que o homem dá e não consigo acreditar na perspicácia de Michel.
— Eu ressuscitaria para me vingar, pode ter certeza. — a vontade de sair de um lugar nunca foi tão real.
— Para onde agora? — o vento da noite morna bate em meu corpo e refresca o calor que me cozinha por dentro.
— Pra qualquer lugar que eu possa beber. — fecho meus olhos não querendo procurar ou ver Jace ou Daio.
As afirmações de Michel ainda ressoam em minha mente e põe em prova a confiança que eu tenho em ambos, desenvolvi afeto por Daio nos últimos dias, criei com ele laços que eu não tinha com alguém desde Sebastian.
Não é possível que ele mentiria para mim ou me esconderia algo tão importante, ele não poderia fazer isso.
— Você tem certeza disso? — caminho até o carro quando esse chega, não estou com paciência para ficar reafirmando minhas escolhas. — Tudo bem, alguma preferência? — parece entender.
— O lugar mais próximo. — me enfio no carro e massageio meu cenho com os dez dedos, estou com dor de cabeça, mas infelizmente deixei o remédio na outra bolsa. — Sobre a minha mãe... — retomo o assunto quando ele dá partida no veículo. — É verdade?
Ramires suspira, e meu coração se aperta.
— Eu não sei, no tempo que eu estou trabalhando para ele isso nunca foi discutido, mas no pouco que eu conheço Michel ou o clã dos sanguíneos, eu não dúvidaria.
— Você acha que Daio sabe? — não quero me sentir assim de novo, como quando encontrei Sebastian com outra, traída e enganada, mas não posso evitar.
Se a resposta for sim, mesmo que nos conheçamos a pouco tempo, sinto que será pior do que flagrá-lo com outra pessoa.
Aurora é a minha mãe.
— Ele nunca me disse algo sobre os Valentes, mas se ele soubesse acredito que isso seria uma preocupação para ele também. — franzo o cenho por sua afirmação e então me dou conta.
Como Michel sabe sobre a minha mãe? Como eles sabem sobre a minha história? Não posso negar que uma parte bate com a que meu pai me contou.
Me trouxe da França com ele.
A família disse que ia cuidar dela, mas a deixaram morrer.
— Qual a relação da minha família com Michel? — pergunto preocupada.
Ramires me olha de canto de olho, suspira e aperta o pé no acelerador.
— Eu não sei se posso te contar sobre isso, mas seu avô e seu bisavô tem aliança com o pai de Michel.
— Meu avô está vivo? — seu silêncio não interrompe os meus pensamentos e milhares e milhares de perguntas começam a se formar na minha cabeça. — Se ele está vivo por que nunca procurou por mim? — Ramires solta um riso debochado.
— Acredite, você não iria querer isso.
— O que vocês sabem que eu não sei? — ele não me olha e também não responde. — O que vocês sabem que eu não posso saber?
— Muita coisa, Hope. — parece vencido. — Mas não pode ser eu a te contar a verdade.
Frustrada jogo minhas costas contra o banco.
— Pelo menos você parece inclinado a fazer isso. — murmuro olhando para fora da janela, agora me sinto confusa. — É por isso que ele quer que eu me case com ele?
— Também. — assente e eu suspiro.
— E se eu aceitar? E se minha mãe estiver realmenre viva? Eu posso ir até ela.
— Nada é funciona fácil assim no sistema deles, isso pode ser apenas uma isca. — eu assinto, é verdade, eu mesma me falei isso há apenas uns minutos.
— Eu preciso beber. — bato com a minha cabeça no vidro e ele sorri fraco.
— Jace não vai gostar disso.
— Jace, Jace... — murmuro desdenhosa. — Ele sabe que minha mãe está viva? — ele nega.
— Eu não sei, nunca tive muito contato com ele. — suspiro.
Ele está sendo sincero ou está me enrolando?
Minha cabeça dói e por isso fecho meus olhos.
— Por que me julga tão mal assim? — Ramires não me olha e me intrigo com o fato dele ser tao sensitivo e acertivo ou eu sou muito transparente? — Daio e ele não se dão. — é uma justificativa, eu sei, mas eu me interesso mais pela fofoca do que por seus motivos de não saber de Jace.
— Qual a rixa? — me ajeito no bando genuinamente curiosa, até então, não havia parado pra prestar atenção na interação deles, entretanto o clima sempre era tenso quando ambos estavam no mesmo ambiente.
— Ah, eu não tenho certeza. — solta um riso baixo, intrigada, eu o olho. — Mas penso que é por causa de uma garota que eles gostavam em comum no passado. — crispo meus lábios.
Deus, eles são adultos agora, por que continuar com isso?
— Há quanto tempo? — Ramires solta um riso divertido.
— Por que é que você faz tantas perguntas? — com um suspiro volto a encostas minhas costas no banco.
— Deve ser porque descobri que aparentemente sei muito pouco sobre minha própria família, sobre minha própria existência.
— E o que raios Daio Mollin tem a ver com isso? — me calo, pisco uma sequencia de vezes e percebo, não tenho uma resposta certa para essa pergunta. — Eu sei o porquê. — o sorriso debochado em seus lábios me faz crispar os meus e semicerrar os olhos.
— Não ousa me insultar desta forma. — desvio meus olhos para a janela sentindo meu rosto esquentar.
Durante o restante do percurso minha cabeça se ocupou com muitos pensamentos e por um instante eu até me esqueci de pra onde estávamos indo.
— Você ficou quieta de repente, espero que não tenha se chateado com o que eu disse.
— Você disse muitas coisas. — me ajeito no banco e passo as palmas das mãos pelo vestido desamarrotando o que nem está amarrotado.
— Peço desculpas. — olho para ele, não estou chateada com ele.
Na verdade, uma das últimas pessoas que eu deveria estar chateada é com ela e se for pensar bem eu é que deveria estar me desculpando.
— Por que está me pedindo desculpas quando fui eu que desconfiei de você desde o início? — volto minha atenção para fora, eu já seu pra onde estamos indo e aliás, estamos chegando.
— Eu não me importo muito com isso, é compreensível. — seus olhos brilham e por um instante vejo seus dedos ficarem brancos no volante.
Foi rápido o suficiente para eu penar que havia sido coisa da minha cabeça.
— Você é gay? — eu realmente estava curiosa em relação a isso, pareceu muito suspeito a interação entre ele e o tal de Vinicius. — Não que seja da minha conta.
— Realmente não é! — levo a mão ao peito realmente atingida por sua pergunta direta, mas ele não parece se arrepender ou se compadecer, pelo contrário, ele ri.
Mantendo meu drama eu volto ao silêncio, mas antes o que era intencional acaba se tornando espontâneo após mais perguntas sem respostas inundaram minha mente novamente.
— Hope, chegamos. — só percebo quando ele fala, pisco algumas vezes e olho pra ele que manobra o carro para estacionar.
É bem bonito de se ver, os braços de Ramires parecem ser fortes de baixo das mangas do paletó e nas mãos grossas veias esverdeadas.
Chacoalho a cabeça ao perceber que, sim, de uma forma esquisita eu ando me sentindo atraída por todos eles.
— Eu abrirei para você. — sem perceber a linha dos meus pensamentos ou fingindo não perceber, Ramires deixa o carro e sigo com os olhos ele se aproximar da minha porta. — Por favor, senhorita.
Solto um riso descrente, solto meu sinto e saio do carro ansiosa para ter algo alcoólico na mão.
— Ah... — sinto uma forte pressao na cabeça e sinto tudo girar.
Me desequilibro, gracas aos céus Ramires está perto e agarro em seu ombro para não cair.
— O que está acontecendo? — eu não consigo processar uma resposta, pois a dor se intensifica e dissipa.
Meu peito dói e a mão que me mantinha em pé vai em sua direção forçando Ramires agarrar minha cintura. Mesmo assim me curvo, o ar sumindo do meu sistema respiratório.
Eu também gostaria de saber o que está havendo, mas eu não consigo nem pensar direito.
— Hope? — suas mãos sobem para meus ombros e me faz encará-lo.
Como se soltassem uma corda que prendem meus pulmões, o ar volta a circular por mim.
— Respira devagar, ei, calma. — me instrui enquanto desesperada puxo todo ar que eu consigo.
A dor na cabeça se transforma em uma fina e continua dor, com a respiração normalizando ela também diminui e finalmente consigo olhar pra Ramires.
— Hope? — seus olhos expressão genuína preocupação.
Percebendo nossa proximidade eu me afasto, me apoio no carro e lhe abro um sorriso.
— Não foi nada demais, acho que... — a mentira descarada não foi nem pra ele e mais para mim, de certa forma eu precisava me convencer de que estava tudo bem. — Foi o gás da champagne, acontece sempre quando bebo. — me recomponho devagar, ainda assustada. — Está tudo bem agora.
— Eu sei que está mentindo.
— Eu sei que você sabe que eu estou mentindo, mas não quero ir embora. — empurro seu ombro para tirá-lo do caminho.
Não é a primeira vez que sinto minha cabeça doer como agora, mas foi a primeira vez que pensei que fosse morrer em decorrência dela.
— Eu não pretendia impedi-la. — sei que ele me segue porque a voz está próxima.
Eu sorrio, perder a consciência não é a solução adequada pro meu problema, longe disso, mas é o que mais quero agora.
A boate está cheia, consigo ver que a fila dá volta no quarteirão. Olho pra Ramires pronta pra desistir e pedir pra ele me levar pra um pub, mas ele sorri e aponta em direção ao edifício totalmente preto, o nome era em led, assim como a iluminação neon, era muito bonita por fora.
Ramires me alcançou há alguns minutos e caminhamos lado a lado entre os muitos carros.
— Já podemos desistir? Não estou com vontade de encontrar o fim dessa fila e esperar até as duas da manhã pra entrar.
— Não se preocupe, não vamos precisar esperar. — ele sorri e segura a minha mão.
Eu sorrio, aparentemente, pela primeira vez na vida, foi furar a fila de uma boate.
Não foi preciso muito tempo para Ramires ser reconhecido pelo segurança, ele rapidamente nos abre passagem sem exigir nem nossos documentos.
Com um sorriso no rosto me sinto extremamente energética, me sinto rica, intocável, as pessoas na fila nos xingam, mas eu não faço questão de me importar.
(Galera, por aqui não vai dar pra ouvir, mas quem quiser acessar a música por outros meios, eu recomendo pra essa parte do capítulo)
Lá dentro já estava muito mais cheio do que eu pensei, o cheiro do ambiente era uma mistura de suor, álcool, cigarro e maconha.
Tinha muitos casais, pessoas sentadas, outras conversando, mas sem dúvida o lugar mais lotado era a pista de dança. Muitos pulavam conforme a música, uns seguravam bebidas pro alto, outros dançavam com o par, outros solo.
Me esquivei de Ramires e fui direto ao bar com ele atrás de mim.
— Oi, quero um Martíni de limão. — normalmente eu não titubeio, esse é meu drink preferido.
— Saindo, gatinha. — pisca pra mim e eu reviro os olhos lembrando-me de William.
Ramires ao meu lado pede uma dose de uísque e vira tudo de uma vez, quando ele abaixa a cabeça ouço sua língua estalar e ele bate o copo no balcão.
— Mais uma. — me sento na banqueta ao lado dele e coloco meus cotovelos sobre o balcão.
— Vai com calma grandão, você está dirigindo. — advirto com os olhos na pista de dança.
— Eu não fico bêbado com facilidade.
— Não me matando, tudo certo. — zombo dando de ombros e ele solta um riso rápido antes de virar a outra dose.
Meu martíni não demorou pra ficar pronto, e enquanto eu o bebia observava nostálgica grupos de amigos dançando, rindo e se divertindo.
Lembrei-me de Margot e imediatamente desejei que ela aparecesse de repente como quando éramosuniversitárias.
— Ei, você não vai dançar? — depois da quarta dose Ramires se senta ao meu lado parecendo satisfeito.
Olho na direção dele, seu rosto, com as luzes do lugar, tem um brilho diferente. Não como se ele estivesse bêbado, algo...diferente.
— Estou analisando o local. — desvio meu olhar com um sorriso de canto. — Escolhendo a presa. — brinco levando a taça a boca com a noção de que ele me observa.
— Entendi. — ouço seu suspiro e o sinto se remexer em sua banqueta. — Eu acho que já escolhi a minha. — sua voz daí levemente rouca o que coloca um riso nos meus lábios e me faz olhá-lo.
Encaro Ramires que tem nos lábios um pequeno sorriso ladino, ele levanta sua mão até uma mecha do meu cabelo e com delicadeza o coloca atrás da orelha.
Seu toque é suave e o cheiro da sua pele é agradável, me sinto tentada.
Muito tentada.
— Eu não tenho muito a perder. — seu corpo está inclinado na minha direção, seu rosto perto o suficiente para eu sentir o cheiro de tequila em seu hálito.
Sexy.
— Não sei se é apropriado. — murmuro olhando em seus olhos, misturar negócios e romance geralmente nunca dá certo.
Seu polegar abre caminho pelo meu maxilar e se instala na minha nuca.
— Mas eu não tenho nada a perder. — declaro a tempo de vê-lo sorrir e o que vem depois é proibido para menores de...ah, todo mundo beija.
Ramires se levanta, os lábios ainda nos meus de um beijo, muito provavelmente, proibido. Se coloca entre as minhas pernas abertas e com as mãos no meu rosto continua guiando o beijo.
A cadeira é alta, mas ainda assim ele ficava curvado, então me levanto, nossas testas grudadas enquanto ambos recuperam o fôlego e eu aproveito para inverter as posições.
Afasto para analisar o rosto dele, gostei de como seus olhos chamiscavam e sorrio ao desenhar a linha de seu maxilar bem marcado. Beijo o canto de seus lábios que se alargam antes dele me puxar para si e voltar a me beijar.
Meus dedos encontram seus fios não tão cumpridos na raiz de sua nuca e eu os puxo sabendo que foi demasiado forte demais.
Ele se afasta contra sua própria vontade, a testa vincada, mas os olhos ardentes.
— A dor torna tudo mais emocionante. — seus dedos apertam minha cintura e eu contenho qualquer som, mas não tenho como negar sua afirmação.
O homem aproxima seu rosto do meu pescoço e o beija, logo após se afasta centímetros e puxa uma longa respiração.
— Eu poderia ficar aqui a noite inteira. — murmura no pé do meu ouvido e eu empurro seus ombros para olhar seu rosto.
Ramires estava com os olhos fechados e quando os abriu minha respiração falhou com a mistura do brilho perigoso e selvagem que carregava.
Meu Deus do céu, eu ainda sou solteira.
O homem sorri como se mais uma vez tivesse lido meus pensamentos e então repete o que eu fizera minutos atrás, beija o canto dos meus lábios e segundos depois estávamos novamente em um beijo sem defeitos.
— Eu poderia fazer isso a noite inteira. — repete quando finalmente nos afastamos. — Mas precisamos de ar. — sela nossos lábios e afasta seu tronco estendendo o braço para pegar meu martíni.
— Teremos problema se Michel descobrir sobre isso? — ainda entre as pernas dele bebo um gole da bebida e ele parece ponderar.
— Acredito que não, ele demonstrou interesse no que você pode oferecer a ele então acredito que isso não vai fazer nenhuma diferença. — seu dedão passeia pelo meu rosto. — Devemos nos preocupar com Daio?
— Não tenho certeza. — permito que ele volte a se aproximar enquanto mantenho um sorriso no rosto. — Mas isso descobrimos depois. — Ramires solta uma risada contida, é diferente tê-lo assim depois de vê-lo tão sério e profissional. — Espera, você não é gay? — o homem pisca confuso enquanto eu o encaro, o negocio é que eu o empurrei no meio do beijo.
— Eu realmente pareço gay pra você? — ele não parece incomodado, pelo contrário, mantém um sorriso divertido nos lábios.
— E isso agora tem parecer? — olho ao redor quando minha música preferida começa a tocar.
— Na maioria das vezes sim. — concorda dando de ombros.
— Vamos dançar!!! — eu não ia ficar parada aqui enquanto a minha música preferida tocava pelo lugar. — Mas também sabia dos perigos de dançar só, então carregaria Ramires comigo ele querendo ou não.
Felizmente ele se deixa levar muito facilmente, nos misturamos no meio das pessoas suadas, costumava ligar menos pra isso quando era mais jovem, mas tento ignorar o cheiro forte e aos poucos vou me soltando.
Me deixei embalar ritmo da música e pelo o de Ramires, havia me esquecido como pode ser engraçado esse tipo de interação, mas ele também dança bem no final das contas.
Aparentemente, não há nada aue os homens do grupo de Daio não saibam fazer bem. Dançamos várias música e nos beijamos durante elas também, estava tão eufórica e animada que não consegui perceber quando foi que o humor de Ramires mudou.
— Hope. — sua voz soou tensa no meu ouvido e virei-me para seu corpo, sua mão na minha cintura segurava firmemente.
Ele me guia para fora da pista, caminhamos a passos apressados em direção ao bar que, por incrível que pareça, está quase vazio.
— Tenho que resolver algo. — ele está próximo quando diz por causa da alta música, franzo o cenho ao tentar ler seu rosto, mas ele sorri calmo. — Nada sério, não se preocupe. — e por mais que eu tenha duvidado não quis me preocupar, então tratei de concordar e o vi se afastar.
Depois que perco as costas de Ramires entre as pessoas solto um suspiro sem sentido, olho para o bar e sinto minha boca salivar, quero algo forte.
— OI - chamo alto o garçom — EU QUERO UMA DOSE DO DRINK MAIS FORTE. — o homem não parecia ter mais de 25 anos e quando ele sorriu desdenhoso pra mim eu soube, ele realmente era jovem demais pra estar aqui.
Deveria estar estudando.
— TEM CERTEZA? GAROTAS COMO VOCÊ PREFEREM ALGO MAIS LEVE, MAIS ADOCICADO. — seu tom não me agradou, pois além de machista encontrei em seus olhos perversidade.
Me debruço sobre o balcão me aproximando dele e o encarando séria enquanto a música quebrava em seu refrão atrás de mim.
— Eu não costumo repetir o pedido, criança. — digo palavra por palavra, letra por letra e o sorriso dele aumenta um pouco mais.
Ele acaba de encontrar alguém a sua altura, não, maior que ele.
O barman não diz mais nada, apenas assente e começa a trabalhar, demorou.
Pega um copo pequeno molhando a borda e a mergulhando no sal, eu o vejo encher de uma bebida que não me importei em perguntar qual era e então coloca uma fatia de limão na borda.
— Servida. — arrasta pelo balcão na minha direção.
Estava ansiosa para provar, havia assistido algumas pessoas tomarem a uns minutos atrás
Tiro o limão e viro a bebida na boca que desce ardendo, cortando, fritando minha garganta.
— Uuuh. — grunhi alto batendo o copo no balcão, agora entendo Ramires — Mais uma, por favor. — com certeza entendo Ramires.
Chupo o limão enquanto o vejo preparar mais uma dose, quando tenho o copo em mãos o viro duma vez também e dessa vez a bebida parece ainda mais gostosa.
Solto meu cabelo do coque e balanço a cabeça no ar, me sentia incrivelmente poderosa.
Satisfeita, volto pra pista um pouco mais solta, não me lembrava dessa sensação e, caraca, era muito, muito boa.
Dancei bastante, mas preferi não me arriscar a fazer isso acompanhada, Ramires não voltou e não pretendia arrumar outra parceiro pra noite.
— Mas que... — viro-me imediatamente pronta para reclamar com quem quer que fosse que agarrava minha cintura de forma tão abrupta, mas meus olhos se arregalam quando reconheço Daio. — O que você está fazendo aqui? — sua mão na minha cintura não se afasta, pelo contrário ele me puxa pra mais perto.
— Apenas continue dançando, preciso arranjar um jeito de te tirar daqui e depois te explico. — ele está olhando nos meus olhos e seu olhar me deixa mais preocupada do que sua fala.
— Aonde está Jace? — olho ao redor quando ele também o faz.
Não consigo deixar de me sentir insegura, ainda mais depois de sua fala e do que Michel me contou, ainda me pergunto se posso confiar em alguma palavra do que aquele homem me disse.
— Está com Ramires. — sua atenção ainda não está em mim — Estão tentando distrair a atenção dos homens de Platon. — finalmente me olha e de repente meu coração pesa.
E se ele realmente souber sobre a minha mãe?
— Precisamos ir. — suas sobrancelhas estão vincadas.
Daio agarra minha mão e eu o deixo me guiar pelo meio do povo.
Se ele souber, eu vou ser capaz de superar isso? Não nos conhecemos por muito tempo, mas não acho que esse seja o tipo de coisa que se esconde de alguém que você diz gostar, ainda mais sabendo que se trata de mãe e filha.
— Aí! — reclamo quando meu corpo se choca com o de alguém que está bêbado demais pra perceber.
— Desculpa. — Daio mesmo assim se desculpa com o cara alto e grogue que apenas nos oferece um riso bêbado e seu copo. — Eles já estão aqui. — volta a agarrar meu corpo mais uma vez ficando de costa pro caminho que trilhada.
— Eles quem? — tento olhar por cima de seus ombros e até estico meu pescoço para ver além da lateral de seu corpo, mas o homem me puxa com firmeza me fazendo fechar o semblante. — Tá legal, eu quero saber agora o que está rolando.
Daio suspira e de alguma forma eu sei que tem caroço demais nesse angu.
— O que é que eu não tô sabendo? — meus olhos analisam o rosto dele que tenso.
Daio tenso não é novidade, eu me lembro dele naquele dia na minha casa.
— Quando eu te pedi ajuda... — ele se cala de repente e comprime a boca em uma linha reta. — Deixei de fora algumas coisas que você deveria saber antes de entrar nisso.
"— Porque eu sei, todos sabem. Daio sabe..."
Engulo em seco.
Por mais que eu queira questioná-lo nenhuma única palavra sai da minha boca, minha garganta está apertada por um nó invisível e meu peito se contrai de uma forma que não é nada nova para mim.
— Eu vou te contar tudo, Hope. — seus olhos, angustiados, parecem ler o desespero que inunda meu interior. — Mas antes eu preciso te tirar daqui com segurança.
Mais uma vez eu o vejo olhar para os lados, o suspiro que vem a seguir é de alguém que não tem mais para onde correr.
— Hope. — segura meu rosto entre suas mãos e olha nos meus olhos. — Eu prometo que não deixarei de fora uma só palavra. — minha respiração está descompassada, eu estou nervosa e com medo.
O que vai acontecer?
Ergo minhas mãos e seguro as dele na minha face.
— Eu quero confiar em você. — sussurro incerta, estou confusa e sinto que eu realmente sei muito pouco da verdade.
Ele concorda e se aproxima, beija minha testa por alguns segundos e depois se afasta repetindo o mesmo tempo ao encarar meus olhos.
O que acontece a seguir me deixa confusa por alguns instante, Daio se agacha, abaixa a cabeça e toca na panturrilha de um homem próximo.
— O que você... — me calo ficando boquiaberta.
Uma luz azulada, como se fosse a da máquina de xerox, sobe pelos pés de Daio agachado e se finda no topo de sua cabeça. Nada demorou mais que dois segundos.
— Daio? — chamo em choque quando as luzes da boate iluminam um cabelo ruivo. — Mas o que diabos... — me afasto apavorada quando ele me olha, não era mais Daio que estava a minha frente, ou ao menos, a figura de Daio.
— Não tenho tempo pra explicar agora. — ele se levanta ajeitando a roupa que também mudou. — Mas que... — ele olha pro seu próprio corpo e apesar de confusa e em choque eu quero rir.
O cabelo longo ruivo cobre os ombros desnudos de Daio que veste um vestido de mangas caídas. Seu comprimento é relevante, mas ainda provocativo, nos pés um salto preto de tiras até o joelho.
Olhamos para a pessoa ao lado para concluir que o tornozelo tocado foi da mulher que acompanha o homem em que trombei.
É ela...em Daio.
O que está acontecendo?
— Hope, precisamos ir. — de repente ele não se importa mais em ter se tornado uma mulher, enquanto eu não sei como me comportar.
Não foi forte, mas ainda sim foi um solavanco e Daio me puxa pela mão enquanto, novamente, atravessamos o mar de gente.
Eu ainda estou tentando mentalizar o que aconteceu, mágica, feitiçaria? Não sei, mas normal não é, com certeza.
— Me chame de... — o vejo olhar para si novamente e suspirar — Amanda. — eu quero rir, mas tudo é assustador demais para isso. — Provavelmente vamos passar por eles e eu não posso ser reconhecido. — eu até ouço, mas meu raciocínio está lento.
Sinto os pelos do meu corpo se arrepiarem quando passo por alguém, meu braço esbarrou nele e quando olho por cima do ombro vejo um homem de face sombrio nos acompanhar com o olhar.
Com um mal pressentimento volto meu rosto para frente.
Não, isso não vai dar certo.
— Para. — puxo minha mão que não é largada por ele.
Daio meu olha sem entender, sei que ele iria repetir que tínhamos que sair, mas eu o calo me aproximando de seu corpo.
Eu sei que precisamos dar no pé, sei que tem alguma coisa errada, mas se continuassemos com isso iriamos ser pegos.
— Isso não vai funcionar. — me sinto aflita por sentir que tudo o que fizermos vai ser suspeito.
Estávamos quase correndo alguns segundos atrás.
— Estamos dando na cara que estamos fugindo. — me aproximo de sua orelha para falar.
Daio se afasta, puxa desajeitadamente o vestido para baixo e me faz sorrir quando o puxa novamente para cima quando o bojo desce com seu puxão.
Ele de repente abre um enorme sorriso e concorda.
— Tudo bem, se você quiser ficar mais um pouco, eu espero. — pisco espantada por sua mudança de comportamento.
Não esperava que ele conseguisse isso com tanta facilidade.
— Podemos pegar mais uma bebida? — olho em direção ao bar e até me questiono se não bebi demais, mas eu não sou de alucinar mesmo estando bêbada.
— Se eu beber mais alguma coisa faço xixi nas calças, eu realmente preciso ir ao banheiro. — ele reclama encolhendo o corpo de um jeito esquisito.
— Não fazemos isso. — com o cenho franzido faço careta pra ele que mantém as pernas cruzadas, com o traseiro empinado e com as mãos na frente do corpo.
— Aah. — devagar volta a posição inicial com um semblante engraçado. — Mas eu realmente não posso ver líquido.
Ainda sinto o desconforto de olhos que nos observam.
Eu não sei se posso dizer se foi sorte ou o acaso, mas uma nova música começa e eu vejo uma grande chance.
— AH! — solto um grito animado que assusta Daio. — Minha música preferida, vamos dançar só mais essa. — uso minha melhor voz e minha melhor atuação, a música alta provavelmente abalaria minha voz, mas expressões dizem muito.
Seguro a mão de Daio e a giro ao redor dela mesma, com uma careta Daio o faz. Adorei o fato de como ele consegue manter o personagem...pensando bem isso me assusta também.
— Anime-se, Amanda. — jogo meu corpo em cima dele em um abraço fraternal, eu geralmente faço isso com minhas amigas e se era pra encenar, vamos fazer isso direito.
Sinto o corpo ao redor dos meus braços tencionar, as mãos dele apertam minha cintura e eu me afasto.
— O que você está fazendo? — seus olhos analisam meu rosto.
Eu fico presa ali, nos olhos dele. Não sei bem o que fazer, ao mesmo tempo que eu quero acreditar que não existe a possibilidade de Daio mentir pra mim algo me diz que ele já fez isso.
— Por que está me olhando assim? — seus olhos estão confusos, mais que os meus. — Hope?
Sorrio, ele está agindo mesmo como uma mocinha nervosa encurralada pelo garoto que ela gosta prontos pro primeiro beijo.
— Hoje em dia mulheres se beijam, não é? — me ouço murmurar antes de colar meu corpo no dele e olho pra baixo quando sinto seu busto.
São maiores que os meus.
— D-do que você está falando? — olha pra minha mão quando passo meu dedo pelo mandíbula dele e enrosca no cabelo atrás de sua orelha.
Essa seria minha primeira vez beijando uma mulher que na realidade era um homem, bem...louco, muito louco.
Aproximo nossos rostos ansiosa para beija-lo, não sabia que me sentia tão ansiosa para isso. Se eu vou me arrepender eu não sei, talvez, mas isso vai nos servir de muito.
Fecho meus olhos antes de tocar meus lábios nos dele, sinto o choque se espalhar como fagulhas elétricas quando nos tocamos. Daio permanece parado por alguns segundos, mas no segundo seguinte ele reage e toda pose de mocinha que ele mantinha se esvae.
Uma mão agarra minha cintura e a outra vai pra minha nuca, é ele quem comanda o beijo.
Minhas pernas falham e eu agarro seus ombros, é estranho o fato de tudo parecer pequeno e não musculoso, mas ainda assim eu sei que é ele.
Eu sentia nossa conexão, eu sentia nosso encaixe, sentia o tanto que ele queria, era na mesma intensidade que eu.
Afasto sua boca da minha puxando suavemente seu cabelo que tecnicamente não era seu.
— Tudo bem... — respiro fundo me forçando a parar — Temos que ir. — nossos lábios ainda estão próximos e Daio sela nossas bocas novamente encostando sua testa na minha em seguida.
— Vamos. — ele volta segurar minha mão e caminhamos juntos em direção a saída.
Novamente sinto os pelos dos meus braços se eriçarem quando passo por outro homem que dançava, ou tentava, vi pelo canto dos olhos ele nos encarar e por desconfiei que ele fosse mais um dos de Michel.
Passamos por outro que também nos encara e esse eu encaro de volta, pois ele olhava diretamente para mim, jogo minha cabeça sutilmente pra cima como quem pergunta o que ele tava olhando.
Continuamos caminhando e os deixando para trás e tudo que eu sentia era urgência pra sair dali.
Quando atravessamos a porta de entrada e saída Daio ou Amanda me guiou para baixo da sombra de uma árvore que ficava na frente da luz do poste.
Sem me dar tempo pra pensar ele me prensou contra a parede tomando meu lábios novamente para si.
Apesar de surpresa achei engraçado, estava beijando uma mulher que é um homem.
— Desculpa Hope. — ainda estou de olhos fechados quando ele murmura após se separar de mim beijando meu ombro.
Os olhos dele brilham na escuridão da noite, Daio pode se transformar em outras pessoas.
— Eles estão bem ali. — olho de cantonde olhos na direção da dupla que nos seguiu até o lado de fora.
— Vou chamar um Uber. — toca o quadril após concordar. — Não posso arriscar usar meu carro, eles vão desconfiar.
Assisto ele quase fazer malabarismo pra tirar o celular de dentro do vestido e depois digitar com agilidade a senha que parece uma sentença.
Ergo meus olhos pro rosto da mulher em que Daio se transfigurou, seus traços eram muito bonitos, no nariz e bochecha há sardas e por isso concluio que a cor do cabelo é original.
Entre mim e ele há um espaço muito pequeno, cruzo meus braços a tempo de Daio bloquear o celular e me encarar.
Eu queria que o que ele tivesse me escondido não fosse capaz de estragar o que eu queria ter com ele.
Ergui minha mão e acariciei seu rosto, Daio fechou os olhos parecendo gostar da carícia.
— Eu não quero ficar brava com você. — seus olhos se abrem, ele analisa meu rosto e então o segurou.
— Então tente me ouvir, eu lhe contarei tudo, só promete me ouvir primeiro. — seu pedido é sincero, eu consigo ver o medo em seus olhos. — Por favor... — Isso foi um sussurro, um pedido quase silenciado, ele se aproxima e eu concordo aceitando seus lábios.
Estou disposta a ouvi-lo, preciso lhe dar o benefício da dúvida e acreditar nele do que em Michel. Ele faria isso no meu lugar, não é?
Michel usou minha mãe para me atingir e conseguiu, de alguma forma ele sabia que poderia me confundir e afetar usando-a então, sim, ele deve saber demais sobre mim e a minha família.
Ramires disse que meu avô e o pai dele são aliados, não disse? Isso pode ser o suficiente pra ele saber demais, mais isso não significa que seja verdade.
Eu não posso acreditar totalmente em alguém que acabei de conhecer sabendo que ele sequestrou uma criança e mandou matar uma pessoa.
— No que está pensando tanto? — Daio se afasta para recuperarmos o ar. — Seu corpo está tenso. — tomba a cabeça para beijar novamente meu ombro.
Porque eu o queria tanto por perto?
— Não precisa responder, eu posso imaginar. — se afasta e esfrega uma mão na outra rapidamente. — Está com frio? Não é muito, mas ajuda. — suas mãos estão realmente quentes.
— Esse é mais um dos seus dons? — seu rosto fica sério por alguns segundos e eu franzo o cenho. — Pera, é realmente mais um dos seus dons?
— O Uber já deve estar chegando. — desconversa me fazendo pôr uma careta no rosto. — Eu realmente vou te contar tudo depois, agora é arriscado. — permito que suas mãos continuem a me esquentar por mais desconfiada que eu esteja.
Não duvido que seja um dom porque por mais que os minutos se passem a temperatura é a mesma, por acaso Daio é um lobisomem?
— Teremos problemas com Jace. — seus olhos estavam na parede escura atrás de mim, seu sorriso parece realmente divertido. — Na verdade, eu terei problemas com ele.
"— Daio e ele não se dão."
— Por que? — busco por seus olhos que não me fitam, mas eu consigo enxergar um brilho diferente, algo parecido com inimizade, raiva.
O que é que rolou entre esses dois?
— Acabo de ultrapassar um limite que ele estabeleceu pra nossa convivência. — seu sorriso sacana me faz sorrir enquanto ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Por que ele estabeleceria limites? — mais é claro que estou curiosa, o que levou Jace a criar limites pra interação de Daio comigo?
— Isso eu vou explicar mais tarde também. — me faz suspirar desgostosa.
Daio ri sutilmente e segura meu queixo pra me fazer olha-lo novamente.
— Mas eu não ligo, eu queria isso desde a primeira vez que coloquei meus olhos em você. — era verdade, eu conseguia ver em seus olhos, mas por algum motivo, ao expressar esse desejo, o senti como se fosse algo muito antigo.
Envolvo seu pescoço com meus braços e afundo meus dedos em seu cabelo macio, eu não vou me importar também, pois também queria isso tanto quanto ele.
— Eu protejo você senhorita. — brinco com sua aparência e deixo que ele me beije.
Quando um carro preto parou em frente a boate Daio conferiu o aplicativo e tomou minha mão.
— É ele, vamos.
— Espera. — mudo a rota e sinto Daio hesitar.
— Hope...
— Confia em mim, vem!
Paro de frente aos homens que me assistiram caminhar até eles sem parar, me olhavam como predadores.
— Oi, podem me fazer um favor? — eu abro meu melhor sorriso — Eu vim com o Ramires, sei que vocês o conhecem. — falo e um olha pro outro desconfiados. - Aquele sem noção me deixou sozinha na pista de dança pra fazer sei lá o que... — gesticulo com a voz mais revoltada que consegui. — Por isso digam a ele que cansei de esperar e que encontrei outra presa pra essa noite. — eles olham diretamente pra Amanda, vulgo Daio que permanece ao meu lado. — Ele vai entender. Ah, e fala também que se ele me ligar hoje, eu arranco os olhos dele. — ameaço por fim.
Nenhum dos dois expressam alguma reação, mas vejo descrença no olhar de um deles.
— Tudo bem, nós entregaremos o recado senhorita... — o que aparentava ser mais velho se interrompe.
— Hope Valente. — solto a mão de Daio e ofereço para ele. — Você ainda vai ouvir muito sobre mim. — asseguro sentindo seu forte aperto.
— Creio que sim. — um sorriso ladino corta seu rosto e eu estou pronta para vazar dali.
— Boa noite, cavalheiros. — me despeço piscando um olho. — Vamos amorzinho. — volto a segurar a mão dele e o guio.
— Quem são eles? — encena perfeitamente bem e eu me sinto satisfeita. — E quem é Ramires? — seu timbre alto me faz deduzir o propósito além de parecer embriagada. — Você é casada? — não pude conter e rio.
— Não Amanda, não sou. — estou ciente que não estávamos longe o suficiente para o diálogo não ser ouvido.
E era isso que ele queria no fim, que eles nos escutassem.
Somente quando entramos no carro, fechamos a porta e o motorista deu partida foi que eu tirei o sorriso do rosto e respitei fundo.
Aonde foi que eu me meti?
ᴀɪ, ᴜɪ, ᴀɪ, ᴜɪ,
ǫᴜᴇ ᴄᴀᴘÍᴛᴜʟᴏ ғᴏɪ ᴇssᴇ ʙʀᴀsɪʟ?
ǫᴜᴇ sʜᴏᴡ ᴅᴇ ᴘᴇɢᴀçãᴏ ғᴏɪ ᴇssᴀ ʀᴀᴍɪʀᴇs ᴇ ʜᴏᴘᴇ, ʜᴏᴘᴇ ᴇ ᴅᴀɪᴏ?
ᴛᴇʀᴇᴍᴏs ᴜᴍ ᴘᴇʀᴇs ᴏᴜ ᴜᴍ ᴅᴀɪᴘᴇ?
ᴇ ᴇssᴀ ᴛʀᴀɴsғɪɢᴜʀᴀçãᴏ?
ᴄʜᴏᴄᴀᴅᴀᴀ!
ᴍᴀɪs ᴜᴍ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ᴠᴇᴍ!
ᴀí ʜᴜᴍᴀɴᴏs, ɴãᴏ ᴇsǫᴜᴇçᴀᴍ ᴀ ᴇsᴛʀᴇʟᴀ ᴇ ᴏ ᴄᴏᴍᴇɴᴛáʀɪᴏ.
ғᴀʟᴏᴡ!
ᴍúsɪᴄᴀs ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: sᴀᴠᴇ ʏᴏᴜʀ ᴛᴇᴀʀs - ᴛʜᴇ ᴡᴇᴇᴋɴᴅ & ʏᴏᴜɴɢʙʟᴏᴏᴅ - 𝟻 sᴇᴄᴏɴᴅs ᴏғ sᴜᴍᴍᴇʀ ᴛʀᴀᴘ ʀᴇᴍɪx
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇɪs ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
ᴀᴍᴀɴᴅᴀ
ᴠᴇʀsãᴏ ᴅᴀɪᴏ ᴛʀᴀɴsғɪɢᴜʀᴀᴅᴏ.
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