ᴇɴᴛʀᴇ ᴀ ғᴀɴᴛᴀsɪᴀ ᴇ ᴀ ʀᴇᴀʟɪᴅᴀᴅᴇ

Depois daquele sonho lôbrego os dias passaram-se lentamente, tive muitos outros pesadelos em consequência daquele e sempre acordava com Alicie ou Sara me chamando.
Despertava sempre banhada de lágrimas e suor, a garganta seca e ardendo por causa dos gritos, a cabeça doendo e a mente perturbada com imagens que vinham da tormenta noturna.
Ainda conseguia ouvir os gritos desesperados da minha família clamando por mim, a sensação de invalidez e impotência me assolava toda vez que eu fechava meus olhos e me lembrava das cenas de dor e desespero.

Medo.

Muito pior do que os pesadelos que tive com Michel após seus ataque.
Foi quase impossível não jogar tudo por ar pra tentar entrar em contato com eles, a consciência voltava todas as vezes que Fred dizia que isso os colocaria em perigo iminente.
Ramires não me trouxe novas notícias o que só piorava a situação, eu nunca quis tanto abraçá-los, as palavras de carinho antes ditas agora pareciam insuficientes, eu deveria ter estado mais presente, ter ligado mais.
Não me perdoaria se algo acontecesse com eles por minha causa.
Também não me passara batido a ameaça que Michel me fizera a algumas semanas atrás em um de seus insultos, caçar minha família não podia ser um dos seus planos contra mim, não é?
Eu desistiria de tudo por eles, entregaria minha vida pra que a deles continuassem intocadas.
Entre crises, choros e paralisias psicológicas eu passei os dias seguintes.

Era dormindo e acordada.

Sempre quando a crise vinha eu me afastava de Alicie, seria traumático para sua mentalidade infantil, eu não chorava e sim urrava.
Era uma dor que não cabia em meu peito, uma preocupação descomunal e uma sensação de derrota, medo.
Logo depois dos surtos eu chorava até me sentir mole, desmaiava algumas vezes, mas quase sempre eu só chorava até me sentir seca.
As paralisias não costumavam ser na sequência, elas vinham sem aviso prévio, já aconteceu no banho, na sala assistindo desenho com a Alicie, na cozinha servindo o café da manhã, no quintal correndo atrás da criança e uma bola.
Eu perdia os sentidos, o ambiente mudava, tudo voltava a ser escuro com dezoito portas ao meu redor, o pânico e o medo ressurgiam como bombas no meu interior e eu geralmente retornava a realidade aos gritos desesperados e chacoalhões dos meus amigos.

Era horrível.
Doloroso.
Torturante.

- Hop, você está longe dinovo. - reclama Alicie e então eu a olho apreensiva.

Estava vindo, eu sentia, mas tinha que tentar lutar contra.
Eu era mais forte, mais forte que meus devaneios, meus medos, que meus monstros.

Eu era mais forte.

- Desculpa. - tentei sorrir - Sabe o que eu estava pensando?

Ela negou com o semblante neutro, a testa vincada e seu rosto infantil duvidoso.

- Que tal se tomarmos um banho de banheira? - seus olhinhos sorriem assim como seus pequenos lábios rosados.

Só sei que se essa menina crescer, e vai, ela dará muito trabalho a Cristian.

- Com bastante espuma? - confirmo e ela salta do sofá euforica.

Mas antes de irmos me lembrei que Fred deixara para ela uma garrafa de sangue, por natureza Alicie tinha que se alimentar e hoje completava-se três dias desde a última alimentação.
Caminhei com ela no colo até a cozinha, sente-a no balcão enquanto pegava uma garrafa de vidro azul que ficava ainda mais escura por causa do sangue venoso.
Quando estava em Órion ela se alimentava com comidas normais para uma criança ainda não madura, mas ao chegar aqui Alicie foi obrigada a ter sua primeira refeição, fazendo os genes de seus pais amadurecerem antecipadamente.
Cristian não ia gostar disso, a garota tinha apenas três aninhos.
Eu esquentei o sangue no micro-ondas e assisti ela secar três copos de 300 ml, foi bizarro, um sentimento esquisito se apossou de mim enquanto eu a via virar os copos, mas permaneci ali pois sabia que de alguma forma Alicie precisava de mim.
O mais bizarro talvez foi sentir o cheiro e sentir vontade, eu sabia o que poderia ser, mas eu me recusava a aceitar.
A curandeira disse que eu não estava me transformando e que poderia ter sido obra do sangue de Fred.
Sorrio pra Alicie que lambe os lábios e me estende o copo, não era algo que ela estava acostumada também, não era natural. Al já me perguntara antes porque ela não podia ser como as crianças normais, as crianças que ela via na internet e na TV.
Foi difícil, eu quis chorar, entretanto sorri pra ela e disse a verdade, ela era especial, porém havia sido pega pela maldade, mas essa última parte eu ocutei, ela não merecia.

- E que tal uma skincare? - proponho enquanto com um lenço umidecido limpava o canto de seus lábios e o bigode vermelho que se formou em seu buço.

Alicie sorriu mostrando suas presas pequenas, dentes caninos normais para quem desacreditava sobre a existência da raça.

- Pipinos? - pede e eu paro fazendo uma careta pensativa.

Se Ane tiver...

- Por que não? - sorrio e ela gargalha feliz.

Pego Alicie no colo de novo e a carrego até o quarto de Ane que costurava, peço pra ela os produtos e então vou em direção ao meu próprio quarto que dividia com a pequena.
Desde a primeira vez que eu a vira senti um grande carinho pela criança e foi inevitável não me apegar a ela durante esses dias que passamos juntas.
Era por volta da uma da tarde, faltava algumas horas para anoitecer consequentemente faltava algumas horas pro grande baile da posse.
Apenas eu e Frederik íamos, Sara pediu pra ficar com Ane e Alicie, pra mantê-las seguras.
Concordamos pois era mesmo muito arriscado.
Já no banheiro ponho Alicie no chão e ligo a torneira da banheira, estava um clima frio então aposto na água quente. Coloquei a espuma na banheira e o cheiro de framboesa inundou meus sentidos, conseguia sentir o gosto do cheiro na boca.

É, louco.

- Uuun, que cheloso. - comentou a criança me fazendo sorrir.

- Você achou? - a olhei com carinho.

Estava claramente ansiosa, Alicie apertava as mãozinhas e assentiu com um enorme sorriso.
Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo e suas esmeraldas brilhantes.
Eu a despi deixando sobre seu corpo apenas a calcinha de unicórnio, logo depois dela também entrei na banheira permanecendo de lingerie.
Alicie brincava com as espumas da água enquanto eu tirava da embalagem uma máscara pra seu rosto.

- Aqui. - me aproximei e ela me encara com expectativa.

As mãozinhas seguravam a beirada da banheira enquanto eu colocava sob seu rosto a máscara gélida e maior que sua pequena face.

- Feche os olhos. - peço tirando de outra embalagens dois pepinos fakes.

- Obligada Hop. - ela sorri depois que eu deposito as duas rodelas em seus pequenos olhos.

- Por nada, agora é só relaxar. - instruo fazendo o mesmo processo comigo e depois descansando minha cabeça na borda da benheira.

Houve um silêncio desmonual, não era do feitio de Alicie ficar muito tempo em silêncio, entretanto eu não questionei.
Aproveitei para pensar no que me esperava hoje à noite, ninho de cobras, covil dos demônios e eu estaria lá servida como o prato principal.

Não!

Eu mataria qualquer um que tentasse me machucar, não me importaria se tivesse que enfrentar Michel por isso, não morreria antes de ver a vida esvair do corpo de Leopolde Lee.
Me sentia ansiosa, um pouco preocupada, porém tentava dizer pra mim mesma que iria conseguir, entreguei minha vida para isso, certo?

Óbvio.

Quanto ao sonho, se aquele filho ** **** realmente tivesse um filho e ele estivesse com minha mãe...
Aaah, ele vai sofrer, iria me implorar pela morte, por minha mãe e pela dor que causou em mim.
Não deixaria barato os vinte cinco anos sem conhecê-la pelo capricho de um imortal com o ego ferido.
Pro inferno com o orgulho de merda dele.
A movimentação na água puxa minha atenção para o presente e então sinto dois braços finos e delicados na minhas pernas.
Tiro os pepinos dos olhos a tempo de ver Alicie subir em mim e agarrar meu pescoço em um abraço apertado.
Circundei suas costas com minhas mãos apertando-a em meus braços, nunca havia temido pela presença da criança, sabia quem ela era e quem estava se tornando, mas eu sabia que existia bondade demais para o mal que a circulava.
Era impossível não retribuir o afeto que emanava de sua inocência, eu a queria perto, queria protegê-la, guardá-la para mim e se conseguisse devolver sua antiga vida, devolvê-la para seu pai ordinário.

- Eu ti amo, Hop. - declara e eu sorrio aturdida.

Me emociono com sua confissão inocente, com seu carinho expressivo, beijei seu cabelo, aliso suas costas com carinho.
Sinto meus olhos lacrimejarem e a aperto ainda mais contra mim, ela era preciosa demais para perecer nas mãos de sanguinários de merda.

- Eu também amo você, pequena.

- Você vai me deixar morrer, Hop? - sinto todo meu corpo tencionar, meu coração acelera contra seu tórax pequeno e minha boca secar em surpresa.

Sentia a respiração afetada, encarava a parede branca do banheiro perturbada.

- Não! - afirmo firme.

Era minha promessa.
Afasto ela de mim e retiro as rodelas que ainda escondiam seus olhos de mim, encaro suas preciosas joias enquanto segurava com cuidado seu rosto liso e delicado.

- Você não vai morrer, eu não irei deixar. - prometo e ela sorri voltando a me abraçar.

- Eu sinto saudade do meu papai. - confessa sob meus ombros e eu acaricio de seus cabelos a suas costas nuas.

- Logo vocês se reencontrarão, ele só está resolvendo algumas questões de gente grande e logo virá te buscar.

Sentia as lágrimas quentes escorrerem por dentro da máscara lilás, o que eu podia fazer?

- Eu vou dar um gande abraço nele. - conta se afastando para ver meu rosto, ela mantinha um sorriso que sumiu ao encontrar os meus olhos - Polque está cholando, Hop?

Ela arranca a máscara do meu rosto e limpa as lágrimas que ainda escorriam em grande quantidade.
Eu não podia deixá-la morrer, ela agora era parte de mim também, eu sentia.

- Não é nada demais, sua declaração de amor mexeu comigo. - minto

Mas que droga, inferno, maldição.
Alicie voltou a me abraçar e assim permaneceu por mais vinte minutos, eu não me incomodava, sentia meu coração quente contra sua bochecha.
Eu realmente amava aquela criatura como amava Maria Theresa.

Maria Theresa...

Lembranças de seu corpinho todo furado, o sangue que escorriam pelas feridas, sua cabeça tombada, as mãozinhas acorrentadas...

Não!
Abro meus olhos com pressa.
Dessa vez, no lugar de Tessa vejo Alicie, ouço seu choro.
Não!

A respiração estava acelerada, meu nariz ardia, minha mente perturbada pelas imagens.

Não!
Antes que surtasse, chamei com cuidado a criança no meu colo, sentia a garganta seca, a voz quase não saia.
Ela olhou pra mim e eu sorri amarga.

- Vamos sair, Al? - chamei com dificuldade.

Tentava esconder dela minha pior versão, ela não gostaria de ver, aquela não era eu.

- A água já está esfriando. - me desvencilho com cuidado dela.

Saio primeiro e me enrolo no hobby que ficava no banheiro, abro o ralo da benheira e pego a criança nos braços.
Levo ela o até a cabine do chuveiro aonde eu lhe dou banho, lavo seus cabelos prendendo minhas perturbações dentro de mim.

Ela não merecia ver.

Dei tudo de mim pra que Al não percebesse meus tormentos e tremores, depois do banho a enrolei no roupão claramente maior que ela e com um sorriso a conduzi para o quarto.

- Poque está tremelendo, Hop? - segura minhas mãos em pé em cima da cama.

Evito olhar pra seus olhos por causa da telepatia que ela tinha como dom, e me desvencilho pegando sua blusa de unicórnio que Sara comprou no meu mundo.

- Ah, não é nada. - passo o buraco da blusa por seu pescoço - Eu só estou com um pouco de frio. - ela assente em silêncio.

Assim que terminei de trocá-la, penteei seus cabelos enquanto dentro de mim um fogo ardido corroía minhas barreiras pronto para escapolir para meu exterior.
Não, não, aguente mais um pouco, dizia a mim mesma, por Alicie.
Assim que terminei fui até a porta, gritei por Ane, voltei para a beirada da cama aonde estava Al.

- Tudo bem mesmo, Hop? - ela perguntou com olhos em mim, me analisando.

Eu sorri.

- Está, meu amor. - vacilei, minha voz tremeu. - Eu vou só tomar banho, já, já desço, okay? - lhe ofereço um sorriso que saiu um pouco triste demais.

Anastácia logo entra alarmada no quarto.
Seu olhar se suavizou quando nos encontrou aparentemente bem, eu beijei a testa de Alicie e pedi pra que descesse com Ane.

- Você está legal? - perguntou a garota e eu sorrindo, assenti.

Não, eu não estava.
Ela me analisou e vi quando seus olhos escuros detectaram e assistiram meu autocontrole diluir, em silêncio pedi pra ela tirar Alicie de perto de mim e então a mulher se apressou em sair com Al no colo.
Assim que a porta se fechou eu não me sustentei mais e então desabei, o chão parecia mais gelado que o normal, ele me prendia, como as correntes daquela sala, minhas mãos tremiam, a respiração descontrolada.
Minha testa estava contra o piso frio, com o punho fechado desferi sobre o chão socos de desespero e dor.
O choro não demorou a vir, eu tentei, eu tentei não gritar. Eu tentei ser silenciosa, sentir a dor e me calar, mas as cenas...
As cenas de crueldade e de imcapacidade, de tortura.
Abracei meus braços enquanto gritava agoniada, as vozes limitadas a gritar por meu nome, o pedido de socorro implícito.

HOPE!!!

Elas pareciam tão reais, tão presentes.

- Hope! - a porta se abre com pressa.

Não mexi um músculo, permaneci debruçada sobre o chão, meu corpo inteiro doía, minha garganta ardia conforme os gritos eram arrancados dela.
Minha alma era moída, eu sentia meu estômago revirar em dor, o sangue parecia passar devagar demais.

Não...

- Hope, sou eu, olhe pra mim. - Sara pedia.

Eu estava petrificada sob o piso, estava presa a lembranças, presa a algemas e correntes invisíveis.

- Hope, vai ficar tudo bem. - ela pegou meu rosto entre as mãos.

Me fez olhar em seus olhos, seu rosto, mas não foi olhos castanhos que eu vi, enxerguei os olhos pretos do meu agressor.
Imediatamente o empurrei e cambaleei pra trás.

Pânico.
Garganta seca.
Medo.
Pavor.

- Não, não, não se aproxime de mim. - implorei me arrastando para longe - NÃO! - me encolhi quando senti a parede atrás de mim.

Sem escape enfiei a cabeça entre as pernas.
Não.
NÃO...
Ele tinha que se afastar, ele não podia me pegar, não.

- Hope, por favor reaja, sou eu Hope, a Sara. - eu ouvi sua voz, mas não conseguia ver seu rosto.

Meus olhos viam somente o sorriso maquiavélico, ouvia apenas sua gargalhada, apenas seus olhos pretos me fitavam com maldade.
Eles me prometiam sofrimento, agonia.
A faca se aproximava, senti minha pele rasgar, era doloroso, eu gritei, gritei a todos pulmões e então senti braços me apertarem.
Finos e frágeis.

- Hop... - ouvia longe - Hop, sou eu... - a voz macia, cheia de carinho, era ela.

Abri meus olhos, os traços borrados do rosto da garota.
Minha respiração ainda estava desconforme, minhas mãos enroladas nas pernas, minha barreira fraca que ela conseguira invadir.

- Alicie... - sibilei ofegante, meu corpo inteiro tremia.

- Sou eu... - consegui focar em seus olhos preocupados.

Era ela, era ela...
Abracei Alicie como se ela fosse a minha fonte de salvação, de calma.
Ela afaga meu rosto com inocência, suficiente pra acalmar meus pensamentos conturbados.
Aos poucos fui voltando a mim, os olhos negros sumiram e o sorriso fechou-se.

- Alicie... - murmurei olhando seu rosto, beijando-lhe a face. - Obrigada pequena, obrigada. - as lágrimas cessavam devagar, mas eu conseguia sentir o alívio em todas as partes do meu corpo.

Por mais alguns minutos eu permaneci abraçada a ela, Sara e Ane nos observavam distantes, preocupadas, temerosas.
Eu entendia, sim, eu as entendia.
Depois que depositei mais um beijo em Alicie a vampira se aproximou e me ajudou a levantar, agradeci e olhei de novo pra criança.
O que eu ia dizer?

- Tudo bem, Hop. - ela sorriu simples - Você não me assustou. - afirmou com sotaque de erro.

Alisei seu cabelo com um sorriso contido, ela era especial e ninguém poderia dizer o contrário.
Depois disso me retirei para o banheiro de novo, fui acompanhada por Sara, ela permaneceu ali enquanto eu me esfregava, enxaguava meu cabelo e enfim me enrolava na toalha.

- Sara, me desculpe. - disse por fim quando sentei-me na cama. - Eu não...

- Não se preocupe com isso Hop, sabemos que está enfrentando muitas coisas. - fala se ajoelhando a minha frente. - Conte conosco pra o que precisar, jamais nos afastaremos, jamais te deixaremos só. - prometeu e meu coração borbulhou esperança.

Eu os tinha, existia empatia e amor no inferno que aquele lugar era.
Frederik e Sara eram provas de que no meio do lamaçal existe ouro.
Visto a roupa que ela estendeu para mim e me deitei exausta, Alicie surgiu no quarto deitando-se ao meu lado e se embolando em meus braços.
Beije-lhe a testa e fechei meus olhos por cima de sua cabeça, Sara nos observava sentada em uma poltrona do quarto.
Ela me transmitia segurança, estava lá por mim.
Adormeci um sono sem sonhos, não havia nada, vazio e isso conseguia ser pior que os pesadelos.

Despertei horas depois com alguém tirando Alicie de mim, rapidamente a segurei mais forte e abri os olhos na defensiva.

- Sou eu Hope, você precisa ir se arrumar. - fala Sara e só assim permito que ela pegue Al.

Ela ajeita a criança na cama deixando meus braços livres para que eu me levantasse.
Me sentei na beirada da cama e respirei fundo.

Vamos lá, Hope.

Fui até o banheiro, lavei meu rosto pra preparar minha pele para a maquiagem, de olhos fechados ouvi a risada do demônio que me atormentava.
Resista Hope, resista.
Faça jus ao seu nome, seja Valente, seja Valen...
Mais uma vez, meu corpo inteiro se arrepiou, segurei firme as bordas da pia de mármore e fechei os olhos com força.
Ele não tem poder sobre mim, não tem.
Respirei fundo e enxaguei meu rosto mais uma vez, a água levou junto o timbre demoníaco, abri meus olhos me fitando com cuidado no espelho.
Você é mais forte que isso Hope.
Você é mais forte.
Com um suspiro sequei meu rosto e deixei o cômodo, olhei para Sara e Ane que estava ao redor da penteadeira aonde tinha várias maquigens, produtos para pele e cabelo.

- Não iremos, mas vamos deixá-la magnífica para brilhar mais que a lua nessa noite. - Ane diz sorrindo e eu faço o mesmo.

Olho para Sara que segurava uma paleta nas mãos, varri a cama atentamente achando Alicie ainda dormindo tranquilamente e então para Anastácia que me chamava para sentar.

- Tudo bem. - concordo sorrindo - Obrigada meninas. - caminho calma até elas, me sentando na poltrona estofada.

- Com uma condição, claro. - fala a vampira. - Você não vai poder ver antes de terminarmos.

Eu rio nervosa, contudo confiava nelas.
Sinto as mãos de Sara em meus cabelos, ela esborrifava algo nos fios ruivos, já Ane se põe a minha frente, ela faria a maquiagem.

- Como você está Hope? - quis saber ela claramente hesitante.

- Estou melhor, obrigada por perguntar. - afirmo de olhos fechados enquanto ela colocava duas gotinhas de primer com o contador de gotas. - Mas em relação a hoje a noite me sinto ansiosa e apreensiva. - confesso e ela sorri.

O cheiro era bom, amêndoas.

- Eu tenho certeza que tudo correrá bem, até porque hoje você só irá conhecê-lo. - sentia os dedos cuidadosos de Sara em minha cabeça.

- Não é isso que me preocupa e sim o fato de que daqui três dias eu estarei me casando. - falo sentindo dentro de mim meu coração se contrair. - Tenho muito a perder. - aponto e sinto o silêncio pesado.

Com um suspiro sorrio, os movimentos de ambas me arrumando não cessaram, era engraçado, me sentia importante.

- Alicie disse que me ama hoje a tarde. - conto enquanto felicidade preenchia meus vasos sanguíneos ao me recordar.

O amor era um sentimento aprazível, vindo de alguém puro era ainda mais lisonjeiro.

- Crianças são fenomenais, elas nos monstram sentimentos existentes dentro de nós que pensávamos não haver. - confessa Sara e eu sei que ela sorri.

Vejo Ane sorrir e o que ela fala a seguir aperta a minha alma.

- Eu fui mãe aos dezoito, cheguei segurar meu filho nos braços, mas ele não sobreviveu ao parto de emergência, faleceu algumas horas depois. - contou e a tensão arraigou-se sobre nós.

Minhas mãos se apertam em meu colo, quando eu penso que meu sofrimento é grande...

- A perda foi muito difícil, sinto na pele até hoje, mas eu consegui ter a melhor sensação do mundo ao segurá-lo, meu maior presente, e é o que me conforta nas horas de dor. - explana ganhando minha total admiração.

- Nós sentimos muito, Ane. - digo sincera quando percebo Sara chocada demais.

Eu não conseguia me por em seu lugar, só consegue imaginar a dor quem passa por ela.

- Obrigada. O que você disse a ela, Hope? - muda sutilmente de assunto.

- Eu retribui, não a amar se mostrou algo utópico, impossível. - suspiro - Sinto como se devesse lutar por ela, me entregar em seu lugar, por sua vida. - expresso verdadeira e sinto a concordância silenciosa de ambas.

Era minha missão, vingar minha mãe, salvar Alicie
Precisava dela, eu a queria, se não conseguisse sair daqui e voltar pra minha família, pra Daio e não conseguisse a levar para Cristian eu mesma garantiria seu crescimento, educação, sua segurança.
Ter eles ao meu lado era suficiente, era somente do que eu precisava, de apoio.
Me perco na sensação maravilhosa de cuidado, as mãos delas trabalhavam em mim com agilidade, mas com suavidade.
O silêncio pairou sobre o cômodo e eu me perdi em pensamentos, tentei me manter longe das lembranças dilacerantes e perigosas.
Lembrava-me da última vez que vira meu irmão, meu pai, Lissa e Tessa, Margot.
Momentos em família, festas de fim de ano, reuniões na casa da minha melhor amiga, noites do vinho...
Lembranças surgiram dos sorrisos de Daio, do sabor de seu beijo, de como me senti bem e preenchida com ele, do cuidado e segurança que Jace me transmitia, se eu me arrependia?
Não sei responder.
Uma sensação vazia faz meu estômago roncar e ouço o riso de Sara.

- Não passe o batom, eu irei buscar algo para ela comer. - avisa a vampira.

- Obrigada.

Estava mesmo com fome e com certeza comida humana era tudo o que não teria naquele baile.

- Não tínhamos pensado nisso, em? - comentou Ane passando em mim máscara de cílios.

- Com certeza o que terá lá a noite toda será rodízios de sangue atrás de rodízios de sangue. - murmuro olhando para cima.

- É assustado, não é?

Concordo, mas não tinha muito o que fazer.
Minha vida era uma linha tênue entre a realidade e a fantasia.

ᴄᴏᴍᴘᴀᴅᴇᴄɪᴅᴏs ᴘᴏʀ ʜᴏᴘᴇ, sɪᴍ ᴏᴜ ɴãᴏ? ᴘᴏʀ ʜᴏᴊᴇ é só ᴘᴇᴏᴘʟᴇs, ᴍᴀᴀᴀᴀs ᴏ ᴘʀóxɪᴍᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ᴠᴇᴍ ᴀɪɪɪ ᴇ ᴘʀᴏᴍᴇᴛᴇ...

sᴇɢᴜʀᴇᴍ sᴜᴀs ᴇᴍᴏçõᴇs ᴇ ɢᴀʀʀᴀs, ᴇsᴛᴀᴍᴏs ǫᴜᴀsᴇ ʟá.

ᴠᴏᴛᴇᴍ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ.
ᴠᴀʟᴇᴜ ʜᴜᴍᴀɴᴏs.

ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ᴀʀᴄᴀᴅᴇ - ᴅᴜɴᴄᴀɴ ʟᴀᴜʀᴇɴᴄᴇ

ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.

ᴀᴘʀᴇsᴇɴᴛᴏ ᴀ ᴠᴏᴄês ɴᴏssᴀ ᴠᴀᴍᴘɪʀɪɴʜᴀ: ᴀʟɪᴄɪᴇ ʙᴀʀʀᴏsᴏ.

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