ᴇᴍ óʀɪᴏɴ
Permaneci ali por um tempo que não sei ao certo quanto foi, as lágrimas já haviam cessado, eu me sentia estranhamente desidratada.
Ergo meus olhos pra parede de pedra quando ouço na outra sala minha mãe gemer, Keila profere o feitiço com a voz alta e forte e então Aurora grita outra vez e ainda mais alto. Isso ainda era possível.
Ponho-me de pé e vou rápido até elas, vejo Amélia andando de um lado pro outro, nem sinal de Apolo.
Estamos nisso a um bom tempo desde que eles se foram e eu pedi pra ficar a sós com meus tormentos, não me sinto melhor, mas estou sob completo controle.
Olho pro círculo no momento em que minha mãe levita, suas costas curva-se para trás como um parênteses e solta um grito que arrepiou todos os meus pelos, olho pro sangue no círculo e constato que faltava muito pouco para preencher.
Sem esperar mais corro em direção ao círculo sem me importar se me machucaria ou não, lembro-me de Amélia comentando com meu avô que apesar da bruxa ter morrido o feitiço ainda iria se concretizar se não o quebrassemos a tempo.
— Hope! — Amélia grita e se aproximar de mim em um tiro. — O que você está fazendo? — me impede.
Não dou importância, eu não queria me importar comigo no momento, a vida da minha mãe estava em risco. Ela era mais importante.
Me desvencilho de seu aperto sem nada dizer, encarando meus olhos ela parece entender e por isso se afasta. Decidida, volto a me aproximar da barreira mágica.
— Hope... — dessa vez é Apolo que tenta me impedir, me impressiona ouvi-la, mas não vê-lo.
— Aaah — sinto minha pele queimar, mas não me recuei.
Empurrei meu corpo contra a barreira, senti como se atravessasse uma gelatina, porém mais densa e dolorosa, sentia o cheiro da minha pele fritando durante o processo, fedia.
— Aaah... — continuo avançando e então, como a pressão que a água desce num ralo recém desentupido, eu cai dentro do círculo de joelhos.
Ofegante apoiei minhas mãos no chão e ergui meu corpo sentando-me.
Keila ainda estava com os olhos fechados, ainda repetia a magia de reversão e quebra.
Engatinho até minha mãe que estava caída de costas no chão, toco nela e sinto sua pele, era como se tocasse em coro sintético velho, ela se desfazia.
— Mãe? — a tomo nos braços com cuidado.
Era bom vê-la, era bom saber que estava viva, era bom tocá-la, mas a condição era péssima.
— Mãe... — seus olhos se abrem, mesmo assim parecem fechados demais pra ver alguma coisa.
Aurora me oferece sua melhor tentativa de sorriso, foi o mais feio e sofrido que eu já vi na vida, porém o mais significativo também. Ela pisca vagarosamente, era minha mãe ali, nos meus braços...
Minha mãe.
Rapidamente eu mordo meu pulso fazendo sangue escorrer por ele novamente, ela não tem expressões faciais, mas com a mão fraca rejeita meu pulso. A respiração pesada e vagarosa.
Eu insisto, o silêncio perturba o local. A bruxa ainda está como antes, mas não ouço mais sua voz. Procuro por Amélia, ela estava estagnada olhando pra nós duas dentro do circulo, como se visse um fantasma. Olho pra minha mãe quando ela toma meu braço e sem resistir puxa-o para si.
Sei que é arriscado, com o tanto de anos que ela estivera presa sem se alimentar nem meu sangue todo seria suficiente, mas me sinto aliviada que ela decidiu não resistir. Precisava que ela conseguisse ao menos abrir os olhos por completo.
— Aah... — arfa um minuto depois se afastando com uma careta de dor — Minha gar...garganta arde. — sussurra, mas logo volta a se alimentar.
Olho pra Amélia que agora chora alto, e depois busco mais uma vez por Apolo, mas não o encontro mais uma vez. Olho pro chão e vejo a estrela colorida de vermelho e não dava dois minutos pra que o círculo completasse também.
Meu coração estava angustiado, mas se eu morrer aqui, eu morri realizando o maior sonho da minha vida.
Abraçar minha mãe.
Fechei meus olhos afim de não ver o círculo ser completo, minha mãe ainda tomava meu sangue e eu começava a me sentir leve, parecia brisada, sentia o fluxo que ela puxava para si sair e doía.
— Aurora! — ouço a voz alta de Amélia e minha mãe se afasta na hora.
Eu me assusto, mas o olhar da minha mãe encontra com o da irmã em reconhecimento e ela então olha pra mim, minha mãe pisca seguidas vezes e se afasta. Meu pulso cai em meu colo, e eu permaneço assim.
— Hope? — chama parecendo me ver pela primeira vez — ela pressiona sua mão no chão e tenta se endireitar.
Enquanto o faz vejo várias emoções correr por seus olhos, ao mesmo tempo que ela parece emocionada também parece desacreditada. Ela tenta me chamar de novo, seu queixo treme e seus olhos estariam cheios de lágrimas se houvesse água em seu corpo.
— Hope? — o som de seu choro é gutural, não há lágrimas e isso me deixa ainda mais angustiada.
Eu não sei dizer como eu me sinto, mas com certeza ouvir ela chamar o meu nome me fez lembrar da visão que Amélia me mostrou, da minha mãe me ninando em seu colo, do calor dos seus braços, do conforto do seu amor.
— Hope... — não havia muita mudança em sua fisionomia, ela ainda parecia a Malévola muito mais esquelética, mas ela parecia raciocinar melhor.
Ela tenta me abraçar, mas seus braços falham e eu me curvo para ampará-la e abraçá-la, eu mesma já não conseguia mais conter minhas próprias lágrimas.
— Minha menina, Hope. — seu choro angustiado e desesperado me quebra em pedaços, abraço minha mãe com cuidado enquanto ela agarra minhas roupas, me aperta em seus braços ósseos e eu choro silenciosamente.
— Oi, mãe... — respondo seu chamado — Eu estou aqui. — ouço agora o choro que vem dela, a sentindo a raiva dentro de mim reacender.
— Minha bebê, minha menina. — parece querer se fundir a mim — Eu sinto tanto, minha menina. — dizia sem parar. — Eu te amo tanto. — afirmou fazendo meu coração acelerar e eu me afastar para encontrar seus olhos.
Ela me olha sem entender, mas sorrio para ela e pego dentro da minha roupa o colar que meu pai me deu. Ela desce o olhar para as minhas mãos e vejo quando arfa, abri para que ela visse, minha mãe o pegou com cuidado e fitou o pingente com a nossa foto, ela ainda chora.
— Eu também amo você mãe, eu sempre amei. — ela chora como eu nunca vi ninguém chorar e isso está me desesperando.
Seu corpo inteiro balança e o som de seu choro é terrível para mim, me faz pensar em tudo o que ela suportou até agora. Eu a puxo para mim para a abraçar e fecho meus olhos, era assim que iríamos morrer?
Vejo por trás das pálpebras quando tudo se torna branco, era como se ficássemos cegas com o efeito reverso. Se íamos morrer agora, morreria abraçada a ela. Afundo meu rosto em seu pescoço e permaneço ali.
— Eu sempre quis te abraçar, sempre quis saber como você era, se me amava como eu te amava... — confesso chorando também.
— Eu sempre te amei, minha filha. Por todos esses anos eu me perguntava como você estava, se havia se casado, tido filhos... — meu coração se quebra quando a ouço sorrir — Você está tão linda...
— Mãe... — eu não a largaria — Eu não me casei, ainda não tenho filhos, mas eu te encontrei. — ela tenta, com suas poucas forças, me abraçar ainda mais forte.
De repente, assim como tudo clareou, também voltou ao normal, nos afastamos e ela segura meu rosto. Era tão bom ouvir a voz dela de verdade. Mesmo que eu não estivesse prestando atenção ao meu arredor, algo me chama atenção.
Atrás da minha mãe, Apolo, que estava nos ares, gradativamente descia de encontro ao chão.
E então nós duas parecemos nos despertar para o que acontecia ao redor. Aquilo que vimos era realmente uma cena poderosa, olho para o chão e não vejo mais o desenho e nem o sangue, olho pra minha mãe e sorrio aliviada, ouvimos Keila e olhamos pra ela antes da barreira se romper cedendo como uma fumaça preta ao chão e se espalhando por ele.
Amélia estava lá quando Keila desabou sem forças no chão, ela a amparou, mas no minuto seguinte deixou a bruxa e se jogou aos pés da irmã a abraçando.
— Irmã! — Amélia a chama e Aurora a olha.
— Minha irmã. — eu me afasto para checar Keila e no caminho olho pra Apolo que apenas nos observava.
— Obrigada. — agradeço com o coração realmente agradecido.
Apolo sorri e desaparece logo depois.
Olho pra Keila que ainda estava desmaiada no chão, me agacho e ia checar sua pulsação, mas antes que meus dedos chegassem ao seu pescoço consegui ouvir seus batimentos. Eu me sento aliviada, tudo o que não precisava era de mais mortes.
Franzo o cenho me lembrando de Ane, seu corpo todo furado e os olhos devastados de Fred, meu corpo se arrepia e eu sinto um nó se formar na minha garganta.
—Keila... — chamo em um sussurro quando a vejo ter leves espasmos. — Venha, eu te ajudo. — ofereço minhas mãos quando ela abre os olhos.
Keila se senta, parece consciente do que aconteceu, mas permanece em silêncio. Parece exausta.
— Eu não tenho como te agradecer. — ela nega e me oferece um sorriso cansado.
— Você libertou a mim e a minha irmã de nossa prisão, sou grata também. — eu aperto a mão dela que ainda segurava em forma de carinho.
Os olhos da bruxa se arregalam e ela arfa, não entendo sua reação então olho pra onde ela olhava. Minha tia, em pé, olhava com um sorriso para minha mãe que como um raio avançava sobre os benzidos que sobraram se alimentando de todos em menos de cinco minutos.
Não consigo dizer nada sobre isso, mas também arfo assustada enquanto todos observamos ela limpar sua boca com o dorso da mão e sorrir de forma inocente com o contorno dos dentes vermelhos.
O clima engraçado é quebrado quando, de lá de fora, ouvimos uivos.
— Ainda precisamos sair daqui. — a bruxa mais nova diz olhando em direção a minha mãe e tia.
Eu concordo, estendo minhas mãos pra Keila que se levanta com minha ajuda.
— Vamos! — chama a bruxa movimentando suas mãos no ar.
Ela abre o portal e quem entra primeiro é Amélia, depois dela vai Aurora, depois eu e então Keila.
Não sei dizer bem qual foi a sensação de sair daquele portal e enxergar os grandes muros que antes vi na visão.
Keila parecia mais familiarizada, tanto que caminhou até o que parecia ser um interfone e apertou um botão preto embaixo dos numerais. Não precisou de ninguém atender, pois a porta de entrada da grande mansão se abriu e num tiro Clóvis veio até nós.
— Vocês conseguiram! — seus olhos declaravam um misto de surpresa e alívio, apesar de sua voz carregar o tédio rotineiro.
Eu fui a última a entrar, mas parei de frente a ele quando chegou minha vez de passar.
— Como está Daio? — mas Clóvis me ignora.
— Precisamos alimentá-la. — me deixa para trás para observar minha mãe que é ajudada pela irmã e a bruxa.
Ele caminha a alguns passos a minha frente, as mãos atrás do corpo, e eu suspiro quando o o vejo sorrir e reconheço aquele sorriso, mais a frente as mulheres eram recebidas por outras duas que eu não conhecia.
— Separamos o jantar pra ela. — informa contente e eu recuo.
— São humanos? — é estranho pensar nisso.
— Não, sua mãe passou vinte cinco anos sem se alimentar, pra matar a fome de seria necessário um número absurdo de humanos, por isso trocamos por vampiros.
— O que? — e pode isso? Vampiro se alimentar de vampiro? — Não é considerado canibalismo, não?
— Na verdade, é um crime... — arregalo meus olhos — Ou uma sentença de morte. — vejo seus olhos brilharem de prazer vingativo. — No caso, os membros da sociedade pérfida¹. — arregalo os olhos em alarme.
Ele estava falando dos responsáveis ataque à minha família e responsável pelo ferimento de Daio, eu mesmo queria acabar com esses...dejetos.
— Encontraram o líder? — minha atenção está nele, até porque estou curiosa, mas meus olhos acompanham as três mulheres que se afastam lentamente.
Clóvis arrasta a mão no ar e o portão se fecha, logo após ele me continua me guiando pelo caminho de pedras brancas.
— Ainda não. — o ouço enquanto olho ao redor, para um jardim com uma estátua de um casal que agora parecia muito mais bonito. — Mas estamos trabalhando nisso.
Eu já vi essa estátua...na casa de Fred ainda em Lórion.
— Me sinto envergonhada por invadir o mundo e a casa de vocês dessa maneira. — volto a olhar para as costas de Clóvis que solta um riso anasalado.
— Não se preocupe com isso, temos espaços pra muitos aqui e fazia tempo que não recebíamos visitas, aliás nem mesmo Daio nos visitava em Órion. — gesticula exageradamente me dando passagem pela porta branca.
— Aonde está? — o semblante dele muda da água pro vinho, a fisionomia cai e não existem mais a sombra do sorriso sarcástico em seu rosto.
— Em seus aposentos, Koila está com ele junto com Liandra, elas estão tentando fazer o possível. — sinto um peso gigante recair sobre mim.
Era minha culpa.
— E a minha família? — é quase impossível não olhar ao redor enquanto caminho pela sala branca, Clóvis me guiava vagarosamente e antes que sentássemos no sofá branco ouço meu nome ser soado do auto da escada.
Levanto meus olhos em direção a voz, e encontro meu pai descendo com rapidez, seus passos nunca haviam sido tão rápidos, graças aos céus ele parece bem. Seus braços circundam meu corpo em um abraço apertado assim que me alcança e eu me deixo envolver.
— Minha filha, você está bem! — ele segura meu rosto nas mãos e beija minha testa em seguida. — Pelos deuses, eu fiquei tão preocupado. — eu lhe sorrio, mas me afasto para fitar seus olhos.
— Pai. — chamo e ele me olha nos olhos. — Eu estou toda suja, não quero que fique também. — ele olha pra mim, pisca algumas vezes, mas nega voltando a me abraçar e me arrancar uma gargalhada.
— Eu não me importo com isso, não me importo. — repete garantindo, mas seu sorriso morre em seguida ao parecer se lembrar de algo.. — Seu irmão chegou mais cedo, estava devastado, não falou muita coisa foi direto ver a família. — conta e eu assinto. — Ficamos tão preocupados, ele atacou Daio de repente filha... — ouço a desesperança em sua voz e meu coração se quebra.
— Não foi Kaleb que atacou, Daio. — ele parece cansado agora — Sua fisionomia foi usada para esconder o verdadeiro responsável.
No sofá Clóvis nos olhava, até parecer entediado demais para continuar nos assistindo. Ele solta um suspiro alto, seguido de um gemido de gente velha ao se levantar do sofá.
—Estamos trabalhando para achar o verdadeiro responsável pelo ataque a mandato de Michel. —ele passa o braço pelo meu pescoço e eu reviro os olhos. — Por enquanto, vamos nos ocupar de dar os que já capturamos para Aurora jantar. —ele sorri na direção do meu pai que o olha um pouco chocado agora.
Seus olhos procura os meus, ele não parece...
—Ela está mesmo viva? — ele parece nem estar respirando — Ela está aqui?
— Informação demais, né? — semicerro os olhos e tento sorrir, mas sei que o que eu fiz chegou mais perto de uma careta do que de um sorriso.
Eu solto um longo suspiro e então conto até cinco na mente, como eu vou explicar que ele não pode vê-la?
— Visitas não vai rolar hoje, velhote...quer dizer, semideus. — olho desacreditada para Clóvis, mas meu pai parece estar tão passado que nem parece notar as palavras do vampiro.
— Ela está um tanto frágil, pai. — explico da forma mais simples de ser entendida — Não é apropriado pro senhor estar na presença dela agora. — ele concorda, mas parece mais anestesiado do que tudo.
— Acredito que pela manhã ela já esteja mais calma e será possível vê-la sem correr riscos. — olhamos pra Amélia quando ela entra na sala.
— Uma reunião familiar... — Clóvis revira os olhos e ralha tirando o braço dos meus ombros.
— Como está a mamãe? — meu pai não parece surpreso em vê-la, como se já se conhecessem presencialmente.
— Está fora de risco agora, mas demorará até que esteja 100% bem.— ela está com os braços cruzados, não parece inclinada a cumprimentá-lo.
— É muito bom ver você de novo, Amélia. — meu pai sorri, mas não lhe oferece a mão. — Obrigado por ter cuidado de Hop enquanto eu estive ausente. — minha tia sorri, olha pra mim e depois pra ele de novo.
Clóvis ao meu lado estala a língua entediado e cruza os braços.
— Hope me deu um pouco de trabalho. — me olha de soslaio, mas com ternura — Mas é uma boa garota. — conclui e quem revira os olhos dessa vez sou eu.
— Tá bem, tá bem — estendo minhas mãos para calá-los — Parem de falar de mim como se eu fosse uma garota rebelde de dezoito anos. — volto a cruzar meus braços.
— Além de rebelde é irônica, muito irônica. — a voz vem atrás de mim, eu sei a quem pertence, mas mesmo assim estou surpresa dele poder estar aqui.
— Pai? — olho pro meu pai com o cenho franzido achando estranho ouvir meu pai chamar pelo pai que conseguia aparentar mais juventude que o filho.
— O que que cê tá fazendo aqui? — faço careta quando assistindo meu pai caminhar até ele e tomar sua mão, a levando a boca e a beijando.
— Que isso, credo. — murmura Clóvis ao meu lado. — Que mistura estranha sua família, em humaninha? — eu só o lanço um olhar sério que o faz rir e dar de ombros.
— Como está meu filho? — Apolo está olhando para John com semblante sério.
— Estou bem, graças as forças celestiais. — eu descruzo os braços desistindo de tudo aquilo, eu queria uma cama.
O lugar estava completamente vasto, esse era o problema de se ter uma casa gigante com poucos moradores.
— Eu preciso me deitar, por favor, pode me leve até meu quarto? — pergunto a Clóvis que solta um suspiro exasperado e deixa de encarar meu pai e avó.
— Agora que tava ficando interessante aquele bromance?
— É pai e filho, Clóvis!!! — murmuro enojada com seu comentário e ele apenas ri.
— É por aqui, humaninha. — me dá as costas.
Caminhamos até a escadaria que ficava na extremidade da sala, haviam duas, uma em cada lado, elas eram brancas e com carpetes vermelhos como o tapete vermelho dos famosos.
Quando terminamos de subir eu me aproximei do parapeito e olhei para baixo, daqui de cima dava pra ver toda a entrada com perfeição, conseguia ver o céu pelas janelas de vidro bem acima das portas quase coladas ao teto, aliás, esse também era de vidro.
Atrás de mim haviam um longo corredor que dava para o resto da casa. Caminhei por ele com Clóvis, deduzi que aquele era o principal já que haviam outros menores que davam acesso aos quartos como ele me disse.
Viramos o corredor no terceiro mini corredor à direita, nas paredes haviam quadros, nesse aqui eles eram minimalistas e dourados, com folhas bonitas algumas pintadas em tons de verde bem escuro e bege.
— Que bonito. — murmuro passando de leve meus dedos pelo vidro do porta retrato.
— Foram pintados por Seline. — olho pra Clóvis atrás de mim que olhava para as pinturas ainda com as mãos atrás do tronco.
E é a primeira vez que noto a presença da minha ria no quarto conosco, não sabia que ela tinha nos seguido. Sorrio quando noto o jeito desconfiado com que olha pra Clóvis.
— A transformada do meio de Daio. — explica ela me olhando.
No mesmo instante Clóvis a encara com uma careta e depois olha pra mim.
— É...na verdade. — ele é interrompido e vejo sua mandíbula contrair.
O mesmo problema em todos os velhos, ser interrompido.
— Prefiro que digam cria. — essa foi a voz suave que interrompeu Clóvis e ela vinha da porta — Mas não precisa se preocupar, não me ofenderam. — fala rapidamente notando a mudança no semblante de Amélia.
Percebendo o clima eu dou um passo a frente.
— Eu sou Hope. — ela que sorri largamente.
— Meu nome é Seline, muito prazer. — se aproxima e beija os dois lados da minha bochecha.
Sua aproximação me deixa em alerta não por sentir medo, mas por ouvir um batimento estranhamente acelerado.
— Oh, esqueci-me — ela sorrindo coloca as pequenas mãos sobre a barriga. — Esse aqui é meu baby vampire — apresenta e em seguida ri fofamente. — Ainda não sabemos qual o sexo, mas sabemos que é um bebê.— e dessa vez dou eu que rio.
Nada havia sido engraçado em sua fala, porém o jeito de Seline, falante demais, gestual demais, expressiva demais, era fofo demais e me dava vontade de rir, ela era alegre e pelo que me parecia transmitia alegria.
— Felicidades à você e saúde para o bebê. — desejo e ela sorri grande.
Amélia está do lado de Clóvis agora, claro que com uma boa distância entre eles, mas ambos observam nossa interação.
— Também quero desejar felicitações, ter uma criança é o bem mais precioso para qualquer criatura, que venha em tempos de paz e com saúde. — os olhos de Selina estão em minha tia que decidiu que ficar calada seria grosseiro.
— Obrigada — agradece risonha. — E parabéns pelo trabalho duro. — felicita e eu sorrio simples. — Eu sei que houveram contratempos, mas não seria uma guerra se não existisse isso, não é?
— Eu... conheço Daio a milênios, sei que ele se recuperará. — Amélia alcança meu ombro e o segurando firme, ela tocou no meu ponto fraco.
Se fosse apenas ele, mas ainda tem a morte de Anastácia. Ainda não sei como irei encarar Fred.
Que devastação.
— Meu pai é f... — ela para no meio da palavra quando eu arregalo meus olhos —Ops, desculpa, as vezes escapa — ela ri e eu não esperava por isso.
— Seline meu bem, não fale palavrões — ouvimos uma voz ecoar pelo corredor — O bebê escutará, já lhe disse. — a vampira ri.
— Desculpe querido. — responde de volta.
Clóvis se aproxima do circulo que formávamos e sussurra um: "pode continuar xingando" pra ela que sorri e pisca um olho na direção dele.
— Tenho certeza que ele se recuperará, estamos todos com você. — fala ela pegando minha mão e a apertando me transmitindo paz de espírito.
Tomara!
— Obrigada. — é a única coisa que consigo falar porque meus pensamentos estão todos confusos e atormentados.
Eu precisava ver Fred.
— Não por isso. — dá de ombros e gesticula a mão. — Eu vou me retirar e vou lervar ele comigo — agarra Clóvis pelo braço que faz uma careta de nojo — Vejo em seus olhos que está cansada e que precisa, claramente, de um banho. — olha pra minha roupa e corpo sujos de sangue. — A luta deve ter sido fenomenal. — faz uma careta de empolgação. — Pena que não pude participar. — resmunga fazendo outra careta, só que dessa vez de desgosto.
Eu não sei se rio dela ou de Clóvis que encara as mãos dela em volta de seu braço com a mesma careta desde que ela o agarrou, parece um gato debochado.
— Não há problemas, se quiser eu lhe mostro. — digo simples e ela arregala os olhos.
— O que? — pergunta no mesmo instante que Amélia me chama pelo nome de uma forma um tanto alarmada.
Até Clóvis me encarou com os olhos arregalados.
— Está tarde, deixe que Seline vá descansar. — ele olha pra vampira e eu abaixo a mão que havia levantado para tocá-la.
— Não, tudo o que eu mais faço dentro dessa casa é repousar. — murmura a vampira se esquivando do puxão dele — O que estava dizendo? — vira-se para mim.
Suas mãos já não seguram mais Clóvis.
— Disse que posso lhe mostrar... — rio quando vejo Clóvis tentando fazê-la segurar novamente seu braço — Mas Clóvis está certa, está tarde e eu estou cansada, aliás não posso usar meu poder em você, não sei se afetará o bebê e ele é um pouco doloroso.
— Tudo bem, amanhã testaremos com meu marido e então, se não for tão ruim assim, você testará comigo, pode ser? — eu concordo, ela sorri e se se despede — Eu também vou verificar isso com a Keila ou com Lizandra, se estiver tudo bem usar, por favor, prometa que me mostrará. — pede e eu sorrindo assinto. — Em Órion promessa é divida. — adverte antes de pegar a mão que estendia a ela.
— Eu sou uma mulher de palavra. — afirmo e ela sorri.
— Perfeito. — aperta linha mão com firmeza. — Boa noite Hope, boa noite Amélia. — se despede acenando enquanto é conduzida por Clóvis.
Olho pra Amélia e então suspiro, ela toca a maçaneta e a gira, empurrando a porta logo depois. Dou o primeiro passo, o segundo e o terceiro e sinto vergonha do meu quarto antigo.
Em nada se compara o quarto de Lórion com o de Órion.
Aliás, nada de lá se compara com as coisas daqui, certeza!
_________________________
¹sᴜᴊᴇɪᴛᴏ ᴅᴇsʟᴇᴀʟ, ɪɴғɪᴇʟ ᴏᴜ ᴛʀᴀɪçᴏᴇɪʀᴏ.
É ᴜᴍᴀ ᴍɪsᴛᴜʀᴀ ᴅᴇ ᴀʟᴇɢʀɪᴀ, ᴄᴏᴍ ᴛʀɪsᴛᴇᴢᴀ, ᴄᴏᴍ ᴀʟíᴠɪᴏ.
ᴏ ǫᴜᴇ ᴠᴏᴄês ᴇsᴛãᴏ sᴇɴᴛɪɴᴅᴏ?
ᴇᴜ ᴇsᴛᴏᴜ sᴇɴᴛɪɴᴅᴏ ǫᴜᴇ ᴏ ʟɪᴠʀᴏ ᴇsᴛá ᴀᴄᴀʙᴀɴᴅᴏ ᴋᴋᴋᴋᴋᴋᴋᴋ
ᴇɴғɪᴍ, ᴇsᴛãᴏ ɢᴏsᴛᴀɴᴅᴏ? ᴇsᴛᴀᴍᴏs ᴄʜᴇɢᴀɴᴅᴏ ᴀᴏ ғɪɴᴀʟ ᴅᴇssᴀ ᴏʙʀᴀ ᴍᴀssᴀ ᴇ ᴇᴜ ᴇsᴛᴏᴜ ᴄᴏɴᴛᴇɴᴛᴇ,
sᴇɴsᴀçãᴏ ᴅᴇ ᴍɪssãᴏ ᴄᴜᴍᴘʀɪᴅᴀ.
ᴘᴇɢᴜᴇɪ ɢᴏsᴛᴏ ᴘᴇʟᴀ ᴄᴏɪsᴀ ᴇ ᴏʟʜᴀ ǫᴜᴇ ɴãᴏ ᴇʀᴀ ᴘʀᴀ sᴇʀ ᴛãᴏ séʀɪᴏ ᴀssɪᴍ, ᴇʀᴀ só ᴜᴍ ʜᴏʙʙʏ ᴘʀᴀ ᴘᴀssᴀʀ ᴏ ᴛᴇᴍᴘᴏ ᴀɴᴛᴇs ᴅᴇ ᴄᴏᴍᴇçᴀʀ ᴀ ғᴀᴄᴜʟ.
ᴍᴀs ô ʜᴜᴍᴀɴᴏs, ɴãᴏ ᴇsǫᴜᴇçᴀᴍ ᴅᴇ ᴠᴏᴛᴀʀ ᴇ ᴅᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ, ᴠᴀʟᴇᴜ?
ᴄᴏɴᴛᴏ ᴄᴏᴍ ᴠᴏᴄês!
ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: sʟɪᴘ - ᴇʟʟɪᴏᴛ ᴍᴏss
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
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